sábado, 27 de fevereiro de 2016

VICIADO EM SACANAGEM

O “viciado em sacanagem” não tem no horizonte nenhuma meta de chegar ao êxtase, jamais. O mais importante é manter sempre acesa a chama da libido. Procurar estar sempre em estado de atenção e alerta, e de pau duro para qualquer eventualidade. É como aquele asceta que se excita, de forma pré-masturbatória, acaricia-se, mas não goza. Quando perde um pouco da ereção, procura de imediato retornar às fantasias eróticas em busca de mais excitação, e assim permanece em torno do prazer, mas sem jamais chegar ao finalmente, através do gozo e da ejaculação. Apesar dessa busca constante pela ereção, e como tudo acaba sendo um trabalho, um exercício em busca de, tudo isso está muito longe de um priapismo. Porque todo esse movimento erótico, na verdade, trata-se de um exercício quase tântrico, que visa ampliar cada vez mais a duração da transa, do coito, antes do gozo final. O que é legítimo, pois procura valorizar mais o “durante”, do que o final, o gozo. O “durante” que também é importante e prazeroso. Então o “viciado em sacanagem” viaja um pouco por essa onda, onde o grande barato é o permanente estado de excitação, sem o qual ele não sobrevive. Dessa forma procura o maior número possível de parceiros sexuais, reais e imaginários, não importa, desde que essas situações o mantenha sempre aceso, em constante ebulição, quanto mais ligado melhor. E dessa forma o “viciado em sacanagem” vai levando a vida, até mesmo quando tem a chance de escolher um parceiro fixo, procura por alguém “difícil”, amores difíceis, que crie óbices desfavoráveis à completa realização amorosa e afetiva. Tem sempre muitas dificuldades em seus envolvimentos complicados e com pessoas complicadas, mal resolvidas, com interesses outros além do amor erótico. Geralmente a aritmética quantitativa é mais importante que as qualidades das relações. Vale como ilustração, e como exemplo, o caso Dé, que inclusive, coitado, já é falecido. Seus amigos mais próximos, costumam comentar, que Dé procurava sempre se cercar de muitos homens ao seu redor, homens dos mais variados tipos, alguns bem atraentes e bonitos, e outros, a grande maioria, nem tanto. Uma verdadeira macharia tinha se tornado o seu lar, segundo palavras de uma amiga comum. Quando o conheci, ele já estava aposentado pela Prefeitura, aposentado precocemente por invalidez permanente devido ao vírus Hiv. Aposentado com um ótimo salário, algo em torno de doze mil reais. Mas, havia uma nota marcante nele, por essa época, é que estava sempre se queixando de falta de grana, seus proventos nunca eram suficientes para cobrir todos os gastos. Volta e meia segundo o próprio, valia-se de empréstimos consignados na rede bancária local, para complementar os rendimentos da pensão, e também para quitar outras dívidas contraídas com juros mais altos. Vivia o tempo todo nessa ginástica financeira. O rumor que rolava, era que ele havia se convencido, que se tivesse a posse de mais cocaína “chez lui” o tempo todo, teria também, por todo tempo do mundo, a presença de rapazes, que atraídos pela isca da cocaína, tornavam-se assim presas mais fáceis para o assédio sexual. E dessa maneira, Dé vinha há alguns anos tocando a vida. As vezes adoecia, em algumas delas precisava de internação hospitalar. Quando se recuperava, voltava o mais rápido que podia à ativa, à vidinha de sempre, ou seja, para a esbórnia, para muita cocaína e os muitos e variados parceiros sexuais. O sexo em si não contava muito, o que contava mais era a excitação que a presença de tantos rapazes por perto proporcionava. Nem ligava muito para o sexo em si, depois de toda uma noite de muita ligação e excitação, confessava as vezes. Haja excitação! Uma loucura! Cheguei a ouvir, que ele atrás de obter cocaína mais barata, já estava a ponto de correr maiores riscos, entrando em comunidades desconhecidas, o que também, por sua vez, com a adrenalina da aventura, provocava mais excitação ainda. O que o foi levando cada vez mais ao estado de dependência desse “feeling” maldito. Tudo isso até, infelizmente, chegar ao desfecho final.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Algumas rápidas impressões de Paris antes do atentado

Paris a cidade está muito bem, continua linda como sempre, em alguns lugares percebo, que a limpeza pública não é mais a mesma, com papéis e guimbas de cigarro largados pelo chão, que não foram ainda recolhidos pelo serviço de limpeza pública. Essa foi a primeira impressão, sobretudo nas áreas turísticas, porque depois pude constatar ao vivo sentado no 'terrace' de algum Café ou Bistrô, que o serviço de limpeza pública passa de três a quatro vezes por dia nas áreas turísticas, que os próprios turistas sujam muito, que não tem serviço público, que consiga dar conta da falta de educação de alguns turistas, uma turma da pesada realmente. Por outro lado, tive oportunidade de conhecer bairros não turísticos, mais residenciais, ao visitar amigos franceses, cujas ruas eram impecáveis, quase padrão suíço, além de limpos eram lugares bem mais tranquilos. Agora gostaria de falar de um cantinho, que me pegou principalmente pela boca, glutão que sou por doces, depois descobri outros lugares também bons em doces em outras partes da cidade, mas a primeira impressão da Rue Mouffetard, foi que tinha chegado ao paraíso. Além dos doces, tem também outras lojinhas cheias de charme, na decoração, no lay out  e no bom gosto em geral, ao longo de toda a rua, que fazem toda a diferença, quando a comparamos com outros lugares similares. Recomendo a quem estiver indo para Paris, não deixar de fazer um passeio por essa rua, durante uma tarde pelo menos, para tomar um bom café e comer um éclair, a nossa bomba de chocolate, na Rue de Mouffetard, Quartier Latin, ou se deliciar com outras infinitas coisinhas gostosas. Hum! Que delícia! A rua Mouffetard é tudo de bom. Acho até que exagerei um pouco, passei muito do limite, porque não conseguia resistir a tantas tentações, e quando me dava conta da vida, lá estava eu por aqueles cantos da rua, sentado em algum lugar gostoso ou mesmo caminhando. Curti muito aquela rua maravilhosa. Outro lugar explorado nessa viagem, foi o Marais, um lugar realmente que se pode chamar de especial. Um bairro com a quase totalidade dos imóveis da época medieval, que foi completamente revitalizado dos anos noventa pra cá. Quando vivi em Londres nos anos oitenta e ia a Paris de vez enquando, o Marais era um bairro completamente decadente e evitado, apesar de ser bem central. Para quem está na rive gauche e atravessa as pontes sobre o Sena, situadas atrás da nave mãe da Catedral de Notre Dame, já cai direto no Marais. É um lugar sobretudo para curtir  inicialmente com o olhar, procurar descobrir algo interessante que atraia, em seguida usufruir com todos os outros sentidos, e finalmente terminar se perdendo literalmente, tal o poder de encanto e feitiço, que o lugar proporciona e estimula. Lembro bem o dia, quando me dirigi até lá com um objetivo específico, algo que não iria me tomar mais do que uma hora no máximo, se mantivesse o foco, e quando me dei conta, o dia estava quase terminando, mas foi ótimo, adorei. Dessa vez, fui três vezes até lá, e fiquei com a impressão de não ter conhecido nada. É mágico, bárbaro, absurdo e fantástico. Entrei numa lojinha de artigos para cozinha, a procura de uma lembrança para uma amiga, e fiquei impressionado com a quantidade e variedade dos artigos, objetos e gêneros alimentícios exóticos de toda a parte do mundo, além de infinitas outras coisas interessantes, tudo me mostrado por uma senhora judia, que gerenciava a loja, e que sabia tudo, conhecia tudo, dava até a impressão, que por lá estivesse desde sempre. Encontrei também pequenas livrarias boutiques, porque Paris quase não tem mais livrarias meio termo, de tamanho médio, ou são as grandes redes tipo FNAC, que tem filial no Brasil, ou as pequenas livrarias boutiques, especializadas ou não, as livrarias  medias, que existiam em profusão no Boulevard Saint-German quase não existem mais, por vários motivos e razões, dentre os quais os similares do Brasil, altos aluguéis inviabilizaram vários negociantes de livros, que tiveram que fechar as portas e encerrar o empreendimento de forma definitiva, livros agora no Boulevard Saint-German, só em camelôs nas calçadas, e no lugar das antigas livrarias e sebos, agora apenas lojas de marca famosa de roupas e acessórios caros. Mas voltando ao Marais, além das pequenas livrarias, tem também como em toda Paris, pequenos Cafés e bistrôs, onde se pode pedir um café e passar o tempo que se quiser, iniciar um papo com alguém sentado ao lado e deixar o tempo passar. Aliás, nesse particular, alguns pontos de Paris lembra muito o Rio, com a sua profusão e a abundância de botecos. No Marais tudo é muito bonito, com um certo charme e encanto todo especial, mas também bem mais caro do que outras partes da cidade. Enfim esse é o preço que se paga, quando se escolhe curtir um lugar diferenciado, mas vale a pena, o cafezinho parece até mais gostoso.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

O amante ideológico

Episódio 1 - O Cara da Feira
O título sugere de cara uma ideia óbvia, a ideia de que existe gente que só se enamora por quem pensa de acordo com o próprio figurino. Na verdade só se joga de cabeça numa relação, só se enamora realmente pra valer pelo objeto amado, por esse obscuro objeto do desejo, quando tem certeza e clareza de quais são os valores e ideias do amado. E quando uma coisa não bate com a outra, não foram poucas vezes, em que teve que saltar do veículo (relação amorosa), com o carro em movimento, correndo sérios riscos, riscos até de vida. E os motivos para todas essas situações de "cair fora", variam desde uma leve decepção amorosa por exemplo, até mesmo descobrir a escrotidão da mente do objeto amado, que corta totalmente a vontade de continuar mantendo uma coisa, da qual não tem coragem de chamar de relação. É em momentos como esses, que o desejo material (carnal) perde feio para o desejo imaterial, as idealizações, ou seja a própria mente do objeto amado, seus valores, suas crenças e ideias, em outras palavras a sua MENTALIDADE. Uma luta entre escolher o que no outro fala mais forte quando o assunto é o desejo, o que afeta com mais intensidade, a cabeça versus o corpo. A estupefação de não poder suportar o fato de alguém tão bonito, tão gostoso e sensual, quase um ser divino, possuir ao mesmo tempo uma cabeça tão escrota. O primeiro impulso que aflora, é o desejo de escapar daquela situação incômoda, o desejo de fugir, bater em retirada, virar as costas, para evitar  maiores dissabores futuros. Mas na verdade pretendo mostrar um outro aspecto dessa história, porque sinto, que algo não bate muito bem, porque como muitos dizem e asseveram que a carne é fraca, e por esse motivo é quem fala sempre mais alto, que esperneia mais forte e que acaba por vencer, na maioria das vezes, a batalha contra uma cabeça fraca, movida mais pelo desejo carnal do que pelo pensamento. Aí tem algo que não fecha a conta, não sei bem o que é ainda, nem tampouco desconfio, mas deve ter. Enquanto isso, vamos lá apresentar o restante da turma, para ir completando o quadro com quase todo mundo, mesmo que todo o processo seja bem devagar, já que vamos ter que introduzir na presente estória, membro a membro, os indivíduos mais revelantes e importantes, que frequentam o Clube. Inicialmente vamos apresentar um sujeito que não lembro agora o nome em absoluto, mas vamos chamá-lo de "cara da feira". O cara da feira não é alguém que poderia ser considerado bonito, não, nada disso, ele não é bonito, nem tampouco é feio, o feio clássico também não é. Quando se olha para ele com mais perspicácia, é possível descobrir um certo charme, e até mesmo um pouco de 'sex-appeal'. O problema todo começa quando o coitado abre a boca, e olha que ele gosta muito de abrir a boca, abre a boca o tempo todo, adora falar, sempre num tom mais alto que os demais, adora polemizar e contar estórias e causos, em geral os mais escabrosos possíveis. E como todos sabem, em geral quem fala muito, acaba por se expor muito também, o que leva a correr o risco de cometer pequenos erros, alguns vacilos, falar alguma bobagem, e assim acaba por mostrar, que não passa de um tolo ou idiota as vezes, em suma acaba pagando mico. E quando se fala muito, fica visível e aparente também os valores, que revelam o carácter das crenças ideológicas e outras, que se possui. Pois muito bem, em seu excesso de expressão oral, de incontinência verbal, o "cara da feira" acaba por mostrar, dentre tantas outras, mais uma faceta, que é ser dono de uma cabeça muito conservadora, pois o seu machismo e sexismo fica explícito em vários momentos de sua narrativa exibicionista monologal, pois ele nunca dialoga, adora falar sozinho, não demonstra o menor interesse pelo que os outros tenham ou não a dizer. "Que se fodam todos", ele profere as vezes. Em várias ocasiões fala muito mal dos viados, e a única palavra que possui para se referir aos gays é o vocábulo VIADO, que profere em alto brado, como se um clone fosse do deputado Jair Bolsonaro. Tem o perfil de ser, quem sabe evangélico, apesar de todos os palavrões bem cabeludos que gosta de emitir, mas não tenho certeza que o seja. Então dessa forma ele continua a ridicularizar os viados, utilizando-se para isso de uma enorme variedade de clichês e chavões, que profere enquanto sataniza os viados, com impropérios que hoje em dia não se encaixa nem mesmo na bicha considerada escrachada, ou seja, no tipo mais afeminado. Não consigo identificar nem imaginar nenhum grupo ou tribo do mundo gay que se enquadre em seus clichês e estereótipos, mas mesmo assim, ele continua com as suas diatribes e com as piadinhas grosseiras e politicamente incorretas, que dispara a todo momento visando atingir em cheio o alvo gay. Agora, é curioso por outro lado, observar que ele apesar de feirante, dono de uma barraca de não sei o quê na feira, para o feirante meio apeãozado que é, até que tem um gosto bem peculiar e sofisticado em suas escolhas de roupa íntima, "underwear". Só o vejo exibindo cuecas de marcas famosas, coisa fina mesmo, coisa que jamais me passou pela cabeça em comprar, por várias razões, principalmente por causa do preço, devem ser caras, e para quê também? Se as dele não forem falsas, forem legítimas portanto, ele anda fazendo um alto investimento nas peças, e provavelmente devem ser legítimas pela forma toda especial como ele se comporta ao exibí-las e ostentá-las, através de toda uma dança corporal, de toda uma expressão corporal bem particular, que denota ser o foco principal a exibição em si daquele novo modelo de cueca. Numa noite dessas ele exibia uma Calvin Klein vermelha tipo boxer, um escândalo! Talvez não para ele, que fazia o jogo, de forma a parecer que estivesse se sentindo o mais natural possível, mas era visível como chamava a atenção, todos olhavam para ele, quer dizer olhavam para a cueca vermelha. É curioso observar não ser ele apenas o único a se comportar dessa maneira, aquela sauna é um verdadeiro desfile de cuecas de grifes famosas, tem coisa que nem conheço, que nem sei a procedência. Mas sinto uma atmosfera meio fetichista naquilo tudo, apesar do aparente discurso anti gay e anti viado . No meu modo de ver noto que alguns se exibem deliberadamente, mas que pode muito bem ser inconsciente. E para disfarçar, esconder e escamotear um pouco o DESEJO ali presente, embora silencioso e camuflado, pois está em estado latente. O desejo acaba de alguma forma por aparecer e se manifestar, isso é inevitável. Como o corpo não pode esbravejar, se esgoelar, exprime-se de outra maneira, de forma não vocabular, jamais através do discurso linguístico. O corpo mostra uma coisa e em contra partida é confrontado e desafiado por um discurso anti gay radical, agressivo, raivoso e intolerante, quase, se já não o for, homofóbico. Pelo que estamos acompanhando, uma coisa surge, que é o discurso homofóbico, para escamotear uma outra, aquilo que se precisa esconder de todo o jeito e de todas as formas. O discurso anti gay vem para camuflar o desejo homoerótico ali presente corporalmente através de vários sinais e signos não linguísticos, incluindo a expressão corporal exibicionista dos mais protagonistas. Dependendo da interpretação que se faça, talvez aí esteja o caráter ideológico dessa coisa toda, a necessidade de esconder, escamotear e trapacear através de um discurso negativista aparente. Greta Garbo quem diria...! E tudo acaba sendo uma aparente contradição para os incautos...

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

A busca do centro ou o centro da busca



Na verdade, acho que quase todos perseguem e desejam obter o domínio total de si mesmo, encontrar a auto confiança necessária e o auto controle possível, na transa cotidiana com os seus semelhantes, estranhos ou não. Aquilo que se costuma chamar de: "ficar centrado". A busca do centro e do equilíbrio, que é tão comum no proselitismo dos mestres do budismo. Já para os simples mortais o ponto ótimo não existe, é uma miragem, serve apenas como uma referência para o balizamento frente à realidade, quase impossível de ser atingido. Quando se busca algo é porque não se possui aquilo que se procura. Na maior parte das vezes, nem sempre se fica satisfeito com o equilíbrio alcançado, muito aquém do desejado, mas como podemos nos tornar anônimos(quase invisíveis) em certas ocasiões, não é muito difícil poder passar batido pelos estranhos, que esbarramos por aí, sem necessariamente bandeirar alguns desequilíbrios ocasionais, e algumas pequenas loucuras. E contando também, é bom que se diga para não esquecer do lema de que "nem tudo que parece é". Conseguimos passar quase incólumes por toda a pressão, salvo aqueles que são sujeitos às paranoias persecutórias. Hoje em dia é mais comum, ver gente manifestar desequilíbrios em maior escala, quando se põem a dirigir na experiência do trânsito, onde uma grande parte dos motoristas se tornam mais agressivos, do que normalmente costumam ser, é o famoso: "cabeça, tronco e rodas" como definição de ser humano para motorista, no trânsito enlouquecido de nossas cidades e metrópoles. Como disse no início, a busca do equilíbrio e do centro, é a grande meta a ser buscada, nem sempre possível de ser alcançada. Com um vacilo aqui e outro acolá, "se vai levando", como disse um poeta, porque também ninguém é de ferro, e tudo acaba também por ir se tornando aparentemente normal, no sentido de quase natural. Em momentos que alguns conseguem ficar, na maior parte do tempo, ficar e permanecer no comando das suas próprias ações, sobretudo quando estão interagindo com estranhos. Para permanecer no controle é bom observar algumas regras básicas, como por exemplo EVITAR se meter em discussões carregadas de forte tom emocional com desconhecidos, seja sobre que assunto for, principalmente porque numa discussão com um desconhecido não dá para prever aonde se pode chegar, é tudo muito imprevisível. Para não correr esse risco e também o risco de se perder em discussões e debates estéreis, que não levam à nada, principalmente quando o interlocutor é incapaz de fazer a menor reflexão possível, que repete chavões e frases feitas rapidamente decoradas, como se fossem verdades absolutas, e que servem como uma luva para o exemplo daquilo que Adorno diz em sua Dialética do Esclarecimento(Aufklürung), quando distingue ignorância da estupidez e da burrice. Embora seja quase impossível resistir a entrar numa discussão, que porventura esteja rolando ao redor. Pois é, aí é que está o "x" da questão, não conseguir resistir ao apelo de determinada palavra chave que se ouve, quase que sem querer. É certo que quando se está um tanto quanto travado, sob o jugo da auto censura e do superego, e a vida se torna mais limitada, fica muito mais fácil se recolher num canto qualquer ou nos recônditos da mente, e dessa forma não entramos na discussão, mas a que preço? Em outros momentos, é irresistível não entrar em alguma polêmica e também, como consequência, não conseguir manter o devido controle emocional. Mas tudo bem, porque nada é assim tão fundamental, a ponto de nos levar a sofrer punições sociais graves, ou que deixe sequelas, tudo acaba passando muito rápido, nem dá tempo para deixar marcas.