quinta-feira, 14 de abril de 2016

Os Fashion filósofos


Não sei definir, mas a ideia suscitada já ajuda um pouco, aponta caminhos, rumos a seguir. Talvez fosse o amante das novidades do pensamento, e das novas tendências, tal qual num evento de moda? O que é que tem sido discutido ultimamente de mais relevante? O que está dando o que falar. Não sei, mas tudo leva a crer, que esse amante filósofo das últimas novidades do mercado do pensamento e da reflexão, caso queira levar a sério esse caminho, vai precisar trabalhar muito em pesquisas e intensas leituras, para se manter atualizado, e procurar saber quase tudo, a respeito do que tem sido publicado ultimamente nos departamentos universitários e áreas conexas do conhecimento filosófico. É um desafio e tanto, mas para quem é jovem, curioso, tem tempo disponível e disposição física e emocional, fala mais de duas línguas, tudo pode acabar sendo muito divertido, além de enriquecedor, claro. E como esse agente do conhecimento de vanguarda, é obrigado por força do ofício, a se ocupar com as novidades mais top do pensamento, não poderia receber outro nome, que não fosse o de “fashion philosopher”, ou filósofo fashion. Que não se caracteriza apenas pelo fato de ser um caçador de vanguardas top do pensamento. Também ajuda a divulgar aquilo que já deglutiu e assimilou, e finalmente aderiu com vigor. Em geral faz a divulgação, com muito proselitismo e ardor, das novas ideias. Sobre algumas delas, quando decide falar, manifesta um certo rubor facial, tal é a carga e envolvimento emocional. Em outras vezes embarga a voz, quando toca em assuntos mais delicados. Com os “fashion filósofos” conhecidos, costumo apresentar, quando encontro algum, certas dificuldades em compreender suas mentes enroladas, com muito novelos e fios de pensamentos diversos, fios desencapados e não conexos, de várias origens, autorias desconhecidas. É notável como se negligencia o valor e a importância do nome do autor, a autoria, como se o nome do autor, filósofo, crítico ou escritor, não fosse relevante. É verdade, que não é sempre assim com todos, não são todos os caçadores de vanguarda, que apresentam tal distúrbio. Mas a preferência maior é pela tendência preponderante, a escola ou corrente, por onde navega esse ou aquele divulgador fashion filósofo, que não faz mais do que pegar uma onda e fluir naquela corrente de pensamento em evidência. Noto também, que não costumam se valer, em momento algum, de qualquer uma das grandes narrativas históricas como referência em seus trabalhos e "papers". Deixam claro não precisar de referências históricas, que julgam desnecessárias ou irrelevantes. Só fazem conexões com outros dados no âmbito micro, e no estrito campo específico da área de conhecimento onde estão a trabalhar. Não transcendem jamais o foco de estudo, as especulações e conjecturas são limitadas ao objeto específico da pesquisa, aliás não gostam nem um pouco do vocábulo "transcendência", além de muitos outros, e também de toda a metafísica. Não se interessam nem um pouco, por ontologia. Seria um retorno ao positivismo? É bom ressaltar, e chamar a atenção, para a impressionante quantidade de vocábulos condenados e satanizados por esse tipo de filósofo. O que logo me fez lembrar de Alain Badiou e de sua ideia da “absolvição dos vocábulos”, e quase indiquei algumas cápsulas de Badiou. Puxa vida! Como eles estão precisando! Pensei. E precisam praticar com urgência a “absolvição de vocábulos”. Mas logo logo desisti, quando me dei conta, que Alain Badiou não tem o "phisique du rôle" adequado e verossímil, nem apelo suficiente, para atrair o interesse de um jovem filósofo fashion. Em primeiro lugar porque, apesar de ainda estar produtivo e extremamente lúcido, é um idoso com 79 anos completos em 17 de janeiro último, e continua ainda a falar de Marx, e para acabar de estragar tudo, até de "hipótese comunista" resolveu falar ultimamente. "Ah, é muito 'old fashion', para o meu gosto", me disse um, ao perguntar se conhecia Badiou. Depois de levar algum tempo, finalmente realizei que apenas sobre poucas coisas se poderia abordar com eles. É preciso tomar cuidado com as palavras escolhidas e ditas, pensar muito antes de falar, como se estivesse pisando em ovos, ou num campo minado. Vocalizar, sem querer, em ato falho, um termo, um vocábulo ou conceito de uma filosofia mais tradicional é motivo para ataques, é bom estar preparado, porque os dardos virão de qualquer forma, não tem jeito. Porque, logo de cara, já se percebe, que não se é um deles.
   


Nenhum comentário:

Postar um comentário