sábado, 26 de janeiro de 2019

Ainda resta muito intolerância sexista na esquerda

O presente episódio do exílio voluntário de Jean Wyllys, ensejou uma série de comentários, críticas e análises da parte de muita gente, sobretudo de diferentes setores da esquerda, com veementes apoios e também muitas discordâncias contra a atitude tomada pelo deputado federal eleito pelo Psol do Rio. Não vou entrar no mérito de nenhuma dessas críticas, apenas quero pontuar um aspecto, que geralmente passa batido, quando a luta de narrativa entre a esquerda e a direita está pegando fogo como agora. Considero existir ainda um ranço heterossexista muito forte e, não diria homofóbico, mas pelo menos anti-gay, no universo da militância de esquerda, claro que não se compara ao universo da direita, porque a direita é grotesca, troglodita, ela quer eliminar, matar, exterminar a população Lgbt. A intolerância na esquerda é mais sutil, mais civilizada, é menos selvagem, mas mesmo assim ainda existe a presença  de grande intolerância no seio dela, e que se manifesta de várias maneiras. Antes de entrar propriamente nessa questão, é preciso considerar, não para justificar, porque nessa altura do campeonato quem ainda se comporta como tal, já deveria ter se tocado, o século 21 já caminhando para a sua terceira década, e gente que se considera avançado, revolucionário em muitas questões, não tomou consciência de seus atos. Claro, que quando se conversa com alguns, na teoria concordam com tudo, que é preciso mais direitos para a população LGBT, etc., mas no dia a dia, quando precisam responder na prática, não procedem da mesma forma com o que costumam dizer nos bastidores e nos corredores. E como se manifesta essa intolerância, na forma como evitam conviver com os amigos assumidamente gay no dia a dia, presencialmente. Fora disso, até mantém a relação boa virtualmente, com uma ou outra curtida de vez em quando, em algo compartilhado, que concordam. São cordiais quando encontram o amigo gay, mas jamais o convidam para jantar em suas casas, há uma reserva e uma distância, talvez a presença do amigo gay não seja uma coisa boa, para a visão dos filhos adolescentes, que estão crescendo. Claro, que estou me referindo a uma camada de esquerda classe média, ou seja, a pequena burguesia na linguagem marxista. Conheço alguns que são frontalmente contra levantar a discussão pela questão identitária e de gênero, luta nem pensar, segundo eles existem questões mais prioritárias na luta política e social. Sei que refletem em parte, e não poderia ser diferente, a sociedade em que vivem, mas poderiam fazer um esforço maior, se desejam realmente ampliar a própria consciência, em busca de combater os preconceitos e toda essa intolerância, que alguns ainda cultivam de forma clara, aparentemente inconsciente. É lamentável, mas sei que muitos deles ainda permanecem extremamente caretas, não foram capazes de acompanhar o avanço do mundo e se esclarecerem um pouco mais, são gente da ordem e acostumados a viver dentro de determinado padrão socialmente mais aceitável, transgressão apenas na teoria. O que acaba se refletindo na visível insensibilidade deles em relação ao grau de vulnerabilidade daquela população, de todos os riscos que correm, na ausência de garantias mínimas para a sobrevivência com mais dignidade. Tudo isso me lembra agora uma pergunta do médico paulista Drauzio Varella, feita há algum tempo atrás, que indagava: "faz diferença para você se o seu vizinho dorme com outro homem?" Se faz é bom se ligar.