sábado, 18 de junho de 2016

Pausa para um jejum

Brockwell Park, Londres


O fato de não ter escrito nem publicado nada nos últimos dias, obriga-me, de certa forma, comparecer ao blog, dar uma justificativa aos leitores, alguém pode ter procurado por novidades, e não encontrando, se perguntado sobre a ausência. Tenho me ocupado mais nas duas últimas semanas, com a releitura e digitação de textos bem antigos, coisas do período londrino, portanto com mais de trinta anos de escritos.Tudo motivado por uma sugestão de um leitor, que ao ler o post “O velho Brixton está desaparecendo”, perguntou, por que não dar prosseguimento, com outros episódios ocorridos no mesmo período? Só a digitação me deixou ocupado por duas semanas, mas ao mesmo tempo, foi prazeroso fazer, quer dizer, está sendo, já que ainda não acabei. Falta fazer a edição final, mais acabada e mais aprimorada. Dei uma pausa, porque não sei ainda onde parar, interromper a narrativa, colocar um fim, um ponto final no texto. Não decidi ainda se deixo apenas o período londrino num texto específico, que por sua vez, são quase cem laudas do papel A4, ou se vou adiante, aonde incluiria anotações da passagem  por Amsterdam, Stuttgart, Berlim, Hamburgo e Bremen, lugares onde continuei a fazer anotações de algumas coisas. Daí a dúvida onde interromper o primeiro relato. Estou determinado a interromper e fechar o texto no dia em que deixo Londres, e quanto aos textos seguintes, já que a viagem continua, estou mais propenso a digitá-los com outro título. De qualquer forma, tenho muita coisa a me ocupar pelos próximos dias, e assim, nem sempre estarei disponível para publicar um novo post. Embora nunca se sabe, as vezes basta uma súbita saída para almoço, um encontro repentino, que impacta, desperta memórias, afeta e abala ao mesmo tempo, toca o seu exato ponto mais sensível justamente na hora mais crítica do dia. Bate de certa forma, causa  impacto,  fica impossível não desejar passa-lo para o papel, digitá-lo, e finalmente acaba chegando ao blog. De qualquer forma, não terei muito tempo nos próximos dias, para as divagações de praxe. Como deliberadamente tenho me privado de televisão e jornal há dois meses, meu último espetáculo circense assistido na tevê, foi o deprimente espetáculo midiático da votação do pedido de impeachment contra a presidente na Câmara dos Deputados em Brasília, no domingo 17 de abril último, que não preciso dizer, me chocou profundamente. São portanto dois meses completos sem assistir tevê, sobretudo os telejornais noturnos, ou até mesmo a programação diária, e também sem ler os jornais impressos, que não comprei mais, só pela internet uma coisa ou outra, que os amigos enviam por e-mail. Um jejum que pratico em forma de protesto, enojado da super edição da mentira de forma institucionalizada em rede nacional. Jejum e afastamento midiático, que me deixou desatualizado em termos de política nacional, já que não venho mais acompanhando os bastidores da política. Acho que não devo continuar comprando essa briga, dando murro em ponta de faca, no pequeno espaço de um blog privado, e ainda com muito pouco acesso. Foi nesse momento, que veio à luz a ideia de procurar ocupar-me mais com a criação, com a invenção, pelo menos por enquanto, porque não me considero palmatória do mundo, longe de mim tamanha presunção. Por enquanto estou achando ótimo, gosto muito, e finalmente conseguindo ocupar-me de forma criativa e inteligente, conseguindo produzir alguma coisa, mostrar outras em forma de conto, que exponho aqui e em redes sociais. Então, estamos firmes. Saudações, e até breve.

quinta-feira, 9 de junho de 2016

A despedida da Soberania



Tenho acompanhado os vídeos com a Presidente Dilma, disponibilizados na internet, dos seus discursos, últimas viagens e algumas cerimônias feitas em sua homenagem, por diferentes setores da sociedade, sobretudo os movimentos sociais. E a cada evento, vai ficando a impressão de uma despedida, triste mas gloriosa, gloriosa porque defensora de valores muito mais nobres, que os valores daqueles que a estão substituindo no Palácio do Planalto. A aparente vitória passageira da escória política interina e provisória, que assaltou o poder, é insustentável ao longo do tempo, porque como não tem legitimidade, compromisso com nada, mostraram as garras, logo de cara, ao desmontar tijolo a tijolo todo o arcabouço político do Estado Brasileiro, montado nos últimos anos, para atender direitos assegurados pela Constituição de 1988. Uma tragédia, qualquer retrocesso com retirada unilateral de direitos civis. Sem consulta pública à população, se retira direitos de forma arbitrária e unilateral. O povo vai começar a sentir daqui a pouco, vai começar a apertar a vida de dezenas de milhares ou milhões de pessoas, não tarda muito. Então acordarão se sentindo malogrados completamente, ao ter apostado as fichas na queda da presidente, que estava permitindo um padrão de vida, apesar da crise internacional, ainda em bom nível à toda a população. Por ter apostado num grupo político composto por bandidos e estelionatários, que querem vender o país a preço de banana, apenas em benefício próprio e familiar. Toda a gente, que apoiou esses caras, daqui a pouco vão acusar o golpe em suas carteiras, o golpe que começou primeiro em Brasília, afastando a Presidente, chegará também inexoravelmente à população beneficiada por toda a política, que estão desmontando agora, por incrível que pareça, para um governo apenas interino e provisório. Concluo, tentando dizer alguma coisa a respeito de Soberania. Não que a soberania esteja representada na figura da Presidente Dilma apenas, não é isso, a Presidente é um símbolo, um símbolo importante, da normalidade do Estado Democrático de Direito funcionando em nosso país, uma presidente eleita, governando com normalidade, cumprindo sua função de agente público, responsável segundo a Constituição, pela condução do país, a nação brasileira, no rumo certo para alcançar e ampliar mais soberania, não apenas para os seus cidadãos, mas também na cena internacional enquanto nação soberana. É dentro dessa linha de raciocínio, que a gente ver desaparecer subitamente, a ambição nacional de ser um dia membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Adeus aos Brics, pelo menos adeus ao papel do Brasil nos Brics. Adeus à consolidação da emergência econômica de dezenas de milhões de cidadãos brasileiros, que voltarão, retornarão ao padrão de décadas atrás, não só em consumo diário de calorias, mas em direitos e cidadania. Portanto, é lamentável, assistir diariamente a despedida da Soberania. Assisto com uma pena danada.



quarta-feira, 8 de junho de 2016

Brockwell Park


No verão de 1982, estava passando uma temporada em Londres, Inglaterra. Cheguei logo depois do fim do inverno, como era a primeira vez, não tive coragem de encarar um inverno europeu em sua plenitude, então evitei chegar no auge do inverno, mesmo assim, quando pus os pés no Reino Unido, ainda fazia muito frio, com temperaturas com o termômetro muito longe de qualquer coisa, que já tivesse vivido antes. Dessa forma, torci muito para que a chegada do verão não demorasse. Quando finalmente chegou, já estava morando no bairro do Brixton com alguns amigos franceses e italianos, no lado sul do rio Tâmisa, distrito de Lambeth, muito perto portanto do histórico centro velho de Londres,


tanto que hoje essa região está completamente valorizada, em comparação com a época em que lá residi. Alguns chegam a dizer, que a região está passando pelo que se chama agora de gentrificação, o que é péssimo, porque esse movimento de valorização e encarecimento vai acabar expulsando muita gente do bairro, gente que era a alma do velho Brixton desde o fim da segunda grande guerra. Quando escolhi Londres como destino, tinha alguns objetivos em mente, como melhorar o conhecimento da língua do país, estudei inglês em duas escolas diferentes, além disso buscava me fortalecer psicologicamente, para tentar encontrar outra maneira de ganhar a vida, em algo diferente do que vinha fazendo até então, e não gostava, queria mudar, fazer outra coisa.



Aberto para o novo experimentei várias coisas diferentes, como fazer figuração em grupo teatral, dança contemporânea, back vocal em bandas pop, modelo vivo em escolas de arte ou em estúdios de desenho animado, cumim em restaurante, e até voluntário na área de saúde mental, com esquizofrênicos, uma barra total, que não consegui segurar, porque a teoria na prática é outra. Foi quando entendi a razão, de tantos psicanalistas cariocas recusar atender em consultório gente muito torta.



Como estava em processo de mudança, já estava portanto em viagem, e também por estar em outro país, outra língua, comida, arquitetura, outro clima, etc. Considerei não haver momento melhor e mais oportuno, para fazer o teste do Ácido, que já havia feito no Brasil, só que agora seria sob supervisão de um profissional maduro, sério e respeitado no pedaço, que daria, como fez depois, todo o suporte posterior, para destrinchar o material, que porventura viesse à tona durante o teste, e que não é pouca coisa, um desafio e tanto, principalmente para quem, se encontrava fora do país de origem, etc.


Apesar dos riscos, resolvi encarar e apostar na experiência, precisava tentar alguma coisa, porque buscava uma mudança radical. Então parti para a primeira experiência lisérgica em terras britânicas em pleno verão londrino, durante o mês de julho, com Dr. Huxley, que tinha acesso ao material procedente do Laboratório Sandoz na Suiça, que usava em pesquisas de ponta com pacientes terminais e outros.



Tomei o AC em sua casa de Hampstead por volta das dez da manhã, onde fiquei durante toda aquela jornada, com ele me acompanhando e estimulando, gravando algumas coisas que dizia, etc. Por volta das cinco e meia da tarde, achou que já estava legal, para voltar para casa, então me liberou. Quando cheguei na rua não estranhei muito, não era muito diferente de quando fumava um haxixe mais forte e concentrado, também já havia se passado quase seis horas que tinha tomado o AC. Sentia-me seguro e forte em meio a desconhecidos, sabia onde queria chegar, e assim cheguei em casa ainda claro, porque era verão, onde os dias claros permanecem até quase dez da noite. Em casa encontrei um amigo francês, que estava curioso a respeito do teste do Ácido, contei algumas coisas, mas queria muito sair, voltar para a rua, ir até um parque, que tinha perto, o Brockwell Park, para onde me dirigi a pé e só. Lembro ter caminhado muito dentro do parque, que àquela hora começava esvaziar, havia alguns gays mais velhos fazendo pegação, mas não me assediaram, ainda restava alterações do Ácido, sentia-me muito doido, devia estar com cara de maluco, de modo que todos eles sumiam, assim que aparecia no pedaço. Acabei não encontrando ninguém para trocar ideia. Andei muito até cansar e começar a escurecer. Quando me dei conta da hora e resolvi voltar para casa, vi que os portões do parque já estavam fechados, então tive que escalar um imenso portão de ferro, correndo o risco de escorregar, me ferir, enfim, sofrer um acidente sério num lugar deserto àquela hora da noite. Mas consegui chegar em casa são e salvo.