quarta-feira, 21 de novembro de 2018

O nosso oriente

Considero bem curioso, volta e meia, ver brasileiros de certa classe média, se manifestando por aí, como sendo pertencentes ao chamado "mundo ocidental". Na verdade, muitos não se manifestam apenas, mas se jactam de fazerem parte do “mundinho” ocidental. Aonde cabe a pergunta, quantos brasileiros podem, na verdade, ostentar tal pertencimento? Alguns se olham no espelho e se acham parecidos com europeus, por isso ou por aquilo, até mesmo por ter laços sanguíneos através da descendência com imigrantes pobres, que aportaram por aqui em alguma ocasião, fugindo da fome ou de algum tipo de perseguição em épocas de guerra nos países de origem. Se formos botar no papel mesmo, muito poucos brasileiros conseguem levar a vida, materialmente falando, em condições de poder se ombrear com a vida levada por outros povos nos países mais ricos do chamado ocidente do mundo. Na verdade nunca deixamos de ser uma semi-colônia na periferia do sul do mundo, onde ainda uma minoria cooptada e vendida, que não se identifica jamais com o próprio país, nem com a sua população de modo geral, nem com a sua cultura, que se colocou no lugar dos antigos senhores e colonizadores do século XIX, como seus legítimos herdeiros ou substitutos. É claro, que é exatamente essa mesma gente, ainda uma parcela muito pequena da população, embora muito influente do ponto de vista ideológico, que se mete a se jactar que são europeus, ou que fazem parte do chamado mundo ocidental. Num país com mais da metade da sua população composta por afro-descendentes, descendentes dos antigos escravos, que continuam a viver ainda em absoluta precariedade, muitas vezes em condições subumanas, na informalidade empregatícia, na precariedade de suas moradias sem saneamento básico, na falta de qualidade da educação oferecida aos filhos, enfim em condições de vida, as piores possíveis e anos luz de distância da vida levada pelos habitantes do chamado mundo desenvolvido e ocidental. Portanto chega a ser bizarro, absurdo e completamente disparatado qualquer brasileiro, diante das condições de vida de todo o povo, diante de tanta desigualdade, AINDA ter a coragem de se jactar publicamente de pertencer ao mundo ocidental. Que mundo ocidental é esse cara pálida? É muito curioso, onde cabe a pergunta do porquê de tudo isso. Por que será? Será alienação? Será o quê? Ora, francamente!

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Um anticomunismo conveniente

Em tempos de radicalismo de extrema direita, quando o poder econômico dá um golpe no estado de direito, dentro de uma lógica do vale tudo, da lei do mais forte, levando o estado para um Estado de exceção, mudando as regras do jogo com o jogo em andamento. Utilizando-se para isso, das piores formas de fazer política, práticas que beiram a política do esgoto. E onde agentes públicos, como ministros do STF e outros, cuja atribuição primordial deveria ser zelar pelo cumprimento dos preceitos da carta magna, isto é, da Constituição Federal, que ao contrário passam a fazer puxadinhos para burlá-la. Não se respeita mais a presunção da inocência, e de outros dispositivos constitucionais. Permite-se que governos legítimos sejam derrubados sem crime de responsabilidade apresentado. Que possam aflorar aventureiros de todo tipo achando, que podem fazer qualquer coisa, pois agora tudo pode, até mesmo a volta dos militares ao poder. Num clima como esse, volta o fantasma do anticomunismo a galope, só que como não existe mais em parte alguma do planeta algum regime, que se diga comunista, parece até absurdo que exista alguém propenso a acreditar em tamanha fábula. Ledo engano, porque os marqueteiros do desengano, utilizam-se de qualquer falso argumento, para atingir seus objetivos políticos sujos. E o anticomunismo caiu como uma luva nesses aproveitadores picaretas. Não no campo da teoria, não tenho visto até aqui ninguém contestar os princípios básicos da teoria marxista, talvez os anticomunistas que se apresentaram até agora, não tenham preparo nem competência para tanto. A coisa toda tem se apresentado mais no campo cultural e dos costumes, e até alguns ataques à pedagogia de Paulo freire e ao seu método. Grande Paulo Freire, grande mestre e professor, já falecido, mas com grandes e inestimáveis serviços prestados à humanidade, pois como precisou partir para o exílio em virtude da perseguição da ditadura militar brasileira de 64, foi obrigado, a trabalhar mais no estrangeiro do que em seu próprio país, mas depois da anistia de 1979, voltou a prestar valiosos serviços também por aqui, inclusive na prefeitura de São Paulo durante a gestão de Luiza Erundina. E esses ataques tem partido mais de parte de certos pastores evangélicos neopentecostais, que pedem o fim do método Paulo Freire nas escolas, assim como pedem também a volta do ensino de moral e cívica da época da ditadura. E porque eles não querem o método Paulo Freire, porque o método Paulo Freire ensina a pensar, a refletir, jamais aceitar passivamente um conteúdo alienígena, um conteúdo decoreba e ponto final. O aluno no método do professor pernambucano não se contenta em memorizar um conteúdo, para repetir na prova como um robô. O aluno é ativo também no processo de aprendizagem, é um aluno que questiona tudo aquilo que é objeto de aprendizagem. Como aqueles pastores são responsáveis hoje em dia pelo maior curral eleitoral dos tempos modernos no Brasil, é claro que gente passiva, gente que não pensa nem questiona, é tudo o que eles mais precisam em seus templos suntuosos, verdadeiras megaigrejas, onde fazem todo tipo de proselitismo, da teologia da prosperidade e principalmente o proselitismo político, para eleger gente do tipo Bolsonaro, Magno Malta e outros do gênero, formando uma grande bancada na Câmara dos deputados em Brasília, a chamada bancada da bíblia. É uma grande lavagem cerebral o que aqueles pastores realizam em seus cultos diariamente com os seus fiéis, daí a metáfora do rebanho ser perfeita para eles, a manada e os seus pastores picaretas e aproveitadores inescrupulosos. Logo, anátema para Paulo Freire, e nem poderia ser diferente.

segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Os militares e a corrupção

Com as eleições se aproximando, e ao utilizar uma estratégia de aumentar os votos nos candidatos da direita fascista, tenho recebido uma série de mensagens e vídeos falando na honestidade dos militares e na corrupção do PT. Em primeiro lugar para atingir determinados objetivos usam de subterfúgios, mentiras, armadilhas e bombas semióticas, tipo facadas, achando, possivelmente, que só dessa forma podem aumentar o apoio, que precisam para permanecer no poder. JAMAIS usam o convencimento do eleitor, e sempre a burla, o choque, o espanto, o susto e o medo, como arma política, isso é o fascismo, é assim que atua e age na cena política, ou através da violência física, como os tiros contra a caravana Lula no sul, em acampamentos de sem terra e sem teto, ou quando incendeiam moradores de ruas covardemente nas madrugadas. Ninguém é mais corrupta do que a direita política, mas é sempre os mesmos, que levantam a bandeira da corrupção, como arma política, contra os adversários do campo popular ou esquerda. Foi assim contra Getúlio Vargas em 1954, contra Jango dez anos depois e agora recentemente contra os governos do PT, desde o episódio do mensalão, e os acusadores sempre encarnados por notórios corruptos, como Roberto Jefferson por exemplo. Quanto ao militares, todo mundo sabe que os departamentos de intendência das corporações militares sempre foram antros de corrupção, de superfaturamentos, de vez em quando estoura um escândalo aqui ou ali, isso quando existe o mínimo de normalidade democrática e certa liberdade de imprensa. Quando os militares chegaram ao governo com a ditadura em 64, que cerceou a livre circulação de informação, só se divulgava o que era consentido, devido à censura prévia, jamais era permitido nenhuma divulgação de casos de corrupção nas forças armadas. Acontece que muitos oficiais ao irem para a reserva remunerada, com os militares no governo central, muitos ocuparam altos cargos na burocracia de estatais e da administração direta. E então foi uma festa, rolou muita corrupção, gente que ia fazer tratamento dentário na Califórnia bancado pelo dinheiro público. Gente, filhotes da ditadura, filhos de amantes de generais, que entravam pela janela, em cargos públicos, com altos salários, sem a expertise exigida para o cargo. Era uma farra geral, que evidentemente aproveitava-se do silêncio da mídia, para os casos mais escabrosos de abusos contra a administração pública. Com a ditadura se tornando mais débil, nos últimos anos começaram a pipocar aqui e ali algumas notícias a respeito daqueles abusos, como foi o caso da empresa de navegação Lloyd Brasileiro, que os militares, por má gestão e falcatruas, levaram à falência, e em seguida o caso Sunamam (Superintendência nacional de marinha mercante), quem não se lembra? Portanto, contar mentiras a respeito do período do governo militar, como dizer que não havia corrupção, depois de tanto tempo passado, quando a maioria da população nem se lembra mais ou não era nascida, é no mínimo uma desonestidade intelectual.

sexta-feira, 20 de abril de 2018

A direita não gosta de filosofia


Quando entrei na Faculdade de Filosofia da Uerj em 1974, a universidade ainda se chamava UEG, e ainda funcionava ao lado do Instituto Lafayette na rua Haddock Lobo na Tijuca. Só fomos para a unidade do Maracanã em 1976, onde permanece até os dias de hoje. Quando iniciei o curso, descobri que o catedrático chefe do departamento de filosofia, era Tarcísio Meirelles Padilha, filho do ex-integralista Raimundo Padilha, interventor federal no antigo estado do Rio, antes da fusão com a Guanabara. Tarcísio Padilha, era um tomista convicto, gostava de falar bonito e empolado, escolhia bem as palavras, em geral termos e conceitos, que os alunos dos primeiros anos, ainda não conheciam os significados, e assim ele se impunha e se exibia impunemente. Tínhamos a sensação, que era aquele tipo de sujeito, que fala, fala muito e não diz nada. Gostava de citar uma profusão de autores, dentre os quais Jacques Maritain, além de outros autores tomistas, algumas vezes em latim, flertava também com o existencialismo cristão do francês Gabriel Marcel, e dessa forma, era o mais próximo da atualidade daqueles dias, que conseguia chegar em matéria de filosofia teórica. Já do ponto de vista político mostrava ser extremamente conservador e reacionário, exibia sempre um anticomunismo quase visceral. Por outro lado, apesar de tudo, no corpo docente ainda restavam alguns professores mais próximos do que a gente entendia por esquerda, um tanto liberais em questões comportamentais, e que só permaneceram professores naquele instituto, por nunca terem se envolvido com a política propriamente dita, eram bem poucos. Os outros, em sua maioria, eram muito ruins em tudo, mas sobretudo didaticamente falando, quase todos eram muito ligados à igreja católica e ao tomismo. A gente sabia que os melhores professores ou estavam presos, ou tinham sido banidos do ambiente acadêmico ou estavam no exílio. O governo militar já havia proibido, e suprimido dos currículos de nível médio das escolas secundárias de todo o país, o ensino de filosofia. Ainda restava o ensino de disciplinas filosóficas (História da filosofia, ética, estética, lógica, epistemologia, teoria do conhecimento, etc.), apenas nos cursos de graduação no nível superior, mas com séria ameaça de ser suprimido num futuro próximo, o que acabou felizmente não acontecendo com o fim do governo militar em 1985, governo, que a partir da anistia em 1979, começou a se enfraquecer. Dessa forma éramos uns resignados resistentes, amantes de filosofia, que apesar de tudo, do opressivo regime político ditatorial, que havia afastado de nós os melhores professores e de todas as ameaças de todos os tipos, ainda estávamos por ali tentando conhecer, debater, discutir e questionar, embora o ambiente disponibilizado pela instituição de ensino fosse o pior possível, quando se pensa num curso de licenciatura e graduação na área de humanidades, centrado no ensino de filosofia numa universidade pública. E assim, com muitas dificuldades conseguimos chegar ao final do curso, já que era pré-requisito para o ingresso no mestrado, e foi o que alguns fizeram ao final do curso, me incluo entre os que foram fazer o mestrado, fui para o IFCS no Largo de São Francisco/UFRJ. Portanto, quando leio hoje uma notícia como essa, de que a disciplina de filosofia voltará a ser retirada da grade curricular dos cursos secundários, acaba, de certa forma, sendo quase um café pequeno, perto de tudo que já vivenciamos no passado. O que não significa, que não devamos resistir, denunciar, desmascarar e criticar uma atitude política dessa, feita por esse desgoverno. Para concluir, prefiro não entrar no mérito do que afirma esse sujeito chamado Adolfo Sashcida, que se diz consultor ou conselheiro de Jair Bolsonaro, que faz um painel, do que julga ser esquerda e direita de forma estapafúrdia, onde diz que tanto Hitler como Pinochet eram de esquerda. Depois dessa, deixo entregue aos caprichos dos leitores, toda e qualquer consideração final a respeito desse disparate.
Assuntos conexos:
Não esquecer para não desejar jamais a sua volta
Tudo se repete como farsa









Tudo se repete como farsa

Essa história da burguesia nacional se exibir como democrata, é tudo fachada, mentira, a mais pura falsidade. Na verdade a burguesia brasileira é ainda muito saudosa dos tempos da casa grande e do escravismo, de democratas eles não têm nada. Aliás, para ser um pouco justo, e considerando a conjuntura internacional, poderia ser dito, que essa situação não é privilégio apenas da burguesia nacional, como se está assistindo hoje o retrocesso da democracia no território europeu, com o crescimento de vários partidos de estrema direita. Voltando ao nosso país, se poderia dizer sem medo de errar, que a burguesia nacional é composta por uma gente chinfrim, mesquinha, egoísta, que só pensa em seu próprio bem-estar e privilégios, e também profundamente preconceituosa contra os mais pobres, na verdade eles odeiam os pobres, como odiavam os escravos. Como são muito influentes socialmente falando, acabam por transferir esses valores mais mesquinhos para as camadas médias, ou pequena burguesia como preferia Marx, que se espelham e desejam ser como os mais altos na hierarquia social. Salvo raras exceções a pequena burguesia não se identifica com os do andar de baixo. Quando os tempos da economia são de bonança, aquela pequena elite influente politicamente, até tolera um pouco de transferência de renda, como foi o caso nos dois governos Lula, mas não pode ser muita coisa, só algumas migalhas, a maior parte do bolo, terá que ser para a classe dominante.
Lembro bem durante a ditadura militar de EXTREMA-DIREITA, quando o principal ministro da economia, Delfim Netto dizia e a mídia repetia exaustivamente, que era preciso esperar primeiro o bolo crescer, para depois distribuir, pois bem, na época o bolo crescia, foi a chamada época do milagre econômico, quando teve ano que o PIB chegou a crescer 11% , e nem assim distribuíram nada, era só promessa, só aumentou a precariedade dos mais pobres e o consequente aumento da favelização, da pobreza, do número de ambulantes nas ruas, arrocho do salário mínimo, etc. Portanto essa burguesia tacanha não tem o menor pudor de recorrer ao autoritarismo, isto é, jogar na lata de lixo da história, o tempo que for necessário, os valores democráticos, para a sociedade como um todo, PARA PRESERVAR OS SEUS INTERESSES E PRIVILÉGIOS. Tal como estão a fazer agora, forçando a barra e jogando os seus cães de guarda superiores, os generais do exército, a fazer ameaças contra a normalidade democrática, levando-os a cometer crimes contra a Constituição, ao fazer determinadas ameaças, antes de votações importantes serem realizadas pela suprema corte do país. É um descalabro total, se tivéssemos um governo sério e forte, o general, que procedesse dessa forma, seria preso de imediato, porque isso é crime segundo a Constituição Federal, mas a imprensa golpista e financiada pelos poderosos, ainda reforça esse tipo de crime ao dar voz e destaque no horário nobre, como foi feito por William Bonner no jornal nacional. Só mesmo com a mobilização popular em massa, esse tipo de gente retornará aos seus porões, só com muita gente mobilizada nas ruas, retornarão ao lugar que lhes cabe nesse latifúndio, porque são minoria, a classe média mais reacionária é numericamente ainda muito pequena, os ricos nem se fala, jamais vão às ruas, portanto é preciso muita mobilização, só com mobilização mesmo é que vamos empurrar esses fascistas para a insignificância deles, para a qualidade principal deles que é a ESTUPIDEZ. A única força que possuem é o autoritarismo das forças armadas e o arbítrio de setores reacionários do judiciário.

segunda-feira, 16 de abril de 2018

Não esquecer para não desejar jamais a sua volta


O regime militar e o caso Para-Sar

Quem hoje tem menos de cinquenta anos, não tem a menor ideia do que foi o regime militar, que governou o brasil de 1964 a 1985. Um regime político forte com muita repressão política e policial, onde não havia liberdades democráticas, apesar da aparente normalidade democrática através do funcionamento de um Congresso Nacional completamente manietado e sob a ameaça constante de cassação do mandato de seus membros, pelos dispositivos autoritários do regime em vigor, como o AI-5 e outros instrumentos repressivos. Quer dizer, era uma ditadura com tudo que tinha direito, para ninguém botar defeito, um verdadeiro estado policial. Logo no início do golpe, esqueceram por completo a Constituição de 1946, e em seu lugar criaram os diferentes Atos Institucionais, AI-1, AI-2, etc., até o AI-5 em dezembro de 1968, quando o regime endureceu de vez, tornando-se um autêntico estado de exceção. Além disso, cassaram os registros de todos os partidos políticos existentes, e no lugar só permitiram a existência de apenas dois partidos políticos, criados artificialmente, um de oposição, o MDB, e outro chapa branca ou oficial, de apoio total ao regime, de nome ARENA. Todos os órgãos representativos de classe e os sindicatos foram postos na ilegalidade, e seus principais líderes perseguidos, presos ou mortos em confronto com a polícia. A sede da UNE na praia do Flamengo/Rio foi atacada e incendiada, e depois o prédio, mesmo chamuscado pelo fogo do ataque, serviu de sede da Escola de Teatro de uma universidade carioca. Os estudantes não podiam mais fazer política em hipótese alguma, havia um decreto-lei contra isso, o famigerado 477, que todo estudante sabia o número de cor, e era um terror, muita gente foi expulsa e presa por causa dele. Havia a figura do estudante profissional, ou seja, em geral um militar de patente superior, tenente, capitão ou major, que era infiltrado em salas de aula, nas turmas de cursos universitários, principalmente nas unidades da área de humanidades. Postos ali especialmente, para vigiar e dedurar os professores e alunos mais engajados politicamente, que porventura se pronunciassem durante as aulas, questionassem e criticassem o governo militar, esses sempre ficavam na alça de mira dos infiltrados. Não preciso dizer, que essa situação, provocava muita insegurança, instabilidade e pânico entre alguns alunos, e também muita paranoia. Era proibida qualquer atividade extra curricular dentro dos muros das faculdades ou escolas, dessa forma, estavam proibidos: grêmios acadêmicos, jornais, cineclubes, grupos de teatro, etc. Costumava-se dizer, que três estudantes juntos no pátio interno, era considerado multidão, era suspeito, não podia, o que gerava um clima muito negativo. Com o passar dos anos as coisas foram mudando aos poucos, mas só durante o governo Geisel, é que começou a mudar lentamente, era chamada de distensão lenta e gradual pelo próprio Geisel. Existia uma censura muito rigorosa contra os produtos culturais, tudo era suspeito, então havia muita censura contra o que se publicava nos jornais, revistas, na música popular, nos espetáculos teatrais, cinema, livros, etc. Para concluir, vou lembrar um pouco de um caso estarrecedor, que ficou célebre, não na ocasião que ocorreu, pois com a censura, não se deixava ser divulgado esse tipo de coisa. Quando começaram os primeiros atentados à bomba contra o regime em 1968, contra alvos militares realizados por grupos de guerrilheiros clandestinos, que logo em seguida, efetuaram alguns sequestros de embaixadores, para servir como moeda de troca por presos políticos ameaçados de morte pela repressão. Alguns setores mais radicais da repressão arquitetaram planos tenebrosos contra a população civil, com a intenção diabólica de culpar os combatentes da luta armada. Um desses planos tenebrosos ficou conhecido como o atentado do gasômetro, ou caso Para-Sar (esquadrão da aeronáutica especializado em resgastes em áreas remotas), diz respeito a um plano terrorista arquitetado em 1968 pelo brigadeiro João Paulo Burnier, que ordenou o desvio de função do esquadrão, para servir de instrumento na eliminação de várias autoridades políticas, como o jornalista Carlos Lacerda, o ex-presidente Juscelino Kubitschek e outros, que seriam sequestrados e em seguida atirados ao mar de aviões do esquadrão; além da explosão do gasômetro no Rio durante o horário de pico, com o objetivo de matar o maior número possível de vítimas, e culpabilizar os guerrilheiros da luta armada.
O que seria uma atrocidade inigualável, e só não foi levada adiante, porque o capitão da aeronáutica Sérgio de Carvalho contestou a operação, e levou ao conhecimento de autoridades superiores, fazendo com que todo o plano terrorista dos militares da Aeronáutica fosse abortado. Sugiro aos apreciadores desse tipo de evento, que pesquisem no Google também, sobre a tentativa de atentado no Rio Centro, durante um show comemorativo do dia do trabalho, no dia primeiro de maio de 1981. Isso apenas para ficar nesses dois casos, mas tem muitos outros casos escabrosos, que é sempre bom lembrar, sobretudo para aqueles jovens, que volta e meia, manifestam o desejo da volta do governo militar.
   




domingo, 15 de abril de 2018

Duzentos anos de Karl Marx

Nesse ano de 2018, celebra-se o aniversário de 200 anos do nascimento do grande Karl Marx, autor do célebre livro "O Capital", que traça um raio X do sistema capitalista, mostra como funciona, suas entranhas e os bastidores sujos do capitalismo, numa análise de cunho eminentemente científico até agora insuperável do ponto de vista teórico. Um capitalismo, que traz como consequência, muita exclusão social, concentração da riqueza cada vez mais em pouquíssimas mãos, crises recorrentes, guerras, e por causa disso, a fome e a destruição de muitos países, tornando a vida de muita gente completamente insegura, instável e insustentável. Como estamos assistindo agora na Síria, e em muitos outros lugares, quando se vê um pequeno grupo de países extremamente ricos, liderado pelos EUA, conhecidos por empregar no campo da política internacional o imperialismo em suas relações com outras nações menores e menos potentes, tanto econômica como militarmente. Alegam não gostar de determinado governo de um país qualquer, por algum motivo, inventam mentiras, como foi o caso do Iraque, quando alegaram que o Iraque possuía as chamadas "armas químicas" ou "armas de destruição em massa". E assim, decidem de forma unilateral, atacar o país falsamente acusado, com a força máxima de suas armas de última geração, para derrubar e destruir o governo de um país soberano. Como consequência, destroem o país completamente, e como resultado, deixam centenas de milhares de mortos, milhões de cidadãos da população civil com suas casas em ruínas, perdendo tudo que possuíam, tornando-se refugiados da noite para o dia. Uma tragédia completa e desnecessária. É como age e atua hoje no planeta, os países imperialistas do chamado mundo ocidental, sem o menor respeito às leis internacionais promulgadas e assinadas por quase todos os países em seu organismo principal, a ONU. Países que se dizem desenvolvidos, e professam a fé em cultos monoteístas de cunho judeu ou cristão. O curioso, é que se consideram politicamente democratas, mesmo agindo dessa forma, dizem defender a democracia contra ditaduras, mas eles têm as suas ditaduras preferidas, como é o caso da ditadura monárquica da Arábia Saudita por exemplo, aliada de primeira hora dos norte-americanos, uma ditadura extremamente cruel, homofóbica, xenófoba e misógina, contra quem, os imperialistas não dizem nada, nem tampouco criticam ou fazem qualquer ameaça. Sem falar em outro vizinho extremamente violento da mesma região, o estado de Israel, governado hoje por Benjamin Netanyahu, um líder considerado fascista pelos próprios cidadãos israelenses, que executa e mata constantemente dezenas de civis palestinos desarmados à luz do dia, de forma covarde. Além de estar promovendo, nos dias que correm, uma verdadeira limpeza étnica no país, através da expulsão e deportação de milhares de trabalhadores estrangeiros, principalmente os de origem africana. É inacreditável, que tudo isso ainda esteja a ocorrer no mundo hoje, em pleno século XXI, mas infelizmente essa é a verdade a que estamos ainda sujeitos. E o sistema capitalista capitaneado por esse grupo de países imperialistas, com suas crises internas constantes, fruto do próprio sistema econômico, segue aos trancos e barrancos, com sua lógica de máfia, derrubando um governo aqui, outro ali, utilizando-se para isso de diferentes tipos de guerra, desde a hoje conhecida como guerra híbrida, onde se derruba um regime político de um país sem dar um tiro, e também da guerra por procuração, quando se arma milícias rebeldes de mercenários pagos à soldo do dinheiro imperialista e de seus aliados, como se fez na Síria, ou até mesmo, em último caso, o ataque direto, como o realizado contra o Iraque de Saddam Hussein em 2003. O que deixa a vida no planeta sob o capitalismo, cada vez mais instável e insustentável. Tempos muito difíceis.

terça-feira, 27 de março de 2018

Uma nota sobre o documentário Condor


Não deixem de assistir, pelo menos até a primeira parte do documentário, que mostra como foi feito o golpe de 1973 no Chile contra o governo Allende, que diferente de Cuba, pretendia fazer no Chile um governo orientado por um socialismo democrático, priorizando atender os mais pobres, sem luta armada, guerrilha, etc., a luta se daria apenas no campo político, na retórica, na narrativa de convencimento da maioria. Para isso chegou ao poder através do voto da maioria do povo chileno. Tudo isso é mostrado no filme de forma ampla, sobretudo a sabotagem dos setores contrários, da reação golpista, do apoio e a ingerência direta do governo norte americano e de suas agências de informações, como a CIA por exemplo, além de organizações não governamentais, etc., que financiaram greves em setores estratégicos com a finalidade de enfraquecer o governo Allende. A importância que dou em assistir esse tipo de filme nos dias que correm, é no mínimo para comparar com o golpe dado no Brasil em 2016, que sofremos, e que ainda está em curso, com golpes atrás de golpes quase todo dia. É incrível como as coisas se repetem, mas de outra forma, com novas roupagens, com novos uniformes, para além dos coturnos de 64. A violência agora se dá mais no uso das canetas de certos jornalistas, no abuso de autoridade de certos juízes de primeira instância, o abuso da toga, empoderados que foram depois de receberem treinamento nos EUA, que se atribuem super poderes, a ponto de condenarem sem provas, baseado apenas no relato de uma delação obtida sob tortura, num franco processo persecutório contra determinado partido político. Se caracterizando como um judiciário seletivo, partidário, tendencioso, que julga segundo a regra de dois pesos duas medidas. O objetivo sempre é o mesmo, derrubar um governo popular, não importa os meios utilizados, até mesmo com o uso da força se for preciso, com toda a sua peculiar truculência, com muita violência e mortes, como foi no Chile, na Argentina, no Uruguai, Peru e Bolívia. No Brasil foi moleza para os golpistas de 64, que usaram a força militar no início, como se tivessem entrado em guerra, colocando nas ruas uma grande quantidade de tanques e homens armados patrulhando a cidade. Com isso conseguiram intimidar a população civil, que atônita, sem saber muito bem o que estava se passando, não esboçaram a menor reação. É bom lembrar, que tal como hoje, quase toda a grande imprensa estava apoiando o golpe, salvo o jornal Última Hora. Os generais golpistas fecharam de imediato todos os sindicatos de trabalhadores, UNE, partidos políticos, órgãos representativos de classe, etc., prenderam suas principais lideranças, puseram os sindicatos na clandestinidade e sem a resistência da classe trabalhadora organizada, o golpe militar acabou por se consolidar, que como sabemos durou longos 21 anos, e levou o país a experimentar um enorme atraso democrático, com reflexos e impactos até os dias de hoje. 




quinta-feira, 22 de março de 2018

Os golpistas não mataram a minha esperança


É espantoso ver, como tem gente, que ainda não percebeu o que de fato está  acontecendo no país. É curioso ver gente vir a público dizer, por exemplo, que está completando dois anos do golpe, quando na verdade, o golpe continua em curso, em pleno vapor. No atual momento da vida nacional, todo dia tem golpe. A cada dia que passa, mais um golpe é desferido, não apenas contra Dilma, Lula ou o PT, mas desferido contra a sociedade brasileira, contra a soberania e a cidadania, contra um projeto de país, contra os recursos naturais e o patrimônio público do país. Vejo também gente falando em eleições de maneira tranquila, como se o país estivesse vivendo em plena normalidade democrática, que as eleições ocorrerão de forma natural, o que é outro erro de avaliação, um total absurdo. Isso ocorre mesmo em setores, que se dizem de esquerda, onde pequenos partidos já lançaram seus candidatos próprios, que em nenhum momento cogitaram ou falaram de unidade da esquerda. Rui Costa Pimenta do PCO, costuma dizer, que esses grupos de esquerda, como PSOL, PSTU e até mesmo o PCdB, que durante anos foi aliado do PT, ainda não acordaram para a realidade política, que o país está passando, o risco que o país está correndo, que o golpe pode se radicalizar ainda mais, descambar para a extrema direita, apelar para mais intervenção com o uso da força, a ponto de não haver nem eleições. Muito pelo contrário, todos eles lançaram os seus candidatos próprios, o que seria mais do que legítimo, se o país estivesse em plena normalidade democrática, o que não é o caso agora. Preferem assim fazer, para marcar posições, marcar suas diferenças ideológicas com o único partido de massa do campo popular, o PT, o que revela cada vez mais, que esses grupos compraram totalmente a agenda moralista da direita golpista contra a corrupção. Falei do Rui Costa Pimenta, porque me lembrei de um diagnóstico, feito por ele, a respeito desses grupos de esquerda como o PSOL por exemplo, dizia ele, que esse tipo de partido, não tem base social nenhuma onde se amparar, Guilherme Boulos do MTST tem, mas o Boulos nunca foi do PSOL, não fez a sua carreira de militância política nesse grupo, só se filiou ao PSOL muito recentemente, unicamente para ser candidato do mesmo, o que desagradou algumas alas do partido. Para Rui Pimenta esses pequenos partidos de esquerda, como o PSOL, são partidos dirigidos por uma elite pequeno burguesa, que falam e se dirigem para a pequena burguesia, para grupos de militantes de classe média, como se estivessem falando para os trabalhadores mais pobres, sem ter nenhuma base na classe operária, que via de regra, querem ser mais realistas que o rei. Partidos políticos sem lastro social, sem base, sem conexão com a classe trabalhadora, conduzidos única e exclusivamente por meia dúzia de intelectuais, está fadado ao fracasso, como a história mostra exaustivamente. Não ter compreensão da dimensão real do momento político, pelo qual estamos todos passando, leva a erros de avaliação, que gera prejuízos políticos graves, já vividos muitas vezes no passado. Errar é humano, mas se deveria aprender com os erros, e não continuar a cometê-los, por qualquer razão, seja por teimosia, sectarismo ou esquerdismo. Aliás, já dizia o mesmo o próprio Lenin lá atrás, quando publicou, “Esquerdismo, a doença infantil do comunismo”.


sábado, 17 de março de 2018

Uma direita predadora

Na hora que ouvi a frase proferida no vídeo de Rui Costa Pimenta: "O bandido é o judeu da extrema direita brasileira", na mesma hora, vi que precisava anotá-la, para uma eventual necessidade. Em outras palavras, a imagem do "bandido" hoje, em certo sentido, corresponde no imaginário da burguesia nacional, uma espécie de bode expiatório, como o elemento a ser eliminado, a ser tirado de cena, algo similar à situação do imigrante “invasor” na Europa, extremamente demonizado pela direita local. Ou, até mesmo, em último caso, a situação limite vivida pelo "judeu" europeu no período entre guerras do século passado, quando os nazistas alemães queriam eliminar os judeus de qualquer jeito, e a qualquer preço, quando os encontrasse não importava aonde. Era uma política oficial de Estado deliberada de extermínio de um povo, de um genocídio. É por isso, que considero a direita burra, nada dialética, dura, rígida, tensa, travada, extremamente violenta e predadora, embora reconheça que nesse momento esteja ainda conseguindo levar alguma vantagem nos embates, que se travam na luta política nacional pelo poder e hegemonia de narrativa. Eles estão de posse do poder político de estado, que tomaram de assalto com o golpe parlamentar-midiático-jurídico, e também pela força da grana do capital financeiro, da truculência do seu aparelho repressor e de muita mentira difundida através de robôs midiáticos e ideólogos de aluguel, que infelizmente ainda conseguem enganar e manipular tanta gente. Por isso, não é difícil perceber as digitais da direita espalhadas por toda parte, em ações políticas efetivas praticadas e em factoides espetaculosos divulgados, percebe-se a marca da direita se manifestando publicamente, a torto e a direito. Evitam debater qualquer ideia, contrariar o roteiro com outra ideia alternativa ou contrária, preferem negar a ideia proposta ou estabelecida, destruindo-a, aniquilando-a, matando-a, eliminando o adversário. Dão preferência sempre pelo ataque frontal, mortal, surpreendendo o adversário na covardia com um repertório cheio de calúnias e acusações difamadoras, portanto desqualificadoras. Enganaram muita gente nos últimos seis anos, mas não dá para saber, por quanto tempo ainda, continuarão enganando. A tendência daqui pra frente é o desgaste, quanto mais tempo continuarem no poder, por isso o risco é radicalizarem ainda mais, e apelarem para mais truculência e intervenção militar, mas também cometem erros, que os desgastam cada vez mais no decorrer do tempo. Começo a perceber, que já começam a perder apoio, em grande parte da classe média. Apesar de toda a gravidade da crise política trazida pelo golpe, prefiro acreditar na chance da casa cair, o mais rápido possível. Aposto nisso, a mentira não pode prevalecer indefinidamente, pois carrega em seu próprio bojo a sua destruição, e a destruição do país. Para concluir, como diz Rui Costa Pimenta, não se deve contar apenas com os erros dos golpistas, para poder derruba-los, é preciso fazer política pra valer, sair às ruas em grandes protestos e manifestações, fazer pressão sobre os golpistas, jogá-los nas cordas, acuá-los, para enfim conseguir derrubá-los definitivamente.

domingo, 4 de março de 2018

A razão não vacina contra os sentimentos




Interessante, descobrir o combate feito contra o sentimento, ver de forma forte e presente em todas as mídias, blogosfera incluída, mais uma palavra sendo condenada nesses conturbados tempos, o sentimento. Na clássica querela razão versus sentimento. O sentimento passou a ser vendido como coisa feia e inadequada, irracional, que deve ser combatido incansavelmente. Foi surpreendente, perceber como de uma hora para outra, parece que toda direita transita apenas no campo da racionalidade, de como são racionais, e ninguém tinha percebido nada disso antes, que não sentem nada jamais, que não é de bom tom demonstrar sentimentos em público, que bandeirar sentimentos, não é prova de nobreza, leia-se machismo. Deixando, com isso, um imenso espaço, para todo tipo de oportunismo e a hipocrisia se instalar. Só sendo muito cínico mesmo, ou partindo para a ironia fina ou grossa, para lidar com uma tolice dessa.


Apesar de todos os seus disparates, que muitas vezes soam jocosos, quase imbecis, a verdade é que, com esses métodos a direita está retomando o poder, em certos lugares está chegando, até mesmo, pelo voto. É impressionante, como a direita hoje dá lição ao mundo, como chegar ao poder, sem nenhuma pauta propositiva, como se não precisasse, absolutamente, se preocupar mais com isso. Confiante no sucesso do poder de fogo de seus arsenais midiáticos vivos ou robóticos, verdadeiros obuses ideológicos, hiper negativistas, destruidores, desqualificadores, com um poder de fogo mortífero contra o adversário. O que surpreende o adversário completamente, o leva até às cordas. Tentando se recuperar rápido e voltar à luta o mais rápido possível, não se pode deixar o adversário ganhar terreno. E assim que retoma o fôlego, encontra pela frente uma direita radicalmente demonizadora, estigmatizadora, criminalizadora, que consegue em pouco tempo, com a propaganda massiva convencer grandes massas, que alguma coisa não presta mais, não serve mais pra nada, precisa ser cassada, desqualificada, difamada, caluniada, perseguida, “impichada”, interditada, proibida, expulsa, deposta, banida e finalmente eliminada de forma definitiva, ou como muitos preferem dizer agora, deletada. Agindo dessa forma, desferem um ataque brutal contra determinado personagem da vida pública ou afeto humano, e talvez não haja nem reação, elimina-se o adversário imediatamente, sem resistência. Talvez a direita precise aplicar uma melhor logística na escolha dos adversários a atacar, para se tornar ainda mais efetiva e eficiente.

Por outro lado, como resultado de tudo isso, resta só a completa destruição da própria política, ou da forma como se fazia política, com suas regras, hábitos e negociação, muita negociação para assegurar o pacto mais próximo possível da sustentabilidade ou não, das regras do jogo em vigor, não importando a conjuntura. Isso acabou, agora as coisas estão sendo tomadas na mão grande, na lei do mais forte, não há mais respeito pelo adversário. Adversário? Imagine, pelo contrário, por essa lógica, qualquer adversário agora é inimigo, se é inimigo precisa ser destruído, eliminado, não tem conversa. Aniquila-se logo o inimigo e pronto, está acabado, de preferência, o mais rápido possível. Extermínio já! É uma guerra híbrida? Guerra híbrida é o nome que estão dando agora, a esse tipo peculiar de ataque sem tiros, como passaram a definir o ataque contra determinados governos nos chamados países democráticos e outros nem tanto, como foi o caso do ataque contra países do norte da África e Oriente Médio. Tenho ouvido vozes abafadas dizer, que mesmo no centro do mundo desenvolvido, ou seja, em países de proa da Europa Ocidental e América do Norte, a coisa tomou o rumo da direita radical, quase extremada, uma direita bizarra, caricata, abusada, provocadora, extravagante, brega, cafona, exagerada, que não está nem um pouco preocupada com a aparência. O que se ouve, é que essa retomada do poder pela direita, aumentou muito os riscos no mundo. Uma direita que perdeu a vergonha na cara, para que vergonha? Faz tudo com a maior cara de pau, na cara dura e sem esconder o rosto. Fez, faz e continua a fazer. Que mandou todos os escrúpulos às favas. Enquanto isso, na entrada da favela Rocinha no Rio, escuta-se: "O que você está dizendo?" "Democracia?" "Sabe com quem está falando?" Violência e mentiras são as armas da direita. No plano interno, se colar será ditadura, se colar colou.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

A democracia está indo embora?

Dep. Paulo Teixeira

Quando li a manchete com a frase do deputado federal Paulo Teixeira: "Não cogitem candidatura que a PF pede busca e apreensão", me convenci mais ainda, que os golpistas estão indo com tudo ao ataque contra os direitos da maioria do povo brasileiro, eles não tem teoricamente muito tempo. Então, tal qual um trator turbinado, estão passando por cima do que ainda resta do estado, com força e muita velocidade. É claro, que não fazem o que fazem, sem ter as costas quente, como se costuma dizer na gíria, para ousarem tanto e escancararem tanto o desmonte do Estado brasileiro, como estão a fazer. Além da escandalosa e implacável perseguição contra o presidente Lula, contra o PT e também contra todas as suas principais lideranças. E, por outro lado, toda a população está assistindo, que os acusados do campo golpista, estão todos bem tranquilos, blindados e protegidos, pela mídia oligárquica, estão bastante confortáveis no papel de acusado ou denunciado por corrupção, a usufruir os bens adquiridos de forma duvidosa ou não, ninguém se mete com eles. O mesmo judiciário, que se faz de idiota, quando o assunto atinge alguém do campo político golpista, ou seja, atinge algum corrupto do golpe, vamos dizer assim, e não são poucos, tenho até um texto a respeito no blog: "meu corrupto é melhor que o seu". Contra o grupo político do chamado campo popular, a perseguição do judiciário é escancarada. Judiciário sempre convocado e utilizado visando atingir determinados fins políticos, portanto completamente fora de sua finalidade constitucional, se constituindo assim, numa forma sub-reptícia de atuação judicial, numa forma corrupta de agir, um desvio de função e de objetivo, poderiam, no mínimo, ser acusados de falta de ética profissional. O que a cada dia se caracteriza mais, a redução acelerada da democracia entre nós, cada vez mais esse nó democrático vai se esgarçando, desaparecendo. Tá quase uma ditadura na prática, na vida do dia a dia, não existe mais estado de direito, nem tampouco o contraditório nos principais veículos da mídia hegemônica, é o discurso único de apoio ao golpismo, no ataque que é feito contra o patrimônio público nacional, pela venda de tudo, a entrega de tudo que é nosso, e porrada na oposição o tempo todo, praticando uma radical intolerância contra o maior partido da oposição, o PT. Daqui a pouco, se ninguém fizer nada, não houver reação nenhuma, ninguém protestar mais, denunciar, corre-se o sério risco da volta da ditadura, uma ditadura de fato, com censura e tudo, o risco é grande, a democracia já está meio moribunda.
Para ler

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

A condenação de dona Marisa


Deu água no barco

Os desembargadores e juízes de Porto Alegre no TRF-4, o mesmo tribunal que ratificou por 3X0, a condenação feita pelo juiz Sérgio Moro na primeira instância em Curitiba, que aumentou a condenação, condenou Lula sem materialidade comprovada do crime, como alguém ser condenado por homicídio, mesmo sem a presença do corpo da vítima. Os desembargadores e juízes de Porto Alegre, que condenaram Lula a mais de doze anos de prisão, donos e senhores do auxílio moradia, que, ao mesmo tempo que o pleiteiam, o aprovam em causa própria, dando-se benefícios, vantagens, gratificações, auxílios e outras regalias, que são verdadeiros privilégios, diante da situação de outras categorias do serviço público, mais privilégios para quem já é mais do que privilegiado, considerando o padrão de vida e renda dos demais brasileiros. Conselheiros e consultores da elite dominante, das oligarquias e da Casa Grande, continuam com a sanha obsessiva e persecutória contra a família Lula, seja a que preço for, comportam-se como se tivesse valendo quase tudo. O curioso, é que, tudo leva a crer, a intenção não é mais, nem poderia ser, apenas punitiva, ou seja, punição contra a pessoa do réu, com uma pena que provoque sofrimento no corpo do acusado, que deixe marcas, como os malefícios de uma desmoralização pública, por exemplo, poderiam trazer, tornando dona Marisa quase uma Geni. Joga pedra na Geni! O que, em hipótese alguma, pode  mais acontecer, porque a mulher está morta. O que querem então? Manchar a imagem, escrachar, esculachar,  esculhambar, enfim tripudiar em cima do cadáver de dona Marisa, e de tudo aquilo que estiver associado à memória dela. A condenação enquanto mensagem tem alvo e endereço certo, ou seja, o projeto político adversário, o projeto que esteve à frente do governo central até recentemente. Se esse for realmente o objetivo, como tudo leva a crer que sim, teoricamente o judiciário estará fugindo completamente da finalidade da punição judicial. Desse jeito, fica cada vez mais claro e caracterizado, o grau de politização do judiciário brasileiro. Como se contaminou e se sujou com a politicagem! Judiciário que não se confunde  jamais  com justiça, que pelo que tem vindo à tona até o momento, já se pode afirmar, sem medo de errar, ser uma instituição corrupta, um braço do golpe, elemento substancial na sustentação desse governo golpista criminoso, que tomou de assalto o poder de Estado. Apesar de todo o grau de terror, que falar disso suscita, provoca e revela, também tem o lado hilário da história. Os mentores desses juízes golpistas, quando tiveram a ideia de usar o judiciário, para atingir objetivos políticos espúrios, deliberadamente contando em legitimar procedimentos não democráticos, já que aparentemente estariam fazendo tudo dentro da lei. Jamais imaginaram, não deve ter passado pela cabeça dos mentores do golpe, que ainda poderiam se surpreender, não pensaram, que alguns juízes cooptados e aliciados  de vários países sul-americanos, como o nosso, fosse se desmoralizar tanto, de tal sorte, que poderiam vir adiante colocar em risco, e acabar arruinando por completo, todo o projeto neoliberal de poder. O rombo é grande e já ameaça fazer água, o povo começa a perceber.
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terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Onde o Brasil de fato começou


Venho notando, com certa constância, que muita gente prefere enaltecer e valorizar mais os estados da região sul do Brasil, o que atribuo a várias razões e motivos, mas destaco em especial, a presença mais forte do colonizador europeu não português na região, como italianos, poloneses, alemães e outros, e também por ser uma região mais rica e próspera economicamente em relação ao restante do país de modo geral, quando se observa índices de desenvolvimento humano, etc. O que em parte revela, mostra de forma escancarada, a mentalidade de quem pensa dessa maneira, ou seja, não valorizar jamais o que é genuinamente brasileiro e nacional. Já estamos fartos de ver e observar esse tipo de manifestação e comportamento por parte de tantos brasileiros, que só valorizam o que vem de fora. De que “santo de casa não faz milagres!” De que o território brasileiro é maravilhoso, mas como Deus colocou aqui um povinho ordinário e chinfrim, não se consegue avançar jamais, de não ir para a frente nunca. Além de outras expressões do mesmo nível. Quanta bobagem! Por isso prefiro deixar ao critério dos especialistas, que os cientistas sociais encontrem a melhor explicação para o fenômeno. Enquanto isso, compartilho um pouco da história do país, disponibilizando o presente vídeo, que conta um pouco da história do centro histórico da antiga cidade de Paraíba do Norte, a terceira mais antiga do Brasil, por onde o nosso país de fato se iniciou. A ocupação do território teve início no que hoje conhecemos como nordeste, e que antes era denominado Norte. E teve início pelo norte, por várias motivos, mas principalmente, a se considerar, que a ocupação do território brasileiro nos primórdios da colonização, ocorreu numa época de enorme precariedade na mobilidade,  na locomoção e nos meios de transportes em geral. Por essa razão, a proximidade maior com a matriz europeia, com a coroa portuguesa, era levada muito em conta e consideração, por isso se priorizou inicialmente a ocupação pela região, que atendia melhor o quesito proximidade com a Europa. E aí o norte era imbatível. Norte porque a ideia de nordeste, só vai aparecer, bem mais recentemente, apenas a partir de 1910, portanto já no século vinte. Foi por essa razão, ou seja, a proximidade maior com a Europa, que cidades como Salvador, Recife e a atual João Pessoa, antiga Paraíba do Norte, que inicialmente recebeu o nome de Filipéia, para homenagear o rei Felipe II da Espanha, de quem havíamos nos tornado colônia com o desaparecimento do jovem rei português Dom Sebastião numa expedição ao Marrocos em 1580, ou de Frederica durante o período de ocupação holandesa da região no século XVII. A cidade já foi fundada como cidade, e não como vila, como era muito comum naquele tempo, e ocorreu no dia de Nossa Senhora da Neves, em 5 de agosto de 1585. Foram cidades que prosperaram muito no início da colonização, com o negócio do açúcar, que durou praticamente durante todo o período colonial até mais ou menos, o final do século XIX, quando entraram em decadência econômica e política. Hoje esbanjam história, e como têm história para contar, e ainda para ser pesquisada. Assistam ao vídeo, para conferir um pouco dessa história, que é parte de nossa história, da história de nosso país, uma história genuinamente brasileira, uma história sem sotaques ou estrangeirismos metido a besta. História de uma região onde o Brasil descobre a sua própria cara.


Xenofobia fruto maduro do elitismo

Não é difícil imaginar, que é mais fácil para os de baixo, para quem procede e teve a origem advinda dos campos mais humildes da hierarquia social, como é mais fácil conhecer, os terríveis efeitos e consequências dos males, que fazem certos preconceitos, males que deixam marcas, deixam traumas, que não se apagam, marcas indeléveis, que deixam feridas profundas na alma de todas as suas vítimas. Preconceitos que circulam na teia social, em grande medida frutos do elitismo de alguns, de uma gente que nasceu em berço esplêndido, podendo contar com vantagens sociais e privilégios, desde que nasceram. Contando com bens, serviços e oportunidades, que dão-lhes uma vantagem enorme vis-à-vis os de baixo, uma coisa desigual de privilégios, de tal modo, já naturalizados na cabeça de todos, que fica difícil perceber, que nem todos os outros habitantes da mesma cidade vivem nas mesmas condições de temperatura e pressão. Julgam os de baixo com a mesma fita métrica, que medem a si mesmos, como se estivessem olhando-se no espelho. O que deixa visível, como o privilegiado ainda não entendeu as diferenças de oportunidades entre um grupo e outro, o que escancara, deixa um enorme flanco aberto, para a entrada dos mais perversos preconceitos sociais estigmatizadores. Preconceitos terríveis, que quando ativados são verdadeiros obuses, devastadores contra suas vítimas, quase um atentado, um assassinato da cidadania da vítima, além de provocar profunda baixa autoestima, e de outros terríveis malefícios definitivos em suas vítimas. Nota-se que tais preconceitos sociais manifestados hoje em toda parte, e por todo lado, através de diferentes meios e veículos. Não surpreende mais encontra-lo, até mesmo da parte de gente, que teoricamente já deveriam tê-los superado há muito tempo, já que encontram-se no campo popular, da chamada esquerda política. Mas quando certos valores estão mais arraigados na mente, fica difícil se livrar deles sem algum esforço, mesmo sendo de esquerda, para quem vem dos estratos mais privilegiados da sociedade. Daí os julgamentos públicos manifestos,  que emergem vez ou outra, a condenar e acusar o povo brasileiro disso e daquilo, por várias razões e motivos, desde ser um povo passivo, de não ter reagido ainda contra os golpistas, não ter ido às ruas ainda como deveriam, até por não protestar mais, etc. Então no fundo, no fundo, estão a condenar o povo brasileiro, como um povo fraco e inferior, de ser um povo com complexo de vira-lata, como sempre fez e faz, o tempo todo, a pequena burguesia nacional mais conservadora e de direita. Questiono, em que medida, julgar e condenar o povo brasileiro, como tem sido feito, na prática irá ajudar ou trazer algum benefício, para esse mesmo povo, por sua vez, tão massacrado pela vida dura que foi condenado a levar, com poucas chances e oportunidades, quase a sina do escravo, sem saída, espoliado, explorado e condenado, ao longo de toda a história, por uma elite, que não se reconhece neles. Claro, que não ajuda em nada.

Qualquer forma de protesto vale a pena



Depois do show da escola de samba Paraíso do Tuiuti na passarela do samba domingo passado no Rio, que além do protesto político legítimo contra o escravismo, fez também um carnaval maravilhoso, com um desfile perfeito e empolgante, levando toda a audiência a cantar o samba junto com os componentes da escola, emocionando a todos, que assistiam o desfile através de outras mídias ao redor do mundo. Considerando o deserto midiático, que se tornou a mídia brasileira, quando o assunto é o interesse do povo e dos seus representantes políticos ou não, com toda a grande mídia em mãos dos interesses golpistas, o chamado campo popular ficou praticamente invisível aos olhos do grande público. A grande imprensa não informa ou notifica nada, que fuja da linha editorial previamente programada aliada aos golpistas e a sua narrativa conservadora e reacionária. Então não são apenas as mentiras divulgadas todos os dias, que incomodam, também as grandes omissões, aquilo que não é divulgado, falado, comentado ou criticado, para o bem ou para o mal, pelos principais veículos de mídia, incomodam muito mais. Porque nos sentimos lesados, burlados, impotentes, enganados e invisíveis. Contra a mentira se pode combater, escrever, protestar e denunciar a mentira divulgada, agora contra a omissão, como fazer? Nossas vozes não tem alcance, poderemos ser vistos como estranhos, bizarros e loucos, a pregar no deserto, falar de algo que ninguém sequer ouviu falar. Como tem acontecido tantas e tantas vezes nos últimos tempos, e só quem mora de fato no país nesse momento será capaz de dimensionar sobre o que estou falando.
Por outro lado nunca escondi o meu desconforto com o elitismo, não importa a sua coloração ideológica, tanto o da direita como o de esquerda. Só quem vive num país como o Brasil pode avaliar como incomoda esse elitismo na convivência diária entre os cidadãos, com todo o ranço da herança ainda muito forte do escravismo entre nós. Algumas mentes já tem arrumado na cabeça o ideal de país, de revolução, de cidadão ou de povo. Esquecem de que em história, não se tem a política que se deseja, muitas vezes precisa-se trabalhar com o possível, com o factível. Considerando as atuais condições da realidade nacional, onde toda a mídia é controlada pelos grupos conservadores e reacionários, aliados golpistas de primeira hora, mídia braço importante do golpe, responsável pela narrativa golpista, na sustentação de tantas mentiras, que distorce ou omite as verdades factuais, divulgando mentiras o tempo todo. Dessa forma, se os ares do carnaval ajudam, de alguma maneira, trazendo à tona informações relevantes, omitidas oficialmente por quem deveria divulga-las, que irão ajudar numa maior conscientização popular, é um alento que considero válido. Sei que para os puristas, elitistas e idealistas de esquerda, revolução não se faz com carnaval. Agora é preciso compreender, como se encontra o deserto da comunicação no país, todo em mãos inimigas do povo, então, se a possibilidade que se tem, é que os protestos e denúncias venham de forma carnavalizados. Não se pode perder a chance. Também tá valendo! Por que não? Por preconceitos?

sábado, 10 de fevereiro de 2018

Um país irrelevante

Comperj Itaboraí abandonada

Passado mais de ano e meio do golpe contra o governo anterior, do golpe parlamentar-jurídico-midiático, golpe que continua em curso e à galope. Não é possível, que os apoiadores do golpe, aquela quantidade incrível de gente, que foi para as varandas bater panela contra o governo anterior, que foram às ruas vestidos de verde e amarelo, conduzidos e mobilizados pelas redes sociais e através das televisões abertas ou fechadas, conduzidos como manada de gado ou de outro bicho qualquer. Não é possível, que toda aquela gente ainda não tenha percebido o estrago, que o golpe fez e continua a fazer contra o país, contra a sua gente e sua soberania. Não é possível, que não tenham percebido nada ainda. Embora a grande imprensa não informe quase nada a respeito do desmonte do país, mas é tudo tão bandeira, e hoje com o recurso da internet, fica quase impossível a notícia não chegar na ponta, no cidadão comum. O grande problema, é que uma parcela considerável de brasileiros, ainda informa-se apenas com o que assiste no tele noticiário noturno. Já são tantos exemplos do que vem ocorrendo por todo o país, os casos são imensos, graves, trágicos e chocantes, estão por toda a parte. É claro, que em alguns lugares repercute mais que em outros, mas no geral, as condições de vida da população estão bem mais precárias e difíceis hoje, do que antes do golpe, é visível, só não vê quem não quer. As maiores vítimas continuam sendo os mesmos de sempre, já estou até cansando de ficar batendo nessa tecla, todo mundo sabe, embora existam alguns, que se fazem de moucos. Só no município de Itaboraí aqui perto, ou melhor nem tão perto assim, na verdade Itaboraí hoje já faz parte da região metropolitana da capital carioca, o chamado Grande Rio, mas como passo por lá quase toda semana em direção à Niterói, me chama mais atenção. Pois bem, só em Itaboraí, foram mais de trinta mil vagas de trabalho perdidas, grande parte delas se coloca na conta da Lava Jato, com a quase total paralisação do gigantesco canteiro de obras do Comperj. A Lava Jato atingiu em cheio a Petrobrás e a indústria da construção civil, as grandes empreiteiras nacionais. Para Itaboraí, que ainda é uma cidade pequena e pobre, uma cidade dormitório, que via com grande expectativa o empreendimento petrolífero, como a sua grande saída para o futuro, com geração de empregos e desenvolvimento, vários negócios já estavam em andamento por conta do Comperj. Foi completamente devastador o efeito das ações judiciárias da Lava Jato contra as empresas que operavam no município. A tragédia de Itaboraí é apenas uma diante de dezenas de outras espalhadas país afora, como a de Suape em Pernambuco por exemplo, no Rio Grande do Sul e em muitos outros lugares. Esse resultado devastador, que estou a narrar, na verdade é a consequência de uma guerra contra o país e contra o futuro de várias gerações de brasileiros, que vê de uma hora para a outra o seu futuro e de seus descendentes muito comprometido. Foi uma guerra econômica travada contra o país, que atingiu em cheio setores relevantes e importantes da economia nacional, como a indústria da construção civil, que foi completamente destroçada, e que agora anda sendo vendida a preço vil para empreiteiras chinesas. As grandes empreiteiras nacionais não operavam apenas no Brasil, as maiores já eram players bem cotados no plano internacional, principalmente no continente latino americano, algumas participavam de licitação no mercado norte americano com êxito, eram quase hegemônicas no continente africano, onde competiam ombro a ombro com as chinesas, e até no oriente médio. Como foi o caso do Iraque de Saddam Hussein, desde o final do anos 70, onde empresas como a Mendes Júnior operaram por lá, construindo a infraestrutura do país, fazendo estradas, pontes, viadutos, barragens, etc. E o mais cruel disso tudo, é que o ataque principal foi contra a nossa maior empresa, a Petrobrás, a joia da coroa, já que o alvo sempre foi o pré-sal. Quando a agência de espionagem norte americana NSA, descobriu através de grampos, escuta telefônica, etc, a cobrança de propina, o suborno, espécie de corrupção, que é feita através do pagamento de propina, para conseguir grandes obras, molhando a mão de autoridades e de agentes públicos locais, prática corriqueira de empreiteiras internacionais em toda parte. Foi como se tivessem descoberto a pólvora, foi o flanco vulnerável e frágil do país, que foi encontrado, pronto o golpe estava praticamente encaminhado. Só restava agora articular tudo de tal forma, para dar uma aparência legal ao golpe, contando com toda a camarilha dos aliados internos, que queriam porque queriam derrubar o governo anterior, a quem não conseguiam derrotar em quatro eleições gerais consecutivas. Como o objetivo e alvo principal sempre foi pré-sal, fatiá-lo e vendê-lo a qualquer preço, o projeto foi posto em andamento, assim que ocorreu, mais uma vez, a derrota do grupo representado em 2014 por Aécio Neves, que inclusive falou em impeachment, tão logo foi revelado o resultado das urnas, em suas primeiras entrevistas. Por isso a razão de tantas viagens do grupo liderado por José Serra e Aloysio Nunes à Washington, durante a preparação do golpe. Isso hoje não é mais segredo para ninguém, está tudo disponível na internet, não é teoria conspiratória, basta uma simples busca na net. O Brasil era o B dos Brics, tinha rumo, tinha alcançado certo poder, respeito, sendo protagonista na cena externa, como no caso do acordo nuclear do Irã, portanto no plano externo navegava de vento em popa, para ser um país cada vez maior do que jamais tinha sido antes, apesar do tamanho e de sua gente, uma população com mais de duzentos milhões. E não tinha sido ainda devido ao complexo de vira-lata de suas elites, que apesar de massacrar a população internamente, no plano internacional sempre foram muito subservientes, como ministros de estado tirando meias diante de autoridades da imigração em aeroportos estadunidenses, etc.
Internamente, o governo anterior seguia tentando corrigir desequilíbrios sociais de séculos de atraso, que os analistas mais críticos, consideram que o caminho escolhido tenha sido equivocado, por ter apostado mais no consumo. Pode ser. Mas como fazer diferente, para uma população carente de quase tudo? O governo deposto advoga, que a aposta no consumo, foi uma estratégia para melhor enfrentar a crise financeira de 2008, que andava a paralisar economias mais fortes. Houve erros certamente, mas falar agora é fácil, depois do leite derramado. No plano externo, o país estava indo bem, e foi também onde o país mais perdeu com o golpe, deu meia volta volver e nos encolhemos muito. E assim, voltamos a ser irrelevantes.


domingo, 4 de fevereiro de 2018

Quase memória dos cinemas de João Pessoa


Infelizmente não tenho mais, como lembrar em minúcias de detalhes, o pouco que ainda insiste e consegue vir à tona, aflorar mente afora. Cinco anos já havia se passado desde que deixei João Pessoa pela primeira vez, estava de volta à terra natal, era começo do verão, não foi de imediato, porque precisei permanecer durante um mês no Recife, fora deixado pela mãe, enquanto preparava acomodação em João Pessoa, iríamos precisar ficar mais tempo por lá, um ano talvez, pois precisava consertar sua casa na parte alta do bairro Roger. Lembro que havia no ar uma campanha política rolando na cidade de Recife, tinha apenas 12 anos, ainda uma criança, mas o caminho que a vida havia me trazido, tinha me deixado mais atento com coisas, não muito comuns, a outros meninos da mesma idade. Como, por exemplo, frequentar barbearias da vizinhança, em busca de ler os jornais diários e revistas, que fosse possível encontrar, já sócio de biblioteca, e assim de posse de alguma informação, buscava entender o mundo, o que estava rolando, o mundo para mim era o lugar onde morava, a cidade e a ideia de país começava a se formar na cabeça, ia melhorando a cada dia, se ampliando com as leituras dos jornais. Diante disso, quando fiquei o mês de dezembro inteiro, do ano de 1961 no Recife, fiquei muito ligado no que ouvia, queria entender a razão daquele burburinho todo, o barulho que ecoava, tantos cartazes com fotos de tantos políticos, de estrelas protagonistas do evento, a disputa entre João Cleofas de um lado, a situação, e Miguel Arraes pelo campo adversário, o campo popular de centro-esquerda, não precisamente, mas aproximando-se do que entendemos hoje por esse conceito. Claro que nessa época não sabia nada disso, apenas tinha certa curiosidade por aquela campanha política, que estava à minha frente, quase todo mundo falava a respeito, fazia algum comentário, falava-se por todo canto. Também queria saber, queria incorporar e fazer parte daquilo, essa era a ilusão, que me atraía e reforçava ainda mais, aguçando a curiosidade sobre tudo aquilo. Tudo fluía enquanto aguardava o retorno da mãe, que em breve viria me buscar em definitivo. 
Chegando em João Pessoa, como as perspectivas de permanecer por um tempo maior foram logo se confirmando, dei uma sorte danada em conseguir uma bolsa para estudar num colégio considerado bom no centro da cidade, que hoje não existe mais, Colégio Lins de Vasconcelos, que ficava exatamente ao lado da velha igreja e cartão postal da cidade, o Convento de São Francisco. A porta principal de entrada do colégio ficava em frente ao cruzeiro, marco fundador da cidade de 1585, o marco ficava mais ou menos equidistante do conjunto arquitetônico tombado do convento, do Colégio Lins de Vasconcelos e do Colégio católico Pio XI. Nesse sítio histórico, lembro bem, no outro lado da praça ou largo, ficava o Colégio Pio XI, num prédio escuro, imponente e austero, era o caminho que fazia todo dia, tanto para chegar, como para voltar para casa, passava sempre em frente ao Pio XI. Desde o Rio, morador nessa época, de bairros do subúrbio carioca da linha da central do Brasil, já era acostumado a assistir sozinho sessões matinês nos cinemões
Cinema Rex

de bairro no início dos sessenta, e assim acabei me apaixonando por cinema, pelo ato de ir ao cinema, assistir não importava qual filme, ainda não sabia escolher. Tudo me encantava no cinema, desde o ar condicionado, os lanterninhas com seus flashes luminosos, as baleiras, até mesmo o desafio de tentar assistir filmes permitido somente aos meninos maiores, acima de 14 anos. Nessa passagem por João Pessoa não perdia a chance de ir ao cinema. Se no Rio curtia os filmes de Hércules e bangue-bangue, na capital paraibana tive oportunidade de conhecer outros tipos de filme, mais elaborados, tinha agora à minha disposição as melhores e principais salas de cinemas do centro da cidade. Dessa forma, tive o privilégio de assistir filmes no cinema Rex, que tinha um ar condicionado perfeito, conheci também o Plaza,
que ficava no Ponto Cem Réis, bem no centro, além de muitos outros, que não lembro mais do nome, mas certamente devo ter ido ao Municipal. Uma pena tudo isso ter acabado, inclusive na memória, o mundo também mudou muito de lá pra cá. Hoje sobrevive ainda apenas na memória de alguns, como vivência cultural, como memória afetiva portanto, ou em registros e documentos como o vídeo disponível e agora compartilhado. "C'est la vie!"




quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Devemos proteger malfeitores?

Quem me conhece sabe como venho me batendo a favor da democracia, que cada vez mais possa haver democracia em cada canto do planeta, em cada canto desse país, um país tão imenso, que se parece mesmo com um planeta. Contando com o espaço de um blog desde 2009, onde posto, de vez em quando, alguns textos, em grande parte textos políticos, em virtude da realidade conjuntural, em que estamos metidos até o pescoço. Quero e anseio por democracia cada vez mais, democracia nunca é demais, a demanda é enorme em toda parte. O grande problema é que, para haver mais democracia, é necessário equidade, equidade de direitos e oportunidades, sem equidade a coisa se complica, não tem como dar certo, ou pelo menos, reduz muito a chance da paz social ser bem sucedida. Fica muito complicado o ambiente democrático numa sociedade muito desigual, ou quando aparece uma chance de democracia, surge com muitas restrições. Portanto democracia supõe equidade. Por outro lado, sei que a palavra democracia, anda hoje muito desgastada e com péssima fama, até fala-se bastante a respeito, mas na prática não é efetivada, sobretudo em países tão desiguais como o nosso. Em países periféricos a democracia é quase um luxo, ao menor sinal de crise econômica, as elites e oligarquias locais impõem seu peso e domínio sobre a maioria da população, e volta-se à lei do mais forte, como agora por exemplo, apesar de toda a aparência democrática, como ocorreu também durante a ditadura militar. Pois bem, fiz esse breve preâmbulo, para introduzir a denúncia que pretendo fazer. Não é mais novidade, para aqueles que acompanham a atual conjuntura política nacional, o papel que vem desempenhando o Ministério Público Federal, e partes importantes do poder judiciário, inclusive atuando ativamente na campanha do golpe, que continua a galope, levando o país para fora do estado de direito, com tantas prisões preventivas e arbitrárias, conduções coercitivas, abusos cometidos contra simples acusados, o abandono da presunção de inocência até prova em contrário, irregularidades na indústria das delações e colaborações premiadas, com denúncias da cobrança de propinas em acordos de delação, tribunais de exceções, o abandono do juiz natural, enfim uma série de atos e práticas fora da lei, que lembram muito fatos similares da época da ditadura militar de 64, que não faz tanto tempo assim, e quem passou por aquilo não deseja mais. Assistir em nome da moralidade pública, em nome da luta contra a corrupção, que é uma cortina de fumaça, para se atingir objetivos políticos por outros meios, a volta aos tempos do arbítrio é uma temeridade, um risco muito grande, que não se deve correr, é preciso evitar, não se deve permitir. Então diante de uma (in)justiça parcial, seletiva, partidária e outros adjetivos, que se queira dar, que alguns até chamam de: “esse crime chamado justiça”. Quando Lula assumiu seu primeiro mandato em 2003, encontrou uma PF sucateada, agentes desmotivados, com salários defasados, que foram corrigidos acima da inflação, sei de casos, que os proventos foram dobrados, equipamentos de trabalho atualizados, e com o republicanismo do governo, foi dada autonomia operacional quase total. O mesmo aconteceu em relação ao MPF. Esses agentes públicos, procuradores, juízes de primeira instância, delegados e agentes da PF, e outros agentes públicos envolvidos no aparelho jurídico e policial, que Althusser gostava de chamar de aparelho repressivo de estado, adquiriram um certo grau de poder e autonomia, que nunca tiveram antes, tornaram-se um poder dentro do poder, sem dever satisfações a ninguém, nem obediência, incontroláveis, sem ouvidoria, completamente sem controle externo. A partir daí passaram a cometer as arbitrariedades, que mencionei acima, que são do conhecimento de todos. Diante desse quadro, é natural que a sociedade cobrasse dos seus representantes legais no Congresso Nacional uma saída, uma solução, porque do jeito que está não dá mais para continuar com os abusos cometidos, e o mais grave, com a cumplicidade da mídia corporativa, oligárquica e hegemônica, com os vazamentos transmitidos em horário nobre, presos acorrentados diante das câmeras de tevê, de forma sensacionalista e espetaculosa, e enquanto isso, outros condenados com regalias, a usufruir dos frutos dos desvios e roubos praticados, dois pesos e duas medidas escancarado. Perseguição política através do judiciário contra o ex-presidente Lula, com um tribunal de exceção em Curitiba, que terminou com a farsa montada no TRF-4 de Porto Alegre, um ilícito de nome estrangeiro, Lawfare, que o mundo inteiro percebeu e denunciou, salvo a grande imprensa nacional, que por ser cúmplice do esquema e do golpe, fez um silêncio eloquente. Com tudo isso acontecendo, uma amiga de Facebook teve ainda a coragem de me enviar ontem, através do Messenger, um pequeno vídeo, onde um determinado personagem, que não deu para identificar quem era, pedia, solicitava e implorava a todos os ouvintes, que fossem às redes sociais pressionar os congressistas à favor dos agentes públicos fora da lei, dos mesmos que vem cometendo tantas arbitrariedades contra a sociedade brasileira, ao arrepio da lei, sem controle externo, uma demanda da sociedade aos congressistas, para que mudem a situação com urgência. Como pode uma coisa dessa? É assim, que eles tem agido, contando com a cumplicidade de alguns cidadãos, que agem inocentemente ou de má-fé. Considero uma forma de obstrução de justiça, querer continuar a cometer abusos contra a população e permanecer impunes. Portanto, não se fazer nada contra os abusos e arbitrariedades, é deixar a população à mercê de criminosos. Por isso denuncio. Não aceitem colaborar com esses crápulas.