quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

Soberba viciante


Fernando gosta de dizer, o que por sua vez já é uma justificativa, que faz análise, porque julga que ainda precisa se sentir mais fortalecido, precisa de mais empoderamento, para só assim poder enfrentar o mundo e os outros com mais bagagem emocional, e aí sim, ter mais chances de obter êxito, mais vitórias que derrotas. E já dizia isso, quando o conheci há mais de duas décadas atrás, no finalzinho dos anos oitenta. É claro, que de lá pra cá, já mudou de analista não sei quantas vezes, e só agora com o último, é que adquiriu uma certa estabilidade, pois já dura uns oito anos.
Apesar de tudo, não se consegue ver até onde a vista alcança, nenhum final no processo analítico de Fernando. Quase nenhuma possibilidade de alta, pelo contrário, continua cada vez mais entusiasmado, a ponto de continuar fazendo de vez em quando, certo proselitismo psicanalítico, ao recomendar o tratamento a quase todo mundo, que conhece, sobretudo àqueles de quem se aproxima de forma mais íntima. Teve uma época, que falar a respeito de psicanálise, era uma espécie de gancho, que precisava, para se aproximar de alguma jovem interessante. Segundo o próprio, essa foi a estratégia principal, para abordar mulher durante um certo período da sua vida, até quando parou de funcionar, não dando mais os resultados esperados, o que o fez abandonar por completo tal ferramenta.
Mas ainda não é difícil, vez ou outra, encontrá-lo falando a respeito com desconhecidos e estranhas principalmente. Quando o assunto é psicanálise, ele gosta de dizer, que ainda está muito longe de atingir o objetivo proposto no começo do tratamento, que o mundo ficou muito mais difícil e violento, que é cada vez mais difícil se adaptar a tudo sem o socorro da psicanálise. Diante do que, fico a me indagar, qual seria a razão de tudo isso? Dependência, vício, uma escora ou apoio que não liberta e que só cria cada vez mais dependência? Se for vício, seria vício em quê?
Lembro que no começo do tratamento a demanda era por mais poder, precisava se sentir mais forte, para poder enfrentar um mundo adverso e cruel. De lá pra cá, é possível, que tenha conseguido adquirir o tal empoderamento, que tanto queria, certamente que o tenha obtido, pelo menos em parte, senão já teria abandonado o tratamento, já que tinha tanta clareza do que queria alcançar. Seria vício em poder, em ter a posse de mais poder? Como alguém que precisa do poder, para na pior das hipóteses, pelo menos poder se sentir mais perto do poder em último caso. Como ama o poder, que é o que mais deseja possuir hoje em dia, numa escala de valor em que o poder estaria numa posição mais vantajosa, até mesmo superior ao próprio dinheiro físico e materialmente falando. Costuma dizer que o dinheiro é consequência de mais poder alcançado. E como ele acredita que o mundo é uma espécie de guerra eterna de todos contra todos, que só sobrevive mesmo os mais fortes, a demanda por mais poder, é uma demanda também constante e eterna, porque não dizer infinita, segundo palavras do próprio. E como ele não considera aquela demanda um vício, de forma alguma, tudo leva a crer, que tudo aquilo que o mantém ligado e em busca de, continuará a persistir por muito tempo ainda. Sempre em busca do Poder, de mais poder, até não poder mais.

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