Viver sob o
regime democrático não é fácil, em primeiro lugar, porque não existe nenhuma
democracia concluída, pronta e acabada, é um regime por fazer e construir,
tijolo a tijolo, de aperfeiçoamento contínuo e permanente. Quem disser o
contrário, certamente estará querendo ludibriar. É bom sempre ter ao alcance as
palavras do Leviatã de Thomas Hobbes, de que “o homem é o lobo do homem”, para
nas horas mais difíceis encontrar forças para buscar compreender aquele momento
e poder ultrapassá-lo com sabedoria. Em segundo lugar não é fácil também,
porque nem sempre aquele projeto político do qual se é partidário, foi
escolhido pela maioria, é o projeto vencedor do momento, ou hegemônico. Quando
um grupo político perde uma eleição, seus eleitores se sentem derrotados e são
lançados de imediato na oposição. Quem viveu sob a ditadura militar brasileira,
um longo período de 21 anos, que parecia nunca ter fim, SABE muito bem o que é
ser oposição, sabe como é duro viver sob o autoritarismo e sem a menor chance
do contraditório, com aquela “democracia” de fachada, para inglês ver, um
eterno jogo de faz de conta. Alguém poderá dizer que ser oposição durante um regime
democrático é muito diferente do que diante de um regime autoritário e
ditatorial. Claro que é, não tenha dúvida, mas só o menciono, para mostrar a
dimensão do gosto amargo de vivenciá-lo, trata-se do exagero de ser oposição,
apenas para chamar a atenção do leitor. Então, como estava dizendo, ser
oposição não é fácil, todo mundo concorda com isso. Bem, deixando de lado os
partidários dos regimes de força e ditatoriais, os democratas ou todo aquele
que gosta, prefere e luta, para viver em regime democrático, sob as regras de
uma constituição, que assegura uma série de direitos e deveres para todos os
seus cidadãos, em que todos são iguais perante as leis. É preciso antes de
tudo, dizer que nem todo mundo é democrata do mesmo jeito. Uns são mais
afetados, tocados e sensibilizados por questões morais, quando ouve que alguma
coisa errada foi cometida por uma autoridade, fica indignado, com razão claro,
levanta da poltrona ameaçando ir para a rua protestar contra. Outros já ficam
mais indignados contra a injustiça social, a desigualdade e a miséria de
muitos, que os afeta a ponto deles também desejarem ir para a rua em
manifestação contra aqueles disparates sociais, pressionar para que seja encontrada
soluções. E assim, o eleitor contribuinte poderá ser mais afetado
por isso ou por aquilo, é legítimo que assim seja. Agora se formos estabelecer
uma escala de prioridades, aquilo que é mais essencial numa democracia, o que é
mais urgente que seja atendido, porque é da essência da democracia. É lógico
que é a desigualdade. Porque se considerarmos que a democracia se caracteriza
como o governo de IGUAIS, qualquer desigualdade existente irá corromper e corroer
os valores democráticos daquela sociedade. Portanto, urge tentar reduzir o
tamanho da desigualdade o quanto antes, é a prioridade das prioridades. E o grupo
político que sinaliza estar a caminho disso, acaba se caracterizando como mais
democrático consequentemente. Por outro lado, há quem indique uma certa escala
de valores para essa ou aquela ação, que ajuda a sinalizar as prioridades a
serem escolhidas no futuro imediato. Por exemplo, o eleitor que só se levanta
da poltrona movido, ou afetado por questões de natureza morais, por
sentimentos, do isso pode ou isso não pode, ou “que absurdo!”, ou de outro: “ah,
como estou chocada!”. Na verdade não é a maneira mais nobre de ser afetado pela
coisa pública, os sentimentos são legítimos e verdadeiros, mas não deveria ser
o motor principal a nos fazer levantar da poltrona. Mais nobre é usar a mente
com inteligência, refletir e pensar, em busca de que seja encontrada
soluções, emergenciais ou não, para reduzir o tamanho da desigualdade,
da distância social entre uns e outros, porque só assim estaremos no caminho de
ser uma DEMOCRACIA para valer com mais cidadania para todos, e não apenas para alguns.
Perfeito, Ciro! A redução das desigualdades deve ser a prioridade por muitas razões, sendo uma delas a redução da violência. Obrigada pelo texto. Abraço!
ResponderExcluir