quarta-feira, 11 de maio de 2016

Catando ideias



O meu mais novo amigo, o senhor Rui Grieger, tem sido uma inesgotável fonte de ideias interessantes nos últimos tempos, mas com um ligeiro detalhe, precisa ser movido à cerveja, haja cerveja, muita cerveja. só assim as estórias fluem soltas, muitas estórias, uma atrás da outra, numa profusão assustadora. Muita coisa se perde, não uso nenhuma tecnologia, armazeno o que posso na memória mesmo, e acabo só registrando aquilo que me fale mais alto, aquilo que me toca mais, me sensibiliza no relato. Em vista disso, tenho solicitado e procurado o Rui, mais do que a prudência manda fazer em casos de início de amizade, para não ser demais, inoportuno, chato, etc.
Gosto tanto de sua prosa, de sua forma de narrar e contar, e do conteúdo humano de todas elas, que tem sido praticamente uma das minhas fontes principais, para poder escrever as minhas ficções, sair um pouco do próprio umbigo. Portanto não me vejo sem o Rui no horizonte nesse momento, seria como perder a inspiração. Por isso fiquei muito preocupado, depois que telefonou domingo à noite, para me dar um fora, alegando ter encontrado o registro em seu celular de três ligações minhas. Como estava completamente sóbrio, parecia outra pessoa falando, contou que havia esquecido o aparelho em casa, e encontrar três ligações, era um pouco demais, o que é que eu tanto queria assim com ele? Não tive coragem de responder, que eram as suas estórias incríveis, das quais me tornara viciado, já tinha até síndrome de abstinência. Na verdade, havíamos combinado um almoço naquele domingo, e como está sem carro, pediu que o pegasse em sua casa por volta de uma da tarde, só que subitamente mudou de planos e esqueceu de avisar, mas como falou o tempo todo sem me deixar dizer nada, não pude contar a razão de ter telefonado. Preparei tudo, levei até caderno para anotar alguma ideia, se houvesse oportunidade, porque não quero parecer jornalista, repórter ou algo que o valha. Como tenho me comportado, disponibilizando uma escuta acima do normal, nesse mundo onde é cada vez mais raro encontrar quem queira escutar, onde a escuta se tornou quase uma mercadoria rara. Encantado com suas estórias, sou sempre muito atento a quase tudo que fala, presto muita atenção sem interrompê-lo, acho que isso o fascinou de alguma forma, porque como disse atrás, é cada vez mais difícil hoje em dia encontrar quem queira ouvir, dar atenção um pouco que seja, é algo raro, é difícil.
Costuma-se ouvir por aí, que para dispor de uma escuta atenta, é preciso pagar por ela, é preciso procurar um profissional, psicanalista ou prostituta. Acho isso um tanto exagerado, mas enfim não deixa de ter um fundo de verdade. Existem algumas regras básicas, que não devem ser quebradas, em qualquer tipo de relação, para evitar precoces rompimentos indesejados. Da minha parte só resta mesmo aguardar, ou quem sabe encontrá-lo por acaso, na rua ou num canto de bar, para conseguir mais subsídios e causos, e assim terminar de escrever a estória inacabada, que já passou da metade. Sei que poderei terminá-la, mesmo que não volte mais a vê-lo, como já fiz em outras ocasiões. Por enquanto só resta mesmo aguardar. 

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