segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Algumas razões sobre o nosso déficit de cidadania


Estudando a história recente do Brasil, verificamos que toda vez que surge um político, que ousa ampliar e estender a cidadania para os mais pobres, esse político é extremamente atacado e satanizado pelas elites políticas e econômicas, quando não destituído do poder como foi o caso de João Goulart. Porque teoricamente segundo a Constituição de 1988, todos os brasileiros natos teriam cidadania, mas na prática não é isso que acontece, porque infelizmente alguns ainda se consideram mais iguais do que outros, ou seja, tem mais direitos à cidadania do que o restante. São os privilegiados e bem nascidos. Reflexo de uma sociedade patrimonialista, segundo o historiador Raimundo Faoro, em seu "Os donos do Poder". Que mostra em sua obra, que todo o aparelho de estado deve estar à serviço de, preservar prioritariamente o valor máximo, ou seja, a manutenção da ordem e a defesa do patrimônio privado. Mudam-se os séculos e a ideologia política permanece, como se um defeito físico fosse, não vemos perspectivas de mudar essa mentalidade tacanha. Foi assim com o velho Getúlio Vargas em 1954, que acabou cometendo suicídio, tal foi a pressão exercida contra ele, pelas elites conservadoras e reacionárias. Foi assim com João Goulart, o Jango, que acabou caindo com o golpe militar em 1964, golpe apoiado por toda uma classe média tradicional, a chamada pequena burguesia, segundo Marx, que não queria reforma alguma, quanto mais uma revolução. Uma ditadura implantou-se no país com extremo autoritarismo, capitaneada pelas forças armadas e com apoio inicial das elites econômicas, que durou eternos 21 anos.

E foi assim também com Lula, o mesmo modus operandi, que desde que foi eleito em 2002, e mesmo depois que acabou o seu mandato, sofre todo o tipo de preconceito e ataques. Por sua origem humilde, nascido no meio pobre do nordeste brasileiro, semelhante a origem da maioria do povo brasileiro. Como o Brasil nos primórdios da televisão, não conseguiu articular uma tevê estatal forte, tipo a BBC inglesa, uma tevê pública de qualidade e não atrelada a governos. A mídia privada nacional, hegemônica, monopolista e oligárquica, não reflete, de forma alguma, a sociedade brasileira em seu aspecto quantitativo, reflete pelo contrário, o ideário de uma minoria de abonados e privilegiados. Reflete os setores que têm e exercem influência política, ideológica e de valores. Uma parte da pequena burguesia e em sua cúpula uma certa elite econômica, que pode pagar a conta dos financiamentos e pagar pela publicidade paga ou não. A mentalidade preponderante entre eles, do ponto de vista político, é de uma burrice colossal, é quase um tiro no pé. Pois uma sociedade tão desigual, como a nossa, que apresenta tantos desequilíbrios, sem políticas públicas adequadas, que atenue em parte os graves problemas, só consegue criar mais desequilíbrio, e ampliar os chamados bolsões de pobreza e exclusão. E em consequência disso, colher MAIS VIOLÊNCIA, com os assassinatos que ocorrem no país, perto de 56 mil homicídios por ano, sem falar nas balas perdidas, sequestros relâmpagos, latrocínios, assaltos, roubos e furtos, etc. Uma pena, lamentável, quando tudo isso vai diminuir ou acabar? Pelo visto nem tão cedo, porque vimos como os eleitores do estado mais rico da federação deram o seu voto mais uma vez em Alckmin de São Paulo, o elegendo ainda no primeiro turno, esquecendo de todas as chacinas e matanças autorizadas pelo governador. Infelizmente não querem mudar nada, escolheram radicalizar ainda mais agora, que a direita perdeu a vergonha de mostrar a cara, e assume como pauta principal um mercadismo quase absoluto, o que só leva a mais conservadorismo, e o apoio a candidatos, da mesma linhagem política, que cada vez mais alimentam e se retro alimentam desse mesmo tipo de mentalidade. Essa é a narrativa doutrinária agora dominante em nosso país, que alimenta essa ideologia política em cadeia, cada vez mais anti povo e anti popular. A impressão que dá, é que nem parece, que teve em 2008 nos EUA, uma tremenda crise do capitalismo financeiro. Eles não alteram os paradigmas, continuam fazendo reverências ao chamado deus mercado.


Não precisa fazer nada para melhorar a vida dos mais pobres, o mercado se encarregará deles, e tudo será, segundo os próprios, um mar de rosas. Tudo isso não quer dizer, que essa situação histórica e conjuntural ao mesmo tempo, não possa vir a mudar em algum momento, já que novas gerações estão chegando a vida adulta e entrando no mercado competitivo. Haverá uma hora, que irão se ocupar com o descalabro social, a injustiça social e econômica, do qual não estamos jamais imunes, por mais seguro que seja o condomínio privado.





quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Assistindo Rafael Saar


Os filmes de curta metragem de Rafael Saar sobre cantores e cantoras da mpb, entre eles Maria Alcina, Nei Matogrosso, Luhli e Lucinha, Baby do Brasil e sobretudo os de Luís Capucho, me ajudaram a despertar para o verdadeiro sentido da arte de viver e fazer coisas como arte, e a vida do dia a dia das gentes de todas as horas, o cotidiano ordinário de todo mundo. Em que medida existe uma diferença aí, entre essas duas formas de viver a vida? Será que todo mundo poderia se arriscar mais, ao se lançar mais para a vida na busca de fazer coisas?  Evitar se podar muito, procurando escapar dos barreiramentos sociais condicionantes, que a gente mesmo se impõe. Qual a especificidade desse fazer, que o distingue da vida corriqueira que todos nós levamos todos os dias e todas as horas. Por que alguns conseguem transcender essa fronteira e chegam a fazer algo que chamam de arte? É como se existisse algo em nós, que trava essa passagem de patamar, de plano, para outra dimensão do humano, onde possamos viver sem sentir tanta culpa ou medo, e aí ficam mais fáceis as coisas da vida fluírem, nos sentimentos, destrava-se o pensamento, e aí o caminho está inexoravelmente aberto, não para sempre nem eterno, porque somos um animalzinho, e a qualquer hora poderá haver um retrancamento e retrocesso daquele processo todo. É o caso daquela bexiga de encher, ela pulsa, há um movimento de contração e de expansão constante, quando qualquer coisa não anda bem, altera esse movimento, e ela, a bexiga, tensiona demais ou relaxa demais. Quando conseguimos figurativamente pular metaforicamente aquele muro da existência, e nadamos nas águas de um fazer natural e espontâneo, e conseguimos respirar de forma mais natural e sem tensão, todos os nossos poderes que vem lá dos nossos mais recônditos níveis interiores, em registros ainda por ser decodificados, vem à tona de forma tranquila, e aí, e só aí nesse caso, conseguimos realizar um fazer mais próximo possível daquilo que se poderia chamar de arte, uma arte ainda sem a técnica e o talento individual de cada um a ser trabalhado, mas a postura agora já é outra. Portanto é mais ou menos por aí, por essa trilha, que estamos tentando prolongar ou encurtar essa fronteira, percorrê-la, ultrapassá-la e ver a vida vivendo e também querendo viver e, infelizmente, sem conseguir, barreirada por imensas dificuldades e sem conseguir enxergar que a vida é naturalidade, é simplesmente um botar pra fora, um exprimir-se. Quando estamos travados com alguma coisa desconhecida, algo nos impedindo de viver a vida simplesmente fica muito comprometido esse fluir.  

domingo, 4 de janeiro de 2015

Um breve comentário a respeito dos eleitores de Bolsonaro - 2




Ao descobrir meio por acaso alguns eleitores de Bolsonaro, foi que fui me dar conta, que esses eleitores não sabem verdadeiramente quem na verdade é Bolsonaro, nem o que realmente pensa esse personagem. O que me leva a por uma grande interrogação no atual sistema eleitoral brasileiro, será que como esse sistema está configurado, ele informa suficientemente o eleitor a respeito dos candidatos, como pensa, do que pretende fazer e fazer o quê na política estando no Congresso em Brasília ou nas Assembleias Legislativas estaduais? Na verdade, Bolsonaro transformou-se numa figura mítica da política nacional, idealizada pela mídia para o bem ou para o mal, alguns votaram nele pela notoriedade da personalidade polêmica em que se transformou, afinal de contas tão falado na mídia, já que não havendo candidato assim tão conhecido, decidem votar nele. Essa é uma das impressões que tive ao conversar com alguns daqueles eleitores citados. É claro, que outros eleitores dele, infelizmente, votaram nele porque concordam mesmo com a ideologia neonazista dele. A cultura política ainda é muito baixa em nosso país, isso para não falar no analfabetismo político que grassa. Se formos levar em consideração essa desinformação do eleitor, quando escolhe o seu candidato, pelo menos nesse caso sentimos certo alívio, já que nem todo eleitor do Bolsonaro é fascista como o próprio candidato, e sim, que grande parte dele só o escolheu por conta da desinformação político ideológica. Por outro lado é também assustador ver, que como a desinformação acaba elegendo figuras como Bolsonaro, o risco desse instrumento poder nos levar a escolher figuras muito perigosas para o país e para a sociedade brasileira é muito grande. Daí a importância e a urgência de se repensar o modelo brasileiro de democracia representativa e toda a reforma política tão apregoada e falada nos últimos tempos, por outras razões, é sabido, sempre lembrada mais devido aos escândalos sobre os financiamentos de campanha política etc.

Um breve comentário sobre um eleitor de Bolsonaro




O voto dele em Bolsonaro descobri por acaso. Jamais imaginei esse tipo de revelação de sua parte, já que não somos amigos, muito embora o conheça desde criança. Apesar de não chegar a sermos amigos, não somos inimigos ou adversários, costumamos ser amigável um com o outro. Volta e meia rola um diálogo sobre algum assunto, mas os afetos trocados são bastante contraditórios, porque é uma relação muito doida, alguma coisa entre o amor e o ódio, talvez fosse mais conveniente trocar o vocábulo "amor" por "admiração", tem mais a ver com o que acontece entre nós. Tem hora que os laços afetivos estão mais estreitos: que é quando nos aproximamos mais um do outro, e é quando rola uma conversa solta ou um diálogo mais sério e completo. Já em outras ocasiões ele fica à beira da hostilidade. Talvez a revelação de que tinha votado em Bolsonaro, fosse uma coisa mais de querer tirar onda, já que o candidato havia vencido a eleição para deputado federal com um número recorde de votos. Mas assim que percebeu, que a minha reação fora um tanto quanto negativa, mais que de imediato justificou o seu voto afirmando, que Bolsonaro não é essa figura que costuma ser tão mal pintada pela mídia e pelos adversários políticos. Que o candidato era um cara bom. E para concluir, afirmou que, o que o fizera realmente decidir a bater o martelo na escolha do voto favorável a Bolsonaro, foi quando descobriu, que ele costuma dar ajuda a muita gente. Não procurei entrar em detalhes, com perguntas sobre de que se constituía essa ajuda. Não sei se procede ou se é verdade a informação, nunca li nada a respeito na imprensa. Acho muito difícil ser verdadeiro esse dado.  Porque, qual é o político hoje em dia, que esconde dos eleitores, que ajuda alguém?  Já que nada mais hoje em dia é melhor capital político do que isso.  Logo quem.  Será mesmo?  Duvido muito, mas evitei polemizar com ele, e então encerramos mais esse diálogo cordialmente. Não é nada combinado nem deliberado, porque não temos uma cumplicidade explícita, alguma regra informal de relacionamento existe, mas jamais discutimos asperamente. Quando as coisas ficam um pouco mais tensas, sempre um dos dois bota o galho dentro e a conversa se encerra numa boa, o que é bom para ambos os lados.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

A Lógica do Esperto


O nome fictício de nosso personagem de hoje é Élio, alguém que só conhecia a lógica da malandragem. Inicialmente é preciso acentuar, que geralmente para quem segue essa lógica, tudo funciona, como se o mundo fosse dividido entre os otários de um lado, e os espertos ou malandros de outro. De vez em quando, algum esperto se dá bem "as custas" de um otário qualquer. Essa maneira de enxergar o mundo pautava o comportamento de nosso personagem, e dessa forma prosseguia o rumo sem rumo da sua vida. Sem necas de pitibiriba de teleologia. Élio não construía um destino, nem tampouco o transformava com seu próprio esforço. O amanhã é o aqui e agora, e está de muito bom talho, que seja e continue sendo sempre assim. Enfim, Élio curtia muito o estilo de vida que levava, só não gostava da falta de grana, da dureza presente a maior parte do tempo, já que os lucros da esperteza obtidos contra os otários de ocasião e oportunidade, eram ainda bastante incipientes. Na verdade ele ainda não passava de um reles aprendiz de malandro, de um pequeno bandido, da mesma forma como existem os pequenos em qualquer atividade humana, como inclusive entre os intelectuais, os pequenos intelectuais. Por enquanto tentar enxergar até onde poderia chegar naquele caminho, era algo muito imprevisível. Mas isso também era mais uma coisa, que não ocupava a sua mente. Ele não se ocupava com ninharias. Algum malicioso poderia pontuar, que com ninharias não, apenas com patifarias. Aparentemente parecia levar uma vida feliz. Em qualquer lugar que chegava, sempre havia alguém que conhecia no mínimo de vista. E o curioso, é que considerava amigo todos esses "conhecidos", e tinha por hábito adicionar todos como amigo no Facebook. Segundo o próprio, tudo estava fluindo numa 'nice' em sua vida. Nem é preciso dizer, que a atividade do pensamento e da reflexão, em casos como esse do Élio, é altamente perigosa e desestabilizadora. Porque se fosse realmente possível para alguém como ele, poder pensar e refletir sobre como se está a viver, poderia perfeitamente dar de cara com a revelação demolidora, de que apesar dos pequenos golpes aplicados contra os otários, ele não passa de um perdedor. Mas como não é capaz de refletir a respeito, por enquanto continua livre daquela revelação.