sábado, 26 de outubro de 2019

Não ter sido ofendido não significa que a ofensa não exista

Uma coisa, que tem me irritado ultimamente, é ver tanta gente funcionando, como se cada um, fosse o centro do universo, como se um indivíduo particular, ou seja, o indivíduo e seu próprio umbigo, o indivíduo e sua circunstância, fosse o centro e a medida de todas as coisas. Como se costuma ouvir por aí:  "se algo não acontece consigo, se não lhe afeta, logo não existe”. O absurdo da situação é tamanho, que diante da informação da ONU, que mostra existir ainda um bilhão de pessoas a passar fome no planeta. Nosso pequeno egoísta argumentará que, como jamais passou fome na vida, a informação da ONU é falsa. Chega a ser ridículo, é verdade, mas não deixa de ter coerência com seu pensamento obtuso e individualista. É tal a quantidade de gente pensando dessa maneira, gente que acredita apenas na saída individual, que não gosta nem tolera palavras, como cooperativismo, solidariedade, companheirismo e  espírito comunitário. Uma gente que espanta e choca, quem está mais ligado e atento às questões sociais. Tudo se reduz a: "cada um por si e deus contra todos". Uma espécie de bloco do eu sozinho, o próprio reino do individualismo. Mas nada disso é natural nem espontâneo, está conectado ao momento presente, ligado ao sistema econômico e político. É uma postura estimulada e incentivada pela financeirização da economia, uma manifestação do modelo de capitalismo ora praticado. Esse individualismo incentivado e estimulado, é mais um traço do chamado capitalismo neoliberal, uma ideologia que deseja transformar cada um de nós, numa espécie de mônada Leibniziana, uma criação exclusiva de consumidor contumaz acrítico, de empreendedor nato, uma espécie rara, que não deve favor nem satisfações a ninguém, aparentemente autossuficiente, embora não perceba, nem um pouco, o quanto é escravo desse sistema econômico, que o inventou e criou. O mais grave, é não perceber, que tudo isso, é mais uma mentira contada, e amplamente divulgada, que passou a acreditar como se verdade fosse. Portanto mais uma crença. A primeira coisa que observo nesse pessoal, é a perda da noção de totalidade, de todo, de conjunto, são particularistas, dispersos pelo mundo, condenados ao empreendedorismo individual radical, não acreditam em parcerias, em fazer junto, em conjunto, quem sabe tenham algo em comum com  o fenômeno da uberização. Não conseguem nem desejam cultivar um espírito plural ou coletivo, a perspectiva do “nós” e dos outros, uma coisa quase inatingível para essa galera. É desolador ver tanto egoísmo e individualismo junto, um fenômeno que só aprofunda a insensibilidade social, quase ninguém se toca mais com mais nada. Nada os afeta ou os desestabiliza! Não se alteram com quase nada. São quase impassíveis! Tal qual um psicopata, ou se preferirem, sociopata, perderam completamente a empatia com o semelhante. Impossível se colocarem no lugar de outrem. Quando se fala de determinada situação, que afeta e atinge em cheio uma parte significativa da comunidade, dão de ombros e respondem, que não estão vendo, que não sentem, que não foram afetados ou atingidos. Se não os afeta, então aquilo não existe. Qualquer coisa, que se fale ou se mencione a respeito, de imediato precisam usar sua própria régua, para avaliar o panorama da situação, tudo é aferido, mensurado e considerado apenas do ponto de vista da sua régua individual e particular. Quando irão perceber, que agindo dessa forma, caminham aceleradamente na direção de um relativismo absoluto?

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