domingo, 10 de abril de 2016

As polêmicas declarações de ministros do STF



A semana iniciou-se com a célebre participação do ministro do STF Marco Aurélio Mello no programa Roda Viva da tevê Cultura de São Paulo, que por sinal deixou o status de tevê pública de Estado, que carregou durante décadas, para se transformar numa emissora completamente dominada e aparelhada ideologicamente pela turma de apoiadores do governador Alckmin. Costumava assistir sempre esse programa, nos bons tempos, mas depois que percebi no que o canal havia se transformado, passei a não sintonizar mas a TV Cultura de SP. Mesmo assim, vez ou outra dou uma zapeada para verificar quem é o entrevistado da vez, e como na segunda passada era o ministro Mello, resolvi apostar para ver o que iria acontecer. Na primeira rodada de perguntas, percebi que todos os entrevistadores, incluindo o âncora colunista da Veja Augusto Nunes, eram todos apoiadores de Alckmin, uma espécie de tropa de choque do governador, ou seja faziam abertamente oposição ao governo Dilma Rousseff. O que fica claro no tom e teor das perguntas, nas distorções de sentidos conceituais, pelas intenções claras de pressionar o entrevistado a se posicionar contra o Planalto, insistindo num ponto só, e por todo contorcionismo verbal, etc, em suma, uma evidente forçação de barra. Mas o ministro, experiente, um intransigente defensor da Constituição, foi se saindo bem das perguntas, em algumas situações precisou ser mais firme e até duro em algumas respostas, tal a insistência e veemência de alguns arguidores. Confesso que isso me desagradou, e em alguns momentos usei o controle remoto em busca de algo melhor. É muito desagradável a experiência de lidar com uma malta enfurecida de pensamento único, Nelson Rodrigues gostava de afirmar que: “toda a unanimidade é burra”, com o que concordo plenamente. Gosto da presença do contraditório nem que seja em menor número, porque é fundamental, para dar um certo dinamismo e fluidez ao pensamento. Todo mundo pensando do mesmo jeito é muito chato. Dessa forma acabei não assistindo ao programa todo, mas nem precisava, porque durante toda a semana, toda grande imprensa já partidarizada há muito tempo, publicou muito a respeito da entrevista do ministro, com críticas de todo tipo e algumas ilações suspeitas e desonestas. Afirmações inverídicas de que o ministro Mello tinha aderido ao governo Dilma, que era um petista roxo, e outras coisas do gênero, numa total irresponsabilidade e leviandades típicas de imprensa marrom. Há muito que não se faz mais um jornalismo sério, responsável e investigativo, salvo raríssimas exceções e alguns blogs independentes. Não preciso dizer, que os leitores adeptos dessa posição da mídia golpista, deitaram e rolaram. usaram e abusaram no compartilhamento desse tipo de matéria tendenciosa e deturpadora da fala do ministro Mello. Inclusive aqueles, que valendo-se do anonimato que a internet proporciona, vieram a público nas redes sociais a criticar o ministro, "como é que pode um ministro do STF fazer declarações favoráveis ao governo de forma tão clara", teclava um e "que isso não poderia acontecer" dizia outro. Teve gente que assinou até moção pedindo a cassação do ministro encaminhada ao Senado Federal. Uma coisa! Acontece, que percebi entre esses agora rigorosos críticos do ministro Mello, alguns que são useiros e vezeiros em compartilhar posts com o ministro Gilmar Mendes atacando o governo e o Partido dos Trabalhadores. Ah! Isso quer dizer então, que atacar o governo pode, é permitido, defender a Constituição não? Então aquelas críticas todas eram pura balela, conversa fiada ou para boi dormir? Não era para valer, e sim dois pesos e duas medidas? Como é que pode? Gente supostamente inteligente entrando em contradição, e sem noção? Ou se é contra declarações de qualquer ministro do STF e ponto, ou não se é. Agora, movido apenas por sentimentos políticos sectários, apoiar apenas o lado que pensa como a gente, e condenar o outro, NÃO PODE! Não é correto nem ético, porque são dois pesos e duas medidas. É muito perigoso se perder de vista o senso de justiça, por qualquer motivo, ainda mais agora estimulados pela crise política, que contaminou toda a cena política, o risco de retrocesso é muito grande. Porque se perdermos o senso de justiça, logo em seguida voltaremos às cavernas e o passo seguinte será a barbárie.
Assunto conexo:
http://www.vermelho.org.br/noticia/278916-1

Nenhum comentário:

Postar um comentário