segunda-feira, 16 de abril de 2018

Não esquecer para não desejar jamais a sua volta


O regime militar e o caso Para-Sar

Quem hoje tem menos de cinquenta anos, não tem a menor ideia do que foi o regime militar, que governou o brasil de 1964 a 1985. Um regime político forte com muita repressão política e policial, onde não havia liberdades democráticas, apesar da aparente normalidade democrática através do funcionamento de um Congresso Nacional completamente manietado e sob a ameaça constante de cassação do mandato de seus membros, pelos dispositivos autoritários do regime em vigor, como o AI-5 e outros instrumentos repressivos. Quer dizer, era uma ditadura com tudo que tinha direito, para ninguém botar defeito, um verdadeiro estado policial. Logo no início do golpe, esqueceram por completo a Constituição de 1946, e em seu lugar criaram os diferentes Atos Institucionais, AI-1, AI-2, etc., até o AI-5 em dezembro de 1968, quando o regime endureceu de vez, tornando-se um autêntico estado de exceção. Além disso, cassaram os registros de todos os partidos políticos existentes, e no lugar só permitiram a existência de apenas dois partidos políticos, criados artificialmente, um de oposição, o MDB, e outro chapa branca ou oficial, de apoio total ao regime, de nome ARENA. Todos os órgãos representativos de classe e os sindicatos foram postos na ilegalidade, e seus principais líderes perseguidos, presos ou mortos em confronto com a polícia. A sede da UNE na praia do Flamengo/Rio foi atacada e incendiada, e depois o prédio, mesmo chamuscado pelo fogo do ataque, serviu de sede da Escola de Teatro de uma universidade carioca. Os estudantes não podiam mais fazer política em hipótese alguma, havia um decreto-lei contra isso, o famigerado 477, que todo estudante sabia o número de cor, e era um terror, muita gente foi expulsa e presa por causa dele. Havia a figura do estudante profissional, ou seja, em geral um militar de patente superior, tenente, capitão ou major, que era infiltrado em salas de aula, nas turmas de cursos universitários, principalmente nas unidades da área de humanidades. Postos ali especialmente, para vigiar e dedurar os professores e alunos mais engajados politicamente, que porventura se pronunciassem durante as aulas, questionassem e criticassem o governo militar, esses sempre ficavam na alça de mira dos infiltrados. Não preciso dizer, que essa situação, provocava muita insegurança, instabilidade e pânico entre alguns alunos, e também muita paranoia. Era proibida qualquer atividade extra curricular dentro dos muros das faculdades ou escolas, dessa forma, estavam proibidos: grêmios acadêmicos, jornais, cineclubes, grupos de teatro, etc. Costumava-se dizer, que três estudantes juntos no pátio interno, era considerado multidão, era suspeito, não podia, o que gerava um clima muito negativo. Com o passar dos anos as coisas foram mudando aos poucos, mas só durante o governo Geisel, é que começou a mudar lentamente, era chamada de distensão lenta e gradual pelo próprio Geisel. Existia uma censura muito rigorosa contra os produtos culturais, tudo era suspeito, então havia muita censura contra o que se publicava nos jornais, revistas, na música popular, nos espetáculos teatrais, cinema, livros, etc. Para concluir, vou lembrar um pouco de um caso estarrecedor, que ficou célebre, não na ocasião que ocorreu, pois com a censura, não se deixava ser divulgado esse tipo de coisa. Quando começaram os primeiros atentados à bomba contra o regime em 1968, contra alvos militares realizados por grupos de guerrilheiros clandestinos, que logo em seguida, efetuaram alguns sequestros de embaixadores, para servir como moeda de troca por presos políticos ameaçados de morte pela repressão. Alguns setores mais radicais da repressão arquitetaram planos tenebrosos contra a população civil, com a intenção diabólica de culpar os combatentes da luta armada. Um desses planos tenebrosos ficou conhecido como o atentado do gasômetro, ou caso Para-Sar (esquadrão da aeronáutica especializado em resgastes em áreas remotas), diz respeito a um plano terrorista arquitetado em 1968 pelo brigadeiro João Paulo Burnier, que ordenou o desvio de função do esquadrão, para servir de instrumento na eliminação de várias autoridades políticas, como o jornalista Carlos Lacerda, o ex-presidente Juscelino Kubitschek e outros, que seriam sequestrados e em seguida atirados ao mar de aviões do esquadrão; além da explosão do gasômetro no Rio durante o horário de pico, com o objetivo de matar o maior número possível de vítimas, e culpabilizar os guerrilheiros da luta armada.
O que seria uma atrocidade inigualável, e só não foi levada adiante, porque o capitão da aeronáutica Sérgio de Carvalho contestou a operação, e levou ao conhecimento de autoridades superiores, fazendo com que todo o plano terrorista dos militares da Aeronáutica fosse abortado. Sugiro aos apreciadores desse tipo de evento, que pesquisem no Google também, sobre a tentativa de atentado no Rio Centro, durante um show comemorativo do dia do trabalho, no dia primeiro de maio de 1981. Isso apenas para ficar nesses dois casos, mas tem muitos outros casos escabrosos, que é sempre bom lembrar, sobretudo para aqueles jovens, que volta e meia, manifestam o desejo da volta do governo militar.
   




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