sábado, 4 de dezembro de 2010

OS IMPERDOÁVEIS


A intolerância vinda de onde não se espera

É curioso observar, como certas pessoas, que fazem questão de mostrar, que são gente de bem, porque são bem posicionadas e inseridas na vida social de sua área de influência e, portanto por isso mesmo, consideradas influentes. Gente que faz questão de exibir, que se mantêm atualizada em várias matérias e assuntos, como por exemplo, seguem com ardente paixão as filosofias da moda, ou o movimento estético-artístico mais de vanguarda, e também as últimas novidades em matéria de psicoterapia, e por aí afora. Com a necessidade de precisar mostrar e exibir que são bacanas, que são os tais, que estão por cima da carne seca. Enfim, é gente, que acredita ainda piamente, que a propaganda é a alma do negócio, e leva a autopromoção e o marketing de si mesmo às últimas consequências. Não preciso dizer, que vistos assim de fora, por um observador neutro, essas pessoas poderiam ser consideradas como sendo muito bem sucedidas, pessoas de sucesso. Além de todos esses atributos mencionados, poder-se-ia acrescentar ainda, que consideram-se também revolucionários, não mais na política, claro, porque hoje em dia, ser revolucionário na política, está fora de moda. Mas revolucionários nos costumes, que é o que importa hoje, segundo os próprios. Pois consideram, que é preciso, que os mais ousados efetivem a sua emergência.
Em termos filosóficos, não acreditam mais em verdades de nenhuma espécie, pois o conhecimento é relativo, já que a realidade é efêmera e fragmentada, ou talvez líquida, o que devem ter descoberto lendo algum filósofo de plantão da última moda. Para eles não tem mais nenhum sentido falar em sistema de pensamento, ou sobre o todo social, a noção de totalidade é uma falácia simplista, uma abstração, faz parte da velha metafísica. Pois bem, caso façamos um esforço imaginativo, para materializar alguém com o perfil acima descrito, de imediato consideramos, que é o máximo essa criatura, que é fácil lidar com alguém assim perfilado. Pessoas dessa estirpe devem ser bacanas, tolerantes, que jamais julgam os outros pela aparência, já que posso ser e não ser ao mesmo tempo um monte de coisas. Portanto estou a salvo, com toda a minha esquisitice, do implacável julgamento dos meus pares, pelo menos por parte daqueles considerados modernos e bacanas. Mas infelizmente não é dessa maneira, que as coisas ocorrem e fluem socialmente. Por mais paradoxal, que possa parecer. Justamente as pessoas, que se acham modernas na teoria, são as que têm demonstrado serem as mais intolerantes com o diferente na prática. O fora do contexto, o inadequado, o louco, o desajustado, o imigrante, em suma: o outro, ou qualquer pessoa fora do padrão estabelecido, que aparentemente, pelo fato de apresentar-se de forma diversa, é o candidato preferencial para receber um carimbo, um crivo social, e ser vista como algo, uma coisa, já que dizem: "Olhem! Vejam só o que ele é!". Como se o ser dessa pessoa tivesse se reduzido a apenas um clichê. Ou pérolas do tipo: "Ora, já que alguém pensa dessa forma, ela não me interessa mais". Mostrando dessa maneira a dificuldade em lidar com o contraditório. Daí que, quando pessoas que se consideram modernas, e vemos depois no dia a dia, não serem tão modernas assim, justamente porque eram as últimas de quem se fosse esperar serem tão intolerantes, e que viessem na prática a reforçar preconceitos de forma tão veemente. Pois é uma enorme incoerência, confessarem o tempo todo, que não acreditam em nada considerado definitivo, pois não creem em verdades, pelo menos na teoria, já que se dizem céticos; e que, diante de um igual, outro ser humano qualquer, que por acaso apresente algum sinal, por menor que seja, que não esteja de acordo, em sintonia ou conformidade, com o ideal imaginário da pseudo modernidade, mais que de imediato, decide-se colocar no diferente um carimbo denunciante, um selo ou uma marca de Caim. Não literalmente, como faziam os nazistas durante a segunda guerra, pondo a estrela de Davi nos judeus, ou o triângulo rosa nos gays. Para em seguida, posto esse carimbo simbólico, poder julgar, controlar, condenar, aplicar sanções com todas as punições cabíveis, e enfim definitivamente descartá-lo para todo o sempre. Eles são imperdoáveis?

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