terça-feira, 21 de dezembro de 2010

PORQUE SOU A FAVOR DO BOLSA FAMILIA


É impressionante, como ainda tem gente, que se deixa levar pela propaganda negativa contra o programa Bolsa Família. Gente que se deixa servir, como instrumento da propaganda negativa, que é manipulada por setores organizados do "status quo" da direita política, que se utiliza de e-mails apócrifos, para fazer chegar aos incautos, a toda massa de manobra, de forma jocosa ou de piada, e de tal forma é realizada a propaganda, que leva a manada a achá-los "engraçados". Dessa forma, acabam por se perpetuar, de maneira quase inconsciente, os piores preconceitos contra os mais pobres. Como para fazer circular a mensagem maliciosa, precisam de gente conectada, é claro, que o alvo preferido são as classes médias, a pequena burguesia para Marx. Claro, para poder contar com a sua colaboração de forma gratuita e em rede, e assim continuar disseminando o ódio e todo tipo de preconceito contra os mais pobres. Infelizmente, quem se deixa manipular dessa maneira, não se dá conta, ser essa a pior mesquinharia, o que existe de pior em nossas classes médias, que ainda é conhecida na Europa, como a classe média mais mesquinha e conservadora do planeta, haja vista a maneira como fazem política e escolhem os seus representantes nos pleitos eleitorais. Passei um tempo na Europa nos anos oitenta, a maior parte do tempo em Londres, e durante esse tempo as notícias que chegavam do Brasil eram as piores possíveis, um horror, só exibiam nas TVs e jornais locais: favelas, miséria e outras mazelas. Hoje dizem, melhorou um pouco a imagem do Brasil, mas naquela época, lembro de amigos franceses e italianos a contar, que quando conheciam brasileiros à passeio, em geral de classe média, quando cobravam sobre a situação social do país, sempre os brasileiros à passeio davam de ombros, não estavam nem aí, não ligavam nem se importavam nem um pouco, tamanha era a insensibilidade social. Tal insensibilidade continua nos dias atuais, se assim não fosse, não teríamos mais a imensa desigualdade e a pobreza, que se reflete em lugares como nos complexos do Alemão, da Penha e da Maré no Rio, e em outros similares nos grandes centros urbanos espalhados pelo país, que a ganância e a mesquinharia dos que mais tem, não deixa haver melhor distribuição da riqueza e da renda, que cada vez mais se concentra em poucas mãos. Uma herança ideológica da época da escravidão, que se perpetuou na república, e ainda permanece na mentalidade de certa elite. Onde o valor máximo de referência é o patrimônio individual acumulado, e não a justiça social com redução da desigualdade. Alguns se queixam da violência urbana, dos assaltos, como se não fossem os mais ricos, responsáveis e cúmplices pela situação social conflitiva e a absurda desigualdade, e de forma enviesada atribuem, como razão da violência, o consumo compulsivo dos usuários de drogas ilícitas, desejam assim contabilizar a violência urbana apenas na conta da questão das drogas, como certa direita raivosa e preconceituosa quer fazer crer. Prefiro tributar tudo de perverso, que ainda continua a nos macular, a toda uma narrativa conservadora, que justifica, legitima e naturaliza a manutenção de absurdos privilégios ainda existentes, às opções políticas e ideológicas equivocadas de parte da elite social brasileira. O valor que o Estado brasileiro gasta com a assistência aos mais pobres no programa Bolsa Família, programa que beneficia em sua maior parte, uma população majoritariamente composta por negros e seus descendentes, com custo que não chega a um décimo do valor dado aos rentistas, aplicadores em papéis e títulos do tesouro nacional, não tenho o número preciso, mas o valor contabilizado no mês passado chegava perto de 200 bilhões de reais anuais, apenas os ganhos com os juros da taxa Selic, da chamada dívida pública. Portanto uma montanha de dinheiro transferida aos mais ricos da sociedade brasileira, gerando mais desigualdade e concentração, e contra essa situação nenhuma linha na grande imprensa. De forma que a dívida social que o estado brasileiro DEVE aos afrodescendentes, por todo o tratamento desumano e cruel, que receberam ao longo de toda a colonização, e que depois continuou no regime republicano, não é um mísero Bolsa Família que remunera ou recompensa. Na verdade o valor do bolsa família é uma miséria perto do que eles mereceriam, se fosse possível fazer justiça social para valer. Imagine se os afrodescendentes se organizassem a ponto de reivindicar num tribunal internacional os seus direitos, requeressem indenização e ressarcimento por tudo que sofreram, que valor seria? Não pretendo mudar a concepção de ninguém com respeito a esse e a outros assuntos, cada um pensa como quer. Mas quem de boa-fé defende deliberadamente a injustiça, os preconceitos e privilégios? Se o faz desconheço a razão, mas não deve ser por convicção, só por isso e apenas por isso, é que continuo a insistir nesse assunto. Se for dessa forma, ainda não se deu conta, que está prestando serviço ideológico às classes mais ricas, classes que tem ódio aos mais pobres, ódio de classe, contra quem na verdade sempre pagou a conta dos seus privilégios, não apenas pelo preconceito sofrido, que não é pouco, mas principalmente, pelos efeitos perversos dos erros, malfeitos, desvios e roubos praticados pela elite política e econômica. E o mais triste nessa história, e que não começou agora, é que o comportamento antipopular das classes médias, procurando estar sempre ao lado dos espoliadores, já vem de longa data e de forma recorrente. Já acontecia, por exemplo, durante o governo Vargas no início dos anos 50, quando alinharam-se à Carlos Lacerda e a toda campanha midiática do chamado "mar de lama", através de cadeia de rádio e de quase todos os jornais da época, que atacavam e criticavam ferozmente o governo e as suas políticas públicas. Como foi o caso dos ataques desqualificativos, contra os saudosos postos de saúde “lactários”, que ofereciam acompanhamento médico durante o pré-natal às mães de baixa renda, e depois de nascidas, as crianças recebiam acompanhamento médico, sopinhas e leite até quando atingissem a idade de dois anos. Foi dessa maneira, que dezenas de milhares crianças pobres puderam escapar da morte, da debilidade física permanente ou da indigência definitiva, porque é justamente até atingir os dois anos, que uma criança é mais sensível e vulnerável à carência de nutrientes. No entanto os jornais da época, prestando serviço aos seus senhores, atacavam com críticas demonizantes o programa Lactário do velho, acusavam de assistencialismo desnecessário, esmola com fins eleitorais, da mesma forma como fazem hoje contra o bolsa família. Aparentemente parece insensibilidade, e é, mas no fundo, o que falta a essa gente, é falta de grandeza, como são mesquinhos, seres amesquinhados. Portanto, a crueldade, a espoliação e a humilhação não começou agora. Dizia atrás, que ao repassar e-mail fazendo propaganda negativa do bolsa família, quem assim procede, está a prestar serviço a uma elite raivosa e preconceituosa, que a meu juízo precisa ser denunciada e desmascarada, a todo momento que manifeste sua pauta anti-social. Porque estamos em meio a uma luta de classes, que se dá, além da forma efetiva e real na economia, que acontece de forma perene no cotidiano brasileiro, a luta de classes se dá também no plano ideológico, que Althusser gosta de chamar, "luta de classe teórica", porque a prática anti-social precisa de uma narrativa justificadora e legitimadora no campo das ideias, para poder parecer uma coisa normal, natural. Daí fica claro como uma ideologia justifica, legitima e naturaliza a injustiça social perpetrada pelos mais ricos contra os mais pobres brasileiros ao longo do tempo de nossa história. O discurso ideológico legitimador das práticas injustas de exploração social, sobretudo no trabalho, na péssima remuneração do valor do trabalho, dissemina e espalha uma narrativa negativa contra o programa bolsa família através de todas as mídias, inclusive a utilizada no repasse da mensagem viral.



Veja como as classes médias se prestam, de forma quase inconsciente, a prestar um serviço sujo e de serem usadas como massa de manobra, de servir como instrumento, ao defender valores sociais e econômicos, que só interessam às elites econômicas conservadoras, na justificação do seu longo e duradouro domínio político e econômico do país em benefício próprio. É bom ter clareza de que lado quer aparecer na foto nesse século 21, que já está quase entrando em sua segunda década. E já está passando da hora de acabar de uma vez por todas, com a herança ideológica da escravidão, para caminhar firmes rumo à democracia, que realmente mereça o nome de democracia.

Link conexo:
Porque eles querem tomar o poder

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Culpabilizar a classe média por ser usuária é uma bobagem

ALGUNS COMENTÁRIOS SOBRE UMA CARTA QUE CIRCULOU NA INTERNET INTITULADA: "EU AJUDEI A DESTRUIR O RIO", de autoria de um jornalista de Brasília de nome: Sylvio Guedes

Mais uma falácia que se repete ad infinitum, e de tanto ser repetida, se não tomarmos cuidado, corre o risco de tornar-se, como tantas outras, VERDADE. Não é verdade, que o tráfico de drogas supõe as armas e a violência, repito não é verdade. E por quê? Em primeiro lugar o Rio não é, dentre outras metrópoles com as mesmas dimensões populacionais e importância política e econômica, o lugar onde se consuma mais drogas ilícitas. Se for pensar em cidades como Nova York, Los Angeles, Londres e outras do mesmo porte, o consumo é muito maior que no Rio. Todo mundo sabe disso, e nem assim, lá se tem a violência, o armamento pesado, que há no Rio. Eu mesmo morei quase dois anos em Londres nos anos oitenta, conheci alguns pequenos traficantes de drogas(Drug's dealers), que eram apenas comerciantes ilícitos, nada mais do que isso, que não oferecia o menor perigo, salvo o risco de passar a perna, enganar e trapacear, como existe aos montes em Amsterdam na Holanda, com os incautos e inexperientes, principalmente estrangeiros achando que chegaram ao paraíso das drogas e que tudo vai dar certo, e ai acabam comprando droga falsa.

Agora violência com tiro de fuzil, que eu saiba, só em outras latitudes, sobretudo aqui pelos trópicos latinos, Colômbia, Brasil e México, onde a situação de violência está bem pior do que no Rio, segundo se costuma dizer atualmente. E por quê? Qual a conexão existente entre uma coisa e outra? Será que existe conexão? Qual a origem dessas sofisticadas armas de guerra, exibidas de forma afrontosa no Rio, pelos soldados do tráfico em algumas comunidades, que a televisão exibe de vez em quando, porque dá Ibope, haja vista a audiência do filme Tropa de Elite Dois? Qual país fabrica as principais armas, as mais potentes aprisionadas e tomadas dos criminosos?
O comércio de drogas não vai acabar nunca, mesmo quando ele se tornar legal, porque é, e sempre foi assim no mundo inteiro. A humanidade nunca vai parar de usar substâncias, que possam vir alterar o seu estado de normalidade, é romantismo pensar o contrário, baseado em crenças moralistas ou qualquer outra. 
Agora, nunca é demais questionar. A violência pode ser contida, isso é possível? Como? É necessário fazer uma reflexão, pensar um pouco a respeito. Por que em Nova York um traficante vende o seu haxixe sem necessariamente precisar de AR-15? Talvez tenhamos os elementos corretos para fechar a equação, e não ficar limitado a repetir falácias, do tipo moralista e cristão, porque culpabilizar as classes médias por serem usuárias, tem cunho cristão. De onde vem a noção de culpa? Vejam e leiam o que disse Nietzsche, a esse respeito, em suas obras, sobretudo na Genealogia da Moral.
E depois essa crítica dirigida apenas contra as classes médias, como se fossem as únicas consumidoras é de uma ingenuidade, isso para ser elegante, e não ter que dizer: que é uma tremenda burrice ou estupidez. Portanto vamos acordar, porque o buraco é muito mais, ia dizer: "em baixo", mas acho que é melhor dizer: "no alto".

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Marcas indeléveis

Como o contexto cultural condiciona as nossas escolhas
A arrumação da frase no subtítulo, já implica e supõe uma hipótese: a de que não somos suficientemente livres, a ponto de conseguir ficar imune e não sujeito a tudo o que aconteça a nossa volta. Não se tem como escapar dessa sina, mesmo que queiramos muito e lutemos por isso. Porque somos parte de um “melting pot” cultural, racial, político, econômico, ideológico, filosófico e outros, e que por conta disso tudo estamos imersos num oceano cultural. Quando falamos do Brasil da segunda metade da década de sessenta e começo dos setenta, não se pode deixar de falar na terrível experiência, que foi viver o período da ditadura militar, e que teve como consequência: "a perda da liberdade" de forma efetiva e real. Viver a experiência da perda de direitos políticos e de cidadania, como a privação do direito de organização, por exemplo, proporcionados por regimes políticos de exceção, regimes fora da lei, como foi o caso da ditadura militar brasileira daquele período, já é mais do que suficiente para deixar marcas indeléveis, marcas que ficarão por muito tempo, talvez para sempre e de forma definitiva, pelo menos enquanto vivermos. E marcas, que atingiram não apenas, aqueles que sofreram as sanções criminais, e em consequência torturas na prisão. Desses nem se fala, porque não se trata apenas de marcas, e sim de sequelas muito mais graves e severas. Não pretendo tratar agora da questão do preso político, pois esse não é o foco, que se quer abordar no presente texto, nem é a marca do torturado, que quero discutir. Quero trazer para a discussão, o problema das marcas que condicionaram e influenciaram a vida de determinada geração de brasileiros de forma definitiva, influindo nas escolhas, que acabaram por determinar o rumo a seguir na vida e todo o futuro. No caso brasileiro, a perda da liberdade, ocorrida pelos atos que levaram a perda das garantias legais asseguradas pela constituição de 1946, já coloca de imediato a questão da liberdade na linha do horizonte de toda uma geração. Porque se configura como a presença de algo ausente, de tão escandalosamente ausente, que acaba por se fazer manifestar. Por estarmos privados de tantos direitos civis, antes amparados pela Carta Magna, agora a liberdade se impunha a todos nós, e o que é hilário, mesmo à revelia dos quartéis. Têm-se, portanto a demanda e a presença da liberdade, em sonhos, anseios, corações, idéias, enfim, a liberdade está presente nos corações e mentes de várias formas, dimensões e perspectivas. Esse é um aspecto da presença da liberdade nas mentes de toda uma geração num determinado período do tempo, no daquele período terrível foi essa experiência específica e cheia de especificidades de uma ditadura. E para concluir essa primeira parte, que trata da chegada da liberdade através da esfera da violência imposta, e violência pela opressão de um determinado regime político, e que se caracteriza pela relação entre liberdade e violência. Agora passemos a outro aspecto da questão da presença da liberdade nos corações e mentes daquela mesma geração, no caso não mais pelo prisma da experiência da violência imposta mencionada acima. Agora a motivação, tem outra vertente e origem. Trata-se da questão cultural dominante, ou melhor, da superestrutura ideológica, para usar uma expressão da metáfora marxista. E depois de passados esses anos todos, e quanto mais o tempo passa, mais se têm o privilégio de poder olhar todo aquele período com algum distanciamento, o que facilita bastante, possibilita inclusive poder enxergar melhor e ampliar a compreensão de porque aquilo tudo se deu, e de como se deu. Como é sabido, aqueles anos fizeram parte de um período da história do mundo, considerado muito conturbado para os conservadores, e para onde convergiram ao mesmo tempo várias demandas, que estavam reprimidas há muito tempo. Era a questão da repressão sexual, da liberação dos costumes, do preconceito contra os homossexuais, da opressão contra a mulher, o chamado sexo frágil, do problema racial contra os afro-descendentes, e da luta pelo boicote ao serviço militar, ambos nos EUA, que provocou várias deserções, inclusive de celebridades, para fugir da obrigação de ter que arriscar a vida na guerra do Vietnam. Enfim, problemas que se transformaram em lutas reivindicantes, que buscavam ampliar os direitos civis para minorias. Portanto mais uma vez encontramos a noção de liberdade na linha de frente da luta política, e como uma das principais bandeiras, dessa vez por outras razões e motivos, diferente daquilo, que se fazia internamente, na luta contra a ditadura militar. Porque nesse caso, a liberdade não se impõe mais apenas pela violência, como aconteceu durante a ditadura, agora a liberdade se impõe, chega até as mentes, pelo condicionamento ideológico através do caldo cultural dominante da época. Repetindo, apenas para reforçar, num momento, através da esfera de experiência da política interna em âmbito nacional, a liberdade entra na linha do horizonte determinada em “última instância” pela VIOLÊNCIA; em seguida, e por razões diferentes, porque a esfera de influência tem um âmbito internacional, a necessidade de mais liberdade se dá MAIS pela força da IDEOLOGIA, isto é, através da cultura ideológica da luta política. E assim, pelo que acaba de ser exposto, fica claro as duas visões a respeito da presença da noção de liberdade entre nós no período estudado, é bom lembrar, que utilizei a noção de "determinação em última instância" do filósofo Louis Althusser, para evitar que caíssemos num determinismo mecanicista e fácil. Em seguida, vamos tentar compreender outras formas e manifestações da presença da liberdade, que se deu também de forma proeminente através de outras esferas de influência. A liberdade se introduzia de outra forma, se apresentava por outro viés, que chamaria de terceira esfera, ou esfera "mais" filosófica, através das suas manifestações poéticas, literárias e filosóficas, ainda ideológicas por um lado, mas sendo agora, sobretudo morais e éticas, como, por exemplo, a questão dos valores. Para iniciar a terceira parte ou esfera, todos sabem a força que teve a expressão cultural da "beat generation' nos EUA, com Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William Bourroughs e muitos outros, como foi o caso do psicólogo e professor Timothy Leary, que não era propriamente dito um "beat", mas que acabou fazendo parte do movimento de libertação da época, com a pregação favorável às experiências com LSD na universidade de Harvard, onde procurava levar os seus alunos e adeptos do movimento, a alcançar estados alterados de consciência, buscando ampliar a compreensão, autoconhecimento e libertação da massacrante luta diária pela sobrevivência de uma sociedade de consumo de massa. Nunca é demais repetir como esse grupo de poetas, escritores, ensaístas e artistas em geral influíram fortemente no movimento hippie dos sessenta. A estratégica fórmula do “turn in” & “drop out”, ou seja, primeiro se liga e depois cai fora. O que significa literalmente escapar do sistema social padrão, através de uma ruptura radical com algo que não interessa mais, que se rejeita de forma total e absoluta. E assim, mais uma vez tem-se a liberdade na linha do horizonte. E por último, não se pode tratar da questão de demanda por mais liberdade sem falar em Sartre e Camus, que na França do pós-guerra faziam parte da grande agitação crítica e filosófica em prol da liberdade, que vai desaguar no existencialismo francês. Existencialismo, que não se reduzia apenas a uma filosofia filosofada e teórica, mas também uma concepção de vida e de mundo, que se constituía num movimento cultural, que envolvia além da filosofia propriamente dita, também moda, a música com Juliette Gréco e o Jazz feito em Paris na época, a cena teatral e cinematográfica, com o teatro “National Populaire” e a “nouvelle vague”, o cahier du cinema, além da literatura do "nouveau Roman", etc. Para a geração de hoje, é muito difícil imaginar a força da presença filosófica dessa cultura, principalmente de Jean Paul Sartre no Brasil daquela época. Por essas bandas só se falava em existencialismo, mesmo para quem não entendia nada do assunto e do seu significado. Mas tal era a importância dada à questão do existencialismo, que quase todo mundo repetia, e era um verdadeiro turbilhão na opinião pública. Vivia-se sob o signo da liberdade sartriana, de que todo mundo é livre mesmo atrás das grades, quem não se lembra dessa máxima? Portanto, para concluir, e por tudo o que foi mostrado até aqui, não se tinha mesmo como escapar da forte influência da demanda por mais liberdade, como algo que se impunha à vontade, e por diferentes esferas e dimensões, fossem elas políticas, econômicas, ideológicas, científicas ou filosóficas. Por essa razão, nunca é demais repetir, como isso se dá ou se deu no caso brasileiro. Vimos que a questão da liberdade se impõe como necessidade, quando a sua ausência atinge a todos, pela força do autoritarismo e da violência coercitiva, através de uma ditadura política. Vimos, por outro lado, quando essa demanda por liberdade, emerge através de grupos segregados da sociedade, que lutam por mais direitos civis através de ações afirmativas, pela ampliação do espaço já conquistado e da própria luta política e efetiva, que acaba se estendendo e atingindo outros segmentos da sociedade. Vimos também, quando toda a demanda por ampliação de liberdade chega à esfera das idéias e atinge os intelectuais, trazendo para a arena de luta ideológica, artistas, literatos e filósofos. Constituindo-se naquilo, que se costuma chamar de luta de classes na teoria. E com esse resumo final, damos por concluído o presente painel da questão da liberdade e do seu efeito entre nós no período apontado, embora reconheça, que tal como o amor, essa é uma questão para a vida toda.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O Iconoclasta



O iconoclasta inconsequente é quase um pleonasmo.
Por que não é prudente ser iconoclasta, como éramos, ou desejávamos ser, de forma quase absoluta, na adolescência? Por que querer quebrar as regras, pelo simples prazer de quebrá-las? É possível, que em determinadas situações, seja impossível não quebrar algumas. Mas é um acidente, quando isso acontece, é uma exceção, não a regra. Do outro lado, a regra básica é: ter a intenção, o objetivo e o desejo de querer quebrar com todas as regras, não importam quais, sem precisar de razão alguma. No afã de querer ser consequente, com a última regra, ou seja: a regra de precisar quebrar com todas as regras. Quase sem perceber, sem nos darmos conta, pois não havia consciência da situação: DECRETAMOS a sentença de morte da regra básica. E dessa maneira, toda a sequência de quebrar com todas as regras de forma infinita e ininterrupta, é subitamente interrompida. E, portanto, nos despedimos e saímos de cena literal e efetivamente, com a quebra da derradeira regra de precisar quebrar regras, da necessidade, que é a regra de quebrar com a regra de querer quebrar com todas as regras.

sábado, 4 de dezembro de 2010

OS IMPERDOÁVEIS


A intolerância vinda de onde não se espera

É curioso observar, como certas pessoas, que fazem questão de mostrar, que são gente de bem, porque são bem posicionadas e inseridas na vida social de sua área de influência e, portanto por isso mesmo, consideradas influentes. Gente que faz questão de exibir, que se mantêm atualizada em várias matérias e assuntos, como por exemplo, seguem com ardente paixão as filosofias da moda, ou o movimento estético-artístico mais de vanguarda, e também as últimas novidades em matéria de psicoterapia, e por aí afora. Com a necessidade de precisar mostrar e exibir que são bacanas, que são os tais, que estão por cima da carne seca. Enfim, é gente, que acredita ainda piamente, que a propaganda é a alma do negócio, e leva a autopromoção e o marketing de si mesmo às últimas consequências. Não preciso dizer, que vistos assim de fora, por um observador neutro, essas pessoas poderiam ser consideradas como sendo muito bem sucedidas, pessoas de sucesso. Além de todos esses atributos mencionados, poder-se-ia acrescentar ainda, que consideram-se também revolucionários, não mais na política, claro, porque hoje em dia, ser revolucionário na política, está fora de moda. Mas revolucionários nos costumes, que é o que importa hoje, segundo os próprios. Pois consideram, que é preciso, que os mais ousados efetivem a sua emergência.
Em termos filosóficos, não acreditam mais em verdades de nenhuma espécie, pois o conhecimento é relativo, já que a realidade é efêmera e fragmentada, ou talvez líquida, o que devem ter descoberto lendo algum filósofo de plantão da última moda. Para eles não tem mais nenhum sentido falar em sistema de pensamento, ou sobre o todo social, a noção de totalidade é uma falácia simplista, uma abstração, faz parte da velha metafísica. Pois bem, caso façamos um esforço imaginativo, para materializar alguém com o perfil acima descrito, de imediato consideramos, que é o máximo essa criatura, que é fácil lidar com alguém assim perfilado. Pessoas dessa estirpe devem ser bacanas, tolerantes, que jamais julgam os outros pela aparência, já que posso ser e não ser ao mesmo tempo um monte de coisas. Portanto estou a salvo, com toda a minha esquisitice, do implacável julgamento dos meus pares, pelo menos por parte daqueles considerados modernos e bacanas. Mas infelizmente não é dessa maneira, que as coisas ocorrem e fluem socialmente. Por mais paradoxal, que possa parecer. Justamente as pessoas, que se acham modernas na teoria, são as que têm demonstrado serem as mais intolerantes com o diferente na prática. O fora do contexto, o inadequado, o louco, o desajustado, o imigrante, em suma: o outro, ou qualquer pessoa fora do padrão estabelecido, que aparentemente, pelo fato de apresentar-se de forma diversa, é o candidato preferencial para receber um carimbo, um crivo social, e ser vista como algo, uma coisa, já que dizem: "Olhem! Vejam só o que ele é!". Como se o ser dessa pessoa tivesse se reduzido a apenas um clichê. Ou pérolas do tipo: "Ora, já que alguém pensa dessa forma, ela não me interessa mais". Mostrando dessa maneira a dificuldade em lidar com o contraditório. Daí que, quando pessoas que se consideram modernas, e vemos depois no dia a dia, não serem tão modernas assim, justamente porque eram as últimas de quem se fosse esperar serem tão intolerantes, e que viessem na prática a reforçar preconceitos de forma tão veemente. Pois é uma enorme incoerência, confessarem o tempo todo, que não acreditam em nada considerado definitivo, pois não creem em verdades, pelo menos na teoria, já que se dizem céticos; e que, diante de um igual, outro ser humano qualquer, que por acaso apresente algum sinal, por menor que seja, que não esteja de acordo, em sintonia ou conformidade, com o ideal imaginário da pseudo modernidade, mais que de imediato, decide-se colocar no diferente um carimbo denunciante, um selo ou uma marca de Caim. Não literalmente, como faziam os nazistas durante a segunda guerra, pondo a estrela de Davi nos judeus, ou o triângulo rosa nos gays. Para em seguida, posto esse carimbo simbólico, poder julgar, controlar, condenar, aplicar sanções com todas as punições cabíveis, e enfim definitivamente descartá-lo para todo o sempre. Eles são imperdoáveis?

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Nietzsche e a totalidade



Acho que consegui entender o que se queria dizer, quando refere-se à filosofia de Nietzsche, como tendo uma forma própria de "pensamento". E você não está errado. E como isso se dá? É preciso lembrar, que Nietzsche por formação, vivia no âmbito das palavras, nos meandros dos termos, vocábulos, conceitos e o uso que era feito deles, pois era filólogo de formação. Trabalhava os conceitos no âmbito da linguagem, daí a procura da origem lá atrás dos tempos, do significado de um termo qualquer, movimento esse, que ele depois vai chamar de genealogia, e que mais tarde Foucault vai apelidar de arqueologia dos saberes e das palavras. Buscando o(s) significado(s) original daquele termo, na origem de tudo, lá no começo do uso do termo, fica mais fácil tentar compreendê-los melhor nos dias atuais, como também fica-se com mais instrumentos para contestá-los e desconstruí-los. Caso seja esse o interesse da conjuntura, por “n” razões, que poderá ser política, moral, ideológica, teórica, luta de classes, etc. Portanto essa é a vertente de Nietzsche, é nessa esfera, a esfera da linguagem, nesse mundinho, nesse pequeno universo linguístico, antes mesmo de existir Saussure, é onde atua o nosso personagem e autor de renome. Por outro lado, as filosofias chamadas tradicionais, as filosofias sistêmicas, que atuam também, mas não apenas no campo limitado da linguagem, pois são ontológicas “par excellence”, porque dedicam-se ao estudo do ser e do mundo enquanto ser, sempre na perspectiva da TOTALIDADE. E o que significa isso? Mesmo quando trata de um fenômeno particular, o entende e compreende como parte de um todo, é a visão do particular na perspectiva da totalidade. A totalidade sistêmica está, no caso das filosofias tradicionais e ontológicas, sempre no horizonte e no presente de todas elas. É o pano de fundo desse segundo tipo de filosofia. Logo é um cenário de reflexão e pensamento completamente diferente da perspectiva nietzschiana. Se formos estudar a modernidade contemporânea, na esfera filosófica, sobretudo expressa e impressa em língua francesa, devido a forte influência do instrumental do modelo linguístico saussuriano, Nietzsche tem um enorme prestígio, e considerado contemporâneo e atual. Exatamente por essa razão da proximidade com o modelo padrão linguístico de análise. Agora o uso que é feito de Nietzsche, por diferentes autores contemporâneos, varia muito de autor pra autor, cada qual puxa a brasa para a sua sardinha, há todo o tipo de utilização de Nietzsche, que fica muito distorcido algumas vezes, mas tudo isso são outros quinhentos réis. Não sei se ficou claro, esse ligeiro alinhavo panorâmico, que em linhas gerais, tentei traçar dos dois modelos de pensamento, pelo menos, no que é específico e distinto, em ambos os modelos de pensamento, para quem sabe um aprofundamento maior no futuro próximo.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O mesmo personagem em papéis diferentes



A cabeça do soldado das forças armadas, saindo de um blindado, com um capacete camuflado. Trata-se de homem jovem e negro. E o que mais me chamou a atenção, foi o seu olhar, uma mistura de medo e apreensão, com o medo dominando. O curioso, é que se puséssemos, com um toque de mouse, o rosto dele no corpo de um combatente traficante, dos muitos que não faltaram na mídia durante toda a semana, não sei se mudaria alguma coisa. Ambos negros, teríamos tanto lá como cá, representantes saídos da mesma classe social, do mesmo meio social e racial, e porque não dizer cultural. Não sei por que, mas de imediato veio-me logo à mente, o que poderia estar a se passar pela sua mente naquele exato momento. Qual deveria ser o seu nível de consciência a respeito de toda a situação vivenciada? Como estaria se sentindo? Saberia do seu papel naquele minifúndio? É difícil supor uma resposta única para qualquer uma das perguntas. Todos sabem pela experiência e pela História, que praticamente não existe espírito de corpo, o corporativismo, entre os subalternos, explorados e humilhados. A maior crueldade, em geral, é praticada por alguém de baixo contra outro igual, quando se encontra numa posição de mando, de poder. A literatura mundial está cheia de exemplos sobre esse fenômeno. Haja vista a situação da capatagem no Brasil escravocrata. Para analisar essa situação e conseguir chegar a uma compreensão e entendimento, do porquê de tudo isso, pode-se tomar vários caminhos, sem jamais esgotá-los. De início alguém poderá dizer que somos influenciados por uma ideologia dominante, e que quanto mais nos encontramos na base da pirâmide social, mais ficamos vulneráveis às influências daquela ideologia. Dessa forma, parece um simplismo, mas entende-se, que alguém agrida com tanta crueldade outro ser de sua mesma origem social. Porque embora um indivíduo qualquer, um soldado da polícia militar, por exemplo, ao cometer arbitrariedades contra um pobre negro qualquer, ele o faça com a cabeça feita por todo um condicionamento realizado ao longo de anos, de forma que é como se ele não tivesse uma cabeça própria. É o caso similar de um indivíduo negro qualquer, que porventura manifesta racismo contra outro negro, isto é, ele apenas está reproduzindo o racismo dominante da sociedade assimétrica e desigual, a que pertence. Para lutar contra essas situações paradoxais, nunca é demais lembrar das políticas de 'ação afirmativa' praticadas em outras sociedades, e que são bem eficazes contra esses fatos. Na medida que, através do trabalho da desconstrução dos valores dominantes, descobrimos o que está por trás, e tem como resultado o desmascaramento de certos símbolos e conceitos, até ao ponto de se poder desfazer as ideias, que alimentam aqueles preconceitos. Para concluir, considero que se fosse possível elaborar oficinas filosóficas de desconstrução ideológica, para esses grupos, precisaríamos trabalhar tanto com o soldado da foto, ou grupo de soldados, ocupantes de ocasião do complexo de favelas; como também com indivíduos ou grupo de moradores das comunidades, e o morro do alemão é um exemplo bem ilustrativo de tudo isso.

Militar das Forças Armadas em veículo blindado durante cerco a traficantes no Complexo do Alemão (zona norte do Rio)

terça-feira, 16 de novembro de 2010

A direita não existe mais? Será?

É muito comum se ouvir por aí: "ah, essa coisa de esquerda e direita não existe mais!". E o que significa essa afirmativa pela negação, da existência em nossos dias da diferença entre esquerda e direita, e até mesmo sobre a inexistência de ambas? O que é que não existe mais? Será que o ideário conservador e intolerante, que caracteriza o pensamento de direita e é sua especificidade, que não se manifesta ou se materializa mais em nossos dias? Ora, pelo que me conste, nunca esteve tão presente como agora, as denúncias impressas na grande mídia, sobre diferentes tipo de intolerância, tanto racial como em relação a questão de gênero, orientação sexual e outros como a xenofobia. Os exemplos são os mais variados possíveis, é só lembrar a questão dos ciganos na França, a situação dos turcos na Alemanha, a questão da intolerância quanto ao uso do véu islâmico em diferentes países do bloco europeu, a proibição de construção de minaretes na Suíça, mesquita pode, mas sem minaretes, aquelas torrezinhas características, quase um ícone das mesquitas. Atravessa-se o Atlântico e nos States, o que encontramos? O 'Tea Party', grupo radical e fundamentalista da direita do Partido Republicano, com toda a sorte de prescrições e restrições, um verdadeiro rol ou lista de proibições, tipo isso pode, aquilo não pode. Uma miscelânea de liberalismo político, ou seja, redução do tamanho do Estado, o tal do Estado mínimo, com intolerância religiosa agravada pelo fundamentalismo cristão evangélico. Qualquer projeto de política pública, para atender os mais necessitados, que na Europa não seria mais do que mais uma medida de amparo social, coisa de social-democrata, do lado de cá do Atlântico é vista pelos 'NeoCons' como coisa de comunista. Além disso tudo, temos o conservadorismo religioso, que conduz a um fundamentalismo, tão ou mais radical, que a doutrina xiita iraniana. E aqui nos trópicos, acompanhamos como certas questões de cunho religioso, direitos civis de homossexuais e a questão do aborto, foram usadas durante a campanha política para presidente no ano de 2010 de forma sub-reptícia, invertendo a ordem natural das coisas, nos levando para trás em total retrocesso. Com o objetivo claro de jogar contra a candidata da situação, a oposição raivosa de setores tacanhos e atrasados da sociedade, que ainda são contra aquelas questões. Embora não tenha entrado em maiores detalhes, nos pormenores dessas manifestações de intolerância, tanto na Europa, como nos EUA, nem mesmo no Brasil, fico a pensar, no que há de comum entre as diferentes manifestações de intolerância, o que é precisamente específico e peculiar, para caracterizá-las como de direita. E mais do que de repente, acontece em São Paulo o episódio do espancamento de alguns indivíduos, absurdamente julgados pela aparência como gays, por bandos de delinquentes e desordeiros, alguns de classe média alta, como foi o episódio da Avenida Paulista no domingo passado. E também no Rio de Janeiro, o tiro tomado por um rapaz de dezenove anos, que passeava com amigos no parque do Arpoador, apenas porque se disse gay para uns soldados do exército em serviço. Soldados esses, segundo o jovem, que ofendiam outros rapazes que estavam no local em momento de lazer, exigindo documentos de forma intimidatória, etc, gerando total constrangimento para os visitantes do local. O caso do Rio é emblemático porque, o que está em jogo, é algo do tipo, vivo numa sociedade em que ser viado é uma coisa feia e obscena, portanto como você é viado, pois acho você parecido com um, então eu posso ofendê-lo, humilhá-lo, em seguida espancá-lo, massacrá-lo e finalmente destruí-lo. Se você quer viver aqui sem punições, trate de ficar, estar e permanecer invisível, caso contrário pagará um alto preço, talvez até mesmo com a própria e sem valor vida. O que é uma manifestação como essa? Coisa típica de filme sobre nazistas, a direita mais extremada possível, a intolerância levada as últimas consequências. A configuração de uma mentalidade, composta de algumas idéias, noções, preconceitos e crenças de intolerância contra determinados símbolos, e consequentemente contra indivíduos sob o manto de tais símbolos, a mover e mobilizar certos agentes públicos e atores sociais e levá-los a praticar atos anti-sociais, invadindo direitos e praticando crimes. Se manifestações como essas não se trata, ou se configura como gestos de direita, o que será então? Como classificá-lo? Como compreender tais fenômenos, sem chamá-los pelo nome, nem mostrar sua origem, digitais e raízes ideológicas?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Sinais do ovo da serpente

A vida no período pós-eleitoral parecia que estava voltando aos poucos aos padrões de normalidade, que é a vida cotidiana sem os palanques eleitorais, desse ou daquele partido ou grupo político. Quando a blogosfera da internet foi inundada por e-mails apócrifos, a fazer todo tipo de terrorismo político, de cunho racista, pregando a morte aos nordestinos e outros quejandos. Sentia-se, pelo clima quente, que existiu durante a campanha, que os ânimos não se amainariam assim tão rapidamente. E não deu outra, a guerra ideológica continua, ou seja, a chamada luta de classes na teoria, para ser mais elegante. Porque, pelo visto, não teremos mais folga, é preciso tirar os tacapes teóricos da mochila, e se colocar em posição de combate, de forma quase que permanente daqui pra frente. Em face do desejo de registrar esse momento, e tratar do assunto em questão, fez-se necessário a reprodução aqui nesse espaço, de um post, que na verdade trata-se de uma troca de e-mails, como veremos a seguir: 
Como vale a pena esperar um pouco a sua resposta, pois quando ela chega, é quase como um bálsamo, que em vez de atiçar os ânimos de nosso espírito animal, pelo contrário, nos deixa mais tranquilo e trabalha a nossa compreensão. Também gostaria muito, de poder, de vez em quando, trocar idéias com a sua esposa, que considero ter mais identidades do que diferenças, e ter diferenças com alguém, não impede o diálogo, pelo contrário. E por que é importante o diálogo por escrito? Porque estando à distância, temos muito mais tempo para elaborar o pensamento, coisa que ao vivo e a cores, no calor emocional do “tête à tête”, acaba se perdendo. Por outro lado é bom o contato físico e o encontro, pode-se e deve-se fazê-los sempre que possível. Vamos agregar, vamos incluir, trabalhar "o lidar" com o contraditório, por que não? Agora, uma coisa que não tenho a menor habilidade, nem sei como lidar, e foi uma coisa, que aflorou muito nessa última campanha política, despertada e incentivada pelos partidários do candidato Serra, é a manifestação de ÓDIO. Ódio contra nordestinos, ódio contra homossexuais e contra as mulheres na política, usado como artilharia política, como arma para desqualificar adversários. Uma coisa é o debate político e ideológico, onde se tenta através do diálogo e da argumentação, cada um dos lados tenta mostrar as razões, que os levaram a fazer essa ou aquela opção ou escolha. Inclusive essa foi a motivação principal, que me moveu, quando decidi abrir o blog, era criar um espaço para debater ideias.


Combater os equívocos cometidos por articulistas de mídia e alguns políticos, equívocos conceituais e outros, como por exemplo, a distorção de sentido com certos termos e vocábulos, para fazer barulho em face de certos interesses, de forma sub-reptícia. Só não tenho levado adiante esse objetivo com mais afinco por falta de interlocutores, pois sou um pouco movido à paixão, e como não tenho a sabedoria de um pensador independente, que fica a falar aos quatro ventos, quase como um arauto moralista e meio enlouquecido, não foi possível dar continuidade ao blog. Não devo ter competência nem habilidade para ficar pregando no deserto, pois preciso do outro, do interlocutor, para quase tudo na vida, e principalmente e sobretudo para escrever, preciso saber para quem estou dirigindo a palavra. Não tenho vocação para evangelista nem sou nietzschiano. Agora voltando à questão do ódio recente, que veio à tona, despertado da letargia e do silêncio da raiva individual e coletiva, porque hoje em dia coisas desse tipo acabam também desaguando em redes sociais. Ódio tal, que alguns carregam o tempo todo, mas que não tem como canalizar de forma eficiente. A gente sabe muito bem, que esse ódio está por aí, aguardando a melhor oportunidade. É aquela estória do ovo da serpente. Existe um exército de indivíduos frustrados e quase derrotados na vida, mas não apenas, que estão prontos para transferir a sua culpa de perdedores para alguém, ou para algum grupo específico da sociedade, que pode muito bem ser os gays, ou os nordestinos em São Paulo, que são tratados quase como bodes expiatórios. Você disse: “que chegou a me ver quase como um cabo eleitoral”. Comecei a receber de gente que não conhecia, e também não tenho habilidade nem conhecimento de internet suficiente para rastrear a origem, DEZENAS de e-mails cheios de ódios, é claro que o alvo maior era a candidata Dilma, mas nas entrelinhas revelava o espírito raivoso contra determinados grupos minoritários, ou nem tão minoritários assim, não importa, o ódio estava muito presente. Bem, diante de tudo isso, o que é que se pode fazer, como disse antes, não tenho preparo para lidar e combater o ódio, não sei se o ódio se combate com o ódio, como estabelecia a famosa lei do talião, do olho por olho, e dente por dente. Portanto, devido a todas essas circunstâncias conjunturais, fui forçado a tomar alguma atitude, e assim passei a repassar para aqueles idiotas nazi-fascistas odientos, todo o arsenal, que recebia com pensamento contrário. Houve momentos, que temi ter o computador infectado por algum vírus maldito de um hacker fascista. Eleições à parte, independente de quem vença as eleições, acho que nessas oportunidades, sempre se tem a chance de perceber em que mundo de valores se estar a viver, em que sociedade se está imerso, como somos, como pensamos, o que queremos para o mundo. Muita coisa vem à tona, aparece quase como bandeira, em geral de forma subconsciente, e dessa maneira muita coisa se revela. E aí, se nos consideramos um pouquinho conscientes, não podemos nos omitir. É necessário desmascarar certos comportamentos nocivos socialmente, que a gente sabe muito bem até onde pode levar, pois já assistimos esse filme antes, em outras latitudes, e até mesmo aqui pelos trópicos em décadas recentes. Porque o ovo da serpente está sempre sendo chocado em algum ninho à espera de momento oportuno, em que algum político, ou outro agente público, lhe ofereça o gancho adequado, o ponha em cena, o traga a tona, como vimos na última campanha eleitoral brasileira de 2010.

domingo, 10 de outubro de 2010

A desqualificação do adversário como arma política

É curioso observar como a direita faz política no Brasil. Como uma parte da elite social, é obrigada a ter que participar da vida política nacional, para, pelo menos, poder assegurar e manter os seus inumeráveis privilégios. E como não pode, evidentemente, revelar, exteriorizar essas reais intenções para a sociedade, pois seria um suicídio eleitoral na certa. Essas elites, através dos seus representantes, legais e ilegais, composta por toda a sorte de ideólogos, conhecidos como formadores de opinião entre aspas, constituídos por jornalistas, cientistas sociais e outros. Devido àquelas reais intenções, que, como afirmei acima, se reveladas seria o suicídio eleitoral, fica meio numa sinuca de bico, sem ter o quê apresentar como conteúdo, que fosse ao menos, uma pálida aparência de um projeto político para o país, um arcabouço que fosse, de como resolver os enormes desafios e problemas brasileiros. Dessa forma, a ausência de um projeto macro político, traz para a campanha da direita uma enorme lacuna, difícil de lidar e difícil de resolver. E como a direita resolve esse dilema? Na verdade, não resolve, ela contorna o problema, ela o tangencia. E como isso é feito? Muito simples: disposta a fazer qualquer coisa, para assegurar, manter e ampliar os seus privilégios, a direita dirige todas as suas baterias, armas e ferramentas, em direção ao seu(s) adversário(s) de ocasião. A primeira arma e em algumas ocasiões, bastante eficaz, é a arma da desqualificação do adversário, que às vezes funciona muito bem, outras nem tanto, depende da conjuntura, e quando funciona costuma causar grande estrago ao oponente. É o caso, por exemplo, da questão do despreparo da candidata Dilma, e outros, são tantos na atual campanha de 2010. A questão do aborto é outro exemplo digno de ser citado, porque a direita plantou essa questão entre os evangélicos e, de certo modo, deu resultado, atingiu os objetivos desejados, já que levou a eleição para o segundo turno. É a tática de plantar um boato maldito contra um adversário, repeti-lo e reproduzi-lo à exaustão, e em seguida aguardar os resultados, esperar para ver, que bicho vai dar. É legítimo dar um nome a essa prática política, não é outra coisa que terrorismo político, ou seja, criar pânico e alarme entre a população, visando alcançar determinados objetivos. Sobre a questão do despreparo da candidata, algum cronista político comenta num artigo de jornal, revista ou entrevista na tevê, que a candidata "y" não é preparada. Em seguida, outro "formador de opinião", citando aquele cronista, repete o mesmo comentário, e assim por diante, a coisa vai fluindo, vai aumentando, adquirindo vida própria, vai atraindo outros atores sociais para aquela posição. E de repente, aquilo cola como etiqueta de preço em mercadoria de supermercado, passa a fazer parte da personagem, como um carimbo, um clichê, escuta-se o nome daquele personagem, e logo aparece na mente aquela ideia maldita. Bem, o estrago está feito, praticamente não tem mais jeito, porque é como se levasse o adversário às cordas do ringue, não tem outra opção, a não ser ficar na defensiva, o tempo todo, e aí, vem o desgaste devastador. Dizem que dessa influência maléfica, praticamente ninguém escapa ileso, nem mesmo aqueles, que se consideram mais conscientes. O que me faz voltar aos anos trinta da Alemanha nazista, acho que todo mundo alguma vez já deve ter se perguntado, como uma população tão educada e avançada, com elevado nível cultural, foi cair numa roubada ideológica daquela. Mas talvez seja mesmo verdade, que uma mentira bem contada, depois repetida muitas vezes, tem grande chance de tornar-se verdade, e em algumas ocasiões, em verdade quase absoluta. Como a direita não tem nenhum projeto para o país, apenas projeto de poder, pois, não suportam ficar longe dele por muito tempo. Então, só resta mesmo utilizar esses expedientes políticos da pior espécie, a mentirosa política do esgoto, como a desqualificação e a satanização do adversário por exemplo. Ainda resta alguma esperança, ou seja, preparar-se a contento, para o combate, para uma espécie de luta de classes na teoria, e desmascarar algumas armas da direita sempre que possível. Já que não dispomos das armas da crítica que, por princípio, não são convenientes, usemos da crítica das armas. É o que estou tentando, muito modestamente, fazer.

sábado, 9 de outubro de 2010

Sobre a alternância no poder político

Respondendo a um amigo:

Meu caro amigo João
Dizer que a alternância do poder político é boa e necessária, soa quase um truísmo, já que qualquer regime político, só é democrático, na medida em que SUPÕE a alternância. E exatamente é esse, o caso brasileiro, isto é, um regime democrático, pelo menos na esfera política, com eleições livres e diretas para cargos executivos, como a presidência da república, os governos estaduais e as prefeituras, a cada quatro anos, com a possibilidade de reeleição apenas uma vez. É bom lembrar, que no caso brasileiro, pelo menos no atual momento, o estatuto da alternância não está correndo o menor risco, já que estamos passando, por absoluta normalidade e legalidade democrática, com todas as regras do regime político em vigor, e monitoradas pelo TSE. É bom lembrar, que a questão da alternância como bandeira política, é mais pertinente, quando se está vivendo sob regimes ditatoriais. O que não é, repito, em absoluto, o caso do Brasil. Portanto defender a alternância de poder na atual conjuntura política, apenas por princípio, soa um tanto estranho, porque é como não se pudesse dar ao eleitor a chance de julgar determinado governo, a chance do eleitor poder aprovar ou não determinado governo. A vontade do eleitor nos regimes democráticos deveria ser soberana. Se for a alternância pela alternância, não deveria haver, por sua vez, nem mesmo reeleição, e quem sabe, quiçá, a própria eleição. Pois como o princípio maior, que rege um estado, por aquele ponto de vista, seria a alternância do poder, isto é, a alternância pela alternância. Não deve caber mais ao eleitor, de acordo com aquele princípio, repito, decidir sobre o destino do Estado "anymore". Pois, se porventura, déssemos essa chance ao eleitor, o sistema político correria o risco de, segundo a vontade livre e majoritária do eleitor, dar continuidade a algum projeto político de um determinado governante, ou grupo político, ou uma coligação de partidos, etc., COISA ESSA, que bagunçaria por completo o princípio da alternância pela alternância. Portanto, se é dado pela legislação em vigor, ao eleitor o poder, de pelo voto livre, demonstrar a sua vontade soberana, o resultado será sempre IMPREVISÍVEL, porque pode sair vitorioso, tanto a situação como a oposição. Não são favas contadas a alternância, compreende? Não é certo que B irá substituir a A. No caso brasileiro, poderia apresentar inúmeros exemplos, mas vamos ficar apenas com o caso do estado de São Paulo, onde o governo tucano já governa por lá há dezesseis anos consecutivos, e agora com a presente eleição de 2010, serão mais quatro anos, perfazendo um total de vinte anos de governo tucano, apenas num estado, e não se pode fazer nada para impedir isso, porque foi a vontade dos eleitores paulistas, e dessa maneira não foi possível haver nenhuma alternância. Por essa razão, veja como é complicada, essa coisa de defender determinado princípio ou tese em abstrato, sem nenhuma conexão com a conjuntura, o contexto e a realidade concreta. Voltando aos tucanos, nunca é demais lembrar, que o projeto de poder original, que os mesmos tinham para o país, também seria de no mínimo vinte anos no governo central, exatamente igual ao que eles estão ocupando na esfera estadual em São Paulo. Vinte anos de paulistério, porque o tucanato é e foi estruturado em Sampa, não é mais como na república velha, onde eles dividiam o poder com a república das Minas Gerais, a conhecida política do café com leite. Infelizmente para eles, os tucanos, alguma coisa não fluiu como esperado, alguma coisa deu errado com o governo de oito anos deles no plano federal, que fez com que o povo rejeitasse, apesar de todo o terrorismo político realizado durante a campanha política de 2002. Dizia-se até, caso Lula fosse eleito, que o Brasil viraria uma Argentina, que passava naquele momento por uma terrível crise econômica. Imperava e passava-se um clima de medo para a população, utilizando para esse objetivo, de atores e atrizes famosas, como foi o caso da atriz Regina Duarte dizendo num vídeo que tinha medo, lembra-se? HOJE, passados esses anos todos, podemos dizer com segurança, que o governo FHC, sucateou as universidades federais, arrochou os salários dos professores concursados, provocando um êxodo muito grande de docentes, terceirizou o ensino e outras funções e carreiras públicas, com enorme prejuízo na prestação dos serviços públicos à população carente, que é a que mais demanda e precisa dos serviços públicos. Tudo isso vinha no bojo do objetivo de reduzir o tamanho do estado, o chamado estado mínimo do neoliberalismo, que só podia se dá apenas na esfera econômica, porque a esfera política era um feudo, como acima visto, um projeto de vinte anos de poder. Fez-se a privatização de empresas públicas, usando o critério de aos amigos tudo, inclusive recursos do BNDES, aos inimigos nada, a ponto de numa conversa telefônica grampeada na época, o ministro Mendonça de Barros dizer, que era uma temeridade fazer a privatização daquela maneira. O outro objetivo com as privatizações seria reduzir o tamanho da dívida, e o resultado, pelo menos no que tange à dívida interna, multiplicaram-na por dez. Não havia quase crédito na praça, apenas os mais ricos podiam financiar a compra de imóveis e outros bens de consumo durável. A compra da casa própria para gente de baixo poder aquisitivo, não existia desde que faliram com o BNH. O salário mínimo, que era mínimo literalmente, não podia subir porque quebraria com previdência social e geraria inflação, esse era um mantra por demais repetido ad nauseum. O país não crescia, e a desigualdade, que com o Real, havia melhorado um pouco, quer dizer, feito umas cosquinhas de nada na miséria, depois se acomodou e acabou estagnando-se por completo. Conforme foi se aproximando o fim do governo FHC e, com as enormes transferências de recursos públicos para os mais ricos, com os dividendos pagos pelo aumento de juros, as privatizações pela via BNDES, que como sabemos, as transferências de recursos do BNDES foi às escâncaras, a DESIGUALDADE E A INJUSTIÇA SOCIAL só fez aumentar. Distribuiu recursos para determinados grupos econômicos e até mesmo indivíduos, poderem adquirir empresas e bancos estatais, sob critérios secretos e nada transparentes. Enfim, a lista de casos e exemplos é quase infinita, prefiro, portanto, parar por aqui e deixar ao seu critério particular, fazer o juízo que desejar.

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Sobre a demonização do ex-presidente Sarney


Reproduzo abaixo o conteúdo de e-mail enviado para um amigo, com algumas pequenas correções, que a pressa da forma e-mail nem sempre torna possível, dessa forma passo a postar como segue:
João, na verdade eu devia estar enviando esse para Marilu, embora você estivesse presente, quando ela mencionou esse assunto, e não tenha se manifestado. Mas como estivesse um tanto chapado, deixei passar ou/e não me lembrei do episódio recente, dessa demonização principalmente por parte da chamada grande mídia e de alguns senadores da oposição, que inclusive, alguns deles foram derrotados nessa eleição, e não voltam mais para o senado, pelo menos nessa legislatura, como foi o caso de Artur Virgílio (Amazonas), Tasso Jereissati (Ceará), e Marco Maciel. Nesse episódio particular, que foi a tentativa de derrubar o presidente do Senado, que era e ainda é, o ex-presidente Sarney, o que ficou evidente, é que caso fosse bem sucedida a campanha contra o Sarney no Senado, estaria criada uma grande dificuldade para o presidente Lula no Senado, este era o objetivo. Como foi o caso, uns anos antes, com o episódio da eleição para a presidência da Câmara, com a oposição elegendo alguém como Severino Cavalcante, em quem depositavam todas as fichas, que ele fosse comprometer o andamento dos projetos políticos do governo central, e quando ele frustrou esses interesses, começou toda perseguição. Eu não estou dizendo, que ele não tivesse culpa no cartório, uma vida ilibada, o ponto não esse, e quem deles tem? O ponto, que quero me referir, é que ele foi usado com determinados interesses políticos, e quando frustrou esses interesses, foi vitimado e finalmente sacrificado. No caso do Sarney, no período do governo FHC, ele foi um grande e leal aliado do governo tucano, nos dois mandatos de FHC, e nessa época ninguém mandou a sua mídia atacá-lo. Pelo que o sabemos sempre foi o mesmo, o de sempre, com as práticas políticas que bem conhecemos, portanto não foi ele quem mudou. Quem mudou foi a posição de poder dos tucanos e demos, que com a derrota nas urnas, viram-se de repente na oposição, precisaram fazer de tudo, qualquer coisa, o jogo mais sujo que houvesse, para desqualificar o adversário, para prejudicar o governo lula, e a sua aliança com PMDB, esse era o foco, o objetivo principal era atingir essa aliança com o PMDB, miná-la o quanto pudessem. E quase o conseguiram, porque você sabe que o PMDB não é unívoco ideologicamente falando, partes do PMDB apoiaram e apoiam até hoje os tucanos, como é o caso, por exemplo, de Pedro Simon e Germano Rigotto, ambos do RGS, o último foi candidato ao senado agora derrotado, idem para Jarbas Vasconcelos de Pernambuco, que disputou o governo do estado e perdeu feio para Eduardo Campos. Na verdade, na luta política nacional, algumas práticas políticas, usos e costumes de certa vertente política, são por demais conhecidas, já desde os anos cinquenta, com o chamado mar de lama jogado pela antiga (tão atual) UDN nos adversários. Getúlio e Juscelino foram vítimas desse tipo de luta política, Getúlio inclusive pagou com a própria vida. Quem não se lembra dos ataques enfurecidos de Carlos Lacerda, tanto escritos em sua Tribuna da Imprensa, como ao vivo na tribuna ou no rádio. Que redundou mais tarde no golpe de 1964. Portanto não se iluda que ninguém é santo nessa estória, prática política desabonadora, que uns faziam quando estavam no governo, agora na oposição passam a atacar aqueles que usam do mesmo expediente no poder de ocasião. Quem pode atirar a primeira pedra? Todos têm culpa nesse nosso grande cartório de origem lusa. Que só vai mudar aos poucos, sangrando aqui e acolá, se purificando aos poucos, com reformas urgentes e sérias, e isso infelizmente vai demorar um pouco, pois supõe um eleitorado com um nível político e educacional mais elevado. É preciso esperar, não tem jeito. Ou quem sabe procurar o caminho do aeroporto.

P.S. Alerto os leitores para não acessar nenhum dos links abaixo, pelos quais não tenho a menor responsabilidade, e desconheço como chegaram até o post.



iniaMturas de anexos Vídeos detectados neste e-mail
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Atenção: anexos podem danificar e expor seu computador a riscos. Saiba mais.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Novas Possibilidades



Depois de passar todo o mês de fevereiro, e também janeiro, arredio, longe do blog, distante desse espaço por “n” motivos, dentre os quais, o afastamento do grupo de estudo, provocado pela parada para as férias de verão, verão do hemisfério sul, parada que sempre fazemos nessa época. Além de outra interrupção menor, que acontece durante o mês de julho, no inverno, quando costuma fazer frio, aqui nessa cidade serrana de Nova Friburgo, estado do Rio de Janeiro. Creio, que já estava passando da hora de voltar ao blog. Voltar a usar esse espaço conquistado, e postar coisas, que embora continue envolto em um misterioso silêncio, devido à falta de comentários, pelo menos sirva para mostrar algumas sendas, sinais de outros caminhos e de novas possibilidades. Nesse nosso possível fazer, um fazer que não se restrinja apenas a uma prática, que é o fazer pelo simples ato de fazer alguma coisa, uma ação praticada quase no automático, mas a uma práxis, que é a atividade consciente por excelência. Pois bem, o que o título acima sugere, foi um vislumbre que me ocorreu durante um breve encontro com amigos jovens, num dos points jovens daqui da cidade. Quando fui apresentado por uma amiga muito querida, a um jovem professor de geografia muito interessante, que demonstrou sem pedantismo ter certo conhecimento de filosofia, imaginem que ele mesmo sem me conhecer, deu algumas sugestões e fez recomendações de como ler Hegel. Para não tirar um pingo da importância de suas palavras, eu não quis dizer que já fui professor de filosofia, nem que ajudei a organizar um grupo de estudos filosóficos desde 2001 aqui na cidade. Depois que o jovem professor de geografia afastou-se, para se juntar a outro grupo, fiquei pensando em quantos jovens iguais àquele deveriam existir por aí. Como deveria ser importante descobrir e identificar jovens de talentos, curiosos e inteligentes, e assim poder atraí-los para a filosofia, mas para uma filosofia crítica, não para o exibicionismo barato de quem se pavoneia com o saber, para tirar onda com os colegas, numa coisa tola de mostrar que sabe mais do que os outros, exibir-se gratuitamente por aí, que infelizmente ainda se observa em certos adultos idiotas e tolos, que se acham os tais. Vislumbrei na hora inclusive, como num sonho, passeando por ali em outra ocasião, e ouvir conversas jamais imaginadas antes, coisas inteligentes, de gente que amanhã, vai estar no comando de um país que caminha para ser muito mais rico. Daí a razão de colocar a questão: "em que medida uma cultura filosófica, bem estruturada e sistemática, pode ser um fator favorável, para certa juventude dessa cidade, juventude que faz o que qualquer outro jovem gosta de fazer, como por exemplo, sair à noite, para encontrar com os seus pares, trocar ideias, paquerar, se divertir, tomar alguma coisa, e porque não também questionar o mundo e a realidade, do ponto de vista e da perspectiva filosófica?" Poderia muito bem incluir o último item dentro do cardápio do programa, por que não? Não tenho a menor ideia do que e como fazer, para arregimentar esses jovens e agregá-los em grupo, e tocar esse movimento, sei que isso é quase uma utopia, mas tenho certeza que seria muito bom, ao passear por aí, poder ouvir gente jovem discutindo certas questões filosóficas de interesse, não apenas para exibirem-se, como mencionei acima, uma tolice, mas para tratar do mundo que o cerca, com mais profundidade e inteligência. Mais como preocupação de uma geração, que daqui a pouco, certamente, estará no comando de uma sociedade muito mais rica e poderosa do que é hoje, em outro patamar. Bem, que o país precisa desses jovens.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Sobre o artigo da Revista Valentina

Esqueci de postar um lembrete aos leitores, que tiveram dificuldades, e não conseguiram ler o artigo postado aqui abaixo, é só levar o cursor até a matéria postada, são duas páginas, clica na primeira página onde está a fotografia do grupo, que a página abre para um tamanho legível, e em seguida faça o mesmo procedimento na segunda página. Agora por favor, não basta apenas ler, deixem algum comentário, que não arranca pedaço de ninguém, digo isso principalmente para aqueles que são membros do grupo, em geral tão falantes, quando estamos em grupo, e agora digitalmente tão omissos. Desculpem-me a franqueza, mas sem a participação dos membros do grupo, fica mais difícil levar esse espaço adiante. Porque o debate de idéias é importante, é motivante, é estimulante, e uma coisa leva a outra, que leva a outra, e assim vai, aonde pode-se chegar é imprevisível, só depende de todos. Estou aguardando.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Usos e equívocos feitos da Filosofia


Por mais que nos levem às evidências mais inabaláveis e inquestionáveis. Fora do âmbito das ciências exatas, sobretudo da matemática, não conheço nenhuma narrativa filosófica, que não se preste a diferentes interpretações, desentendimentos, que não levem às incompreensões e distorções usuais. Porque um texto filosófico depois de publicado, é quase como se tivesse caído em domínio público, não existe quem possa defender a sua verdade original, algo como um guardião da sua pureza teórica, uma espécie de crítico do saber filosófico, como foi escrito em sua forma original por determinado filósofo ou narrador com formação filosófica. Fora os críticos propriamente ditos dos textos filosóficos recentemente publicados, e resenhista de livros em geral. Quase não existe a atividade de outra espécie de crítica, não apenas aquela para textos, mas uma crítica que focasse mais os usos e utilizações, que são feitos da filosofia. Como por exemplo, nos usos dos conceitos filosóficos por diferentes atores no contexto cultural e político. Como está sendo entendido o pensamento de determinado filósofo, no uso cotidiano, que é feito desse mesmo pensamento, tanto no jornalismo cultural dos cadernos literários, como no jornalismo político, e pelos políticos em seus discursos nos palanques da vida. Pobre filosofia, que na maioria das vezes, é tão mal compreendida.


E também, com frequência, tão maltratada, quando utilizada por diferentes profissionais de outras áreas de atividades práticas e do próprio saber. É como se, já que não é especialista na matéria, achar que pode negligenciá-la à vontade. E até mesmo quem se diz especialista, em certas ocasiões, comete equívocos magníficos, quando se manifesta não visando à busca da clareza e da evidência naquilo que diz ou escreve. E o mais grave, é que fica tudo isso, por isso mesmo. Fica o mal dito, como bem dito e, como não há quem desfaça os equívocos, o estrago está feito e consolidado de uma vez por todas e para sempre, inclusive nas próximas utilizações que se vier a fazer do conceito, com significado distorcido. Dessa maneira, cada vez mais, o discurso filosófico vai, gradativamente, perdendo credibilidade. Cai o interesse do público por algo, que não é digno de ser levado a sério, já que qualquer um pode usar e interpretar, como bem (ou mal) entende, e fica tudo isso por isso mesmo. Como se o discurso filosófico não fosse algo, possível de ser levado a sério, não confiável. Seria tudo isso, o sintoma de uma crise na filosofia, ou de crise na sociedade de forma geral?