quinta-feira, 31 de agosto de 2017

A preferência nacional pela esquerda

Antes de tudo, é preciso avisar, que não pretendo tratar de política no sentido estrito, mas de comportamento. Bem, feita a ressalva, devo dizer, que o que tem me intrigado ultimamente é a exagerada preferência nacional por permanecer sempre no lado esquerdo quando se movem, seja a pé ou dirigindo. Uma coisa que vai na contramão do mundo inteiro. Em minhas andanças pelo velho continente europeu, em algumas cidades, como Londres por exemplo, era comum encontrar placas orientando os usuários de escadas rolantes de metrô, ou qualquer outra, a procurar permanecer sempre do lado direito, liberando o lado esquerdo para os mais apressados, e nas estradas a mesma coisa. Já em nosso país não é isso o que se vê, insiste-se em permanecer no lado esquerdo da escada, muitas vezes de braços dado com o parceiro ou parceira, e quando estão a dirigir, insiste-se em ficar na faixa esquerda da pista, quando deveria deixá-la livre para quem quer dirigir mais rápido. Não adianta jogar o farol alto, pois é pior, o motorista infrator, sentindo-se ofendido com o farol alto do carro traseiro, de birra, insiste em permanecer ali naquele canto da pista por pura teimosia, incomodado pela petulância do motorista traseiro, que com o alerta do pisca pisca do farol alto, apenas pedia passagem. O que, muitas vezes, acaba deixando para os mais apressadinhos, apenas a opção da ultrapassagem pela direita, o que contraria o Código Nacional de Trânsito. É consenso, quase lugar comum, que a falta de educação em muitos de nós, mesmo naqueles com educação formal superior, e no trânsito então nem se fala, aí é que fica evidente a falta de educação, o que acaba por levar e provocar conflitos e brigas, que pode algumas vezes causar mortes. Outra coisa que também incomoda muito ao dirigir é ficar a assistir gente portando carros caros, muitas vezes com valor superior a 60 mil reais, que na volta do final de semana na serra ou na praia, ficar atirando e descartando todo tipo de lixo pela janela do carro pelas estradas afora. Fico imaginando como deve ser a cabeça de uma criatura dessas, pois no meio rural não existe a figura do coletor de lixo, o popular lixeiro, então se um detrito é ali arremessado ou deixado, vai portanto ali permanecer o resto da vida, ou seja, eternamente. É bom que se diga, que atirar coisas, descartar lixo pela janela do carro é deplorável, seja tanto de um carro caro como de outro mais barato.  É comum assistir gente aparentemente de "bem", de bem vestido e calçado, com boa aparência, demonizar a pobreza e os pobres de modo geral, quando se esquecem de ser possuidores de pobreza mental e interior, pobreza que não enxergam nem um pouco em si mesmos, que continuam a levar a vidinha de sempre, com a consciência tranquila, a consciência do dever cumprido, e então continuam a conduzir os seus caros carros sempre pela faixa da esquerda, a faixa preferida não se sabe muito bem porque, mesmo em baixa velocidade, e a arremessar os seus lixos particulares pela janela de seus carros caros. Contra o qual não se pode fazer nada. Fazer o quê? Jogar o farol alto? Buzinar? Não há o que se possa fazer contra essas manifestações de falta de educação, tanto no trânsito como na vida, infelizmente.




quarta-feira, 9 de agosto de 2017

A censura durante a ditadura de 64

Como sei que não devo me alongar, é importante mostrar, exibir e apontar algumas peculiaridades da censura durante o governo militar mesmo de forma rápida. Sobretudo durante os anos mais terríveis, os anos de chumbo grosso, que foi o período pós AI-5, até mais ou menos 76/77. Em 1977 o regime começa a ser contestado, com inclusive pequenas e tímidas passeatas no Rio de Janeiro, cheguei a participar de algumas, mas era uma desproporção gigantesca de força, para cada grupo de duzentos e poucos manifestantes, havia sempre do lado da repressão algo semelhante a um batalhão, ao redor de dois mil homens fortemente armados. Entrei na Filosofia da UERJ em 1974, e com o decreto-lei 477 que IMPEDIA reuniões, coletivos, três alunos juntos era considerado multidão, não havia como se manifestar. E sem reuniões não havia como se organizar para resistir à repressão. No centro de humanidades da UERJ, que na ocasião funcionava ainda ao lado do Instituto Lafayette na Rua Haddock Lobo na Tijuca, não havia nada, nem jornal, grupo de teatro, centro acadêmico, NADA. Cada um foi deixado a si mesmo. A inação e a apatia eram imensas, além do medo, da repressão política e da paranoia, que havia, porque sempre pairava a suspeita de quem seria o aluno infiltrado pela repressão para espionar os alunos verdadeiros. Mal começava o ano escolar, e em vez da gente se preocupar com o currículo, a primeira interrogação era sobre quem seria o infiltrado, muitos descobriam passado alguns meses, o que não adiantava muita coisa, porque o "cara" tinha as costas quentes, e ninguém podia fazer nada contra ele. Tinha que engolir e conviver com aquele elemento alienígena dentro da turma. Tinha casos em que o espião chegava até o final do curso, colava grau e tudo, alguns deles chegavam até namorar meninas da turma. Uma coisa! Quanto à censura no sentido estrito, algumas curiosidades a apontar, para finalizar esse post, eram completamente ridículas. Só para ficar no caso dos livros, qualquer livro com capa vermelha já era suspeito, se estampasse no título a palavra revolução então era recolhido das livrarias no ato. Havia a ilusão, como ainda hoje existe quem acredite nessa bobagem, que bastava impedir a circulação das ideias marxistas no país, que com o tempo e a chegada de novas gerações, já seria suficiente para exterminar por completo com aquela visão e interpretação do mundo. O que fez Che Guevara um pouco antes de ser morto na Bolívia reagir dizendo, que não era ele que era marxista e sim a própria realidade social, econômica e política, que o fazia ser marxista. Chega a ser surpreendente encontrar ainda hoje, gente que acha que corrigir injustiça social, dar certo amparo social para os indivíduos mais fracos da sociedade com determinadas políticas públicas, para não deixá-los chegar à indigência, como ainda se ver por aí, ser confundido com comunismo. Tem coisa que se o Estado não tomar a iniciativa e resolver de imediato, não será o deus MERCADO, que com a sua lógica do lucro pelo lucro, que irá resolver. Estudando hoje a história do mundo, vemos que as sociedades, que não equacionaram essa questão através de um pacto social, ou através da revolução, ficaram pelo caminho com todas as mazelas daí decorrentes. E infelizmente esse é o nosso caso, e os vinte e um anos de ditadura militar foi o instrumento encontrado pelas classes conservadoras brasileiras, para impedir o avanço social e manter o país nesse atraso. É bom ficar ligado.


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