quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

Devo ser obsceno

Saber que obsceno, tinha na origem, como significado etimológico, “cães de mau augúrio”, me pegou completamente desprevenido. Acostumado que estou, com a afirmação de massa hoje em dia, que acredita que obsceno é fazer uma afronta deliberada ao pudor, (dar uma vontade danada de falar poder, mas deixa para lá). Encontrei também na pesquisa, que obsceno é o “que se compraz em ferir o pudor”. Quer dizer, estamos diante de um transgressor contumaz, quase um iconoclasta, o avesso do avesso, o contra a corrente, absolutamente contrário a mania de todo mundo reproduzir a mesma coisa sempre e ao mesmo tempo, contra o chamado comportamento de manada. Por outro lado, tem gente também, e agora estamos falando da grande maioria, que não quer mudar de jeito nenhum, que gosta de nadar de braçada no comportamento de massa, que não saberia fazer de outro jeito, e ficaria inseguro se o tentasse. Se sentiria uma ave raríssima, talvez não conseguisse ir muito adiante, não sobreviveria na pele de um personagem mais genuíno, único e verdadeiro. Então precisa permanecer por lá mesmo, no ambiente adequado de “todos iguaizinhos”, consumindo o mesmo tipo de produto de todo o mundo, replicando os mesmos jargões, repetindo os mesmos clichês, só dando valor àquilo que todos valorizam, acompanhando a manada teleguiada até mesmo nas eleições, etc. Então, por tudo isso, acho que sou obsceno. Primeiro porque, muito pouca gente, das que conheço ultimamente quer me dar papo ou ouvidos nos últimos tempos. Não demonstram ter o menor interesse em saber o que passa pela minha cabeça. Passam batido, não indagam nada, me evitam, como se estivessem tentando escapar de saber, ouvir ou escutar algo muito feio, uma coisa obscena, despudorada. Preferem nos obrigar  a escutá-los, querem se fazer ouvir, querem alugar, com as suas estórias familiares, ou de amigos, que jamais conhecemos. Há algum tempo vinha me queixando das incompreensões das pessoas, dizia uma coisa e entendiam outra, interpretavam sempre com o sentido diferente, numa inversão total de significado, uma distorção da real intenção. É fato também, que a conjuntura política não é nada favorável, com a chegada da extrema direita ao governo central, trazendo um pacote/agenda autoritário, que flerta o tempo todo com ditaduras e com a tortura, propaga a violência física contra seus adversários políticos, e comemora abertamente a derrota ou prisão de algum deles. Enfim flerta com a morte, ostenta armas, impõe mentiras no lugar de verdades e dispara fake news. Diante de tudo isso, é até compreensível a incompreensão de tanta gente. Posso até fazer um esforço de compreensão, para os aceitar como estão. Nem só por isso escapo de ser obsceno! Devo ser obsceno mesmo! Eles não querem me ouvir, não têm o menor interesse no que tenha ou não a falar, contar ou escrever. Talvez porque não seja de bom tom?!

domingo, 22 de dezembro de 2019

O segundo comando

Quando se está fora do comando de si mesmo, não importa agora, a razão ou origem do problema. Antes de prosseguir, uma pausa, um pequeno parêntese, para um esclarecimento, esse não é o espaço adequado para o compromisso com a verdade científica, fruto da pesquisa e das teses acadêmicas. Muito pelo contrário, esse aqui é o campo das conjecturas, o livre campo do pensar com nossas intuições e imaginações. Dito isso, quando se abandona o comando do barco, existe um mecanismo para não ficar totalmente à deriva, que se poderia especular, e dizer, que seria o inconsciente, ou algo nebuloso, que prefiro chamar de segundo comando. É curioso, como não perdemos a consciência totalmente, pelo contrário, temos nítida ciência do que está se passando, só não podemos fazer nada, estamos sob outro comando. Nos piores momentos, nos momentos de uma crise mais aguda e profunda, que pode demorar a ocorrer, quando tudo se exacerba, e acaba-se por bandeirar o desequilíbrio eminente, o transtorno torna-se aparente. Mas se poderia dizer, esse fenômeno está presente na vida cotidiana o tempo todo, e se manifesta, na maioria das vezes, em pequenas coisas do dia a dia, de forma menos evidente. Por isso mesmo, passa de forma  quase imperceptível, sem gerar um desconforto suficiente, que forçasse uma maior necessidade de racionalização. Como é o exemplo, no dia a dia, quando afirma-se coisas, que depois arrepender-se-á profundamente, “como pude dizer isso ou aquilo? ”. “Onde estava com a cabeça, quando tomei aquela decisão? ”. “Por que não respondi a agressão de fulano? ”. E por aí afora, tudo acontece em momentos de aparente normalidade psíquica. Claro que não é o tempo todo, as crises têm diferentes intensidades. As vezes o pânico é paralisante, que imobiliza e congela, deixa-nos sem reação, um desconforto real. Em outras ocasiões mais leves, deixa-nos com uma incontinência verbal incontrolável, com consequências, muitas vezes, devastadoras, que se pagará um preço, inevitavelmente depois. Encontro o Sr. Y na rua, paramos rapidamente para uma troca de meia dúzia de palavras, quando Sr. Y se afasta, lamento muito não ter aproveitado a oportunidade de ter-lhe dito poucas e boas, que considero seja merecedor. Ainda bem, que não disse nada, apenas pensei, e poderia ter dito isso ou aquilo, que perdi mais uma oportunidade, de ter brigado com ele. Esse EU que quis brigar com Sr. Y, é o segundo comando, é o EU despersonalizado. Não fui eu quem encontrou o Sr. Y, foi o segundo comando. Quando tudo isso se exacerba, vem a crise aguda, com a ideia de saída do corpo, conhecida também como desrealização, etc. Muito complicado tudo isso, porque ninguém percebe nada diferente ou estranho, não é um fenômeno aparente, visível, materializado, salvo nos extremos mais críticos das crises agudas. Aí sim, é assustador, é o pânico total, porque é difícil de camuflar ou esconder. O alentador hoje é saber, que não há risco real de loucura nesse tipo de transtorno, embora pareça e tenha algumas semelhanças, não é uma psicose. É tratável, e os terapeutas da análise cognitivo-comportamental estão aí mesmo para isso, dentre outras alternativas clínicas, incluindo medicação. Sobre isso, o sucesso do rivotril é mais do que eloquente.

sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Brigas virtuais

É verdade, que embora estando a maior parte do tempo sozinhos, jamais tivemos a possibilidade de fazer conexão com tanta gente ao mesmo tempo, como nos dias que correm. O fenômeno de, com apenas um toque, ter a possibilidade de acessar tanta gente, amigos ou não, companheiros da escola secundária, vizinhos do prédio ao lado, gente do outro lado do atlântico, não importa se em algum país da Europa ou América do Norte, sem falar de gente de nosso imenso país. De ouvir platitudes do tipo: "de que jamais se teve acesso a tanta informação como agora", informação de todo o tipo e para gostos os mais variados. Acontece que em tempos de extrema direita chegando ao poder político aqui e ali, nem sempre a clareza e evidência das ideias e a procura da verdade, esteja ainda na ordem do dia. O irracionalismo, o obscurantismo, o contorcionismo verbal e escrito pululam o tempo todo, por todo canto, o iluminismo foi jogado para escanteio por essa direita, que gosta de falar em pós-verdade. As mentiras das notícias falsas, também chamadas: “fake news”, são disparadas por robôs midiáticos num frenético ritmo alucinante. Nossas preferências e gostos são aferidos por instrumentos logaritmos, que tentam nos manipular, baseados em qualquer visita aleatória feita numa página qualquer da internet. Diante disso, se tornou muito mais difícil, hoje em dia, a comunicação escrita, ou melhor, digitada. Nunca podemos avaliar como o nosso amigo virtual receberá a mensagem enviada, como a compreenderá. Será que fomos claros o suficiente? Será que perceberá a real intenção, quando teclamos e publicamos aquele texto, aquela mensagem? Uma situação de impasse, uma incógnita total, que jamais poderemos ter uma pálida ideia ou resposta. Diante disso, volta e meia encontro e vejo gente em apuros, perdendo amizades de longa data, apenas por ter dito ou escrito uma determinada palavra, que foi mal recebida pelo interlocutor. O que gera tensão e stress, porque atinge o campo dos afetos, isto é, não se sai ileso de uma discussão, que gera o rompimento de uma relação de amizade, mesmo que não se dê trela à treta, nem se responda à ofensa proferida pelo interlocutor. Tudo isso é muito complicado e cruel, porque esperava-se que com mais educação e informação, todos estivessem mais preparados para uma convivência mais civilizada, mas não é isso, que se assiste nos dias de hoje, infelizmente. O mais triste disso tudo, é que não se vê luz no final desse túnel, e os mais agourentos ainda estão a dizer, que em vez de luz, se aproxima um trem, que passará por cima de tudo e de todos. Que horror! Ainda bem que sou daqueles, que preferem esperar, contar e acreditar no poder das luzes da razão.

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

A missão de certas palavras

Quando caiu o muro de Berlim em 1989, não estava mais no meio acadêmico, que havia deixado no mestrado de Filosofia do IFCS, no velho Largo de São Francisco carioca, dez anos antes. Mas ainda estava dando aula, na rede pública estadual. É claro, que naqueles redutos onde trabalhei, Vila Kosmos, Marechal Hermes e Praça da bandeira, com aquele alunado procedente, em sua maioria, de comunidades pobres do entorno, que trabalhavam em sua grande maioria, e à noite vinham em busca de concluir o segundo grau. Não poderia criar nenhuma expectativa da parte deles sobre as grandes questões da humanidade, mas a gente tentava, e pareciam gostar. Não preciso dizer, que não havia a menor condição daqueles alunos, vivendo nas condições econômicas e sociais, as mais adversas, pudessem ter algum interesse em algo ocorrido em outro planeta, sem nenhum exagero, era como encaravam o fim do socialismo na Alemanha Oriental, antiga DDR, o chamado socialismo real. Mesmo entre os professores, que alguns preferem chamar de “mestres”, pouco havia tempo e chance para um mínimo de convivência e um dedo de prosa. Era raro, fora da imprensa, ouvir grande coisa sobre a queda do socialismo real. No lado oposto, na imprensa diária, semanal ou mensal, era do que mais se falava, se comentava, se discutia enfim, era o assunto do momento. Uma coqueluche. Será que o capitalismo, afinal de contas, tinha vindo para ficar? Seria uma sina? Definitivo? Estaríamos condenados a viver para sempre sob esse insustentável regime excludente? Falava-se em “fim da história” abertamente, sem o menor pudor de estar pagando mico. O liberalismo econômico saiu dos livros, para se efetivar historicamente, pela primeira vez, nos governos Reagan e Thatcher no início dos anos 80. Depois da queda do muro, procurou se expandir para outros cantos do planeta, e esse foi o caso do Brasil, onde chegou com a eleição de Fernando Collor, na primeira eleição do país pós-ditadura, além da vitória de Carlos Menem na Argentina, que vimos, depois de uma década, entregue à bancarrota, completamente falida por esse modelo liberal de governar a economia. Ninguém usava ainda o termo “neoliberalismo”, termo que só começou ser ouvido no Rio no final dos noventa, já no segundo governo FHC. Conceito suspeito, que continua sendo trabalhado nos meios acadêmicos, pesquisado e estudado. Pelo pouco, que tenho lido a respeito, seria a combinação perversa da política de livre mercado, crença da escola de Chicago de Milton Friedman, com a redução do tamanho do Estado proposta pela escola austríaca. Estudada sobretudo agora, que o efeito da implantação da agenda liberal na economia, implantada há mais de trinta anos, começa a dar seus nefastos frutos e resultados, como estamos assistindo no Chile e algures. É bom lembrar, para concluir, que o conceito de “neoliberalismo” ainda é um conceito em construção, se fazendo enquanto é implantado, ainda tão nebuloso quanto o de “populismo”. 

domingo, 27 de outubro de 2019

Será o fim do neoliberalismo?

Esse Paulo Guedes, que hoje vemos, como ministro da economia,  que está dando as cartas no Brasil, pondo tudo à venda, num privatismo galopante e obsessivo, a acabar com a previdência pública, trabalhando para pôr um fim definitivo à universidade pública, entregando tudo enfim. Na teoria, é adepto da ideologia econômica denominada neoliberalismo, uma ala do campo ideológico do liberalismo econômico, que é extremamente radical, quando se trata da questão da abertura da economia, para o capital privado e/ou financeiro. A meta final, dessa gente, é retirar totalmente a presença do Estado da economia nacional, ou pelo menos, inviabilizá-lo, deixá-lo limitado a um papel profundamente irrelevante.
Voltando um pouco no tempo, há mais de trinta anos atrás, vamos encontrar esse mesmo personagem, isto é, o Paulo Guedes, implantando no Chile de Pinochet, em plena ditadura sanguinária pinochetista, essas mesmas medidas. Implantando a cartilha neoliberal, da escola de Chicago de Milton Friedman, como se estivessem usando a nação chilena de cobaia da vez, fazendo uma experiência "científica" (risos). Não vamos nos esquecer, que uma coisa é a razão da outra. Para a direita implantar essa nefasta agenda na economia chilena, precisaram de uma nefasta ditadura, e não foi uma ditadura qualquer. A ditadura de Pinochet teve paredão de fuzilamento em pleno estádio nacional do Chile em Santiago, muita gente morta ou desaparecida, e a presença ostensiva de dois grandes campos de concentração, como é dito no vídeo, um no escaldante deserto de Atacama, e outro nas congelantes geleiras andinas. E o resultado do trabalho sujo de Paulo Guedes prestado no Chile de Pinochet, estamos vendo agora, com as ruas chilenas novamente cheias, mais de um milhão de manifestantes em protesto, exatamente contra aquelas medidas. Ouve-se agora nas ruas chilenas e argentinas, palavras de ordem de todo o tipo, como por exemplo “neoliberalismo nunca mais! ” O que parece, e de fato, é fantástico! É preciso aguardar um pouco mais, para ver se toda essa revolta dos protestos, se capitalizarão em transformação de fato do país. E os interesses reais do povo local possam voltar a se refletir no poder político de ocasião.

sábado, 26 de outubro de 2019

Não ter sido ofendido não significa que a ofensa não exista

Uma coisa, que tem me irritado ultimamente, é ver tanta gente funcionando, como se cada um, fosse o centro do universo, como se um indivíduo particular, ou seja, o indivíduo e seu próprio umbigo, o indivíduo e sua circunstância, fosse o centro e a medida de todas as coisas. Como se costuma ouvir por aí:  "se algo não acontece consigo, se não lhe afeta, logo não existe”. O absurdo da situação é tamanho, que diante da informação da ONU, que mostra existir ainda um bilhão de pessoas a passar fome no planeta. Nosso pequeno egoísta argumentará que, como jamais passou fome na vida, a informação da ONU é falsa. Chega a ser ridículo, é verdade, mas não deixa de ter coerência com seu pensamento obtuso e individualista. É tal a quantidade de gente pensando dessa maneira, gente que acredita apenas na saída individual, que não gosta nem tolera palavras, como cooperativismo, solidariedade, companheirismo e  espírito comunitário. Uma gente que espanta e choca, quem está mais ligado e atento às questões sociais. Tudo se reduz a: "cada um por si e deus contra todos". Uma espécie de bloco do eu sozinho, o próprio reino do individualismo. Mas nada disso é natural nem espontâneo, está conectado ao momento presente, ligado ao sistema econômico e político. É uma postura estimulada e incentivada pela financeirização da economia, uma manifestação do modelo de capitalismo ora praticado. Esse individualismo incentivado e estimulado, é mais um traço do chamado capitalismo neoliberal, uma ideologia que deseja transformar cada um de nós, numa espécie de mônada Leibniziana, uma criação exclusiva de consumidor contumaz acrítico, de empreendedor nato, uma espécie rara, que não deve favor nem satisfações a ninguém, aparentemente autossuficiente, embora não perceba, nem um pouco, o quanto é escravo desse sistema econômico, que o inventou e criou. O mais grave, é não perceber, que tudo isso, é mais uma mentira contada, e amplamente divulgada, que passou a acreditar como se verdade fosse. Portanto mais uma crença. A primeira coisa que observo nesse pessoal, é a perda da noção de totalidade, de todo, de conjunto, são particularistas, dispersos pelo mundo, condenados ao empreendedorismo individual radical, não acreditam em parcerias, em fazer junto, em conjunto, quem sabe tenham algo em comum com  o fenômeno da uberização. Não conseguem nem desejam cultivar um espírito plural ou coletivo, a perspectiva do “nós” e dos outros, uma coisa quase inatingível para essa galera. É desolador ver tanto egoísmo e individualismo junto, um fenômeno que só aprofunda a insensibilidade social, quase ninguém se toca mais com mais nada. Nada os afeta ou os desestabiliza! Não se alteram com quase nada. São quase impassíveis! Tal qual um psicopata, ou se preferirem, sociopata, perderam completamente a empatia com o semelhante. Impossível se colocarem no lugar de outrem. Quando se fala de determinada situação, que afeta e atinge em cheio uma parte significativa da comunidade, dão de ombros e respondem, que não estão vendo, que não sentem, que não foram afetados ou atingidos. Se não os afeta, então aquilo não existe. Qualquer coisa, que se fale ou se mencione a respeito, de imediato precisam usar sua própria régua, para avaliar o panorama da situação, tudo é aferido, mensurado e considerado apenas do ponto de vista da sua régua individual e particular. Quando irão perceber, que agindo dessa forma, caminham aceleradamente na direção de um relativismo absoluto?

A rapinagem neoliberal

Os ideólogos e formadores de opinião do neoliberalismo, ora triunfante, trabalham, cada vez mais, com  afinco, para reforçar a tese principal de sua maior convicção, incutir, na cabeça de todos, a crença de que só existe uma saída, é a saída individual. Cultivam com firmeza a fé nessa empreitada, a saída individual. Apostando todas as fichas nessa ladainha, de que só resta uma saída, a crença de que todo mundo é empreendedor, que basta querer para virar empresário, como se todos tivessem implantado um chip de empresário no corpo. A se acreditar no que prega a cartilha política da direita neoliberal, ala extremista do liberalismo econômico, que deseja ardentemente deixar tudo totalmente entregue aos caprichos do mercado. Tudo isso é bastante coerente com o projeto político neoliberal, o obsessivo desejo de redução do tamanho do Estado, na maior velocidade possível, questão onde sempre têm muita pressa. Comenta-se, à boca pequena, que esse processo de ataque ao Estado, no que tange ao Brasil, entrou em andamento com o golpe de 2016 e o governo Temer, alguns falam que desde 2013, e finalmente os outros, mais radicais, apontam que desde o ano de 2005, com o mensalão. Com o estado se retirando, em escala ascendente, de várias áreas de atividades fundamentais, sob o impacto das privatizações, de cortes de verbas, etc., e com a chegada ao poder de Estado em muitos lugares do planeta, principalmente na América Latina e no Brasil em particular, de regimes políticos de cunho privatista e ultra-liberal na economia, principalmente de sua ala mais radical conhecida como “neoliberalismo”. Não preciso dizer, que a retirada do Estado de áreas tão fundamentais e essenciais, na prestação assistencial aos mais pobres, deixa uma lacuna imensa, que não será preenchida pelo mercado. O mercado, representado por seu agente financeiro,  só investe, quando o retorno for garantido e assegurado, quando tiver uma absoluta confiança na segurança jurídica local, ou tiver algum nível de garantia institucional ao seu investimento. Riscos só na Bolsa de valores ou num cassino de fronteira. O mercado não prega prego sem estopa, como costuma dizer o ditado popular do senso comum. Fora disso, só resta mesmo aquele velho Estado cansado de guerra, para prestar os serviços básicos e essenciais à população, como saúde e educação, que jamais deveriam ser considerados gastos. Pelo contrário, são recursos arrecadados pelo poder público, que são retirados de todos na forma de impostos, e que voltam, a depender do tipo de projeto político, que esteja no poder. Retornam em forma de benefício para toda a comunidade de contribuintes.

sexta-feira, 25 de outubro de 2019

O menosprezo pelo "velho"

Vamos combinar uma coisa, deixar claro de início, que não se trata em absoluto, de analisar como o “velho” se sente, mas, pelo contrário, de procurar entender, como o "velho" é visto, como é construído no imaginário dessa galera mais jovem de hoje. De como enxergam o “velho” em posições bem mais desvantajosas em relação aos demais, e dessa maneira, o colocam e o consideram, em condição de inferioridade. Avaliado, cada vez mais, como uma coisa negativa, uma carga pesada, um fardo a mais a carregar, um ser menor, um ser que perdeu seu antigo prestígio e poder, poder no sentido de potência, vontade de potência melhor dizendo, na linguagem nietzschiana. E agora, não passa de mais um despossuído, de um fraco, não mais digno do respeito de outrora, por várias razões e motivos, nem sempre justificáveis, que não cabe abordar agora. De alguém que se retirou, se aposentou, se tornou gente de segunda linha, gente da retaguarda. Gente que por já ter vivido a maior parte de sua existência, nada mais pode esperar da vida, a não ser a morte, como uma coisa inexorável. A partir daí, passa a preencher a vida, cada vez mais, com entretenimento e distração, para escamotear a presença da morte, muito forte, logo ali à frente, para não correr o risco de, num vacilo qualquer ou distração, ficar frente a frente com ela. Se quisesse elaborar uma lista completa, inteirinha, com todas as razões e motivos, que levam tantos, a cultivar e praticar tais discriminações contra os mais “velhos”, seria uma tarefa praticamente impossível, um trabalho hercúleo e interminável. Pelo menos, conforta saber, que tudo isso pode ser comprovado e conferido, observando e pesquisando o imaginário popular, em toda sua série de ditados e máximas populares, encontradas no reino do senso comum, tanto em livros, como na internet, mas também, e principalmente, pelas ruas, materializadas através dos dizeres populares em feiras, mercados, em sala de aula, enfim, por todo o canto. Por outro lado, como seria bom, se fosse possível, que essa mesma galera, não se limitasse apenas a permanecer no território do menosprezo contra o “velho”, mas também se aventurasse em busca das qualidades daquele senhor, alguém que sobreviveu a tantas batalhas na vida, que estudou e conheceu muito mais coisas, que testemunhou o desenrolar da história enquanto esta de fato acontecia, o que hoje só podemos conhecer por intermédio dos livros, manuais, filmes e documentários. Foram testemunhas oculares de tantos fatos inenarráveis, que viveu e sobreviveu à ditadura, que ganhou e que perdeu. Que, portanto, angariou muito mais experiência que qualquer um de nós. Enquanto ainda patinamos no árduo caminho da subida e da compreensão, eles já sacaram quase tudo, perceberam e compreenderam muito mais, bem antes de nós. Que por já terem passado por tantos colapsos emocionais em tantas situações difíceis em suas histórias individuais, na teoria, deveriam saber lidar melhor com as situações mais cabeludas, fortes e difíceis da vida emocional, com mais equilíbrio e “savoir-faire”. Dizem, que em certos países, como o Japão por exemplo, existe, por parte da população local, uma maior capacidade, para enxergar e valorizar as qualidades do idoso, maior que em outros lugares do planeta, e ao contrário do que se vê por aqui. 

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

O politicamente correto

Até um tempo atrás tendia a concordar com os argumentos daqueles, que costumam implicar e criticar as patrulhas do politicamente correto. Daqueles que se queixam de que não se pode mais dizer quase nada, que não se pode mais brincar, fazer certas piadas, que o mundo desaba em cima, que aparece um exército de patrulheiros a condenar o infrator aos confins dos infernos, por qualquer bobagem dita. Que o mundo havia perdido a graça. Que o mundo estava cada vez mais chato. Como é que se pode fazer humor assim? Indagavam-se. Por ter vivido os dois mundos, o de antes e o depois do “politicamente correto”, tendia, como disse no início, a achar que deveria haver certa tolerância, pelo menos por enquanto, até quando todos estivessem mais acostumados com os novos tempos e os hábitos modernos, que se estabelecesse uma fase de transição, para que houvesse compreensão dos dois lados. Por outro lado, quando se é capaz, por empatia, de se colocar no lugar de quem é atingido por certos chistes e piadas de mau gosto, fica visível como a coisa se torna absurda, cruel e muitas vezes, não poucas, bastante agressiva. Há quem diga, que dessa ninguém escapa, já que cada um de nós, de alguma forma, acaba pertencendo a algum grupo minoritário, se for preto então se torna parte de uma maioria discriminada do mesmo jeito. Então ninguém escapa, o que vale para os pretos, vale também para as mulheres, e vale para as minorias propriamente ditas, como: gays, judeus, estrangeiros, pobres, idosos, baixinhos, magrinhos ou gordos, enfim qualquer um, que fuja à norma vigente. Outro dia li um comentário, que se referia a um determinado velho conservador, e na forma como foi colocado, sem aspas, parecia que todo “velho”, termo que por si só, quando posto para se referir a determinado indivíduo com mais idade, já embute e carrega uma carga conotativa de agressão aos idosos de um modo geral. Então, o infeliz comentário, que na raiz já ofendia todos os idosos, junto com o termo “conservador”, dava a entender, que todo velho é conservador. Uma falácia, que só vem reforçar um preconceito, e que preconceito é esse? O preconceito contra qualquer idoso, que não passa, segundo aquele jovem autor do comentário, de "velho conservador". Quando li o comentário, e como já estou chegando à idade, que muitos já consideram “velho”, aquilo bateu na hora, principalmente por não me considerar conservador politicamente falando. Alto lá, velho pode até ser, mas conservador jamais. Aliás, velho é o cacete!

sábado, 19 de outubro de 2019

Existe chance de escapar da próxima crise do capitalismo?

Esse é o assunto do momento no chamado mundo ocidental e também em todas suas periferias. Periferia, 'lugar' onde nos localizamos e nos situamos, é bom que se diga. O que se deve fazer diante do colapso total, se o risco sistêmico se concretizar? E desfizer e desmilinguir todos os ativos financeiros e bens dos aplicadores e cidadãos de um modo geral, já que a crise atingirá a todos. Tudo se desfizer como um castelo de cartas. Diante disso, é impossível não lembrar do velho ditado: "se ficar o bicho come, se correr o bicho pega". Todo esse burburinho pré-crise, me leva também a fazer   conexão  com a situação vivida por tantos grupos de judeus, que passaram por todos aqueles pogroms pela Europa afora, e por séculos afora, onde, para escapar do perigo, tinham que encontrar uma saída de emergência, na maioria das vezes, na última hora. Claro, que de tanto precisar, para escapar da morte ou ter os bens confiscados, devem ter desenvolvido um certo "know how", para empregar em momentos de perigo eminente. Para exemplificar um momento de alto risco, o narrador do vídeo usa como lembrança o bloqueio da Poupança feita no Brasil pelo governo Collor, no comecinho dos anos noventa. Que segurança se pode ter no sistema econômico da especulação e da jogatina? Que confiança se pode ter nesse capitalismo financeiro, mais conhecido como "neoliberalismo", que faz da política de reduzir o tamanho do Estado, por mais paradoxal, que possa parecer, em política de Estado. O que significa praticar uma política suicida. Uma política deliberada, que vai deixar ao desamparo grande parcela da população? Que só contava com o Estado para sobreviver. O que é isso? Uma forma fascista para, de uma hora para outra, condenar à morte todos os incapazes, deficientes físicos, idosos, crianças e, quem sabe, depois, todos os demais? Enquanto isso, uns poucos estão ganhando grandes somas na especulação, justamente com a própria crise, de que tanto falam.
P.S. Não esqueçam de assistir ao vídeo.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Impossível ser republicano com um fascista

Em tempos difíceis e extremistas, como esse que estamos atravessando, considero que a opção da ação política pelo caminho da moderação e do republicanismo, diante de toda impostura política, do Lawfare praticado por parte do judiciário contra líderes populares de esquerda, com a finalidade de atingir determinados objetivos políticos por outros meios, e que acaba por levar à criminalização da política. Da política do esgoto e do vale tudo praticado pela extrema direita ora no poder, feita tanto no governo central, como em alguns dos mais importantes governos estaduais do país, como Rio e São Paulo. É uma temeridade sem tamanho, e só sendo mesmo muito ingênuo politicamente, para correr o risco de ser eliminado, ou melhor dizendo: dizimado, porque é assim que procede a extrema direita contra seus adversários, aliás inimigos. E, como todo mundo sabe, com os inimigos a extrema direita não debate jamais, contra os inimigos, quando devidamente identificados, se elimina-os o quanto antes. Foi assim ao longo da história, e assim é agora com essa extrema direita no poder. Pode-se alegar todas as razões possíveis, para evitar se atritar com a extrema direita, a principal delas é o medo do conflito se radicalizar, e o chamado campo popular mais perder do que ganhar. Acontece que não tem outra alternativa, isso acontecerá mais dia menos dia, a fuga do embate será pior, porque não tem escapatória, se eles se fortalecerem um pouco mais, o que virá, será ausência de garantias individuais, sob esse ou aquele pretexto, aliás pretexto é o que não falta para esse tipo de gente. Então será uma semi-ditadura, ou qualquer coisa que o valha, e já assistimos esse filme antes. Não tem moleza para as oposições num regime de força de extrema direita, nem muito menos democracia, uma palavra por demais desgastada. Diante de tudo que estamos assistindo, a retirada de quase todos os direitos da classe trabalhadora, conquistados ao longo de décadas, a perda da aposentadoria por exemplo, além de outras maldades, já que o saco de maldades contra a população trabalhadora é imenso. Reivindicar moderação e republicanismo é catastrófico, é como preparar o pescoço para a forca sem reação. O republicanismo não é algo do tipo de uma cláusula pétrea, só o devemos praticar com aqueles, que também são republicanos com a gente. Por isso não gosto nem um pouco da forma, como Fernando Haddad faz política e se manifesta publicamente, a forma como busca se aliar e compreender notórios golpistas de 2016, de como procura bajular certos meios de comunicação não só televisivos, etc. Será capitulação? O que parece, é que esteja apostando todas suas fichas na saída eleitoral, e com isso, quem sabe, já esteja fazendo seu pé de meia político para 2022.

sábado, 25 de maio de 2019

Faces anticapitalistas


Antes, bem antes aliás, quando se pensava em anticapitalismo, logo vinha à mente imagens da revolução russa, a ditadura do proletariado, e os partidos de esquerda aliados ao movimento comunista e ao socialismo. Hoje tudo isso está muito mais diferente, a luta política está cada vez mais sofisticada e complexa, não dá mais para ficar limitado apenas à posição dicotômica entre o preto e o branco. Hoje existe a chamada guerra híbrida, que é alcançar determinados resultados geopolíticos por meios não militares, foi o que ocorreu na Ucrânia e em algumas primaveras árabes, por exemplo, e ao contrário do que disse o general Mourão na China, ao responder uma pergunta sobre os BRICS, a guerra híbrida posta em ação hoje em dia, é empreendida e realizada sobretudo pelo império estadunidense, e não pela Rússia, como afirmou o general.
Basta ver o que fizeram contra o nosso próprio país, que desde junho de 2013 vem decaindo economicamente sob um ataque constante, que envolveu espionagem sofisticada, como revelada por Edward Snowden também em 2013, o ataque econômico contra as nossas maiores empreiteiras mediada pela operação lava jato, o que foi devastador para quase todas as empresas, provocando um desemprego no setor de mais de um milhão de postos de trabalho. Diante de tudo isso, no mínimo caberia a questão, porque nos tornamos a vítima da vez? Seria o pré-sal o grande motivador, ou o papel que vínhamos desenvolvendo no BRICS? De sorte que, está mais do que claro, que o capitalismo financeiro, representado por sua vertente mais radical do liberalismo econômico, que estão implantando no país, é um regime político e econômico, que retira direitos, desmonta o Estado, que se não era, por limitações, ainda um Estado de bem-estar social para todos os seus cidadãos, pelo menos assegurava, segundo a Constituição de 1988, um mínimo de garantia e de assistência pública para os mais desvalidos. Agora estão querendo acabar com tudo isso, não deixar pedra sobre pedra, desmontar tudo e vender, nem que seja aos pedaços, como estão fazendo com a Petrobrás. Para finalizar, é preciso dizer ainda, que se pode também ser anticapitalista de várias outras maneiras e formas, não apenas pela via revolucionária, embora não se deva descartar jamais a via revolucionária. Inclusive no mundinho das individualidades, pode-se muito bem sabotar o sistema econômico pelas beiradas. E isso pode ser feito, quando boicotamos certa cervejaria golpista, ou quando aderimos ao "consumo zero", ou a quase isso, buscando e procurando levar a vida com o mínimo necessário, e nos tornarmos mais vigilantes, para escapar das armadilhas da propaganda subliminar, dentre outras inúmeras possibilidades. Não esquecer jamais, que se trata de uma luta renhida, constante e muito dura.


sábado, 18 de maio de 2019

Como a direita se articula e se financia

A estratégia principal dos lacaios locais do capitalismo ultraliberal, ideólogos do liberalismo econômico, privatistas de carteirinha, partidários de toda desregulamentação e do Estado mínimo. Como mostra o artigo do site “The Intercept”, são pagos e financiados com o dinheiro de grandes trustes e grupos financeiros norte-americanos. Coordenados pela Atlas Network, utilizam como arma principal, no combate ideológico para derrotar governos populares com base na esquerda política, espalhar mentiras, e o uso constante da desqualificação contra todos os principais quadros e líderes esquerdistas, que ocupem cargos no governo, e contra todas as políticas públicas de inclusão social e ação afirmativa, qualquer que seja essa política, não importa, precisam ser atacadas, desqualificadas, e assim causarem o pior desgaste possível ao governo esquerdista de plantão, o desestabilizando completamente diante da opinião pública, até que consigam finalmente atingir o objetivo, o alvo, ou seja, derrubar o governo, que as implantou. Foi assim, que fizeram com a Dilma, desde 2013, que por milagre não perdeu as eleições gerais de 2014. Foi reeleita com uma diferença pequena de votos, mas não conseguiu governar mais nenhum dia após a posse em 2015, com um Congresso nas mãos de Cunha, um quadro político completamente desfavorável, pautas bombas e muita chantagem e conspiração. Dilma não caiu de imediato, porque o Congresso tem os seus ritos, precisaram abrir aquele falso processo de impeachment sem crime de responsabilidade, que só conseguiu produzir o afastamento definitivo da presidente em maio de 2016. Mesmo com ela ainda no cargo, o seu vice, Michel Temer, que já conspirava de forma escancarada com todos os golpistas, apresentou, em 29 de outubro de 2015, o projeto político: “Uma Ponte para o futuro”, de cunho profundamente neoliberal. Por essa razão, é que quando a Dilma caiu com impeachment em 2016, o seu vice Temer, em vez de dar prosseguimento ao projeto político que os reelegeu em 2014, MUDOU radicalmente toda a política de Estado, todo projeto político, que vinha sendo implementado desde a posse de Lula no primeiro mandato em 2003. Temer deu uma guinada de 180 graus em direção ao neoliberalismo econômico e à toda sua cartilha financista, com privatizações, reforma trabalhista, redução das garantias constitucionais dos cidadãos, desaposentadoria de pacientes com HIV. Enfim, só não conseguiu realizar a reforma da Previdência, em virtude dos dois inquéritos criminais, que pipocaram contra ele, em virtude da delação de Joesley Batista da JBS. O governo do Capetão é uma continuação do governo Temer, o saco de maldades contra o povo começou com Temer. Por isso, que alguns bolsonímions diante das críticas contra o governo do Capetão, que ainda não apresentou nenhum projeto para o país, a não ser propor a entrega do país aos interesses norte-americanos e a destruição de direitos dos trabalhadores e estudantes. Seus apoiadores REAGEM sempre afirmando, que Temer era Dilma, que era o vice do PT, mas não dizem, omitem, que temer não aplicou, em nenhum momento depois que tomou o cargo de presidente na mão grande, a política do PT e de Dilma Rousseff. Dizer que Temer é Dilma, é uma mentira deslavada, mas é sempre assim que fazem. Praticam o contorcionismo verbal, distorcem os fatos em causa própria. Atacam os adversários com mentiras e se defendem também com mentiras.
P.S. Não deixem de ler o artigo.

domingo, 28 de abril de 2019

Sobre a demanda por autocrítica de Lula

Considero muito curiosa a tenaz demanda por autocrítica de Lula e do PT por parte de certos jornalistas, e as vezes, chego a me irritar diante desse tipo de pressão da mídia contra Lula. O que me faz indagar, o que leva uma pessoa a cobrar autocrítica de uma vítima da injustiça, e no entanto não cobrar nada dos seus algozes. Numa comparação um tanto exagerada, seria como espancar um pedestre, que acabou de sofrer um atropelamento lesivo na rua, e liberar o motorista atropelador. Mesmo depois da revelação de tantos documentos pelo Wikileaks, mostrando o envolvimento do Departamento de Justiça dos EUA, CIA, NSA, State Dept., etc. Do treinamento de tantos agentes públicos brasileiros e de outros países latino-americanos nos EUA, na preparação de um futuro Lawfare e guerra híbrida contra esses mesmos países. É sempre bom lembrar, que a estratégia agora mudou, nos anos 60 os agentes públicos, que recebiam treinamento nos EUA, como um pré-vestibular preparatório para futuros golpes de estado eram todos militares. Quem não se lembra da antiga Escola das Américas. Não é possível mais, que ainda se possa continuar agindo com tamanha ingenuidade em relação a certas questões geopolíticas, diante de tanta informação disponível. Será ingenuidade, burrice ou má-fé? O Brasil sofreu um ataque, que continua em curso, que através de parte do poder judiciário, ministério público e Congresso, teve uma presidente afastada sem crime de responsabilidade, teve quase todas as suas principais empreiteiras dizimadas. Edward Snowden revelou ao mundo em junho de 2013 num quarto de hotel em Hong Kong, a espionagem contra Dilma Roussef e contra a Petrobrás, e a partir daí, se viu todo o desdobramento, que essa espionagem causou ao país. Conforme Lula diz na entrevista dada ao El país na sexta 26/04, o golpe no Brasil não teria sido concluído sem a sua prisão. O objetivo do império sempre foi afastar o PT do poder, porque era o óbice contra o apetite deles pelo pré-sal brasileiro. Então para quê ficar na demanda por autocrítica de Lula ou do PT, quando os mesmos e o país, são vítimas do jogo político internacional, com a participação de setores internos, empresariais, midiáticos, políticos e judiciais evidentemente? É inacreditável assistir jornalistas pedindo autocrítica de Lula, como foi o caso da jornalista Mônica Bergamo na entrevista de sexta feira, com tanta coisa relevante a respeito do país, para ser perguntado. A demanda por autocrítica supõe atribuir ao acusado uma parcela de culpa na falsa acusação, de que é vítima e perseguido político, o que não deixa de ser uma ponta de maldade por parte de quem faz a pergunta. Imperdoável!

As ameaças contra o ensino de filosofia

O governo Bozzo ameaça acabar, de forma definitiva, com todos os cursos de graduação e licenciatura nas áreas de Filosofia e Ciências Sociais nas universidades públicas federais, justo no momento onde alguns personagens saindo das sombras da política, volta e meia, vem a público manifestar desapreço, e questionar sobre a importância de tais cursos. Sem querer ser paranoico, até parece uma coisa planejada. Alguns chegam a dizer, que esses cursos de Filosofia não servem para nada, não tem importância e, raciocinando pela lógica do mercado financeiro, não dão lucro para ninguém. Ora se é assim, que a filosofia não serve para nada, se não tem mais importância, então porque todos esses ataques e ameaças? Por que desejar por um fim, terminar, extinguir, acabar e destruir com os cursos de filosofia, e assim acabar com o ensino em definitivo? Se essas disciplinas sofrem tantos ataques é porque importam de alguma maneira, estão incomodando os poderosos de plantão, não é mesmo? Tornam-se, pelas suas especificidades e peculiaridades, uma espécie de arma adversa e do contra, como uma má consciência de algum pensamento único ou algum regime político sem pensamento, que tenta se impor pela força de mentiras, e está querendo se tornar hegemônico, ou quem sabe, na melhor da hipóteses, seja a velha luta de classes na teoria. Então, é claro e evidente, que o ensino de filosofia tem importância. O exercício da filosofia, proporcionada pelo seu ensino, ou seja, a prática do pensamento livre, sem medo e sem amarras; portanto, o exercício da reflexão, do por em questão situações dadas e fenômenos da realidade, acabam, como práticas, se tornando muito indesejáveis para certos governantes truculentos e autoritários. Governantes que não sabem e não querem jamais ter que lidar com o contraditório. Acontece, que não adianta impedir pela força quem professa determinada teoria filosófica, ou queimar certos livros, achando com isso, que agindo dessa forma, exterminarão por completo com uma teoria maldita e fora da ordem do momento político representado por algum tirano. Não adianta nada disso, porque não surtirá o menor efeito, como já foi visto inúmeras vezes na história. Certamente o surgimento de uma teoria filosófica, apenas espelha e expressa no plano teórico, uma visão cognitiva da própria realidade factual. Não é exterminando com o ensino de teorias e de seus tratados, ensaios e livros, que estará se livrando do problema, da pedrinha no calcanhar do déspota de plantão. Quando sabemos muito bem, que o problema, quando existente, encontra-se na própria realidade, que não se deseja mudar ou alterar, para continuar mantendo os mesmos privilégios seculares para poucos. E não se deseja mudar, porque a república ainda não é uma verdadeira 'res publica'.

segunda-feira, 22 de abril de 2019

Quem paga o pato?

Por mais incrível, que ainda possa parecer, existe por aí um tipo de apoiador de Bolsonaro, anti-petista até a medula, que ainda acredita que a corrupção foi inventada pelo Partido dos Trabalhadores (PT), sobretudo pela sua ala lulista. Então para eles todo petista lulista, porque fazem questão de estabelecer essa distinção, pelo ódio que devotam ao Lula e a todo aquele que lhe é próximo ou simpatizante, tem má formação de caráter, pode cometer a qualquer momento algum delito, e que portanto, não são confiáveis. Tal foi a forma como esses apoiadores do Bozzo tiveram a cabeça feita pelos teóricos, ideólogos, articuladores e formadores de opinião da onda chamada de criminalização da política, onde todo político é ladrão, principalmente se for do PT. Um chavão similar àquele outro que diz: "bandido bom é bandido morto". Durante toda a campanha do golpe contra Dilma, e mesmo depois, durante o governo Temer, e até mesmo durante a última campanha política eleitoral, essa ladainha da demonização do PT e criminalização da política foi amplamente repetida e disseminada pelas redes sociais e grande mídia 'ad nauseum'. Além disso, alguns desses apoiadores do Coizo, não sentem o menor constrangimento de ainda ostentar nos para-brisas dos carros um adesivo pró-Bolsonaro, mesmo depois de quatro meses de seu líder estar a fazer um governo pífio, que afunda a cada dia, e afunda junto o país e seu povo, com o aumento exponencial do desemprego, o aumento no número dos moradores sem-teto, e outras mazelas mais. Os apoiadores do Bozzo são incapazes de qualquer autocrítica desse estapafúrdio apoio político para um líder incapaz, incompetente, que demonstra não ter a menor capacidade de estar à frente do governo de um país da dimensão do Brasil, e quem sabe nem mesmo do condomínio do prédio onde mora. Parece que nada disso importa para esse tipo de apoiador fanatizado, já que prefere tudo na vida menos o Lula, o PT ou qualquer projeto político do chamado campo popular. Consideram que tudo, que saia do campo político da direita brasileira, isto é, conservador nos costumes e liberal na economia, é comunismo. Nada para a gentalha, ou seja, nada para o povão, é o lema favorito deles. Costumam dizer, que já estavam fartos de ver tantos pobres nos aeroportos, a comer com a boca aberta e malvestidos. Portanto, em sua maioria, esses apoiadores fazem parte de uma galera de torcedores políticos, que não se movem para o centro político em nenhuma hipótese, estão com Bolsonaro e não abrem, e não adianta ninguém argumentar ou chamar para o debate de ideias, se recusam a ouvir. Não estão abertos para nenhum debate, diálogo, conversa ou colóquio. Quando pensei em falar algo sobre essa gente, fiquei matutando sobre como nomeá-los. Sei que poderia chama-los por vários nomes, como por exemplo, coxinhas, paneleiros, conservadores, reacionários, direitistas, ultradireitistas, sectário de direita, e até mesmo, fascistas, por que não? Quem sabe até chamá-los de nazistas. Nada disso surtiria o menor efeito, receberiam como xingamento, que na pior hipótese devolveriam em forma de insulto. Enfim, fazer o que?

domingo, 31 de março de 2019

Memórias de tempos ditatoriais

Volta e meia me pegava perguntando, quando aquilo, aquele regime militar, aquele barulho de coturnos e botas , iria passar, iria acabar. Foram 21 anos, que parecia não terminar nunca. Foram 21 anos de escuridão, de trevas, de tempo ruim, de censura draconiana contra a imprensa e também contra toda a cultura nacional. Contra o cinema, lembro de quando finalmente consegui assistir Laranja Mecânica de Stanley Kubrick, depois de três anos de espera, com o filme aguardando liberação dos censores, para nossa surpresa, além de vários cortes em cenas importantes, o que deixava o filme sem sentido em certas horas, puseram também bolas/tarjas negras nos genitais dos atores, que apareciam nus em algumas cenas, o que tornava cômico o que não era para ser cômico. Sem falar em dezenas de outros filmes, que jamais conseguimos assistir. Como na época flertava um pouco com o teatro, procurava assistir quase tudo, não havia semana que não fosse ao teatro, e era duro, porque muitos diretores e dramaturgos, para fazer passar os seus textos pela censura, praticavam um verdadeiro malabarismo verbal, construindo metáforas sobre metáforas. O mesmo fenômeno também acontecia com os compositores da canção popular, a chamada MPB. Tínhamos de fazer um esforço extra, além da conta, de sempre buscar outros sentidos nas entrelinhas, no subtexto, no sentido do sentido. Quanto aos livros, era onde ficava a pior parte da estória, porque sabemos a importância da leitura, para qualquer jovem em formação, e não tinha escapatória, a censura era implacável. Livro com capa vermelha era recolhido assim que o livreiro o exibia nas vitrines das livrarias. Visando causar notícia e impacto midiático, os censores preferiam usar a estratégia de não visitar as editoras, a repressão da censura se dava na ponta, na distribuição, com isso causava um impacto maior, além do prejuízo financeiro no investimento. Se algum editor ousasse publicar um livro que tivesse no título a palavra “revolução”, iria se ver em maus lençóis. Não preciso dizer, que muita coisa boa e interessante deixou de ser publicada, e não me refiro apenas as obras de nítida conotação política. Só consegui finalmente ler textos marxistas em português depois do 25 de abril em Portugal, que com a revolução dos cravos, publicaram por lá muita coisa, e uma parte do material chegava aqui não sei como.  O ambiente dentro das universidades era o pior possível, primeiro porque não era permitido nenhuma atividade extracurricular, como por exemplo: grupo de teatro universitário, fazer jornais ou revistas, e muito menos cineclube. Os centros acadêmicos tinham sido todos fechados, foram interditados pela ditadura, era terminantemente proibido fazer política universitária. Segundo porque o nível dos mestres, em geral, era muito baixo, já que os melhores professores tinham sido expulsos, banidos, presos, ou estavam no exílio, quando não desaparecidos e mortos. Nesse particular, o pior cenário se dava na área de humanidades, lembro quando estudava na UERJ, tomei conhecimento do caso de uma turma de Ciências Sociais da UFRJ, que de 30 alunos, só sobrou um, expulsos quase todos portanto, no auge do terror de Estado, logo após o AI-5 e do famigerado Decreto-Lei 477. Como o ensino ministrado era completamente insatisfatório, os alunos com condições um pouco melhor, procuravam pagar aulas extras particulares àqueles professores, que haviam sido expulsos, fora do ambiente acadêmico claro. Foi assim, que fiz algumas cadeiras de filosofia com o saudoso mestre Roland Corbisier nos anos de 1975 e 1976. Para concluir, é preciso falar um pouco sobre os alunos infiltrados, ou seja, os agentes do serviço de informação, em geral militares, que eram postos entre os estudantes, com a missão de os espionar, descobrir e denunciar, para os órgãos competentes, possíveis esquerdistas. Eu mesmo tive o desprazer de conviver em minha classe na graduação de filosofia, com a presença de um capitão do exército desde o segundo ano, que inclusive chegou a ser promovido a major durante o curso, e chegou a se graduar. Fato como esse, gerava um desagradável clima de desconfiança e paranoia entre o alunado, porque em geral os estudantes não tinham como saber, quem de fato era o espião infiltrado. Foi um horror o regime de terror!

domingo, 24 de fevereiro de 2019

Sobre o irracionalismo contemporâneo




Para quem se pega, diante da atual situação política, com todo o retrocesso não liberalizante, completamente atordoado com toda a onda da chamada pós-verdade, que na verdade é a institucionalização da mentira, com todas as ‘fake news’ e congêneres. Além do que, e mais grave ainda, se avista na linha do horizonte, e por todo o canto uma absurda onda irracionalista e anti-intelectual, onde se despreza completamente todos os caminhos, que poderiam levar a algum esclarecimento racional de algum fenômeno através da lógica e da razão, e ao contrário é apresentado infinitas distorções linguísticas e lógicas. E de forma clara, não mão grande, hoje já não se precisa mais utilizar-se do expediente do eufemismo e do sofisma, pratica-se o estelionato e o vilipêndio às claras e à luz do dia, com o apoio da grande imprensa, nada escandaliza mais essa gente. Diante de todo esse quadro tenebroso da realidade política, cultural e ideológica do país, quem se sente afetado e sofre mais com tudo isso, quase entrando em desespero se pergunta: "o que está a acontecer?", já que não é esse mais o mundo onde viveu até então, haverá alguma saída, uma alternativa? Ou então só resta mesmo o exílio? Para onde ir? Calma! Não se exaspere, apesar de cenário tão desastroso ser muito semelhante com a realidade de algum canto qualquer desse planeta maluco em pleno século XXI, na verdade tudo isso se deu durante e após a crise de 1929, como aponta o excelente artigo do escritor alemão Robert Kurz, e se manifestou em lugares como Berlim, Nova York e até em Moscou. Faz parte de um determinado sistema econômico, que se torna extremamente irracionalista, em momentos de crise, mas não apenas nas crises, que o próprio sistema produz. Como apontado por Robert Kurz, revela que aconteceu até mesmo durante o estalinismo,  porque Stalin jamais abandonou o Capital, e implantou o fordismo em suas linhas de produção, em busca de um exagerado aumento da produção, numa economia ainda muito atrasada na ocasião em relação aos países de ponta da Europa ocidental e os EUA. Sempre existe a possibilidade de reversão, apesar do enorme quadro sombrio, que paira acima de nossas cabeças. Confiram aqui

sábado, 26 de janeiro de 2019

Ainda resta muito intolerância sexista na esquerda

O presente episódio do exílio voluntário de Jean Wyllys, ensejou uma série de comentários, críticas e análises da parte de muita gente, sobretudo de diferentes setores da esquerda, com veementes apoios e também muitas discordâncias contra a atitude tomada pelo deputado federal eleito pelo Psol do Rio. Não vou entrar no mérito de nenhuma dessas críticas, apenas quero pontuar um aspecto, que geralmente passa batido, quando a luta de narrativa entre a esquerda e a direita está pegando fogo como agora. Considero existir ainda um ranço heterossexista muito forte e, não diria homofóbico, mas pelo menos anti-gay, no universo da militância de esquerda, claro que não se compara ao universo da direita, porque a direita é grotesca, troglodita, ela quer eliminar, matar, exterminar a população Lgbt. A intolerância na esquerda é mais sutil, mais civilizada, é menos selvagem, mas mesmo assim ainda existe a presença  de grande intolerância no seio dela, e que se manifesta de várias maneiras. Antes de entrar propriamente nessa questão, é preciso considerar, não para justificar, porque nessa altura do campeonato quem ainda se comporta como tal, já deveria ter se tocado, o século 21 já caminhando para a sua terceira década, e gente que se considera avançado, revolucionário em muitas questões, não tomou consciência de seus atos. Claro, que quando se conversa com alguns, na teoria concordam com tudo, que é preciso mais direitos para a população LGBT, etc., mas no dia a dia, quando precisam responder na prática, não procedem da mesma forma com o que costumam dizer nos bastidores e nos corredores. E como se manifesta essa intolerância, na forma como evitam conviver com os amigos assumidamente gay no dia a dia, presencialmente. Fora disso, até mantém a relação boa virtualmente, com uma ou outra curtida de vez em quando, em algo compartilhado, que concordam. São cordiais quando encontram o amigo gay, mas jamais o convidam para jantar em suas casas, há uma reserva e uma distância, talvez a presença do amigo gay não seja uma coisa boa, para a visão dos filhos adolescentes, que estão crescendo. Claro, que estou me referindo a uma camada de esquerda classe média, ou seja, a pequena burguesia na linguagem marxista. Conheço alguns que são frontalmente contra levantar a discussão pela questão identitária e de gênero, luta nem pensar, segundo eles existem questões mais prioritárias na luta política e social. Sei que refletem em parte, e não poderia ser diferente, a sociedade em que vivem, mas poderiam fazer um esforço maior, se desejam realmente ampliar a própria consciência, em busca de combater os preconceitos e toda essa intolerância, que alguns ainda cultivam de forma clara, aparentemente inconsciente. É lamentável, mas sei que muitos deles ainda permanecem extremamente caretas, não foram capazes de acompanhar o avanço do mundo e se esclarecerem um pouco mais, são gente da ordem e acostumados a viver dentro de determinado padrão socialmente mais aceitável, transgressão apenas na teoria. O que acaba se refletindo na visível insensibilidade deles em relação ao grau de vulnerabilidade daquela população, de todos os riscos que correm, na ausência de garantias mínimas para a sobrevivência com mais dignidade. Tudo isso me lembra agora uma pergunta do médico paulista Drauzio Varella, feita há algum tempo atrás, que indagava: "faz diferença para você se o seu vizinho dorme com outro homem?" Se faz é bom se ligar.