terça-feira, 27 de março de 2018

Uma nota sobre o documentário Condor


Não deixem de assistir, pelo menos até a primeira parte do documentário, que mostra como foi feito o golpe de 1973 no Chile contra o governo Allende, que diferente de Cuba, pretendia fazer no Chile um governo orientado por um socialismo democrático, priorizando atender os mais pobres, sem luta armada, guerrilha, etc., a luta se daria apenas no campo político, na retórica, na narrativa de convencimento da maioria. Para isso chegou ao poder através do voto da maioria do povo chileno. Tudo isso é mostrado no filme de forma ampla, sobretudo a sabotagem dos setores contrários, da reação golpista, do apoio e a ingerência direta do governo norte americano e de suas agências de informações, como a CIA por exemplo, além de organizações não governamentais, etc., que financiaram greves em setores estratégicos com a finalidade de enfraquecer o governo Allende. A importância que dou em assistir esse tipo de filme nos dias que correm, é no mínimo para comparar com o golpe dado no Brasil em 2016, que sofremos, e que ainda está em curso, com golpes atrás de golpes quase todo dia. É incrível como as coisas se repetem, mas de outra forma, com novas roupagens, com novos uniformes, para além dos coturnos de 64. A violência agora se dá mais no uso das canetas de certos jornalistas, no abuso de autoridade de certos juízes de primeira instância, o abuso da toga, empoderados que foram depois de receberem treinamento nos EUA, que se atribuem super poderes, a ponto de condenarem sem provas, baseado apenas no relato de uma delação obtida sob tortura, num franco processo persecutório contra determinado partido político. Se caracterizando como um judiciário seletivo, partidário, tendencioso, que julga segundo a regra de dois pesos duas medidas. O objetivo sempre é o mesmo, derrubar um governo popular, não importa os meios utilizados, até mesmo com o uso da força se for preciso, com toda a sua peculiar truculência, com muita violência e mortes, como foi no Chile, na Argentina, no Uruguai, Peru e Bolívia. No Brasil foi moleza para os golpistas de 64, que usaram a força militar no início, como se tivessem entrado em guerra, colocando nas ruas uma grande quantidade de tanques e homens armados patrulhando a cidade. Com isso conseguiram intimidar a população civil, que atônita, sem saber muito bem o que estava se passando, não esboçaram a menor reação. É bom lembrar, que tal como hoje, quase toda a grande imprensa estava apoiando o golpe, salvo o jornal Última Hora. Os generais golpistas fecharam de imediato todos os sindicatos de trabalhadores, UNE, partidos políticos, órgãos representativos de classe, etc., prenderam suas principais lideranças, puseram os sindicatos na clandestinidade e sem a resistência da classe trabalhadora organizada, o golpe militar acabou por se consolidar, que como sabemos durou longos 21 anos, e levou o país a experimentar um enorme atraso democrático, com reflexos e impactos até os dias de hoje. 




quinta-feira, 22 de março de 2018

Os golpistas não mataram a minha esperança


É espantoso ver, como tem gente, que ainda não percebeu o que de fato está  acontecendo no país. É curioso ver gente vir a público dizer, por exemplo, que está completando dois anos do golpe, quando na verdade, o golpe continua em curso, em pleno vapor. No atual momento da vida nacional, todo dia tem golpe. A cada dia que passa, mais um golpe é desferido, não apenas contra Dilma, Lula ou o PT, mas desferido contra a sociedade brasileira, contra a soberania e a cidadania, contra um projeto de país, contra os recursos naturais e o patrimônio público do país. Vejo também gente falando em eleições de maneira tranquila, como se o país estivesse vivendo em plena normalidade democrática, que as eleições ocorrerão de forma natural, o que é outro erro de avaliação, um total absurdo. Isso ocorre mesmo em setores, que se dizem de esquerda, onde pequenos partidos já lançaram seus candidatos próprios, que em nenhum momento cogitaram ou falaram de unidade da esquerda. Rui Costa Pimenta do PCO, costuma dizer, que esses grupos de esquerda, como PSOL, PSTU e até mesmo o PCdB, que durante anos foi aliado do PT, ainda não acordaram para a realidade política, que o país está passando, o risco que o país está correndo, que o golpe pode se radicalizar ainda mais, descambar para a extrema direita, apelar para mais intervenção com o uso da força, a ponto de não haver nem eleições. Muito pelo contrário, todos eles lançaram os seus candidatos próprios, o que seria mais do que legítimo, se o país estivesse em plena normalidade democrática, o que não é o caso agora. Preferem assim fazer, para marcar posições, marcar suas diferenças ideológicas com o único partido de massa do campo popular, o PT, o que revela cada vez mais, que esses grupos compraram totalmente a agenda moralista da direita golpista contra a corrupção. Falei do Rui Costa Pimenta, porque me lembrei de um diagnóstico, feito por ele, a respeito desses grupos de esquerda como o PSOL por exemplo, dizia ele, que esse tipo de partido, não tem base social nenhuma onde se amparar, Guilherme Boulos do MTST tem, mas o Boulos nunca foi do PSOL, não fez a sua carreira de militância política nesse grupo, só se filiou ao PSOL muito recentemente, unicamente para ser candidato do mesmo, o que desagradou algumas alas do partido. Para Rui Pimenta esses pequenos partidos de esquerda, como o PSOL, são partidos dirigidos por uma elite pequeno burguesa, que falam e se dirigem para a pequena burguesia, para grupos de militantes de classe média, como se estivessem falando para os trabalhadores mais pobres, sem ter nenhuma base na classe operária, que via de regra, querem ser mais realistas que o rei. Partidos políticos sem lastro social, sem base, sem conexão com a classe trabalhadora, conduzidos única e exclusivamente por meia dúzia de intelectuais, está fadado ao fracasso, como a história mostra exaustivamente. Não ter compreensão da dimensão real do momento político, pelo qual estamos todos passando, leva a erros de avaliação, que gera prejuízos políticos graves, já vividos muitas vezes no passado. Errar é humano, mas se deveria aprender com os erros, e não continuar a cometê-los, por qualquer razão, seja por teimosia, sectarismo ou esquerdismo. Aliás, já dizia o mesmo o próprio Lenin lá atrás, quando publicou, “Esquerdismo, a doença infantil do comunismo”.


sábado, 17 de março de 2018

Uma direita predadora

Na hora que ouvi a frase proferida no vídeo de Rui Costa Pimenta: "O bandido é o judeu da extrema direita brasileira", na mesma hora, vi que precisava anotá-la, para uma eventual necessidade. Em outras palavras, a imagem do "bandido" hoje, em certo sentido, corresponde no imaginário da burguesia nacional, uma espécie de bode expiatório, como o elemento a ser eliminado, a ser tirado de cena, algo similar à situação do imigrante “invasor” na Europa, extremamente demonizado pela direita local. Ou, até mesmo, em último caso, a situação limite vivida pelo "judeu" europeu no período entre guerras do século passado, quando os nazistas alemães queriam eliminar os judeus de qualquer jeito, e a qualquer preço, quando os encontrasse não importava aonde. Era uma política oficial de Estado deliberada de extermínio de um povo, de um genocídio. É por isso, que considero a direita burra, nada dialética, dura, rígida, tensa, travada, extremamente violenta e predadora, embora reconheça que nesse momento esteja ainda conseguindo levar alguma vantagem nos embates, que se travam na luta política nacional pelo poder e hegemonia de narrativa. Eles estão de posse do poder político de estado, que tomaram de assalto com o golpe parlamentar-midiático-jurídico, e também pela força da grana do capital financeiro, da truculência do seu aparelho repressor e de muita mentira difundida através de robôs midiáticos e ideólogos de aluguel, que infelizmente ainda conseguem enganar e manipular tanta gente. Por isso, não é difícil perceber as digitais da direita espalhadas por toda parte, em ações políticas efetivas praticadas e em factoides espetaculosos divulgados, percebe-se a marca da direita se manifestando publicamente, a torto e a direito. Evitam debater qualquer ideia, contrariar o roteiro com outra ideia alternativa ou contrária, preferem negar a ideia proposta ou estabelecida, destruindo-a, aniquilando-a, matando-a, eliminando o adversário. Dão preferência sempre pelo ataque frontal, mortal, surpreendendo o adversário na covardia com um repertório cheio de calúnias e acusações difamadoras, portanto desqualificadoras. Enganaram muita gente nos últimos seis anos, mas não dá para saber, por quanto tempo ainda, continuarão enganando. A tendência daqui pra frente é o desgaste, quanto mais tempo continuarem no poder, por isso o risco é radicalizarem ainda mais, e apelarem para mais truculência e intervenção militar, mas também cometem erros, que os desgastam cada vez mais no decorrer do tempo. Começo a perceber, que já começam a perder apoio, em grande parte da classe média. Apesar de toda a gravidade da crise política trazida pelo golpe, prefiro acreditar na chance da casa cair, o mais rápido possível. Aposto nisso, a mentira não pode prevalecer indefinidamente, pois carrega em seu próprio bojo a sua destruição, e a destruição do país. Para concluir, como diz Rui Costa Pimenta, não se deve contar apenas com os erros dos golpistas, para poder derruba-los, é preciso fazer política pra valer, sair às ruas em grandes protestos e manifestações, fazer pressão sobre os golpistas, jogá-los nas cordas, acuá-los, para enfim conseguir derrubá-los definitivamente.

domingo, 4 de março de 2018

A razão não vacina contra os sentimentos




Interessante, descobrir o combate feito contra o sentimento, ver de forma forte e presente em todas as mídias, blogosfera incluída, mais uma palavra sendo condenada nesses conturbados tempos, o sentimento. Na clássica querela razão versus sentimento. O sentimento passou a ser vendido como coisa feia e inadequada, irracional, que deve ser combatido incansavelmente. Foi surpreendente, perceber como de uma hora para outra, parece que toda direita transita apenas no campo da racionalidade, de como são racionais, e ninguém tinha percebido nada disso antes, que não sentem nada jamais, que não é de bom tom demonstrar sentimentos em público, que bandeirar sentimentos, não é prova de nobreza, leia-se machismo. Deixando, com isso, um imenso espaço, para todo tipo de oportunismo e a hipocrisia se instalar. Só sendo muito cínico mesmo, ou partindo para a ironia fina ou grossa, para lidar com uma tolice dessa.


Apesar de todos os seus disparates, que muitas vezes soam jocosos, quase imbecis, a verdade é que, com esses métodos a direita está retomando o poder, em certos lugares está chegando, até mesmo, pelo voto. É impressionante, como a direita hoje dá lição ao mundo, como chegar ao poder, sem nenhuma pauta propositiva, como se não precisasse, absolutamente, se preocupar mais com isso. Confiante no sucesso do poder de fogo de seus arsenais midiáticos vivos ou robóticos, verdadeiros obuses ideológicos, hiper negativistas, destruidores, desqualificadores, com um poder de fogo mortífero contra o adversário. O que surpreende o adversário completamente, o leva até às cordas. Tentando se recuperar rápido e voltar à luta o mais rápido possível, não se pode deixar o adversário ganhar terreno. E assim que retoma o fôlego, encontra pela frente uma direita radicalmente demonizadora, estigmatizadora, criminalizadora, que consegue em pouco tempo, com a propaganda massiva convencer grandes massas, que alguma coisa não presta mais, não serve mais pra nada, precisa ser cassada, desqualificada, difamada, caluniada, perseguida, “impichada”, interditada, proibida, expulsa, deposta, banida e finalmente eliminada de forma definitiva, ou como muitos preferem dizer agora, deletada. Agindo dessa forma, desferem um ataque brutal contra determinado personagem da vida pública ou afeto humano, e talvez não haja nem reação, elimina-se o adversário imediatamente, sem resistência. Talvez a direita precise aplicar uma melhor logística na escolha dos adversários a atacar, para se tornar ainda mais efetiva e eficiente.

Por outro lado, como resultado de tudo isso, resta só a completa destruição da própria política, ou da forma como se fazia política, com suas regras, hábitos e negociação, muita negociação para assegurar o pacto mais próximo possível da sustentabilidade ou não, das regras do jogo em vigor, não importando a conjuntura. Isso acabou, agora as coisas estão sendo tomadas na mão grande, na lei do mais forte, não há mais respeito pelo adversário. Adversário? Imagine, pelo contrário, por essa lógica, qualquer adversário agora é inimigo, se é inimigo precisa ser destruído, eliminado, não tem conversa. Aniquila-se logo o inimigo e pronto, está acabado, de preferência, o mais rápido possível. Extermínio já! É uma guerra híbrida? Guerra híbrida é o nome que estão dando agora, a esse tipo peculiar de ataque sem tiros, como passaram a definir o ataque contra determinados governos nos chamados países democráticos e outros nem tanto, como foi o caso do ataque contra países do norte da África e Oriente Médio. Tenho ouvido vozes abafadas dizer, que mesmo no centro do mundo desenvolvido, ou seja, em países de proa da Europa Ocidental e América do Norte, a coisa tomou o rumo da direita radical, quase extremada, uma direita bizarra, caricata, abusada, provocadora, extravagante, brega, cafona, exagerada, que não está nem um pouco preocupada com a aparência. O que se ouve, é que essa retomada do poder pela direita, aumentou muito os riscos no mundo. Uma direita que perdeu a vergonha na cara, para que vergonha? Faz tudo com a maior cara de pau, na cara dura e sem esconder o rosto. Fez, faz e continua a fazer. Que mandou todos os escrúpulos às favas. Enquanto isso, na entrada da favela Rocinha no Rio, escuta-se: "O que você está dizendo?" "Democracia?" "Sabe com quem está falando?" Violência e mentiras são as armas da direita. No plano interno, se colar será ditadura, se colar colou.