quarta-feira, 21 de novembro de 2018

O nosso oriente

Considero bem curioso, volta e meia, ver brasileiros de certa classe média, se manifestando por aí, como sendo pertencentes ao chamado "mundo ocidental". Na verdade, muitos não se manifestam apenas, mas se jactam de fazerem parte do “mundinho” ocidental. Aonde cabe a pergunta, quantos brasileiros podem, na verdade, ostentar tal pertencimento? Alguns se olham no espelho e se acham parecidos com europeus, por isso ou por aquilo, até mesmo por ter laços sanguíneos através da descendência com imigrantes pobres, que aportaram por aqui em alguma ocasião, fugindo da fome ou de algum tipo de perseguição em épocas de guerra nos países de origem. Se formos botar no papel mesmo, muito poucos brasileiros conseguem levar a vida, materialmente falando, em condições de poder se ombrear com a vida levada por outros povos nos países mais ricos do chamado ocidente do mundo. Na verdade nunca deixamos de ser uma semi-colônia na periferia do sul do mundo, onde ainda uma minoria cooptada e vendida, que não se identifica jamais com o próprio país, nem com a sua população de modo geral, nem com a sua cultura, que se colocou no lugar dos antigos senhores e colonizadores do século XIX, como seus legítimos herdeiros ou substitutos. É claro, que é exatamente essa mesma gente, ainda uma parcela muito pequena da população, embora muito influente do ponto de vista ideológico, que se mete a se jactar que são europeus, ou que fazem parte do chamado mundo ocidental. Num país com mais da metade da sua população composta por afro-descendentes, descendentes dos antigos escravos, que continuam a viver ainda em absoluta precariedade, muitas vezes em condições subumanas, na informalidade empregatícia, na precariedade de suas moradias sem saneamento básico, na falta de qualidade da educação oferecida aos filhos, enfim em condições de vida, as piores possíveis e anos luz de distância da vida levada pelos habitantes do chamado mundo desenvolvido e ocidental. Portanto chega a ser bizarro, absurdo e completamente disparatado qualquer brasileiro, diante das condições de vida de todo o povo, diante de tanta desigualdade, AINDA ter a coragem de se jactar publicamente de pertencer ao mundo ocidental. Que mundo ocidental é esse cara pálida? É muito curioso, onde cabe a pergunta do porquê de tudo isso. Por que será? Será alienação? Será o quê? Ora, francamente!

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Um anticomunismo conveniente

Em tempos de radicalismo de extrema direita, quando o poder econômico dá um golpe no estado de direito, dentro de uma lógica do vale tudo, da lei do mais forte, levando o estado para um Estado de exceção, mudando as regras do jogo com o jogo em andamento. Utilizando-se para isso, das piores formas de fazer política, práticas que beiram a política do esgoto. E onde agentes públicos, como ministros do STF e outros, cuja atribuição primordial deveria ser zelar pelo cumprimento dos preceitos da carta magna, isto é, da Constituição Federal, que ao contrário passam a fazer puxadinhos para burlá-la. Não se respeita mais a presunção da inocência, e de outros dispositivos constitucionais. Permite-se que governos legítimos sejam derrubados sem crime de responsabilidade apresentado. Que possam aflorar aventureiros de todo tipo achando, que podem fazer qualquer coisa, pois agora tudo pode, até mesmo a volta dos militares ao poder. Num clima como esse, volta o fantasma do anticomunismo a galope, só que como não existe mais em parte alguma do planeta algum regime, que se diga comunista, parece até absurdo que exista alguém propenso a acreditar em tamanha fábula. Ledo engano, porque os marqueteiros do desengano, utilizam-se de qualquer falso argumento, para atingir seus objetivos políticos sujos. E o anticomunismo caiu como uma luva nesses aproveitadores picaretas. Não no campo da teoria, não tenho visto até aqui ninguém contestar os princípios básicos da teoria marxista, talvez os anticomunistas que se apresentaram até agora, não tenham preparo nem competência para tanto. A coisa toda tem se apresentado mais no campo cultural e dos costumes, e até alguns ataques à pedagogia de Paulo freire e ao seu método. Grande Paulo Freire, grande mestre e professor, já falecido, mas com grandes e inestimáveis serviços prestados à humanidade, pois como precisou partir para o exílio em virtude da perseguição da ditadura militar brasileira de 64, foi obrigado, a trabalhar mais no estrangeiro do que em seu próprio país, mas depois da anistia de 1979, voltou a prestar valiosos serviços também por aqui, inclusive na prefeitura de São Paulo durante a gestão de Luiza Erundina. E esses ataques tem partido mais de parte de certos pastores evangélicos neopentecostais, que pedem o fim do método Paulo Freire nas escolas, assim como pedem também a volta do ensino de moral e cívica da época da ditadura. E porque eles não querem o método Paulo Freire, porque o método Paulo Freire ensina a pensar, a refletir, jamais aceitar passivamente um conteúdo alienígena, um conteúdo decoreba e ponto final. O aluno no método do professor pernambucano não se contenta em memorizar um conteúdo, para repetir na prova como um robô. O aluno é ativo também no processo de aprendizagem, é um aluno que questiona tudo aquilo que é objeto de aprendizagem. Como aqueles pastores são responsáveis hoje em dia pelo maior curral eleitoral dos tempos modernos no Brasil, é claro que gente passiva, gente que não pensa nem questiona, é tudo o que eles mais precisam em seus templos suntuosos, verdadeiras megaigrejas, onde fazem todo tipo de proselitismo, da teologia da prosperidade e principalmente o proselitismo político, para eleger gente do tipo Bolsonaro, Magno Malta e outros do gênero, formando uma grande bancada na Câmara dos deputados em Brasília, a chamada bancada da bíblia. É uma grande lavagem cerebral o que aqueles pastores realizam em seus cultos diariamente com os seus fiéis, daí a metáfora do rebanho ser perfeita para eles, a manada e os seus pastores picaretas e aproveitadores inescrupulosos. Logo, anátema para Paulo Freire, e nem poderia ser diferente.