sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Estado versus Mercado

Em seu último livro: "A tolice da inteligência brasileira" da LeYa Editora, o sociólogo Jessé de Souza atual presidente do IPEA, indaga abismado (para não dizer indignado), porque a elite culta brasileira demoniza tanto o Estado brasileiro, que acusam de ter sido apropriado e corrompido ao longo do tempo pelas elites econômicas através do chamado patrimonialismo, e não dá o mesmo tratamento nem procede da mesma forma, quando se referem ao (deus) mercado. Ora, se são os mesmos atores e agentes econômicos, por que são corruptos apenas quando operam no Estado nacional e quase nunca se denuncia nada em relação a atuação dos mesmos agentes quando atuam no próprio mercado? Quem sabe agora com o andamento da operação Lava Jato, tudo isso venha a ser desmentido e se possa ser desmitificadas e reestudadas décadas de estudos sociais brasileiros, estudos de autores carimbados e consagrados ao longo de todos esses anos, que são verdadeiros cânones na academia e estudados ainda hoje nos cursos universitários, como é o caso segundo Jessé de Souza, de gente do peso de um Gilberto Freyre, Sérgio Buarque e Raymundo Faoro por exemplo, além de muitos outros. É claro, que não se pode dizer que tudo seja fruto apenas de um colonialismo cultural e intelectual de nossas principais cabeças teóricas, quando se importa as idéias dominantes de fora, sem adaptar a visão do colonizado às condições específicas do próprio ambiente cultural do colonizado, e não pela ótica exclusiva do colonizador, ou da maneira como somos vistos de fora. O que gera uma tremenda distorção de visão e perspectiva. Além disso tem toda uma necessidade de nossas principais mentes, de justificar e legitimar toda uma ordem(ou desordem) econômica, produtora de profundas desigualdades sociais, que herdamos do período escravocrata e que ainda permanece em larga escala na maior parte do país. Justificar e legitimar através do discurso ideológico que passa através de todo um corpo teórico pseudo científico, que muitas vezes reflete muito mais o senso comum do que o conhecimento científico da realidade. Com essas considerações fica evidente a falácia de se achar que o Mercado é a solução para tudo, e que portanto se tem mais é que reduzir o tamanho do Estado cada vez mais, o que é uma bandeira da ideologia do liberalismo econômico atual, o chamado neo-liberalismo que prega também a desregulação cada vez maior do capital financeiro, que foi o principal fator que inclusive levou o mundo à crise do capitalismo financeiro de 2008, crise essa que continua refletindo e repercutindo no mundo até agora. Fala-se de uma forma, que deixa a impressão que a partir do momento, que atendendo aos reclamos do mercado, se conseguir deixar quase tudo entregue aos caprichos do mercado, tudo será ótimo e não se terá mais corrupção. Nada mais falso e falacioso, é só olhar o que aconteceu por aqui durante a ocasião da privatização de nossas empresas estatais durante o governo de FHC nos anos noventa. Quem tem algum discernimento assistiu e compreendeu como se deu todo aquele processo de privatização ocorrido durante os dois governos de FHC, com toda a corrupção que rolou solta na venda de ativos públicos, inclusive com a cessão de bens públicos para certos amigos adquirirem aqueles bens com financiamentos também públicos via BNDES e por preços irrisórios. Bem, mas tudo isso é considerado hoje águas passadas, não é mais oportuno nem relevante se tocar nesse tipo de assunto para uma certa imprensa. E enquanto isso, se continua dando cada vez mais um VIVA ao deus Mercado.

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