domingo, 10 de abril de 2016

Um sectarismo contagiante


Talvez não seja exagero afirmar, que o sectarismo esteja hoje infectando mais gente do que a dengue, e suas outras variantes juntas, Chikungunya e Zica. Enquanto a ação do mosquito Aedes Aegypti esteja atingindo alguns milhares de brasileiros, o sectarismo político está contaminando milhões. Com um resultado muito negativo para a ainda jovem democracia brasileira, uma sociedade que há apenas três décadas vivia sob uma ditadura militar de direita, e que se pensava até muito pouco tempo atrás, que após trinta anos, já tinha conseguido consolidar o seu regime democrático. Agora quando começa a ter um certo protagonismo na cena externa, país importante do G-20 na rodada Doha, forte candidato a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, um grande país emergente membro do gigantesco bloco Brics, campeão do agro-negócio, auto-suficiente em alimentos e em fontes energéticas, renováveis ou não. Enfim, uma série de razões, que só reforça à crença na consolidação da democracia no país de forma definitiva e com um futuro promissor pela frente. Até surgir a atual crise política a partir de 2013, e que vem se agravando a cada dia que passa, sobretudo após o resultado final das urnas em 2014, que deu a vitória apertada da atual presidente para mais quatro anos de mandato. Como disse Lenine há cem anos atrás, ao dar essa expressão como título a um dos seus livros: “Esquerdismo, doença infantil do Comunismo”, o mesmo se poderia afirmar hoje em relação à extrema direita inflamada. Tanto o esquerdismo radical como o direitismo extremado do fascismo, ambos são formas extremas de sectarismo político. Ambos movidos mais por sentimentos e paixões irracionais. E que torna muito difícil, para não dizer impossível, o exercício da reflexão e do pensamento na atividade normal da política. Dito isso é possível e seguro afirmar, que hoje devido a atual conjuntura, somos muito mais afetados e atingidos pelas consequências de um ativismo político da direita sectária do que qualquer outra coisa. Porque do lado dos apoiadores do governo, da situação, quase não há ataques, já que estão mais na defensiva, em total ação reativa contra os ataques da direita. Os maiores e mais sórdidos ataques tem visíveis digitais da direita política mais sectária. Mas voltando ao fio da meada, é possível dizer ainda que, o efeito da força descomunal de paixões despertadas pelo sectarismo político, não é exagero afirmar, conduz os humanos ao período pré-histórico, pela semelhança dos sentimentos. Quando se vivia em bandos, hordas, juntos em grandes manadas, ainda absolutamente incapazes de fazer as distinções mais simples entre certo e errado, sempre comandados e guiados pelo líder do bando, onde a motivação para o agir era originada pela força do grupo, e com uma capacidade de reflexão próxima de zero. Vistos sob os olhares de hoje, não é errado considerá-los como animais irracionais, com ‘neca de piti biriba’ de subjetividade. O sectarismo político se manifesta como uma espécie de paixão, uma paixão política exacerbada. Onde o indivíduo afetado por essa paixão, participa da política como um torcedor de futebol, se comporta como um fanático num Fla Flu. E como paixão verdadeira, no exato sentido da palavra, a paixão cega, limita a visão para outros aspectos da realidade concreta. É quando em fração de segundos, num lance rápido, de uma hora para a outra, corremos o risco de revivermos sentimentos similares àqueles dos primórdios da humanidade, do tempo das cavernas. No caso, nem me refiro à caverna da República platônica, não, de forma alguma, é coisa muito mais distante no tempo. Significa despertar sentimentos nada nobres, de um tempo em que ainda se vivia mergulhado profundamente na barbárie. As imagens que encontrei, enquanto buscava numa pesquisa na net, algo que representasse a barbárie, são medonhas, horripilantes, impactantes e chocantes, de tal forma que me fez desistir de qualquer uma delas para ilustrar esse post, até que por acaso dei de cara com a frase do filósofo francês enciclopedista e iluminista do século XVIII Denis Diderot (1713-1784), que ilustra e ilumina o texto de forma brilhante apesar de possuir um fundo de tela totalmente escuro, negro. Fundo negro, que caiu como uma luva na ilustração do presente texto, e foi tudo por acaso, porque existe uma luz no fim do túnel, é inegável, que a máxima de Diderot ilustra bem, já que toda crise também pode ser aproveitada como um excelente momento de oportunidade. Mas não se pode esquecer jamais do fundo negro, que representa o atoleiro em que estamos, em meio a toda a onda de intolerância, ódio, burrice e estupidez de uma direita sectária, que só pensa em vingança e revanchismo.     

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