domingo, 26 de novembro de 2017

Quando pensei escrever uma carta





Prezada Administradora,

De início preciso mencionar o que motivou escrever essa carta, sem o que, jamais teria tomado a iniciativa de por alguma coisa no papel, e endereçar à vossa competência. Foi quando tomei conhecimento, que a vizinha de parede, unidade 102, havia sido repreendida através de uma notificação por escrito, ou seja, uma carta, coisa que já não escuto falar há tempos. O fato de alguém receber uma carta hoje, é tão inusitado, que me espantei assim que ouvi o relato. Hoje tudo é feito de outro modo, por outro meio, o meio digital, como o e-mail, redes sociais, por onde a maioria se comunica. Pois bem, a vizinha do 102 foi chamada às favas, por ter plantado uma roseira. Plantar uma roseira, onde não devia, foi considerado grave, sob a alegação que estava fora do padrão, tinha que retirar a roseira imediatamente, sem chance do contraditório, direito de defesa, sem poder alegar qualquer coisa, sobre porque plantou, etc., nada. De imediato aquilo tudo bateu rápido na cabeça: carta, escrito, roseira, fora do padrão. Não muito tempo depois indaguei-me, ora bolas! Estou com a parte do jardim anexo à minha unidade 101, a parte do jardim que vejo da janela, completamente abandonada, cheia de lixo, plantas mortas tombadas, mato e aranhas entrando pela janela, um horror! E até aqui não me mandaram nenhuma carta, será que é porque não notaram nada de anormal ainda? Não viram que aquele pedaço de jardim está um caos, e portanto fora do padrão do restante do jardim. Não é possível, que não tenham visto, talvez tenham visto, mas a intenção seja mesmo mantê-lo naquele estado. Porque, tem horas, que os olhos só veem o que o fígado quer. E nessa dancei, me tornei invisível, eu e o pedaço de jardim anexo. Mas como não viram? Se conseguiram perceber uma pequena muda de roseira, plantada perto da porta do 102? Que talvez só tenha sido descoberta, pelo local onde foi plantada, quem sabe se ela tivesse sido plantada no meu pedaço de jardim estivesse viva até hoje. Certamente teria mais chances lá, já que não olharam para o jardim do “povo do buraco” durante o ano inteiro. A pessoa que cuida e zela pelo jardim é a moradora da unidade 201, é quem recebe o jardineiro e ordena o que ele tem que fazer, distribui as tarefas do dia; em outras palavras, é quem dá as ordens ao homem do jardim. Se foi tão zelosa e eficaz com o jardim, a ponto de perceber a roseira plantada, se prestou tanta atenção e foi veloz suficiente, a ponto de tomar providências e solicitar à síndica, que chamasse atenção do 102. Por que largou então a parte do jardim, que me corresponde, abandonada durante tanto tempo? Durante o ano inteiro. Por que será? Continuando a refletir a respeito, questionei: então uma roseira é uma coisa indevida, fora do padrão, e uma parte do jardim completamente abandonado, feio, mato alto e cheio de lixo NÃO É? Tem algo errado aí, algo não tá batendo. Esse negócio de considerar uma muda de roseira plantada no jardim, como algo fora do padrão, não tem nenhum sentido, é uma desculpa esfarrapada, para outro nome que não têm coragem de confessar, a implicância. Condenaram à morte a pobre da roseira por pura implicância, porque não escondem, que não gostam nem um pouco, da moradora do 102, fazem questão de cultivar e manter um permanente clima de tensão e hostilidade, como se a intenção fosse transformar a vida de quem vive no 102 num inferno. Qualquer coisa é motivo para punição, perseguição e ameaças. Foi exatamente nesse momento, que pensei em escrever algo, para registrar, notificar e denunciar o fato, do abandono da parte do jardim, que me toca nesse latifúndio. Há uns três meses atrás comentei rapidamente, com a síndica, num encontro casual na área comum, no estacionamento, a respeito do fato, a convidei até a minha unidade, mostrei o estado do jardim, que ela prometeu tomar providência assim que fosse possível, mas de lá pra cá, até agora, nada foi feito, notificado, ou providenciado. Então uma roseira é considerado fora do padrão, e o abandono deliberado e proposital de parte do jardim não é? Proibiu de forma deliberada, como lhe é peculiar, a ida do jardineiro cuidar e limpar do espaço. Largar e abandonar, dessa forma, uma parte do jardim do condomínio, não devolvendo, com isso, a prestação do serviço de jardim, paga com parte do dinheiro, que o morador pagou pontualmente. Sem dúvida é uma conduta estranha, mas que vai ficando mais claro, as motivações que estão por trás da conduta lesiva, retaliação. Que comportamento é mais fora do padrão? Plantar uma roseira ou não devolver em forma de prestação do serviço de jardinagem, um serviço que já foi pago? E a conduta lesiva de não devolver o serviço de jardinagem já pago, é feita pela responsável pelo jardim, quando não devolve em serviços, aquilo que já foi devidamente pago. Não tenho dúvida em responder, que fora do padrão não é plantar uma roseira, fora do padrão é não cumprir o combinado, e deixar de cumprir o que foi acordado em assembleia. Fora do padrão é não saber distinguir o que é pessoal, daquilo que é eminentemente institucional. Fora do padrão é não ser capaz de separar, de forma clara, o limite entre o que é público ou coletivo, do que é privado ou particular. Fora do padrão é não cuidar devidamente de parte do jardim do condomínio, por motivos inconfessáveis. Fora do padrão é usar o serviço, ou o não serviço, de qualquer profissional contratado pelo condomínio, para retaliar ou prejudicar outro morador. Fora do padrão é a falta de ética, na conduta lesiva de alguns. Que coisa feia! Não a roseira, claro, mas esse tipo de conduta, por quem deveria zelar pelo jardim como um todo, e não apenas a parte do jardim, que consegue avistar da sua janela. Foi divagando a respeito, que comecei a escrever e cheguei até aqui. Cordiais saudações.






Um comentário:

  1. Há quem prefira cultivar lixo do que Rosas.....explica tudo o ja sabido. Belo texto. Abraços.

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