sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Brigas virtuais

É verdade, que embora estando a maior parte do tempo sozinhos, jamais tivemos a possibilidade de fazer conexão com tanta gente ao mesmo tempo, como nos dias que correm. O fenômeno de, com apenas um toque, ter a possibilidade de acessar tanta gente, amigos ou não, companheiros da escola secundária, vizinhos do prédio ao lado, gente do outro lado do atlântico, não importa se em algum país da Europa ou América do Norte, sem falar de gente de nosso imenso país. De ouvir platitudes do tipo: "de que jamais se teve acesso a tanta informação como agora", informação de todo o tipo e para gostos os mais variados. Acontece que em tempos de extrema direita chegando ao poder político aqui e ali, nem sempre a clareza e evidência das ideias e a procura da verdade, esteja ainda na ordem do dia. O irracionalismo, o obscurantismo, o contorcionismo verbal e escrito pululam o tempo todo, por todo canto, o iluminismo foi jogado para escanteio por essa direita, que gosta de falar em pós-verdade. As mentiras das notícias falsas, também chamadas: “fake news”, são disparadas por robôs midiáticos num frenético ritmo alucinante. Nossas preferências e gostos são aferidos por instrumentos logaritmos, que tentam nos manipular, baseados em qualquer visita aleatória feita numa página qualquer da internet. Diante disso, se tornou muito mais difícil, hoje em dia, a comunicação escrita, ou melhor, digitada. Nunca podemos avaliar como o nosso amigo virtual receberá a mensagem enviada, como a compreenderá. Será que fomos claros o suficiente? Será que perceberá a real intenção, quando teclamos e publicamos aquele texto, aquela mensagem? Uma situação de impasse, uma incógnita total, que jamais poderemos ter uma pálida ideia ou resposta. Diante disso, volta e meia encontro e vejo gente em apuros, perdendo amizades de longa data, apenas por ter dito ou escrito uma determinada palavra, que foi mal recebida pelo interlocutor. O que gera tensão e stress, porque atinge o campo dos afetos, isto é, não se sai ileso de uma discussão, que gera o rompimento de uma relação de amizade, mesmo que não se dê trela à treta, nem se responda à ofensa proferida pelo interlocutor. Tudo isso é muito complicado e cruel, porque esperava-se que com mais educação e informação, todos estivessem mais preparados para uma convivência mais civilizada, mas não é isso, que se assiste nos dias de hoje, infelizmente. O mais triste disso tudo, é que não se vê luz no final desse túnel, e os mais agourentos ainda estão a dizer, que em vez de luz, se aproxima um trem, que passará por cima de tudo e de todos. Que horror! Ainda bem que sou daqueles, que preferem esperar, contar e acreditar no poder das luzes da razão.