sábado, 30 de abril de 2016

Entrando no personagem




“No Brasil eles compram o corpo, aqui eles compram o personagem”. Essa foi a resposta de um garoto de programa brasileiro em Londres, respondendo sobre a diferença entre um cliente brasileiro e um de Londres. Por que será?
Ao comentar com um amigo, ele atribuiu ao fato, de ainda sermos devoradores de açougue, de carne, de ainda sermos um tanto primitivos vis à vis gente mais evoluída, no quesito relação humana. Talvez não esteja claro ainda, o que queremos ou buscamos no outro. Seria só o corpo? Apenas isso? O próprio Mário, o tal amigo que contei sobre a frase acima, é ator, segundo o próprio, um “vil e difamado ator”, como gosta de falar. Um ator, cujo corpo onde se hospeda, ainda não rompeu a barreira entre os dois, a barreira entre o corpo e o personagem. De tudo que assisti até hoje feito por ele, jamais consegui encontrar o personagem, quem estava sempre lá em cima do palco era o velho Mário cansado de guerra, que conheço de décadas.  Claro, que jamais lhe disse, mas nunca consegui assistir a um personagem criado ou construído por ele.
Confesso, que no pouco tempo de teatro que tive, lembro ter encontrado a mesma dificuldade. Numa peça infantil, que cheguei a fazer durante uma temporada inteira, só comecei a encontrar o fiozinho do personagem no final da temporada, o que foi definitivo para desistir da carreira de ator. Isso me lembra o título da peça de Luigi Pirandello, Seis personagens à procura de um Autor, se em vez de “autor” fosse “ator”, teria mais a ver com o que estou tentando desenvolver. Imagine um personagem em busca de um verdadeiro ator, que o represente, mas que seja um ator, que seja alguém. É melhor deixar esse assunto de lado, por enquanto, porque pode dar muito pano para a manga.
A dificuldade é maior, porque para se chegar ou encontrar o personagem pretendido, que por sua vez não existe ainda, não se consegue ter nem a mais pálida sombra do que seja. É preciso pesquisar muito, conhecer um pouco sua vida, lugar de origem, idade, orientação, gostos, mentalidade, valores, ideias, além de toda conjuntura da época. Todo esse cabedal de informações e movimento irá trazer subsídios na elaboração do personagem, é a matéria prima, para o trabalho definitivo de composição, que depois poderá ser levado ao palco, posto em cena aberta ao público. É evidente, que para tal supõe-se, que se esteja vindo de algum canto, donde partiu, lugar que é o seu próprio ser, seu caráter, a persona que se é. Quando não se tem, ou se tem pela metade, uma obra inacabada, mal feita ou por se fazer ou se constituir, de onde se possa partir com segurança para voos mais ousados, fica tudo muito mais difícil, quase impossível. Em algumas situações, não se consegue dar sequer um passo, trava, tensiona.  O que leva a supor, que para ser capaz de construir, vestir e habitar um personagem de outra pessoa, um caráter diferente do que somos, é necessário ser.
No senso comum, encontra-se muita dificuldade em saber o que as pessoas comuns acham que são, em geral não sabem quase nada a respeito de si mesmas. Não gostam de pensar a respeito. A maioria das pessoas ainda faz uma enorme confusão entre ser e ter, muitas ainda acham que só são, se tiverem a posse de alguma coisa, senão serão nada. Ser e ter ou, ser ou ter? Eis a questão. Deve ser incrível poder trocar de personagem quando conveniente, sem pagar nenhum preço. Como trocar de máscaras, e conseguir surfar na onda, poder jogar com algum personagem particular, brincar de ser qualquer coisa. Qual o seu papel atual? Mencionei “jogar” de jogo, um pouco acima, na verdade, é assim que se diz, tanto em língua inglesa, to play, como em francês, jouer, que tem o mesmo significado da língua inglesa, brincar. A ideia de brincar é ótima, porque supõe uma imagem de alegria. Quem não se lembra da alegria proporcionada pelo brincar? Da imensa alegria, que costumava apresentar momentos marcantes e mais felizes na infância de muita gente boa. O ruim, é que esquecemos quase tudo, e assim fica muito mais difícil brincar de ser alguém, de entrar no personagem, seja que personagem for.  




quinta-feira, 28 de abril de 2016

Ela queria minha atenção




Dizem que o amadurecimento não tem prazo de validade, não tem fim, não tem limite. Tem gente, que surpreendentemente decide parar, estaciona em um determinado degrau da vida, os anos prosseguem, não tem jeito, e ela fica por ali, numa boa. Os mesmos velhos hábitos e rotinas, como se, mesmo sabendo, que o tempo não para, não para ela, que não tem regras a cumprir e respeitar. Respeitar limites.

Então para numa estação particular, onde não está desconfortável, gosta do estilo de vida, que enfim encontrou, se considera muito bem, está curtindo o que está rolando. Bacana. Subitamente, uma mudança repentina, e problemas começam a rondar o ambiente, porque os anos estão passando velozes. Os probleminhas vão aparecendo aqui e ali, seja na saúde, na insegurança com as mudanças, sutis ainda, seja na aparência física, mudanças que estão vindo à luz, e que ela eleva a vigésima potência, exagera.
O que vai produzindo insegurança com a aparência de forma exagerada, sem necessidade. A isso vai se somando uma série de pequenos problemas, que vão se acumulando, e em consequência vai alterando o seu estado de humor. Está evitando sair. Com a morte de Eva, perdeu sua única parceira de boteco, entrou em seguida num certo luto com a perda da amiga, depois mergulhou num ostracismo total. É de casa para o trabalho, do trabalho para casa, as vezes um ou outro almoço, ou jantar fora, quase sempre sozinha, só muito raramente, com um amigo qualquer, e em seguida volta correndo para o aconchego do lar, como precisasse se proteger dos humanos, se proteger da megalópole, fugir de todos, escapar.
Volta para a sua zona de conforto, para casa, para o computador, um pouco de tevê, um chocolate quente antes de dormir. Amanhã terá compromissos inadiáveis, acaba de pensar nisso, e assim vai tocando a vida. Mas diz que está doida para namorar, só não sabe como providenciar, esqueceu, está destreinada, sobretudo agora, que está fora da pista há anos, saeculorum. Não que não passe pela cabeça um dia sair, criar coragem para encarar uma saída noturna, um boteco, sabe que precisa encontrar ânimo, ainda não sabe como nem onde, mas gostaria de pagar o preço. Quando será? Não sabe por enquanto, mas diz acreditar, que qualquer hora dessa sai, pelo menos que saia a ideia. De posse da ideia, diz: “vou construir minha historinha, a minha narrativa particular, mesmo que pareça uma fábula, será importante tê-la na cabeça, para poder enfrentar as ruas de cabeça erguida, saber olhar, ver e enxergar, saber o que quero." Coisa que ainda não conseguiu e precisa conquistar.

    

terça-feira, 26 de abril de 2016

Digitais do golpe

A trama para armação do golpe já vem de longe, o vídeo abaixo, que exibe uma conversa entre Marco Feliciano e Jair Bolsonaro, numa conspiração francamente aberta em torno do golpe de Estado. Depois que Alexandre Frota disse numa entrevista, que saiu com Marco Feliciano como garoto de programa, ficou muito curiosa a revelação da mitificação toda que ele faz de Cunha. Cunha é hoje para Feliciano uma espécie de guru, fala como se Cunha fosse um gênio da política e coisas do gênero. Ficou muito esquisita, e um pouco demais, toda essa tietagem. Além de toda sordidez humana deplorável de conspiradores do pior gabarito, imensamente sujos, das piores sujeiras dos esgotos da política, como fica demonstrado no vídeo. É assim, que essa gente escrota faz política, gente do pior gabarito ético e moral. Que faz a política do esgoto, a anos luz daquilo que se convencionou chamar de republicanismo. Uma espécie peculiar de canalha, um canalha inusitado, que lida com a pecha de canalha ou de cafajeste numa boa, quase tanto como Maluf lida com a pecha de corrupto, isto é, muito bem. Maluf circula por aí numa boa, muito tranquilo, sem ser incomodado por nada nem por ninguém, nunca ouvi falar, que algum grupo de fanáticos fascistas, desses que atacam e perseguem autoridades do governo ou do PT, em eventos públicos realizados em shopping centers, livrarias, ou chegando de viagem em aeroportos, com violentos ataques verbais, insultos e xingamentos.

A última, que soube ontem, é que agora, esses fanáticos fascistas estão atacando até vizinhos de condomínio, quando descobrem, que o vizinho se recusa a compartilhar o lixo midiático disseminado por eles. Uma coisa horrorosa e absurda. É a volta do fascismo, onde não vale mais nenhuma regra do estado democrático de direito, nem mesmo o básico direito de ir e vir. Nunca ouvi falar que esses malucos tivessem incomodado Maluf alguma vez sequer, nunca. O que demonstra, que a motivação dos ataques não é a pecha de corrupto nas vítimas dos ataques, os motivos são outros, são de ordem ideológica. Portanto os fanáticos fascistas lidam muito bem com os tipos corruptos e canalhas, aqueles que são membros do seu grupo político, aliados deles ou gente que não fede nem cheira segundo os próprios. O mesmo pode ser dito de toda a manada seguidora coxinha, parcela relevante numericamente falando da pequena burguesia nacional. Aquilo que mais se temia ocorrer na Colômbia, na época de Pablo Escobar, que o mundo do crime organizado conseguisse ocupar postos importantes em órgãos do Aparelho de Estado, como o Judiciário ou o Legislativo. Infelizmente acabou acontecendo no Brasil, com a eleição de Cunha, com forte apoio e ajuda de grande parte do Congresso, inclusive do PSDB, para a presidência da Câmara no começo de 2015. E ele continua lá, muito firme, muito seguro de si, deve ter gente muito forte e poderosa O EMPODERANDO. Cunha está se achando, tem sob o seu comando, uma tropa de choque com mais de cem deputados, que conseguiu eleger em 2014, com subsídio de dinheiro fraudulento, fruto de todo tipo de acharque e extorsão, contra empresários e endinheirados da república. Dessa forma conseguiu derrotar o Executivo durante todo o ano que passou, num boicote total ao executivo, num movimento deliberado de não deixar governar, fazer o governo sangrar até definhar e acabar morrendo, mesmo sem impeachment. E para concluir a prestação do serviço mais sujo, que já assisti nessa república, finalizou com o cheque mate da aprovação do pedido de impeachment contra a presidente, proposto por uma advogada paulista completamente desequilibrada, e um velho gagá desautorizado pelos filhos.

Numa hora como essa, é que a gente fica tentando juntar uma coisa com outra, estabelecer conexões, e tudo vai se tornando mais claro e evidente. Por exemplo, o que justificaria a prisão de José Dirceu por tanto tempo, um homem que já havia sido condenado, que já havia comprido pena, que não ameaçava nada nem ninguém, nem mesmo ameaçar possíveis novas investigações contra si mesmo. Então? Por quê? Precisavam tirá-lo de cena, silenciá-lo? Uma cabeça como a de José Dirceu precisa ser silenciada, porque é um risco que se corre, deixando-o solto, pois ele pensa, fala, escreve, e poderia insuflar militantes numa reação contra o golpe. De forma, que começa a ficar mais clara a orquestração do golpe, pensaram em tudo, e Moro também está implicado. Deixou o rabo de fora, quando vazou para as Organizações Globo as fitas gravadas por arapongagem de conversa da presidente com Lula. E também com as prisões seletivas, só caçam membros do PT, do tesoureiro ao marqueteiro. Tudo muito suspeito e tendencioso, só não vê, quem não quer ou é partidário do golpe.


quarta-feira, 20 de abril de 2016

Rastros da direita

Uma coisa que sempre me chamou a atenção, no combate ideológico que vem rolando entre nós, mas forte sobretudo de 2013 para cá. São os ataques constantes e recorrentes, algumas vezes se intensificando mais em determinadas épocas, afrouxando em outras, como recentemente durante o período entre as festas de fim de ano e o carnaval. Chama a atenção os ataques contra grupos “especiais” minoritários, como por exemplo: indivíduos com alguma deficiência física, que apresente alguma dificuldade para o trabalho, que recebem, sem direito a décimo terceiro, uma pensão mensal de um salário mínimo, para se manterem minimamente. Alguns desses grupos representativos ganharam status ministerial, como foi o caso do “Igualdade Racial”. Mais uma vez simbólico, porque as despesas eram mínimas aos cofres públicos, mas mesmo assim, a direita não aliviou jamais os seus ataques, como é notório, os ataques feitos, até pouco tempo atrás, contra os 39 ministérios, lembram-se? Era uma cantilena na imprensa, e total falta de imaginação da parte dos homens de imprensa, em pautar o jornalismo com assuntos mais interessantes. É preciso lembrar, que a coerência deles era com os ataques, apenas os ataques. Daí o prejuízo com as perdas de espaço para conteúdos com maior peso cultural, quando se radicaliza muito um partidarismo fanático, e se escolhe um lado só na luta política, tendo que oferecer e disponibilizar conteúdo, com informação e opinião ao público em geral. O risco, é ser acometido por esse distúrbio mental, e não conseguir enxergar o óbvio, ou perder completamente a imaginação, já que ficou cego pelo objetivo único de usar de todos os meios não importam os fins a considerar, nem o preço a pagar por toda a sociedade.  E o pior disso tudo, é que conseguem convencer as massas, que estão certos, embora preguem o tempo todo, que não existem mais verdades. Poderia muito bem não ser verdadeiro até mesmo tudo aquilo, que pregam? E o surrealismo é maior, quando observamos certos políticos de Brasília falando de ética, ao fazer um cineminha particular, toda vez que visualizam uma câmera por perto, para falar contra a corrupção, sendo os mesmos, os seres mais corruptos da face da terra em todos os aspectos. São esses homens sem moral, sem valor e sem caráter, que viraram protagonistas, ou jogam o papel que lhes cabem nesse latifúndio, premidos pelas necessidades ou oportunidades políticas, algumas possibilidades ou chances de escapar de um abominável processo de desmoralização pública com a pecha de corrupto num julgamento final no STF. Muito embora o personagem Maluf vista muito bem esse personagem há muito tempo, aparentemente sem grandes preocupações, parece que o Maluf leva e tem uma boa vida em suas propriedades em São Paulo, apesar da pecha de corrupto.
São extremamente conservadores também em questões muito sensíveis aos direitos civis de minorias sociais, como o direito ao aborto, são contra a ampliação de direitos civis para o movimento LGBT, como a adoção por casais homoafetivos, e todas as demais questões que beneficiem outras minorias. Minorias que eles discriminam, abominam, violam, fazem piadas politicamente incorretas e desrespeitam publicamente. Aliás, mais um traço peculiar da direita política, não respeitar minorias, nem quem estiver fora do padrão, isto é, todos os diferentes de forma geral. Desejam excluir direitos de algumas minorias, se voltarem ao governo através desse golpe escroto. Escroto porque sub-reptício, sujo, ilegal, do vale tudo na política, do quanto pior melhor, do levar o país ao caos desde que consigam os seus objetivos espúrios, que podem ser qualquer coisa. Daí a escrotidão de uma ética dos meios e não dos fins, eles não têm fins, jamais. O que importa são os meios. Cada um ali tem o seu objetivo sujo particular, porque não há um objetivo comum de país. O que esperar de um fascista corrupto, réu em processo no STF ou em Curitiba? Estou certo, que todos sabem a quem me refiro. Claro, apenas quer safar a própria pele, custe o que custar. E se tiver a chance de obter mais algum ganho, larápio que se preza, não vai deixar escapar, lógico. Será o completo butim dos recursos nacionais, e um enorme rombo na soberania do país. Ainda há tempo de evitar isso, pensem, reflitam um pouco sobre os prós e os contra de todo esse louco e tenso processo, em que estamos afundando, que poderá trazer muito prejuízo para muita gente, e que ainda há tempo de evitá-lo. Urge, evitá-lo, não vale a pena correr o risco.


O significado do SIM e do NÃO


Que governo é mais democrático? Claro que é aquele governo, que procura incluir mais gente, através de várias políticas públicas.  Onde cada problema diagnosticado pelos institutos de Estado, como o IPEA por exemplo, é disponibilizado para os técnicos do Ministério do Planejamento estudar os dados, para então, depois de profunda análise, poder estabelecer as condições mínimas necessárias, para criar programas, que melhor atenda cada problema específico. Nenhum governo popular e democrático, não pode se atrelar jamais, ficar restrito apenas à filosofia do senso comum: "farinha pouca, meu pirão primeiro". Incluir mais é fundamental, incluir sempre, estender a democracia para mais gente, ampliá-la cada vez mais. Criando condições para se chegar a ter mais cidadania, mais direitos civis para muito mais gente, tanto para quem já foi incluído, e precisa avançar mais em novos direitos, como também para aqueles que ainda não foram contemplados, e continuam, portanto, fora do sistema de controle social, feito pelos gestores dos programas. Construir uma estratégia política com políticas públicas específicas, facilitar o acesso e finalmente trazê-los para o mercado e a cidadania plena, e dessa forma, possibilitar o empoderamento dos mais humildes. Não se pode ser negligente jamais, com o controle e a eficiência na gestão, e muita fiscalização de todos os programas. Essa é a diferença fundamental e essencial, entre os rumos de uma política governamental popular de esquerda, e as políticas neoliberais, que deixa tudo entregue aos caprichos do deus mercado. 
Depois do tétrico espetáculo de domingo, 17 de abril. Uma vergonha! Foi vexaminoso, ver exposta pelas tevês mundo afora, a face negra da política brasileira, mostrada da forma mais sórdida e mesquinha possível. Através dos principais protagonistas dessa crise, e outros, que mesmo nas sombras, são muito influentes nos bastidores. Além de todo baixo clero, a imensa maioria da Câmara, que protagonizou o evento político mais vergonhoso, que assisti até hoje. Imaginem, tudo isso posto às claras, de forma absolutamente transparente, para o mundo inteiro assistir. Uma vergonha! Uma Vergonha nacional exposta para quem quisesse ver, aqui e lá fora. Fomos pegos com as calças na mão, na altura dos joelhos. O mundo inteiro assistiu em que ponto está o nível e o preparo de nossa elite política, e de todos os seus asseclas, ou seja, os membros da Câmara baixa, os deputados federais. Que baixo nível! Um espetáculo lamentável e de imenso mal gosto.
Quanto à democracia. Pelo que foi visto domingo passado. Com os deputados cassando o mandato da presidente em nome de toda a família, ou individualmente em nome de Deus, do pai, do avô, da esposa ou dos filhos. Ficou tudo muito claro e evidente, que a direita conservadora não é nada nada democrática, no sentido de querer incluir mais. Em todas as suas manifestações dos últimos tempos, fica visível e transparente, como são contra as cotas para negros e todos os demais programas de inclusão social em vigor. É claro, que se for feita a pergunta para qualquer um dos golpistas, eles negarão de pés juntos que não, mas nos bastidores já conspiram pela retirada de dezenas de direitos civis assegurados pela Carta de 1988, e regulamentados desde então. São extremamente conservadores também em questões muito sensíveis aos direitos civis de minorias sociais, como o direito ao aborto, são contra a ampliação de direitos civis para o movimento LGBT, e todas as demais questões que beneficiem outras minorias. Minorias que eles discriminam, abominam, violam, fazem piadas politicamente incorretas e desrespeitam publicamente. Aliás, mais um traço peculiar da direita política, não respeitar minorias, nem quem estiver fora do padrão, isto é, todos os diferentes de forma geral. Isso me lembra o Neguinho da Beija Flor, quando repete mais uma vez, algum refrão: "Olha o nazismo aí gente!"
A ser verdade, o que foi assistido por todos no domingo 17. O que importa para esses deputados é o clã, isto é, o núcleo familiar. "La famiglia!". É curioso, porque a família é o bem mais importante também para as máfias italianas. Então, fica o alerta, que qualquer semelhança com a realidade, não passa de mera coincidência.

http://publico.uol.com.br/multimedia/video/eu-voto-por-este-e-por-aquele-como-foi-a-votacao-do-impeachment-de-dilma-20160418-141002

A direita mostrando as garras


Muito antes de concluir a consecução do golpe parlamentar, que já dão como favas contadas. A nossa direita tupiniquim já começa dizer a que veio. Estão indo com muita sede ao pote. É visível que a intenção é mesmo, tomar de assalto o poder de Estado como estabelecido pela Carta de 1988, com todas as conquistas regulamentadas pelo Congresso desde então, e mudar tudo, sem dar a menor satisfação à sociedade civil. Claro, que não precisam dar, eles não foram eleitos, deram um golpe, então não devem satisfações. Não escondem de ninguém, que não gostam nem um pouco, de nada, que os governos do PT fizeram esses anos todos. Não gostam de nada. É incrível como, mesmo sem nenhum voto nas urnas, se acham no direito de tomar de assalto o Estado brasileiro, e qual um tornado terrível, alterar tudo da noite para o dia, e o povo que se lasque. Porque eles não são nada nada democráticos. A última é o marco civil da internet, regulamentado em 2014, que querem inviabilizar, alterando totalmente tudo aquilo que foi aprovado, e é um exemplo para o mundo, com muitos países copiando e seguindo o modelo brasileiro ao se espelhar nele. A proposta dos golpistas é rasgar o marco civil de internet, conquistado às duras penas, depois de muita luta, discussão e debates com a sociedade civil. Querem rasgar o documento e criar outro de cima para baixo, sem discutir com a sociedade, porque eles não são nada nada democráticos. É preciso que a sociedade reaja imediatamente, porque se a iniciativa da direita prosperar, em seguida começarão a cobrar o acesso à internet, que hoje é ilimitado, por tempo de uso. Dessa forma, inviabilizarão o acesso à internet, para os mais pobres. Por que? Porque eles não são nada nada democráticos. 
Por tudo aquilo que o país já passou nos últimos tempos, teve que enfrentar e superar, com crises e crises de todo tipo. Desde a época em que lutava com inflação galopante, uma enorme dívida externa, a miséria nas grandes cidades e os sucessivos planos econômicos para pôr fim às crises conjunturais, e outras nem tanto. A nossa elite teórica adquiriu e acumulou todo um conhecimento, que em momentos de dificuldades, pode se tornar muito útil. Portanto o país tem bagagem e quilometragem para superar qualquer crise interna. Acontece, que muitas crises do mundo de hoje, são em sua grande maioria, resultado da crise do capitalismo financeiro internacional desregulado. Capitalismo financeiro, que enxerga num país como o Brasil, uma excelente oportunidade, para otimizar os seus lucros financeiros exponenciais. Para isso, precisa de aliados fortes internos, que facilitem a otimização dos rendimentos de aplicações e investimentos financeiros do rentismo. Daí eles precisarem de um Banco Central independente, para poder elevar os juros Selic para a estratosfera, quando for conveniente. O sistema financeiro é tão forte, que mesmo durante o governo do PT, acumulou imensas fortunas com o rentismo. Só durante os últimos doze meses, que terminou em março passado, foram 513 bilhões de reais, retirados do tesouro nacional e entregue em mãos dos aplicadores rentistas. Isso durante um governo, que fez e trabalha em benefício dos mais pobres. Agora imaginem num governo neoliberal, com o fim dos programas de transferência de renda para os mais carentes, e o aumento dos juros, mais do que já são hoje, a montanha de dinheiro, que será transferida para os mais ricos, e o consequente aumento da desigualdade, que já é grande. Esse é o cenário, que nos aguarda. Quem já leu o programa do PMDB, "uma ponte para o futuro", lançado em outubro de 2015, diz que é um programa econômico mais liberal do que aquele dos tucanos, quando os tucanos eram governo. Querem ser mais realistas que o rei. Então serão privatizações em massa, para agradar e fazer média com o butim internacional do patrimônio público nacional. E no Congresso já começa o movimento pela terceirização do trabalho, e o objetivo principal é o fim da CLT e da justiça do trabalho. É bom a população ficar bastante antenada e ligada, se articular com os seus órgãos de classe, categorias profissionais, sindicatos e movimentos sociais, para tentar reagir, senão a chance na perda de direitos, que já é evidente, será muito forte, com tudo que anda em marcha. Por que hein? Porque eles não são nada nada democráticos. Nada nada democráticos.




terça-feira, 19 de abril de 2016

Não precisa entender




Claro que não precisa entender de política, para perceber a farsa que foi a votação nominal de domingo passado no Congresso Nacional, a favor do impeachment da presidente da República. Onde só faltou um deputado da Bahia dizer, que era a favor do impeachment, em homenagem ao cuscuz de Mainha, segundo o humorista José Simão. Dezenas de outros deputados, que na hora de decidir o futuro do país, votou contra a presidente em nome da mulher e dos filhos. Outro pela nação bíblica de Canaã. A grande maioria dos deputados com um nível intelectual pré-ginasiano, falava de tudo, menos qual a razão que o estava levando a tomar uma decisão como aquela, de afastar a mandatária do país, que é o quinto país do mundo em extensão territorial e o oitavo em população, com mais de duzentos milhões de pessoas. Todo mundo sabe, já é ponto pacífico, que o nível do Congresso é baixo, mas nada como assistir ao vivo e a cores, a que ponto chegou o nível dos nossos congressistas, uma calamidade pública. Foi um choque e uma vergonha ao mesmo tempo. Pirante. Termos o nosso futuro entregue a gente tão desqualificada. Alguma coisa não bate bem, tem algo errado, não pode ser, indagam-se incrédulos diversos leitores/eleitores mais instruídos.
Não precisa entender de política, para perceber toda a tramoia conspiratória do vice-presidente, aliás figura nefasta sob todos os aspectos consideráveis.
Não precisa entender de política e nem ter posição político ideológica, para perceber que o partido derrotado não aceitou o resultado das urnas, não aceitou perder, desde que veio à tona o resultado final da apuração. E desde então, não faz outra coisa, que não seja: conspirar, criar dificuldades, pautas bombas, apresentar óbices e transtornos políticos à atual presidente.
Primeiro ato foi apoiar a eleição para presidente da Câmara de um bandido contumaz como Eduardo Cunha e toda a sua camarilha de neófitos. Quase cem deputados novos, que só conseguiram se eleger auxiliados pelo dinheiro sujo, fruto dos acharques, extorsões e ameaças de Cunha contra empresários e outros endinheirados da república. Uma montanha de bilhões de reais, que ajudou a financiar a campanha política de dezenas de lobistas, que do dia para a noite, tornaram-se políticos de carteirinha e cartilha, e sobretudo paus-mandados de Cunha, prontos a cometer qualquer ilegalidade em prol do mentor mor.
Não precisa entender de política, para perceber o papel jogado pela grande mídia nessa crise. Crise aliás criada, em grande parte, com o relevante papel jogado pela própria mídia oligárquica, familiar e monopolista. A forma como explora certas notícias contra o governo. A maneira como conseguiu criar uma narrativa do contra, tornando-a hegemônica, através da repetição de mentiras tantas vezes repetidas, que colaram na opinião pública como se verdades fossem.
Não precisa entender de política, para perceber e ver, que essa história da Fiesp, um colegiado de empresários bem sucedidos do estado mais rico, dizer que não quer pagar o pato, é outra grande mentira. Que quem, na verdade, sempre pagou o pato, foram os trabalhadores e parte da classe média assalariada do país. Mais uma farsa portanto.
Não precisa entender de política, para perceber, que o juiz Sérgio Moro, que se notabilizou com a campanha da operação Lava Jato da Polícia Federal. DESVIRTUOU totalmente os objetivos da operação que comanda, ao fazer o uso político da operação, quando negociou e revelou escutas telefônicas de conversa da presidente, para a maior rede de tevê do país. Tentando com isso, desestabilizar e criar um clima de comoção contra o governo. Levar o país ao caos político e incendiar as massas.
Além de tudo, que foi arrolado acima, não precisa entender de política, para saber que existem inúmeras outras razões claras e evidentes de todo o movimento golpista comandado por corruptos contumazes e notórios da república, travestidos de conspiradores.
Enfim, não precisa entender de política, para perceber e entender nada do que foi dito acima, porque está tudo tão claro, visível e à mostra.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Sem medo de errar 2


Evitando tornar o tamanho do texto anterior maior do que acabou ficando, omiti outra influência fundamental, uma influência importante, quase a gota d’água para a mudança de postura, e que contribuiu de forma relevante, para perder o medo de publicar. Foi o encontro com alguns membros da nova onda em voga, a dos “fashion filósofos”, que aliás, tentei retratar em outro post com link disponibilizado no final desse texto. É que, a se acreditar naquilo que defendem ardentemente, mas antes  de tudo, devo e preciso dizer, que esse não é o meu caso. Não acredito nesse tipo de filosofia, ponto, embora sejam inegáveis as manifestações do comportamento de manada na população, sobretudo na relação público/leitor e os "mass midia", fenômeno relevante, que eles tentam entender e abordar. Os adeptos da corrente em voga da chamada “fashion philophy”, ou seja, o sujeito adepto e fã de carteirinha das novidades e das tendências top. De questões como: "Quais são as últimas novidades?" Ou de: "Essa é a questão principal? Ou daquele: "O que está rolando? E aonde?" Uma espécie de investigador do conhecimento, que está mais para caçador de vanguarda, do que para pesquisador. Por intermédio de alguns deles fui alertado, com uma espécie de toque, uma leve e sutil advertência, cuja intenção era me oferecer algo, que me ajudasse a escapar do "anacronismo". Será que buscavam me curar? “Veja, é preciso ter um certo cuidado com esse negócio da VERDADE", disse um deles. "A noção de verdade está totalmente por fora hoje”, afirmou outro e em seguida já emendou: "não existe verdade!". Me contive o quanto pude, mesmo não sendo especialista em epistemologia e lógica. Me contive, porque sei, que negar a existência da verdade com a veemência proferida, era uma contradição nos termos, pois a ser verdade aquela negação da verdade, dizer “que não existe verdade” também seria falsa e não verdadeira, pois se não existe verdade, tampouco poderá ser verdadeiro os discursos que tratam do assunto. Mesmo se tivessem posto a ressalva: “salvo o que estou afirmando agora”. A questão ficaria sem solução, cairia-se num impasse, num beco sem saída. Da mesma forma que tratou da verdade, em seguida passou a atacar a realidade, afirmando que tampouco existe "realidade" a considerar objetivamente. Que era ingenuidade continuar acreditando na noção de "realidade", no sentido de que existe algo lá e você aqui, em mundos paralelos. Que "realidade" só passa a significar alguma coisa, quando mediada por alguma consciência. Sem isso é pura fabulação. Portanto, “o que existe para valer, é a minha realidade, a sua e a dele”, me asseverou um outro do grupo com veemência. E continuou com convicção, que “não existe realidade, que tenha existência objetiva e apareça da mesma forma para todas as consciências”. E finalizando, concluiu com mais convicção ainda: “existem tantas realidades, quanto o total de cabeças capazes de elaborar realidades variadas e mutantes, mas não apenas pelo critério aritmético, e sim pelo logarítmico". Não sei se é impressão, mas acho que dessa forma, e por muito menos, cai-se num relativismo absoluto. Preferi não contra argumentar, apenas balancei a cabeça concordando, como se estivesse a dizer, que estava me esforçando para tentar alcançar o difícil raciocínio deles. Bem, diante de tudo, me indaguei, que importa os meus erros? Se é tudo tão efêmero e passageiro, nada mais é importante, se é e não se é, quase ao mesmo tempo, nesses tempos super velozes de nossos dias. Então, como dizia, a se acreditar nessa filosofia relativista, e que tem por narrativa, não ter narrativa grande, longa e sistemática. Que flerta o tempo todo com aporias e contradições. Tudo se quebra, se parte e se fragmenta o tempo todo. Nada permanece. Pronto, tudo isso foi a narrativa perfeita, que estava precisando, que viesse fortalecer, dar coragem suficiente, para poder me expor mais sem tanto receio, que ajudasse a dar a cara à tapa, sem medo de errar e de cometer falhas, e sem me levar mais tão a sério. Repetindo, o que teclei atrás, o que não significa aderir, em hipótese alguma, nem acreditar uma vírgula sequer, nesse tipo de narrativa, sou avesso a esse tipo de novidade meio antiga. Serviu apenas como o empurrão, que estava aguardando e precisando, e só. Qual o problema cometer alguns erros?

Assuntos conexos:

Sem medo de errar




Acho que finalmente perdi o medo de me expor. A insegurança começou a desaparecer, quando comecei a perceber, que o medo que persistia, era o medo de ERRAR. O medo de me tornar desacreditado se fosse considerado leviano e pouco sério, nas coisas que escrevia, quando viesse a publicá-las. Dessa forma me tornei excessivamente autocrítico, bissexto, passei a escrever muito pouco, só ocasionalmente, e jamais publicava o que fazia, mesmo tendo o blog disponível desde o fim do ano de 2009. Entendi que escolher não publicar o que escrevia, mesmo ocasionalmente, era também uma forma de enrustimento, medo de me mostrar, de me expor, uma forma de permanecer num armário existencial, similar ao que ainda vejo em certos amigos, que tem medo das redes sociais, por conta da exposição exagerada de seus nomes expostos na rede para quem quiser ver. Uma amiga chegou a dizer, que estar no Facebook, era como se estivesse expondo o traseiro na janela, correndo o risco de ser enrabada a qualquer momento, por não se sabe quem. Hilária imagem. Como preferi olhar no sentido e na direção de outros amigos, que são o oposto dos excessivamente reservados; olhar para quem não tem mais o menor receio da exposição, porque já estão a fazer, e a produzir seus trabalhos há muito tempo. E como necessariamente precisam divulgar os trabalhos, e que para isso, de um jeito ou de outro, tiveram que mandar o medo para o cacete há muito tempo. Estão todos portanto, produzindo em diferentes áreas, e são mais felizes, do que os amigos mais reservados e ainda receosos em se mostrar. Então não tive dúvida, que esse era o melhor caminho, que nunca é tarde para mudar o rumo. E entrei de cabeça nessa rota, estimulado, em parte, pela desonesta campanha política pela queda da presidente. Comecei a produzir textos em profusão, quase que diariamente, que depois de rapidamente lidos e editados, publico imediatamente no blog, e de acordo com o conteúdo, também compartilho no Facebook. Uma ocupação que dá um pouco de trabalho, sem dúvida, mas é um trabalho gostoso de fazer, e prazeroso. Foi assim, que nunca publiquei tantos textos em tão pouco tempo, só esse ano de 2016, desde o início do mês de janeiro, já foram mais de quarenta textos publicados no blog, além dos comentários em posts de terceiros, e nem tudo foi apenas sobre política. E o mais importante a considerar, é que, diferentemente de antes, quando criava enormes expectativas sobre o resultado, o desdobramento que viria a seguir, os comentários dos amigos ou não. Dessa vez, não ignoro comentários quando surgem, mas não são mais definitivamente fundamentais. Tenho como certo agora, que o fundamental é continuar produzindo, escrevendo e publicando. O que vier a partir dos textos será consequência de um fazer, sem criar mais grandes expectativas no aspecto do reconhecimento, medo de errar e outras bobagens do gênero. A ordem agora é publicar e publicar. O mais importante é fazer. A única coisa que ainda acompanho é o número diário de leitores, através do contador do blog, e eles estão aumentando gradativamente, tanto aqui como no exterior, onde os países com mais leitores são EUA e Alemanha. Agora para isso, tenho ciência, que se quiser turbinar o número de leitores, será preciso um trabalho mais sério de divulgação, que penso mais tarde terceirizar. Descobri também, por outro lado, que em tempos de internet, onde as informações fluem de forma muito rápida, tudo flui, quase nada se fixa por muito tempo, passei a relativizar um pouco o que é dito, escrito e publicado. Também sei, que há também algum risco, porque quando "algo" pega, vira meme e cola nas mentes, é foda! Mas no geral, tudo passa ligeiro e veloz. Há quem associe a esses loucos tempos de net, a questão do tamanho da mensagem, sempre ouço o mantra, de que o texto precisa ser diminuto, quanto menor e sintético melhor. Mas de uns tempos para cá, venho notando uma leve mudança, que o bicho não é tão feio como pintam. Eu mesmo leio os meus posts do blog no celular, de vez em quando, e dá para ler numa boa, são legíveis apesar do pequeno tamanho da tela. Então não é bem assim, os meus textos não são curtos, só muito raramente, e mesmo assim, tenho leitores. Há público para tudo, até mesmo para textos maiores e mais profundos. Então, por que desprezar essa oportunidade? Sem medo de errar!

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Os Fashion filósofos


Não sei definir, mas a ideia suscitada já ajuda um pouco, aponta caminhos, rumos a seguir. Talvez fosse o amante das novidades do pensamento, e das novas tendências, tal qual num evento de moda? O que é que tem sido discutido ultimamente de mais relevante? O que está dando o que falar. Não sei, mas tudo leva a crer, que esse amante filósofo das últimas novidades do mercado do pensamento e da reflexão, caso queira levar a sério esse caminho, vai precisar trabalhar muito em pesquisas e intensas leituras, para se manter atualizado, e procurar saber quase tudo, a respeito do que tem sido publicado ultimamente nos departamentos universitários e áreas conexas do conhecimento filosófico. É um desafio e tanto, mas para quem é jovem, curioso, tem tempo disponível e disposição física e emocional, fala mais de duas línguas, tudo pode acabar sendo muito divertido, além de enriquecedor, claro. E como esse agente do conhecimento de vanguarda, é obrigado por força do ofício, a se ocupar com as novidades mais top do pensamento, não poderia receber outro nome, que não fosse o de “fashion philosopher”, ou filósofo fashion. Que não se caracteriza apenas pelo fato de ser um caçador de vanguardas top do pensamento. Também ajuda a divulgar aquilo que já deglutiu e assimilou, e finalmente aderiu com vigor. Em geral faz a divulgação, com muito proselitismo e ardor, das novas ideias. Sobre algumas delas, quando decide falar, manifesta um certo rubor facial, tal é a carga e envolvimento emocional. Em outras vezes embarga a voz, quando toca em assuntos mais delicados. Com os “fashion filósofos” conhecidos, costumo apresentar, quando encontro algum, certas dificuldades em compreender suas mentes enroladas, com muito novelos e fios de pensamentos diversos, fios desencapados e não conexos, de várias origens, autorias desconhecidas. É notável como se negligencia o valor e a importância do nome do autor, a autoria, como se o nome do autor, filósofo, crítico ou escritor, não fosse relevante. É verdade, que não é sempre assim com todos, não são todos os caçadores de vanguarda, que apresentam tal distúrbio. Mas a preferência maior é pela tendência preponderante, a escola ou corrente, por onde navega esse ou aquele divulgador fashion filósofo, que não faz mais do que pegar uma onda e fluir naquela corrente de pensamento em evidência. Noto também, que não costumam se valer, em momento algum, de qualquer uma das grandes narrativas históricas como referência em seus trabalhos e "papers". Deixam claro não precisar de referências históricas, que julgam desnecessárias ou irrelevantes. Só fazem conexões com outros dados no âmbito micro, e no estrito campo específico da área de conhecimento onde estão a trabalhar. Não transcendem jamais o foco de estudo, as especulações e conjecturas são limitadas ao objeto específico da pesquisa, aliás não gostam nem um pouco do vocábulo "transcendência", além de muitos outros, e também de toda a metafísica. Não se interessam nem um pouco, por ontologia. Seria um retorno ao positivismo? É bom ressaltar, e chamar a atenção, para a impressionante quantidade de vocábulos condenados e satanizados por esse tipo de filósofo. O que logo me fez lembrar de Alain Badiou e de sua ideia da “absolvição dos vocábulos”, e quase indiquei algumas cápsulas de Badiou. Puxa vida! Como eles estão precisando! Pensei. E precisam praticar com urgência a “absolvição de vocábulos”. Mas logo logo desisti, quando me dei conta, que Alain Badiou não tem o "phisique du rôle" adequado e verossímil, nem apelo suficiente, para atrair o interesse de um jovem filósofo fashion. Em primeiro lugar porque, apesar de ainda estar produtivo e extremamente lúcido, é um idoso com 79 anos completos em 17 de janeiro último, e continua ainda a falar de Marx, e para acabar de estragar tudo, até de "hipótese comunista" resolveu falar ultimamente. "Ah, é muito 'old fashion', para o meu gosto", me disse um, ao perguntar se conhecia Badiou. Depois de levar algum tempo, finalmente realizei que apenas sobre poucas coisas se poderia abordar com eles. É preciso tomar cuidado com as palavras escolhidas e ditas, pensar muito antes de falar, como se estivesse pisando em ovos, ou num campo minado. Vocalizar, sem querer, em ato falho, um termo, um vocábulo ou conceito de uma filosofia mais tradicional é motivo para ataques, é bom estar preparado, porque os dardos virão de qualquer forma, não tem jeito. Porque, logo de cara, já se percebe, que não se é um deles.
   


quarta-feira, 13 de abril de 2016

Todo o mundo tem sangue até as orelhas



Trocando pequenas notas por e-mail com um amigo, a respeito da leitura de uma entrevista com Alain Badiou, publicada no CartaMaior em 2012. Num determinado momento da entrevista, enquanto Badiou tece considerações a respeito da ideia comunista ou hipótese comunista, conceito criado por ele a partir da ideia original do termo comunismo, o repórter pegando um gancho, o interrompe de forma provocativa com uma pergunta a respeito das matanças durante o Stalinismo. Badiou não se abala, nem se faz de rogado, e responde com a frase que copiei e transformei no título desse texto: “todo o mundo tem sangue até as orelhas”. Depois, aproveita toda a sua imensa cultura histórica, e constrói uma catedral narrativa de todo aquele período. Em seguida estabelece diversas conexões do fenômeno matanças, genocídios e guerras etc., com exemplos similares em outros momentos da história, dentre os quais o do próprio Cristianismo, que segundo Badiou, apresenta dois exemplos, duas visões do Cristianismo bem nítidas e distintas. Uma é a visão de São Francisco de Assis, que é: “o advento da ideia de uma verdadeira generosidade para com os pobres”. Mas, do outro lado, o Cristianismo “também é a inquisição, o terror, a tortura e o suplício”. Foi nesse momento que o meu interlocutor, como o bom cristão militante que é, decidiu contrapor aos crimes do Cristianismo apresentados por Badiou, os crimes da época Stalinista. Num tom, como tivesse saído com armas em punho, em franca defesa do Cristianismo. Voltando ao texto da entrevista, lembro de uma passagem em outro momento particular, onde Badiou chega a propor uma “absolvição dos vocábulos”, segundo palavras dele. Gostei muito da ideia de: "absolvição dos vocábulos". Porque não é o Cristianismo que é mais ou menos criminoso que o Stalinismo, nem vice versa, o vocábulo não é o “x” da questão. A interpretação que faço da leitura de Badiou, se é que entendi bem, o que Badiou realmente quis dizer, é que a matança ocorrida durante o Stalinismo não tem a sua razão de ser no Stalinismo em si. Da mesma forma se pode raciocinar quanto ao período crítico da Inquisição no Cristianismo. Badiou nos lembra também da Primeira Grande Guerra, levada a frente pelas três democracias mais avançadas da Europa na ocasião, Alemanha, Inglaterra e França, que gerou um morticínio imenso de milhões de vidas, um episódio absurdo e apocalíptico. Dessa forma verificamos, que as matanças ocorridas ao longo da História, não são fruto apenas de uma narrativa ideológica dominante, que estiver dando as cartas na ocasião, seja o Cristianismo, as Democracias avançadas da Europa durante a primeira guerra, ou até mesmo o Stalinismo. Portanto, não é uma ideologia, que produz matanças. Infelizmente ainda não perdemos a necessidade de destruir vidas, de matar compulsivamente, faz-se isso diária e cotidianamente. Desde uma simples medida política negociada no Congresso em Brasília, que traga arroxo para a classe trabalhadora, e que, em consequência, provocará mortes. Como intervenções diretas de uma potência imperial e hegemônica, contra um pequeno país soberano ou outro nem tanto, que provocam guerras civis e mais mortes e matanças. Como assistimos recentemente na Líbia, e agora de forma indireta também na Síria, porque na intervenção Síria são usados agentes desestabilizadores locais, grupos sírios de oposição a Assad, que foram armados até os dentes, pelas potências ocidentais e pela Arábia Saudita, além de armas poderosas, também com recursos financeiros. Quem não se lembra do genocídio perpetrado pela Sérvia nos anos 90, contra grupos étnicos minoritários da Croácia e da Bósnia? Uma limpeza étnica? E assim, a matança continua não importa a narrativa dominante da vez. Para matar não se precisa de uma narrativa justificadora antes de uma chacina, ou de um genocídio, não se despreza essa possibilidade, mas em geral, constrói-se essa narrativa depois. Primeiro, mata-se! Depois conta-se a estorinha.

Assunto relacionado:"O comunismo é a ideia da emancipação de toda humanidade"

terça-feira, 12 de abril de 2016

A ÉTICA DA DIREITA



A ética hegemônica hoje na direita brasileira, é aquilo que no senso comum, é conhecido como a ética de: "dois pesos e duas medidas". Ou em outras palavras, algo similar a: "faça o que eu digo, mas não faça o eu faço". Ou ainda a dupla moral, ou o falso moralismo, como o daquele pai que conduz a família na maior linha dura da repressão em casa, e na rua se conduz na bandalha total. Como quem diz: "Na rua posso, em casa não", ou o "meu lar é sagrado". Tudo isso ficou mais do que transparente durante a semana que passou, como narrado no texto em link no rodapé. Após uma entrevista do Ministro Marco Aurélio Mello do STF, concedida ao programa Roda Viva da TV Cultura de São Paulo, transmitida ao vivo na segunda feira do dia 4 de abril. Nessa entrevista, por não poder corresponder ao que a mídia esperava dele, já que a fala do ministro foi toda no sentido de defender o que rege a Constituição Federal, atitude que deveria ser realmente, aquilo que se espera, e o papel constitucional de qualquer ministro da Suprema Corte. Razão mais que suficiente para toda a mídia hegemônica passar a semana a fazer todo tipo de ataque contra o ministro. Ataques covardes, falsos e mentirosos. Durante a semana esse foi um dos assuntos mais pautados pela imprensa de forma geral. Foi feita uma pressão enorme, expressa de forma fascista, numa tentativa de levar toda a sociedade a aderir a um tipo de pensamento único, uma narrativa única de condenação sistemática do governo central, de forma massiva, intensa, ofensiva e agressiva, que se materializou através dos ataques ao ministro, que julgaram ser defensor do governo demonizado. Tudo feito e executado de forma e estilo também fascista. Aproveito para acrescentar que, aqueles que apoiam ações praticadas por certos grupos organizados, gangues de militantes coxinhas, que se juntam vestidos de verde e amarelo, com o propósito de atacar determinadas autoridades de estado, empresários, políticos ou intelectuais favoráveis ao governo, em locais públicos, como aeroportos, restaurantes, livrarias e até em shoppings. É reprovável sob todos os aspectos, principalmente porque é uma prática fascista no sentido clássico do termo. É fascismo também, e ilegal, apoiar ou assegurar apoio nas redes sociais, a quem insulta e ataca qualquer cidadão de bem, ou um agente público de Estado. E o faz, compartilhando posts impregnados de ódio contra autoridades que pensam diferente ou que apoiam o governo. É fascismo, cercear o direito de ir e vir de qualquer cidadão, apenas porque o cidadão tem um pensamento divergente de uma corrente político ideológica, que se quer fazer hegemônica através da força física e bruta, e da pressão dolosa. Por outro lado, quando alguém fala o que se quer ouvir, canta a mesma canção, dança a mesma valsa familiar, como é o caso do ministro Gilmar Mendes. Mas que de imediato, torna-se o queridinho da vez, bajulado por toda a imprensa importante e monopolista do país. Quando pratica alguma arbitrariedade, a mídia condescendente dissimula, e escreve que não é bem assim. Quando solta um corruptor contumaz como Daniel Dantas, a mídia silencia ou justifica como algo banal, juridicamente corriqueiro, nada anormal, conclui legitimando o malfeito. Nas redes sociais, os coxinhas ficam todos excitados com a quantidade de material disponível na internet favorável aos seus interesses. "Puxa vida!" Diz um. "Quanta coisa para compartilhar!" Vaticina outro. Todo mundo a compartilhar a carinha do ministro Gilmar Mendes, como um bravo guerreiro aliado, que está enfrentando as hostes do inimigo PT de forma briosa, "é um homem de valor esse Gilmar Mendes", diz um outro coxinha. Acham tudo bonitinho, normal e legítimo proceder dessa forma. Quer dizer, considera-se normal atacar e tecer críticas a um ministro do STF, por achar que o ministro mostrou um viés mais político em suas considerações, e apoia o governo, o que nem é verdade. Agora quando outro ministro, no caso o ministro Gilmar Mendes, faz abertamente declarações de cunho político, declarações mais alinhadas com a cartilha da direita, e contrária ao governo central, nesse caso dão todo apoio ao ministro do bem. O que só revela de forma clara, que opinião política de quem é contra o governo pode, já a opinião dos favoráveis não pode. Ou seja: a evidente ética de "dois pesos e duas medidas". O que só revela a total falta de legitimidade, em quem age dessa maneira, que além de não ser legítimo, não é legal. E não é legítimo, porque é imoral, porque é ilegal e nada ético. Falando francamente, com seriedade e honestidade. É preciso reconhecer que conduta desse tipo, Não é nada nada bacana. Não é nobre nem digna, sob pretexto algum, um cidadão de bem agir, como um fascista, em sua relação com um oponente político ideológico. É próprio do regime democrático cultivar-se a tolerância em relação a todos os credos seja de que natureza for. Concluo dizendo àqueles que gritam nas ruas simulando indignar-se contra a corrupção, e que nas redes sociais agem da forma descrita acima, com o alerta: "Atenção direita, como é falso o seu moralismo".



segunda-feira, 11 de abril de 2016

O novo Herói nacional



Moro recebe treinamento nos EUA desde 2009, inclusive treinamento preparatório de como proceder nos casos de delação premiada, incluído os procedimentos da pressão psicológica necessária, para obter os resultados esperados, e também sobre como proceder em prisões preventivas sem objetos claros o suficiente, que deem margem ou causa, para a prisão arbitrária. O que para o leitor desatento à cena internacional, possa parecer mais um treinamento técnico jurídico como outro qualquer, lembro do episódio ocorrido em junho de 2013 em Hong Kong, onde Edward Snowden ex-agente da NSA, que por enquanto continua refugiado na Rússia de Putin, sob ameaças de morte pelos serviços de espionagem ianques. Naquela ocasião Snowden convocou uma coletiva de imprensa, para informar sobre toda espionagem dos EUA contra autoridades internacionais, dentre as quais figuras como Angela Merkel, Dilma Rousseff e a empresa estatal brasileira Petrobras. Dilma tinha uma visita de Estado programada aos EUA, que cancelou abruptamente. Em seguida, denunciou a espionagem contra ela durante encontro anual de chefes de Estado realizada na sede ONU. Quem não se lembra? Tudo isso que acabo de narrar, apenas para estabelecer os elos de ligação entre uma coisa e outra, isto é, entre o treinamento do Sr. Moro nos EUA e os episódios de espionagem, que já vinham em andamento e execução, contra os interesses econômicos do país e das suas empresas, incluindo as empreiteiras nacionais. Os caras são eficientes, trabalham em várias frentes, levam vários aspectos do problema em consideração, e o judiciário é um fator importante, para amarrar bem a questão em pauta, e não dar a menor chance a nenhuma falha.  Pois muito bem, o State Department têm interesse em desestabilizar regimes políticos como o brasileiro, porque não vê com bons olhos o negócio do país junto ao bloco Brics, com todas as suas tratativas, incluindo a criação do Banco dos Brics, como alternativa ao Banco Mundial e ao FMI em Washington, e da exploração de óleo e gás do pré-sal e outras questões geopolíticas. Retornando a falar de Snowden, o documentário "CitizenFour" de Laura Poitras, disponibilizado no Youtube, mostra tudo isso e outras coisas mais, e até agora o State Department não desmentiu nada do que foi vazado, porque são documentos assinados por autoridades do próprio Departamento de Estado. Por outro lado, o que o Sr. Moro, um juiz de primeira instância, fato raríssimo, está fazendo contra as empreiteiras nacionais é um crime de lesa pátria contra os interesses nacionais, transcende completamente o aspecto jurídico da questão, que deveria ser a punição dos responsáveis pelos malfeitos, e não punir as empresas envolvidas. Por que paralisar as atividades das empreiteiras no país inteiro? Gerando com isso a perda de centenas de milhares de postos de trabalho. A quem interessa esse tipo de ação? Claro, que às empreiteiras norte americanas, concorrentes das brasileiras, pelo mundo afora, que devem estar adorando, além de outras, como as chinesas. Só no Comperj em Itaboraí/RJ, segundo dados do Caged, foram mais de 24 mil trabalhadores a ficar sem emprego, uma calamidade pública num município tão pequeno e ainda pobre. Não se pode colocar todo o desemprego na conta de Moro, claro, a gente sabe também da imensa queda do valor do petróleo no mercado de commodities, que reduziu em muito o valor dos royalties recebidos pelos municípios da área de óleo e gás. Mesmo assim Moro é um perigo, um risco, que deveria ser afastado com urgência, aliás não só ele, mas toda a força tarefa da Lava Jato, já está mais do que provado, que é uma farsa, uma fraude, que foi instrumentalizada por agentes políticos, para se conseguir objetivos políticos por outros meios. Só mesmo a cegueira ideológica e sectária, de quem faz oposição, é que transformou um homem desse tipo em herói nacional, herói de meia tigela. Porque não é usual, comum, legítimo e racional se punir a pessoa jurídica, e através do judiciário se levar uma empresa à derrocada e à falência. Seria como se jogar fora a água suja do banho com o bebê junto. Quando um grande grupo empresarial quebra, em geral é por problemas na gestão do negócio, um grande grupo ser levado à bancarrota pelo judiciário é fato raro. Não é esse o papel do judiciário. O caso Enron no Texas na primeira década desse século, é um caso exemplar, da razão principal, em casos de falência, ter sido por razão econômico financeira. Quanto ao envolvimento com a corrupção, há evidências do envolvimento da empreiteira norte americana Hulliburton, em vários casos de corrupção mundo afora, com o objetivo de conseguir vantagens indevidas ou vencer licitações de forma fraudulenta, e já foi pega em várias falcatruas do tipo, sobretudo em países da África, onde há provas de ter corrompido diversos agentes públicos locais, e não conheço nenhuma ação de censura feita pelo governo americano contra a empresa. O Sr. Moro é um agente público do Estado brasileiro, tudo leva a crer, que tenha sido cooptado e aliciado para servir a outros interesses, em detrimento do interesse nacional, e que agora trabalha para a desestabilização do país, disso não resta a menor dúvida, por todo o estrago, que já foi produzido a partir de suas ações intempestivas contra as empreiteiras nacionais. Está tudo muito claro e evidente, está na cara. Quanto ao império maior, é uma outra briga, uma briga de cachorro grande, onde o que está em jogo é a manutenção da hegemonia econômica deles. A Rússia está sofrendo uma pressão enorme, com bloqueio econômico, similar ao que o império impôs durante anos ao Iran, e contra a China estão tentando o mesmo, só que de outra forma. Contra cada país uma estratégia diferente, levando-se em consideração as especificidades e peculiaridades de cada um deles. Com a Síria está todo mundo assistindo o desdobramento da intervenção americana de modo indireto, uma guerra chamada de: "por procuração", quando se utiliza de agentes desestabilizadores pagos, isto é, milicianos mercenários contratados e financiados pelos países imperialistas e seus aliados da região, como a Arábia Saudita e Israel, subsidiando-os com muito dinheiro e armas potentes. O mesmo já feito no Afganistão com o grupo fundamentalista Taleban, por ocasião da intervenção soviética naquele país, ainda no tempo da guerra fria, e todo mundo sabe muito bem qual foi o resultado e o seu desdobramento, que aliás ainda continua. A forma como foi conduzida a intervenção, levou a Síria a uma absurda guerra civil, e se não fosse o forte apoio da Rússia e do Iran, já teriam reduzido o país a pó, como fizeram no Iraque, uma civilização de mais de cinco mil anos, que teve toda a sua cultura, memória e museus, dizimada e vilipendiada pelas tropas norte-americanas. A Líbia é hoje totalmente um Estado falido, desestruturado, estuprado e ocupado por diferentes gangues ao serviço desse ou daquele grupo de interesse, um verdadeiro caos. Muitos apontam, que o agravamento da questão migratória na Europa, se deve, em parte, à destruição do regime Kadhafi. Sem falar do Egito, da Ucrânia e outros. Concluo afirmando, sem medo de errar, que tentar alcançar determinados objetivos políticos através da desestabilização total do país, é um ERRO absoluto, onde todos os brasileiros pagarão um preço muito alto, que já estamos pagando. Então por que continuar a pagá-lo? Faço essa indagação àqueles setores protagonistas favoráveis ao golpe, que para alcançá-lo, se valem do artifício de levar o país ao caos e à desestabilização total.

domingo, 10 de abril de 2016

Um sectarismo contagiante


Talvez não seja exagero afirmar, que o sectarismo esteja hoje infectando mais gente do que a dengue, e suas outras variantes juntas, Chikungunya e Zica. Enquanto a ação do mosquito Aedes Aegypti esteja atingindo alguns milhares de brasileiros, o sectarismo político está contaminando milhões. Com um resultado muito negativo para a ainda jovem democracia brasileira, uma sociedade que há apenas três décadas vivia sob uma ditadura militar de direita, e que se pensava até muito pouco tempo atrás, que após trinta anos, já tinha conseguido consolidar o seu regime democrático. Agora quando começa a ter um certo protagonismo na cena externa, país importante do G-20 na rodada Doha, forte candidato a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU, um grande país emergente membro do gigantesco bloco Brics, campeão do agro-negócio, auto-suficiente em alimentos e em fontes energéticas, renováveis ou não. Enfim, uma série de razões, que só reforça à crença na consolidação da democracia no país de forma definitiva e com um futuro promissor pela frente. Até surgir a atual crise política a partir de 2013, e que vem se agravando a cada dia que passa, sobretudo após o resultado final das urnas em 2014, que deu a vitória apertada da atual presidente para mais quatro anos de mandato. Como disse Lenine há cem anos atrás, ao dar essa expressão como título a um dos seus livros: “Esquerdismo, doença infantil do Comunismo”, o mesmo se poderia afirmar hoje em relação à extrema direita inflamada. Tanto o esquerdismo radical como o direitismo extremado do fascismo, ambos são formas extremas de sectarismo político. Ambos movidos mais por sentimentos e paixões irracionais. E que torna muito difícil, para não dizer impossível, o exercício da reflexão e do pensamento na atividade normal da política. Dito isso é possível e seguro afirmar, que hoje devido a atual conjuntura, somos muito mais afetados e atingidos pelas consequências de um ativismo político da direita sectária do que qualquer outra coisa. Porque do lado dos apoiadores do governo, da situação, quase não há ataques, já que estão mais na defensiva, em total ação reativa contra os ataques da direita. Os maiores e mais sórdidos ataques tem visíveis digitais da direita política mais sectária. Mas voltando ao fio da meada, é possível dizer ainda que, o efeito da força descomunal de paixões despertadas pelo sectarismo político, não é exagero afirmar, conduz os humanos ao período pré-histórico, pela semelhança dos sentimentos. Quando se vivia em bandos, hordas, juntos em grandes manadas, ainda absolutamente incapazes de fazer as distinções mais simples entre certo e errado, sempre comandados e guiados pelo líder do bando, onde a motivação para o agir era originada pela força do grupo, e com uma capacidade de reflexão próxima de zero. Vistos sob os olhares de hoje, não é errado considerá-los como animais irracionais, com ‘neca de piti biriba’ de subjetividade. O sectarismo político se manifesta como uma espécie de paixão, uma paixão política exacerbada. Onde o indivíduo afetado por essa paixão, participa da política como um torcedor de futebol, se comporta como um fanático num Fla Flu. E como paixão verdadeira, no exato sentido da palavra, a paixão cega, limita a visão para outros aspectos da realidade concreta. É quando em fração de segundos, num lance rápido, de uma hora para a outra, corremos o risco de revivermos sentimentos similares àqueles dos primórdios da humanidade, do tempo das cavernas. No caso, nem me refiro à caverna da República platônica, não, de forma alguma, é coisa muito mais distante no tempo. Significa despertar sentimentos nada nobres, de um tempo em que ainda se vivia mergulhado profundamente na barbárie. As imagens que encontrei, enquanto buscava numa pesquisa na net, algo que representasse a barbárie, são medonhas, horripilantes, impactantes e chocantes, de tal forma que me fez desistir de qualquer uma delas para ilustrar esse post, até que por acaso dei de cara com a frase do filósofo francês enciclopedista e iluminista do século XVIII Denis Diderot (1713-1784), que ilustra e ilumina o texto de forma brilhante apesar de possuir um fundo de tela totalmente escuro, negro. Fundo negro, que caiu como uma luva na ilustração do presente texto, e foi tudo por acaso, porque existe uma luz no fim do túnel, é inegável, que a máxima de Diderot ilustra bem, já que toda crise também pode ser aproveitada como um excelente momento de oportunidade. Mas não se pode esquecer jamais do fundo negro, que representa o atoleiro em que estamos, em meio a toda a onda de intolerância, ódio, burrice e estupidez de uma direita sectária, que só pensa em vingança e revanchismo.     

As polêmicas declarações de ministros do STF



A semana iniciou-se com a célebre participação do ministro do STF Marco Aurélio Mello no programa Roda Viva da tevê Cultura de São Paulo, que por sinal deixou o status de tevê pública de Estado, que carregou durante décadas, para se transformar numa emissora completamente dominada e aparelhada ideologicamente pela turma de apoiadores do governador Alckmin. Costumava assistir sempre esse programa, nos bons tempos, mas depois que percebi no que o canal havia se transformado, passei a não sintonizar mas a TV Cultura de SP. Mesmo assim, vez ou outra dou uma zapeada para verificar quem é o entrevistado da vez, e como na segunda passada era o ministro Mello, resolvi apostar para ver o que iria acontecer. Na primeira rodada de perguntas, percebi que todos os entrevistadores, incluindo o âncora colunista da Veja Augusto Nunes, eram todos apoiadores de Alckmin, uma espécie de tropa de choque do governador, ou seja faziam abertamente oposição ao governo Dilma Rousseff. O que fica claro no tom e teor das perguntas, nas distorções de sentidos conceituais, pelas intenções claras de pressionar o entrevistado a se posicionar contra o Planalto, insistindo num ponto só, e por todo contorcionismo verbal, etc, em suma, uma evidente forçação de barra. Mas o ministro, experiente, um intransigente defensor da Constituição, foi se saindo bem das perguntas, em algumas situações precisou ser mais firme e até duro em algumas respostas, tal a insistência e veemência de alguns arguidores. Confesso que isso me desagradou, e em alguns momentos usei o controle remoto em busca de algo melhor. É muito desagradável a experiência de lidar com uma malta enfurecida de pensamento único, Nelson Rodrigues gostava de afirmar que: “toda a unanimidade é burra”, com o que concordo plenamente. Gosto da presença do contraditório nem que seja em menor número, porque é fundamental, para dar um certo dinamismo e fluidez ao pensamento. Todo mundo pensando do mesmo jeito é muito chato. Dessa forma acabei não assistindo ao programa todo, mas nem precisava, porque durante toda a semana, toda grande imprensa já partidarizada há muito tempo, publicou muito a respeito da entrevista do ministro, com críticas de todo tipo e algumas ilações suspeitas e desonestas. Afirmações inverídicas de que o ministro Mello tinha aderido ao governo Dilma, que era um petista roxo, e outras coisas do gênero, numa total irresponsabilidade e leviandades típicas de imprensa marrom. Há muito que não se faz mais um jornalismo sério, responsável e investigativo, salvo raríssimas exceções e alguns blogs independentes. Não preciso dizer, que os leitores adeptos dessa posição da mídia golpista, deitaram e rolaram. usaram e abusaram no compartilhamento desse tipo de matéria tendenciosa e deturpadora da fala do ministro Mello. Inclusive aqueles, que valendo-se do anonimato que a internet proporciona, vieram a público nas redes sociais a criticar o ministro, "como é que pode um ministro do STF fazer declarações favoráveis ao governo de forma tão clara", teclava um e "que isso não poderia acontecer" dizia outro. Teve gente que assinou até moção pedindo a cassação do ministro encaminhada ao Senado Federal. Uma coisa! Acontece, que percebi entre esses agora rigorosos críticos do ministro Mello, alguns que são useiros e vezeiros em compartilhar posts com o ministro Gilmar Mendes atacando o governo e o Partido dos Trabalhadores. Ah! Isso quer dizer então, que atacar o governo pode, é permitido, defender a Constituição não? Então aquelas críticas todas eram pura balela, conversa fiada ou para boi dormir? Não era para valer, e sim dois pesos e duas medidas? Como é que pode? Gente supostamente inteligente entrando em contradição, e sem noção? Ou se é contra declarações de qualquer ministro do STF e ponto, ou não se é. Agora, movido apenas por sentimentos políticos sectários, apoiar apenas o lado que pensa como a gente, e condenar o outro, NÃO PODE! Não é correto nem ético, porque são dois pesos e duas medidas. É muito perigoso se perder de vista o senso de justiça, por qualquer motivo, ainda mais agora estimulados pela crise política, que contaminou toda a cena política, o risco de retrocesso é muito grande. Porque se perdermos o senso de justiça, logo em seguida voltaremos às cavernas e o passo seguinte será a barbárie.
Assunto conexo:
http://www.vermelho.org.br/noticia/278916-1

quarta-feira, 6 de abril de 2016

O bom versus o mau


Cada dia que passa mais me convenço, que setores da nossa classe média, em particular aqueles setores, que hoje em dia abraçaram para valer, o ideário da direita política, GOSTAM de acreditar em fábulas. Com as suas pautas, adeptos de preconceitos sociais, confiantes na eficácia de sua estratégia de desqualificar adversários, da intensa campanha negativa contra as políticas públicas, que favorecem mais os mais pobres, demonização contra os cotistas negros, e fiéis adeptos da campanha do impeachment contra a presidente legitimamente eleita em 2014, etc. Enfim todos aqueles, que hoje em dia se convencionou chamar de ‘coxinhas’. Cada dia me convenço mais, que esses setores da classe média GOSTAM de acreditar em fábulas. Ou então assistem muito películas do cinema norte-americano, principalmente aos filmes de cowboy, a eterna luta do bem contra o mal, ou no caso de Hollywood era mesmo o bom contra o ruim, ou seja, numa inversão total de lugar entre bom e ruim. Por que o índio era considerado ruim por exemplo? Se o era, era por uma lógica partidária e tendenciosa, era o ponto de vista dos não-índios, os brancos. Portanto completamente relativizado e invertido, isto é, o bandido ocupando de forma sub-reptícia e errônea o lugar do mocinho. Por outro lado, estou adorando a emergência de todas essas manifestações individuais no campo da direita, porque está dando chance de vir à tona muita coisa ruim, emoções e sentimentos brotarem dos esgotos mentais, coisa bem peculiar a alguns setores da classe média tradicional. Está ficando tudo muito transparente. Porque costumava lidar com gente, a quem costumava idealizar um pouco o caráter. É natural mitificarmos a ideia que fazemos de alguém quando não a conhecemos direito. Agora com todas essas manifestações vindo à tona, muita gente resolveu aproveitar a onda e sair definitivamente do armário ideológico, o que é ótimo. Junto com isso trouxe também todo um arsenal preconceituoso, uma espécie de cartilha do ódio e da intolerância, cartilha a que se manteve fiel durante a vida toda, pois sempre pensou dessa forma, só não tinha chance de mostrar em público. Por essa razão é que quase ninguém desconfiava o que esse cidadão ‘coxinha’ pensava, não havia jeito de descobrir, se não exibia. Mas agora não, agora está sendo diferente, quase todos perderam a vergonha de expor até mesmo os piores preconceitos. Não tem o menor pudor em mostrar simpatia por Eduardo Cunha, pois ele está prestando um serviço útil, embora muito sujo. Tudo vale quando o objetivo é derrubar o atual governo, nacionalista e único que tem autoridade a falar com e pelos pobres, porque tem autoridade para tal. Lula por exemplo é um ex-pobre dos mais autênticos e verdadeiros em sua forma peculiar de ser: homem, pobre, mestiço, nordestino, ex-metalúrgico, ex-sindicalista e que chegou na vida, depois de entrar na carreira política, ao cargo máximo de presidente da República. Em qualquer país do mundo seria enaltecido por sua vida de conquistas, aquele que veio do nada e subiu na vida por seu próprio esforço e mérito, o chamado "self-made-man". Tem legitimidade portanto, porque fez, trabalhou, tanto Lula como a sua sucessora, que deu continuidade ao mesmo projeto político de inclusão social e ampliação da democracia brasileira, que apesar de tudo que foi feito, ainda continua com um enorme passivo social, resultado de uma dívida quase impagável e ainda uma enorme desigualdade. O trabalho está incompleto, e com a crise há risco de retrocesso em alguns programas. Tudo realizado através das políticas públicas implementadas, não apenas as de transferência de renda, como também todas as outras em execução, como o Minha Casa, o Mais Médicos, Luz para todos, o Fiéis, Prouni, o programa de cotas para negros e afrodescendentes, e dezenas de outros programas, que é até cansativo ficar mencionando o nome de cada um deles. Agora é muito curioso assistir a atual superexposição de ‘coxinhas’, dentre as quais a de alguns conhecidos. E como está sendo revelador tudo isso! Estão exibindo as suas piores crenças, cheias de ódio e preconceitos, as suas entranhas pútridas e sem o menor pudor moral em exibi-las publicamente, estão mostrando a cara, e ela, não está nada bem na foto. E o mais curioso dessa história toda é verificar, que como nos filmes de Hollywood, eles passaram a usar a estratégia do jogo do bom contra o ruim, o mau em estado puro. É claro que segundo essa lógica invertida, os bons serão sempre apenas os coxinhas, e o mal absoluto é cada petralha, governista, agente público de estado ou os seus apoiadores, numa total inversão de valores. Como é que gente que cultiva e destila o ódio, pode se colocar em algum lugar que seja considerado bom? Não pode ser, em hipótese alguma, só mesmo sob o império da desonestidade moral, intelectual, de um caráter completamente corrompido pela ambição desmedida e pela injustiça. Para concluir, na hipótese de concordar com a lógica hollywoodiana do bom contra o mau, trazendo para dentro da história do Brasil, e a ser considerado assim; se existe bandido nessa nossa relação histórica, está mesmo visto, que esse bandido não está no campo dos expoliados e explorados, dos condenados da terra como dizia Frantz Fanon. Quem fez e continua fazendo o maior mal, a quem? Respondam e terão a resposta, é simples.