quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O mesmo personagem em papéis diferentes



A cabeça do soldado das forças armadas, saindo de um blindado, com um capacete camuflado. Trata-se de homem jovem e negro. E o que mais me chamou a atenção, foi o seu olhar, uma mistura de medo e apreensão, com o medo dominando. O curioso, é que se puséssemos, com um toque de mouse, o rosto dele no corpo de um combatente traficante, dos muitos que não faltaram na mídia durante toda a semana, não sei se mudaria alguma coisa. Ambos negros, teríamos tanto lá como cá, representantes saídos da mesma classe social, do mesmo meio social e racial, e porque não dizer cultural. Não sei por que, mas de imediato veio-me logo à mente, o que poderia estar a se passar pela sua mente naquele exato momento. Qual deveria ser o seu nível de consciência a respeito de toda a situação vivenciada? Como estaria se sentindo? Saberia do seu papel naquele minifúndio? É difícil supor uma resposta única para qualquer uma das perguntas. Todos sabem pela experiência e pela História, que praticamente não existe espírito de corpo, o corporativismo, entre os subalternos, explorados e humilhados. A maior crueldade, em geral, é praticada por alguém de baixo contra outro igual, quando se encontra numa posição de mando, de poder. A literatura mundial está cheia de exemplos sobre esse fenômeno. Haja vista a situação da capatagem no Brasil escravocrata. Para analisar essa situação e conseguir chegar a uma compreensão e entendimento, do porquê de tudo isso, pode-se tomar vários caminhos, sem jamais esgotá-los. De início alguém poderá dizer que somos influenciados por uma ideologia dominante, e que quanto mais nos encontramos na base da pirâmide social, mais ficamos vulneráveis às influências daquela ideologia. Dessa forma, parece um simplismo, mas entende-se, que alguém agrida com tanta crueldade outro ser de sua mesma origem social. Porque embora um indivíduo qualquer, um soldado da polícia militar, por exemplo, ao cometer arbitrariedades contra um pobre negro qualquer, ele o faça com a cabeça feita por todo um condicionamento realizado ao longo de anos, de forma que é como se ele não tivesse uma cabeça própria. É o caso similar de um indivíduo negro qualquer, que porventura manifesta racismo contra outro negro, isto é, ele apenas está reproduzindo o racismo dominante da sociedade assimétrica e desigual, a que pertence. Para lutar contra essas situações paradoxais, nunca é demais lembrar das políticas de 'ação afirmativa' praticadas em outras sociedades, e que são bem eficazes contra esses fatos. Na medida que, através do trabalho da desconstrução dos valores dominantes, descobrimos o que está por trás, e tem como resultado o desmascaramento de certos símbolos e conceitos, até ao ponto de se poder desfazer as ideias, que alimentam aqueles preconceitos. Para concluir, considero que se fosse possível elaborar oficinas filosóficas de desconstrução ideológica, para esses grupos, precisaríamos trabalhar tanto com o soldado da foto, ou grupo de soldados, ocupantes de ocasião do complexo de favelas; como também com indivíduos ou grupo de moradores das comunidades, e o morro do alemão é um exemplo bem ilustrativo de tudo isso.

Militar das Forças Armadas em veículo blindado durante cerco a traficantes no Complexo do Alemão (zona norte do Rio)

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