sexta-feira, 20 de abril de 2018

A direita não gosta de filosofia


Quando entrei na Faculdade de Filosofia da Uerj em 1974, a universidade ainda se chamava UEG, e ainda funcionava ao lado do Instituto Lafayette na rua Haddock Lobo na Tijuca. Só fomos para a unidade do Maracanã em 1976, onde permanece até os dias de hoje. Quando iniciei o curso, descobri que o catedrático chefe do departamento de filosofia, era Tarcísio Meirelles Padilha, filho do ex-integralista Raimundo Padilha, interventor federal no antigo estado do Rio, antes da fusão com a Guanabara. Tarcísio Padilha, era um tomista convicto, gostava de falar bonito e empolado, escolhia bem as palavras, em geral termos e conceitos, que os alunos dos primeiros anos, ainda não conheciam os significados, e assim ele se impunha e se exibia impunemente. Tínhamos a sensação, que era aquele tipo de sujeito, que fala, fala muito e não diz nada. Gostava de citar uma profusão de autores, dentre os quais Jacques Maritain, além de outros autores tomistas, algumas vezes em latim, flertava também com o existencialismo cristão do francês Gabriel Marcel, e dessa forma, era o mais próximo da atualidade daqueles dias, que conseguia chegar em matéria de filosofia teórica. Já do ponto de vista político mostrava ser extremamente conservador e reacionário, exibia sempre um anticomunismo quase visceral. Por outro lado, apesar de tudo, no corpo docente ainda restavam alguns professores mais próximos do que a gente entendia por esquerda, um tanto liberais em questões comportamentais, e que só permaneceram professores naquele instituto, por nunca terem se envolvido com a política propriamente dita, eram bem poucos. Os outros, em sua maioria, eram muito ruins em tudo, mas sobretudo didaticamente falando, quase todos eram muito ligados à igreja católica e ao tomismo. A gente sabia que os melhores professores ou estavam presos, ou tinham sido banidos do ambiente acadêmico ou estavam no exílio. O governo militar já havia proibido, e suprimido dos currículos de nível médio das escolas secundárias de todo o país, o ensino de filosofia. Ainda restava o ensino de disciplinas filosóficas (História da filosofia, ética, estética, lógica, epistemologia, teoria do conhecimento, etc.), apenas nos cursos de graduação no nível superior, mas com séria ameaça de ser suprimido num futuro próximo, o que acabou felizmente não acontecendo com o fim do governo militar em 1985, governo, que a partir da anistia em 1979, começou a se enfraquecer. Dessa forma éramos uns resignados resistentes, amantes de filosofia, que apesar de tudo, do opressivo regime político ditatorial, que havia afastado de nós os melhores professores e de todas as ameaças de todos os tipos, ainda estávamos por ali tentando conhecer, debater, discutir e questionar, embora o ambiente disponibilizado pela instituição de ensino fosse o pior possível, quando se pensa num curso de licenciatura e graduação na área de humanidades, centrado no ensino de filosofia numa universidade pública. E assim, com muitas dificuldades conseguimos chegar ao final do curso, já que era pré-requisito para o ingresso no mestrado, e foi o que alguns fizeram ao final do curso, me incluo entre os que foram fazer o mestrado, fui para o IFCS no Largo de São Francisco/UFRJ. Portanto, quando leio hoje uma notícia como essa, de que a disciplina de filosofia voltará a ser retirada da grade curricular dos cursos secundários, acaba, de certa forma, sendo quase um café pequeno, perto de tudo que já vivenciamos no passado. O que não significa, que não devamos resistir, denunciar, desmascarar e criticar uma atitude política dessa, feita por esse desgoverno. Para concluir, prefiro não entrar no mérito do que afirma esse sujeito chamado Adolfo Sashcida, que se diz consultor ou conselheiro de Jair Bolsonaro, que faz um painel, do que julga ser esquerda e direita de forma estapafúrdia, onde diz que tanto Hitler como Pinochet eram de esquerda. Depois dessa, deixo entregue aos caprichos dos leitores, toda e qualquer consideração final a respeito desse disparate.
Assuntos conexos:
Não esquecer para não desejar jamais a sua volta
Tudo se repete como farsa









Tudo se repete como farsa

Essa história da burguesia nacional se exibir como democrata, é tudo fachada, mentira, a mais pura falsidade. Na verdade a burguesia brasileira é ainda muito saudosa dos tempos da casa grande e do escravismo, de democratas eles não têm nada. Aliás, para ser um pouco justo, e considerando a conjuntura internacional, poderia ser dito, que essa situação não é privilégio apenas da burguesia nacional, como se está assistindo hoje o retrocesso da democracia no território europeu, com o crescimento de vários partidos de estrema direita. Voltando ao nosso país, se poderia dizer sem medo de errar, que a burguesia nacional é composta por uma gente chinfrim, mesquinha, egoísta, que só pensa em seu próprio bem-estar e privilégios, e também profundamente preconceituosa contra os mais pobres, na verdade eles odeiam os pobres, como odiavam os escravos. Como são muito influentes socialmente falando, acabam por transferir esses valores mais mesquinhos para as camadas médias, ou pequena burguesia como preferia Marx, que se espelham e desejam ser como os mais altos na hierarquia social. Salvo raras exceções a pequena burguesia não se identifica com os do andar de baixo. Quando os tempos da economia são de bonança, aquela pequena elite influente politicamente, até tolera um pouco de transferência de renda, como foi o caso nos dois governos Lula, mas não pode ser muita coisa, só algumas migalhas, a maior parte do bolo, terá que ser para a classe dominante.
Lembro bem durante a ditadura militar de EXTREMA-DIREITA, quando o principal ministro da economia, Delfim Netto dizia e a mídia repetia exaustivamente, que era preciso esperar primeiro o bolo crescer, para depois distribuir, pois bem, na época o bolo crescia, foi a chamada época do milagre econômico, quando teve ano que o PIB chegou a crescer 11% , e nem assim distribuíram nada, era só promessa, só aumentou a precariedade dos mais pobres e o consequente aumento da favelização, da pobreza, do número de ambulantes nas ruas, arrocho do salário mínimo, etc. Portanto essa burguesia tacanha não tem o menor pudor de recorrer ao autoritarismo, isto é, jogar na lata de lixo da história, o tempo que for necessário, os valores democráticos, para a sociedade como um todo, PARA PRESERVAR OS SEUS INTERESSES E PRIVILÉGIOS. Tal como estão a fazer agora, forçando a barra e jogando os seus cães de guarda superiores, os generais do exército, a fazer ameaças contra a normalidade democrática, levando-os a cometer crimes contra a Constituição, ao fazer determinadas ameaças, antes de votações importantes serem realizadas pela suprema corte do país. É um descalabro total, se tivéssemos um governo sério e forte, o general, que procedesse dessa forma, seria preso de imediato, porque isso é crime segundo a Constituição Federal, mas a imprensa golpista e financiada pelos poderosos, ainda reforça esse tipo de crime ao dar voz e destaque no horário nobre, como foi feito por William Bonner no jornal nacional. Só mesmo com a mobilização popular em massa, esse tipo de gente retornará aos seus porões, só com muita gente mobilizada nas ruas, retornarão ao lugar que lhes cabe nesse latifúndio, porque são minoria, a classe média mais reacionária é numericamente ainda muito pequena, os ricos nem se fala, jamais vão às ruas, portanto é preciso muita mobilização, só com mobilização mesmo é que vamos empurrar esses fascistas para a insignificância deles, para a qualidade principal deles que é a ESTUPIDEZ. A única força que possuem é o autoritarismo das forças armadas e o arbítrio de setores reacionários do judiciário.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Não esquecer para não desejar jamais a sua volta


O regime militar e o caso Para-Sar

Quem hoje tem menos de cinquenta anos, não tem a menor ideia do que foi o regime militar, que governou o brasil de 1964 a 1985. Um regime político forte com muita repressão política e policial, onde não havia liberdades democráticas, apesar da aparente normalidade democrática através do funcionamento de um Congresso Nacional completamente manietado e sob a ameaça constante de cassação do mandato de seus membros, pelos dispositivos autoritários do regime em vigor, como o AI-5 e outros instrumentos repressivos. Quer dizer, era uma ditadura com tudo que tinha direito, para ninguém botar defeito, um verdadeiro estado policial. Logo no início do golpe, esqueceram por completo a Constituição de 1946, e em seu lugar criaram os diferentes Atos Institucionais, AI-1, AI-2, etc., até o AI-5 em dezembro de 1968, quando o regime endureceu de vez, tornando-se um autêntico estado de exceção. Além disso, cassaram os registros de todos os partidos políticos existentes, e no lugar só permitiram a existência de apenas dois partidos políticos, criados artificialmente, um de oposição, o MDB, e outro chapa branca ou oficial, de apoio total ao regime, de nome ARENA. Todos os órgãos representativos de classe e os sindicatos foram postos na ilegalidade, e seus principais líderes perseguidos, presos ou mortos em confronto com a polícia. A sede da UNE na praia do Flamengo/Rio foi atacada e incendiada, e depois o prédio, mesmo chamuscado pelo fogo do ataque, serviu de sede da Escola de Teatro de uma universidade carioca. Os estudantes não podiam mais fazer política em hipótese alguma, havia um decreto-lei contra isso, o famigerado 477, que todo estudante sabia o número de cor, e era um terror, muita gente foi expulsa e presa por causa dele. Havia a figura do estudante profissional, ou seja, em geral um militar de patente superior, tenente, capitão ou major, que era infiltrado em salas de aula, nas turmas de cursos universitários, principalmente nas unidades da área de humanidades. Postos ali especialmente, para vigiar e dedurar os professores e alunos mais engajados politicamente, que porventura se pronunciassem durante as aulas, questionassem e criticassem o governo militar, esses sempre ficavam na alça de mira dos infiltrados. Não preciso dizer, que essa situação, provocava muita insegurança, instabilidade e pânico entre alguns alunos, e também muita paranoia. Era proibida qualquer atividade extra curricular dentro dos muros das faculdades ou escolas, dessa forma, estavam proibidos: grêmios acadêmicos, jornais, cineclubes, grupos de teatro, etc. Costumava-se dizer, que três estudantes juntos no pátio interno, era considerado multidão, era suspeito, não podia, o que gerava um clima muito negativo. Com o passar dos anos as coisas foram mudando aos poucos, mas só durante o governo Geisel, é que começou a mudar lentamente, era chamada de distensão lenta e gradual pelo próprio Geisel. Existia uma censura muito rigorosa contra os produtos culturais, tudo era suspeito, então havia muita censura contra o que se publicava nos jornais, revistas, na música popular, nos espetáculos teatrais, cinema, livros, etc. Para concluir, vou lembrar um pouco de um caso estarrecedor, que ficou célebre, não na ocasião que ocorreu, pois com a censura, não se deixava ser divulgado esse tipo de coisa. Quando começaram os primeiros atentados à bomba contra o regime em 1968, contra alvos militares realizados por grupos de guerrilheiros clandestinos, que logo em seguida, efetuaram alguns sequestros de embaixadores, para servir como moeda de troca por presos políticos ameaçados de morte pela repressão. Alguns setores mais radicais da repressão arquitetaram planos tenebrosos contra a população civil, com a intenção diabólica de culpar os combatentes da luta armada. Um desses planos tenebrosos ficou conhecido como o atentado do gasômetro, ou caso Para-Sar (esquadrão da aeronáutica especializado em resgastes em áreas remotas), diz respeito a um plano terrorista arquitetado em 1968 pelo brigadeiro João Paulo Burnier, que ordenou o desvio de função do esquadrão, para servir de instrumento na eliminação de várias autoridades políticas, como o jornalista Carlos Lacerda, o ex-presidente Juscelino Kubitschek e outros, que seriam sequestrados e em seguida atirados ao mar de aviões do esquadrão; além da explosão do gasômetro no Rio durante o horário de pico, com o objetivo de matar o maior número possível de vítimas, e culpabilizar os guerrilheiros da luta armada.
O que seria uma atrocidade inigualável, e só não foi levada adiante, porque o capitão da aeronáutica Sérgio de Carvalho contestou a operação, e levou ao conhecimento de autoridades superiores, fazendo com que todo o plano terrorista dos militares da Aeronáutica fosse abortado. Sugiro aos apreciadores desse tipo de evento, que pesquisem no Google também, sobre a tentativa de atentado no Rio Centro, durante um show comemorativo do dia do trabalho, no dia primeiro de maio de 1981. Isso apenas para ficar nesses dois casos, mas tem muitos outros casos escabrosos, que é sempre bom lembrar, sobretudo para aqueles jovens, que volta e meia, manifestam o desejo da volta do governo militar.
   




domingo, 15 de abril de 2018

Duzentos anos de Karl Marx

Nesse ano de 2018, celebra-se o aniversário de 200 anos do nascimento do grande Karl Marx, autor do célebre livro "O Capital", que traça um raio X do sistema capitalista, mostra como funciona, suas entranhas e os bastidores sujos do capitalismo, numa análise de cunho eminentemente científico até agora insuperável do ponto de vista teórico. Um capitalismo, que traz como consequência, muita exclusão social, concentração da riqueza cada vez mais em pouquíssimas mãos, crises recorrentes, guerras, e por causa disso, a fome e a destruição de muitos países, tornando a vida de muita gente completamente insegura, instável e insustentável. Como estamos assistindo agora na Síria, e em muitos outros lugares, quando se vê um pequeno grupo de países extremamente ricos, liderado pelos EUA, conhecidos por empregar no campo da política internacional o imperialismo em suas relações com outras nações menores e menos potentes, tanto econômica como militarmente. Alegam não gostar de determinado governo de um país qualquer, por algum motivo, inventam mentiras, como foi o caso do Iraque, quando alegaram que o Iraque possuía as chamadas "armas químicas" ou "armas de destruição em massa". E assim, decidem de forma unilateral, atacar o país falsamente acusado, com a força máxima de suas armas de última geração, para derrubar e destruir o governo de um país soberano. Como consequência, destroem o país completamente, e como resultado, deixam centenas de milhares de mortos, milhões de cidadãos da população civil com suas casas em ruínas, perdendo tudo que possuíam, tornando-se refugiados da noite para o dia. Uma tragédia completa e desnecessária. É como age e atua hoje no planeta, os países imperialistas do chamado mundo ocidental, sem o menor respeito às leis internacionais promulgadas e assinadas por quase todos os países em seu organismo principal, a ONU. Países que se dizem desenvolvidos, e professam a fé em cultos monoteístas de cunho judeu ou cristão. O curioso, é que se consideram politicamente democratas, mesmo agindo dessa forma, dizem defender a democracia contra ditaduras, mas eles têm as suas ditaduras preferidas, como é o caso da ditadura monárquica da Arábia Saudita por exemplo, aliada de primeira hora dos norte-americanos, uma ditadura extremamente cruel, homofóbica, xenófoba e misógina, contra quem, os imperialistas não dizem nada, nem tampouco criticam ou fazem qualquer ameaça. Sem falar em outro vizinho extremamente violento da mesma região, o estado de Israel, governado hoje por Benjamin Netanyahu, um líder considerado fascista pelos próprios cidadãos israelenses, que executa e mata constantemente dezenas de civis palestinos desarmados à luz do dia, de forma covarde. Além de estar promovendo, nos dias que correm, uma verdadeira limpeza étnica no país, através da expulsão e deportação de milhares de trabalhadores estrangeiros, principalmente os de origem africana. É inacreditável, que tudo isso ainda esteja a ocorrer no mundo hoje, em pleno século XXI, mas infelizmente essa é a verdade a que estamos ainda sujeitos. E o sistema capitalista capitaneado por esse grupo de países imperialistas, com suas crises internas constantes, fruto do próprio sistema econômico, segue aos trancos e barrancos, com sua lógica de máfia, derrubando um governo aqui, outro ali, utilizando-se para isso de diferentes tipos de guerra, desde a hoje conhecida como guerra híbrida, onde se derruba um regime político de um país sem dar um tiro, e também da guerra por procuração, quando se arma milícias rebeldes de mercenários pagos à soldo do dinheiro imperialista e de seus aliados, como se fez na Síria, ou até mesmo, em último caso, o ataque direto, como o realizado contra o Iraque de Saddam Hussein em 2003. O que deixa a vida no planeta sob o capitalismo, cada vez mais instável e insustentável. Tempos muito difíceis.