domingo, 18 de junho de 2017

Humor negro em forma de Trump


A volta do velho discurso imperial norte-americano, das ameaças diretas de intervenção e "otras cositas" mais em nuestra América, bastante conhecida das gerações mais velhas, é o que está dando o tom nesse ano de 2017. Depois da subida ao poder dessa figura histriônica, falastrona, com cara de comediante de terceira categoria, de um bufão, com um tom de voz bem peculiar e ridículo, uma impostação vocal, que lembra  muito com a de antigos dubladores nacionais de filmes dos três patetas. Trump bem que poderia fazer parte da Escolinha do Prof. Raimundo. É inacreditável como a instituição da presidência da república e a própria representação política em nossos dias virou motivo de piada, esculacho e escárnio. Pena que por ser ainda uma coisa muito séria, acaba por afetar milhões de outros seres humanos e em vez de comédia, pode muito bem se transformar em tragédia, como vimos depois da subida ao poder de gente do porte de Mussolini na Itália, e em seguida de Hitler na Alemanha. É incrivel! Como uma figura com o perfil de um Trump se torna presidente da nação mais poderosa do mundo? Acho que até mesmo Berlusconi era melhor visto e considerado. Por enquanto ainda não se sabe se esse discurso intervencionista é sustentável, mas é triste ver que nem sempre o avanço em algumas questões é garantia de que a mudança veio pra ficar. Não é mais seguro comemorar e celebrar determinados avanços, porque o retrocesso pode estar bem ali na próxima esquina, elegem-se um Trump de repente, e volta-se tudo à estaca zero.

E o mais triste ainda é assistir uma certa imprensa nacional apoiar uma possível intervenção na Venezuela. Vamos aguardar, mas de qualquer forma, como diz Fernando Moraes no vídeo, não sei se será uma coisa boa para o império, porque a Venezuela de hoje está muito bem armada, e dependendo da intervenção haverá certamente resposta, o que poderá trazer uma guerra para a nossa latitude. Tem gente que gosta de brincar com coisa séria, e esquecem de que certas brincadeiras na beira do abismo é muito arriscado. 



quarta-feira, 14 de junho de 2017

Ausência do contraditório


No meu último post publicado ontem, quando mencionava, que na mídia atual, dos dias de hoje, essa mídia que foi pega de surpresa, que está tendo de lidar de supetão com a delação de Joesley Batista, o dono da JBS, que entregou de bandeja os crimes do presidente para a Polícia Federal e o Ministério Público, depois de conseguir gravá-lo no subsolo do Palácio Jaburu, sua residência oficial. Dizia que, o que mais  incomodava, era a falta de maior profundidade nos comentários dos analistas políticos. Hoje lembrei-me do contraditório. Sinto falta também do contraditório, claro. Porque toda vez que algum grupo chega ao poder, não importa como consegue chegar, tenta de alguma forma impor a sua narrativa, o seu discurso ideológico de convencimento, e faz de tudo que pode para desqualificar e anular totalmente a narrativa dos adversários. Tornando muito difícil e quase impossível a existência do contraditório, onde quem dita as regras majoritárias é o grupo, que se estabeleceu no poder. Por outro lado, mais ou menos até 2010, afirmava-se peremptoriamente, que no espectro ideológico havia uma certa predominância e até mesmo uma hegemonia da narrativa de esquerda, do discurso que demanda por mais emergência e protagonismo dos mais pobres, por mais espaço político para os movimentos sociais organizados, a fim de ampliar democracia, porque só se faz mais democracia ampliando a inclusão social através de políticas afirmativas, com ampliação de direitos civis para quem continua a ter tão poucos, e não o contrário, como é o caso agora, depois do golpe político, midiático e jurídico. Pois o projeto perdedor nas urnas em 2014, ou seja, o projeto neoliberal, busca reduzir gastos sociais, busca retirar direitos assegurados e conquistados há anos, depois de muita luta política para alcançá-lo. O projeto perdedor nas urnas em 2014 tem como projeto social, privilegiar setores da sociedade, que já estão em vantagem vis a vis os mais fracos do sistema.  Com o golpe, praticamente apenas um lado da moeda, ditará as regras do jogo daqui para a frente, ditará os rumos do país. O Sr. Skaf, quando resolveu pagar o pato durante as manifestações a favor do impeachment contra a presidente, com bocas livres em diferentes cidades para os manifestantes coxinhas, financiando até mesmo caricaturas de plástico  de adversários políticos, que queria e precisava demonizar. Não o fez nem pagou o preço apenas por patriotada, na verdade pagou o pato naquele momento, porque não queria continuar a pagar o pato depois. Os neoliberais, que tomaram de assalto o poder de estado, são radicalmente contra a extensão e universalização de políticas públicas e de transferência de renda, são contra as políticas públicas compensatórias para os perdedores do sistema. Só dialogam com os mais fortes e mais ricos, governam para eles, para atender as suas demandas e exigências. Essa é a lógica neoliberal, não querem pensar em pobres, não são nada nada democráticos. Portanto dentro dessa perspectiva, desse jogo de poder onde quem passou a dar as cartas foram os grupos mais fortes e endinheirados, as questões dos setores sociais mais carentes são automaticamente postas para baixo do tapete, não são prioritárias, e dessa forma tornam-se ausentes de forma veemente, como algo de que não se fala, mas que todos sabem que continua por ali. É a presença da ausência, uma ausência ou falta do contraditório no debate público de questões, que por hora não interessa abordar. Enquanto isso continuamos a ser a eterna sociedade cindida, dividida, e sem a menor perspectiva de pacto social na linha do horizonte.


terça-feira, 13 de junho de 2017

O que sinto falta hoje na mídia

Até outro dia o que mais me incomodava na imprensa brasileira, em toda a mídia, mas sobretudo nos noticiários dos telejornais das tevês, era a parcialidade política, quase um engajamento político partidário, porque a imprensa demonstra que tem um lado, nem sempre de maneira clara e ostensiva, mas toma partido por esse ou aquele lado da moeda ou por um determinado projeto de país. E isso vem de longe, por exemplo o grupo Globo com o seu jornal e a sua tevê, durante a ditadura militar era, na minha visão, praticamente o órgão oficial do regime. Então de lá pra cá, venho mantendo uma relação bastante ambígua e desconfiada com a grande mídia brasileira. Lembro, que mesmo durante a vida útil do Jornal do Brasil, nos anos setenta e oitenta, que tinha grande prestígio como órgão sério e recebia um grande respeito por parte dos outros órgãos de mídia e da própria sociedade carioca da época, porque sabíamos que sofria uma enorme pressão da censura, para impedi-lo de ser mais claro e explícito, o que fazia com que o lêssemos procurando como quem usa lupa, nas suas entrelinhas alguma mensagem cifrada, que nos revelasse algo obscuro, que estivesse sendo feito contra algum desaparecido ou outra conspiração maluca à vista. É claro, que com o cerceamento das notícias reais do dia a dia, que a verdade nua e crua dos fatos fosse rara, já que a ditadura controlava tudo o que podia ou não ser divulgado, que tudo isso provocava na audiência, cada vez mais, uma enorme avidez por notícia, queria-se saber muito e de tudo, havia essa demanda. Foi então, que começaram a surgir os primeiros tabloides, hebdomadários, ou seja o jornal semanal, publicado apenas uma vez por semana, na busca por preencher aquela lacuna. O primeiro deles a alcançar grande projeção e tiragem foi o Pasquim ainda no final dos anos sessenta. Enquanto o Pasquim atuava mais na linha do humor, nos anos setenta apareceu numa linha e postura mais séria e intelectual o Opinião e logo em seguida o Movimento,  e depois vieram muitos outros, que preencheram em parte aquela enorme lacuna e demanda por mais informação, e informação de qualidade. Tenho até hoje um exemplar do Opinião com uma longa e memorável entrevista do filósofo francês Jean-Paul Sartre por ocasião dos seus 75 anos. Desde então venho acompanhando o que é publicado sobre os fatos mais relevantes da vida do país. Até acontecer o fatídico domingo 17 de abril de 2016, quando o Congresso todo virou um grande centrão, e assistimos atônitos, como se comportaram ao serem chamados para dar o voto cassando a presidente. Se durante o período janguista havia pelo menos o jornal Última Hora para defender o governo eleito contra todos os outros grandes jornais. No período dilmista não havia nenhum, apenas os chamados blogs sujos fizeram a defesa do governo na luta político ideológica. Contra a difamação gratuita, contra a desqualificação pura e simples e sem argumento, e contra todas as mentiras plantadas, uma verdadeira lavagem cerebral, o que era muito pouco para fazer frente ao rolo compressor da grande mídia opositora. O que fez com que, em muito pouco tempo, um governo que tinha até junho de 2013 uma avaliação favorável em torno de 70%, desabasse por ocasião da cassação na Câmara, para algo em torno de apenas 10%. Apesar de ter sido, às duras penas, reeleita nas eleições de 2014. De lá pra cá, parei de comprar jornais impressos, e mesmo na internet não procurei mais me informar através desses veículos, e me afastei também dos telejornais. Somente a partir da delação premiada do Sr. Joesley Batista, de quem não tinha a menor ideia de como era a cara, embora já o conhecesse de nome, principalmente depois que se tornou marido da jornalista da Band. Despertado por esse episódio particular, voltei a me interessar pelos telejornais ao vivo. E para minha surpresa, surgiu nesse novo flirt com a mídia, uma demanda diferente, agora não cobro mais da mídia “menos parcialidade” ou partidarismo, porque sei que é utópico. Agora grita aos olhos a falta de aprofundamento do que é noticiado. Como sinto falta do comentário de alguém mais gabaritado! Que interpretasse o conteúdo factual e no final ainda desse uma opinião. Não tem, e quando tem é muito pouco e limitado, quase travado, o que deixa toda a gente frustrada. Parece que os jornalistas comentaristas e formadores de opinião não querem se comprometer, ou são orientados a agir assim, ou os que lá restaram não tem competência mesmo.