sexta-feira, 25 de outubro de 2019

O menosprezo pelo "velho"

Vamos combinar uma coisa, deixar claro de início, que não se trata em absoluto, de analisar como o “velho” se sente, mas, pelo contrário, de procurar entender, como o "velho" é visto, como é construído no imaginário dessa galera mais jovem de hoje. De como enxergam o “velho” em posições bem mais desvantajosas em relação aos demais, e dessa maneira, o colocam e o consideram, em condição de inferioridade. Avaliado, cada vez mais, como uma coisa negativa, uma carga pesada, um fardo a mais a carregar, um ser menor, um ser que perdeu seu antigo prestígio e poder, poder no sentido de potência, vontade de potência melhor dizendo, na linguagem nietzschiana. E agora, não passa de mais um despossuído, de um fraco, não mais digno do respeito de outrora, por várias razões e motivos, nem sempre justificáveis, que não cabe abordar agora. De alguém que se retirou, se aposentou, se tornou gente de segunda linha, gente da retaguarda. Gente que por já ter vivido a maior parte de sua existência, nada mais pode esperar da vida, a não ser a morte, como uma coisa inexorável. A partir daí, passa a preencher a vida, cada vez mais, com entretenimento e distração, para escamotear a presença da morte, muito forte, logo ali à frente, para não correr o risco de, num vacilo qualquer ou distração, ficar frente a frente com ela. Se quisesse elaborar uma lista completa, inteirinha, com todas as razões e motivos, que levam tantos, a cultivar e praticar tais discriminações contra os mais “velhos”, seria uma tarefa praticamente impossível, um trabalho hercúleo e interminável. Pelo menos, conforta saber, que tudo isso pode ser comprovado e conferido, observando e pesquisando o imaginário popular, em toda sua série de ditados e máximas populares, encontradas no reino do senso comum, tanto em livros, como na internet, mas também, e principalmente, pelas ruas, materializadas através dos dizeres populares em feiras, mercados, em sala de aula, enfim, por todo o canto. Por outro lado, como seria bom, se fosse possível, que essa mesma galera, não se limitasse apenas a permanecer no território do menosprezo contra o “velho”, mas também se aventurasse em busca das qualidades daquele senhor, alguém que sobreviveu a tantas batalhas na vida, que estudou e conheceu muito mais coisas, que testemunhou o desenrolar da história enquanto esta de fato acontecia, o que hoje só podemos conhecer por intermédio dos livros, manuais, filmes e documentários. Foram testemunhas oculares de tantos fatos inenarráveis, que viveu e sobreviveu à ditadura, que ganhou e que perdeu. Que, portanto, angariou muito mais experiência que qualquer um de nós. Enquanto ainda patinamos no árduo caminho da subida e da compreensão, eles já sacaram quase tudo, perceberam e compreenderam muito mais, bem antes de nós. Que por já terem passado por tantos colapsos emocionais em tantas situações difíceis em suas histórias individuais, na teoria, deveriam saber lidar melhor com as situações mais cabeludas, fortes e difíceis da vida emocional, com mais equilíbrio e “savoir-faire”. Dizem, que em certos países, como o Japão por exemplo, existe, por parte da população local, uma maior capacidade, para enxergar e valorizar as qualidades do idoso, maior que em outros lugares do planeta, e ao contrário do que se vê por aqui. 

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