domingo, 4 de fevereiro de 2018

Quase memória dos cinemas de João Pessoa


Infelizmente não tenho mais, como lembrar em minúcias de detalhes, o pouco que ainda insiste e consegue vir à tona, aflorar mente afora. Cinco anos já havia se passado desde que deixei João Pessoa pela primeira vez, estava de volta à terra natal, era começo do verão, não foi de imediato, porque precisei permanecer durante um mês no Recife, fora deixado pela mãe, enquanto preparava acomodação em João Pessoa, iríamos precisar ficar mais tempo por lá, um ano talvez, pois precisava consertar sua casa na parte alta do bairro Roger. Lembro que havia no ar uma campanha política rolando na cidade de Recife, tinha apenas 12 anos, ainda uma criança, mas o caminho que a vida havia me trazido, tinha me deixado mais atento com coisas, não muito comuns, a outros meninos da mesma idade. Como, por exemplo, frequentar barbearias da vizinhança, em busca de ler os jornais diários e revistas, que fosse possível encontrar, já sócio de biblioteca, e assim de posse de alguma informação, buscava entender o mundo, o que estava rolando, o mundo para mim era o lugar onde morava, a cidade e a ideia de país começava a se formar na cabeça, ia melhorando a cada dia, se ampliando com as leituras dos jornais. Diante disso, quando fiquei o mês de dezembro inteiro, do ano de 1961 no Recife, fiquei muito ligado no que ouvia, queria entender a razão daquele burburinho todo, o barulho que ecoava, tantos cartazes com fotos de tantos políticos, de estrelas protagonistas do evento, a disputa entre João Cleofas de um lado, a situação, e Miguel Arraes pelo campo adversário, o campo popular de centro-esquerda, não precisamente, mas aproximando-se do que entendemos hoje por esse conceito. Claro que nessa época não sabia nada disso, apenas tinha certa curiosidade por aquela campanha política, que estava à minha frente, quase todo mundo falava a respeito, fazia algum comentário, falava-se por todo canto. Também queria saber, queria incorporar e fazer parte daquilo, essa era a ilusão, que me atraía e reforçava ainda mais, aguçando a curiosidade sobre tudo aquilo. Tudo fluía enquanto aguardava o retorno da mãe, que em breve viria me buscar em definitivo. 
Chegando em João Pessoa, como as perspectivas de permanecer por um tempo maior foram logo se confirmando, dei uma sorte danada em conseguir uma bolsa para estudar num colégio considerado bom no centro da cidade, que hoje não existe mais, Colégio Lins de Vasconcelos, que ficava exatamente ao lado da velha igreja e cartão postal da cidade, o Convento de São Francisco. A porta principal de entrada do colégio ficava em frente ao cruzeiro, marco fundador da cidade de 1585, o marco ficava mais ou menos equidistante do conjunto arquitetônico tombado do convento, do Colégio Lins de Vasconcelos e do Colégio católico Pio XI. Nesse sítio histórico, lembro bem, no outro lado da praça ou largo, ficava o Colégio Pio XI, num prédio escuro, imponente e austero, era o caminho que fazia todo dia, tanto para chegar, como para voltar para casa, passava sempre em frente ao Pio XI. Desde o Rio, morador nessa época, de bairros do subúrbio carioca da linha da central do Brasil, já era acostumado a assistir sozinho sessões matinês nos cinemões
Cinema Rex

de bairro no início dos sessenta, e assim acabei me apaixonando por cinema, pelo ato de ir ao cinema, assistir não importava qual filme, ainda não sabia escolher. Tudo me encantava no cinema, desde o ar condicionado, os lanterninhas com seus flashes luminosos, as baleiras, até mesmo o desafio de tentar assistir filmes permitido somente aos meninos maiores, acima de 14 anos. Nessa passagem por João Pessoa não perdia a chance de ir ao cinema. Se no Rio curtia os filmes de Hércules e bangue-bangue, na capital paraibana tive oportunidade de conhecer outros tipos de filme, mais elaborados, tinha agora à minha disposição as melhores e principais salas de cinemas do centro da cidade. Dessa forma, tive o privilégio de assistir filmes no cinema Rex, que tinha um ar condicionado perfeito, conheci também o Plaza,
que ficava no Ponto Cem Réis, bem no centro, além de muitos outros, que não lembro mais do nome, mas certamente devo ter ido ao Municipal. Uma pena tudo isso ter acabado, inclusive na memória, o mundo também mudou muito de lá pra cá. Hoje sobrevive ainda apenas na memória de alguns, como vivência cultural, como memória afetiva portanto, ou em registros e documentos como o vídeo disponível e agora compartilhado. "C'est la vie!"




Nenhum comentário:

Postar um comentário