O meu mais
novo amigo, o senhor Rui Grieger, tem sido uma inesgotável fonte de ideias interessantes nos
últimos tempos, mas com um ligeiro detalhe, precisa ser movido à cerveja, haja cerveja, muita cerveja. só assim as
estórias fluem soltas, muitas estórias, uma atrás da outra, numa
profusão assustadora. Muita coisa se perde, não uso nenhuma tecnologia,
armazeno o que posso na memória mesmo, e acabo só registrando aquilo que me
fale mais alto, aquilo que me toca mais, me sensibiliza no relato. Em vista disso, tenho
solicitado e procurado o Rui, mais do que a prudência manda fazer em casos de
início de amizade, para não ser demais, inoportuno, chato, etc.
Gosto tanto de
sua prosa, de sua forma de narrar e contar, e do conteúdo humano de todas elas, que
tem sido praticamente uma das minhas fontes principais, para poder escrever as
minhas ficções, sair um pouco do próprio umbigo. Portanto não me vejo sem o Rui
no horizonte nesse momento, seria como perder a inspiração. Por isso fiquei
muito preocupado, depois que telefonou domingo à noite, para me dar um fora,
alegando ter encontrado o registro em seu celular de três ligações minhas. Como
estava completamente sóbrio, parecia outra pessoa falando, contou que havia
esquecido o aparelho em casa, e encontrar três ligações, era um pouco demais, o
que é que eu tanto queria assim com ele? Não tive coragem de responder, que
eram as suas estórias incríveis, das quais me tornara viciado, já tinha até
síndrome de abstinência. Na verdade, havíamos combinado um almoço naquele domingo, e como
está sem carro, pediu que o pegasse em sua casa por volta de uma da tarde, só
que subitamente mudou de planos e esqueceu de avisar, mas como falou o tempo todo sem me deixar dizer nada, não pude contar a razão de ter telefonado. Preparei tudo, levei até
caderno para anotar alguma ideia, se houvesse oportunidade, porque não quero
parecer jornalista, repórter ou algo que o valha. Como tenho me comportado,
disponibilizando uma escuta acima do normal, nesse mundo onde é cada vez mais
raro encontrar quem queira escutar, onde a escuta se tornou quase uma mercadoria rara. Encantado
com suas estórias, sou sempre muito atento a quase tudo que fala, presto muita
atenção sem interrompê-lo, acho que isso o fascinou de alguma forma, porque
como disse atrás, é cada vez mais difícil hoje em dia encontrar quem queira ouvir, dar atenção um pouco que seja, é algo raro, é difícil.
Costuma-se ouvir
por aí, que para dispor de uma escuta atenta, é preciso pagar por ela, é preciso
procurar um profissional, psicanalista ou prostituta. Acho isso um tanto
exagerado, mas enfim não deixa de ter um fundo de verdade. Existem algumas regras básicas, que não devem ser
quebradas, em qualquer tipo de relação, para evitar precoces rompimentos
indesejados. Da minha parte só resta mesmo aguardar, ou quem sabe encontrá-lo
por acaso, na rua ou num canto de bar, para conseguir mais subsídios e causos, e assim terminar de escrever a
estória inacabada, que já passou da metade. Sei que poderei terminá-la,
mesmo que não volte mais a vê-lo, como já fiz em outras ocasiões. Por enquanto só resta mesmo aguardar.
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