domingo, 4 de março de 2018

A razão não vacina contra os sentimentos




Interessante, descobrir o combate feito contra o sentimento, ver de forma forte e presente em todas as mídias, blogosfera incluída, mais uma palavra sendo condenada nesses conturbados tempos, o sentimento. Na clássica querela razão versus sentimento. O sentimento passou a ser vendido como coisa feia e inadequada, irracional, que deve ser combatido incansavelmente. Foi surpreendente, perceber como de uma hora para outra, parece que toda direita transita apenas no campo da racionalidade, de como são racionais, e ninguém tinha percebido nada disso antes, que não sentem nada jamais, que não é de bom tom demonstrar sentimentos em público, que bandeirar sentimentos, não é prova de nobreza, leia-se machismo. Deixando, com isso, um imenso espaço, para todo tipo de oportunismo e a hipocrisia se instalar. Só sendo muito cínico mesmo, ou partindo para a ironia fina ou grossa, para lidar com uma tolice dessa.


Apesar de todos os seus disparates, que muitas vezes soam jocosos, quase imbecis, a verdade é que, com esses métodos a direita está retomando o poder, em certos lugares está chegando, até mesmo, pelo voto. É impressionante, como a direita hoje dá lição ao mundo, como chegar ao poder, sem nenhuma pauta propositiva, como se não precisasse, absolutamente, se preocupar mais com isso. Confiante no sucesso do poder de fogo de seus arsenais midiáticos vivos ou robóticos, verdadeiros obuses ideológicos, hiper negativistas, destruidores, desqualificadores, com um poder de fogo mortífero contra o adversário. O que surpreende o adversário completamente, o leva até às cordas. Tentando se recuperar rápido e voltar à luta o mais rápido possível, não se pode deixar o adversário ganhar terreno. E assim que retoma o fôlego, encontra pela frente uma direita radicalmente demonizadora, estigmatizadora, criminalizadora, que consegue em pouco tempo, com a propaganda massiva convencer grandes massas, que alguma coisa não presta mais, não serve mais pra nada, precisa ser cassada, desqualificada, difamada, caluniada, perseguida, “impichada”, interditada, proibida, expulsa, deposta, banida e finalmente eliminada de forma definitiva, ou como muitos preferem dizer agora, deletada. Agindo dessa forma, desferem um ataque brutal contra determinado personagem da vida pública ou afeto humano, e talvez não haja nem reação, elimina-se o adversário imediatamente, sem resistência. Talvez a direita precise aplicar uma melhor logística na escolha dos adversários a atacar, para se tornar ainda mais efetiva e eficiente.

Por outro lado, como resultado de tudo isso, resta só a completa destruição da própria política, ou da forma como se fazia política, com suas regras, hábitos e negociação, muita negociação para assegurar o pacto mais próximo possível da sustentabilidade ou não, das regras do jogo em vigor, não importando a conjuntura. Isso acabou, agora as coisas estão sendo tomadas na mão grande, na lei do mais forte, não há mais respeito pelo adversário. Adversário? Imagine, pelo contrário, por essa lógica, qualquer adversário agora é inimigo, se é inimigo precisa ser destruído, eliminado, não tem conversa. Aniquila-se logo o inimigo e pronto, está acabado, de preferência, o mais rápido possível. Extermínio já! É uma guerra híbrida? Guerra híbrida é o nome que estão dando agora, a esse tipo peculiar de ataque sem tiros, como passaram a definir o ataque contra determinados governos nos chamados países democráticos e outros nem tanto, como foi o caso do ataque contra países do norte da África e Oriente Médio. Tenho ouvido vozes abafadas dizer, que mesmo no centro do mundo desenvolvido, ou seja, em países de proa da Europa Ocidental e América do Norte, a coisa tomou o rumo da direita radical, quase extremada, uma direita bizarra, caricata, abusada, provocadora, extravagante, brega, cafona, exagerada, que não está nem um pouco preocupada com a aparência. O que se ouve, é que essa retomada do poder pela direita, aumentou muito os riscos no mundo. Uma direita que perdeu a vergonha na cara, para que vergonha? Faz tudo com a maior cara de pau, na cara dura e sem esconder o rosto. Fez, faz e continua a fazer. Que mandou todos os escrúpulos às favas. Enquanto isso, na entrada da favela Rocinha no Rio, escuta-se: "O que você está dizendo?" "Democracia?" "Sabe com quem está falando?" Violência e mentiras são as armas da direita. No plano interno, se colar será ditadura, se colar colou.

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