terça-feira, 16 de novembro de 2010

A direita não existe mais? Será?

É muito comum se ouvir por aí: "ah, essa coisa de esquerda e direita não existe mais!". E o que significa essa afirmativa pela negação, da existência em nossos dias da diferença entre esquerda e direita, e até mesmo sobre a inexistência de ambas? O que é que não existe mais? Será que o ideário conservador e intolerante, que caracteriza o pensamento de direita e é sua especificidade, que não se manifesta ou se materializa mais em nossos dias? Ora, pelo que me conste, nunca esteve tão presente como agora, as denúncias impressas na grande mídia, sobre diferentes tipo de intolerância, tanto racial como em relação a questão de gênero, orientação sexual e outros como a xenofobia. Os exemplos são os mais variados possíveis, é só lembrar a questão dos ciganos na França, a situação dos turcos na Alemanha, a questão da intolerância quanto ao uso do véu islâmico em diferentes países do bloco europeu, a proibição de construção de minaretes na Suíça, mesquita pode, mas sem minaretes, aquelas torrezinhas características, quase um ícone das mesquitas. Atravessa-se o Atlântico e nos States, o que encontramos? O 'Tea Party', grupo radical e fundamentalista da direita do Partido Republicano, com toda a sorte de prescrições e restrições, um verdadeiro rol ou lista de proibições, tipo isso pode, aquilo não pode. Uma miscelânea de liberalismo político, ou seja, redução do tamanho do Estado, o tal do Estado mínimo, com intolerância religiosa agravada pelo fundamentalismo cristão evangélico. Qualquer projeto de política pública, para atender os mais necessitados, que na Europa não seria mais do que mais uma medida de amparo social, coisa de social-democrata, do lado de cá do Atlântico é vista pelos 'NeoCons' como coisa de comunista. Além disso tudo, temos o conservadorismo religioso, que conduz a um fundamentalismo, tão ou mais radical, que a doutrina xiita iraniana. E aqui nos trópicos, acompanhamos como certas questões de cunho religioso, direitos civis de homossexuais e a questão do aborto, foram usadas durante a campanha política para presidente no ano de 2010 de forma sub-reptícia, invertendo a ordem natural das coisas, nos levando para trás em total retrocesso. Com o objetivo claro de jogar contra a candidata da situação, a oposição raivosa de setores tacanhos e atrasados da sociedade, que ainda são contra aquelas questões. Embora não tenha entrado em maiores detalhes, nos pormenores dessas manifestações de intolerância, tanto na Europa, como nos EUA, nem mesmo no Brasil, fico a pensar, no que há de comum entre as diferentes manifestações de intolerância, o que é precisamente específico e peculiar, para caracterizá-las como de direita. E mais do que de repente, acontece em São Paulo o episódio do espancamento de alguns indivíduos, absurdamente julgados pela aparência como gays, por bandos de delinquentes e desordeiros, alguns de classe média alta, como foi o episódio da Avenida Paulista no domingo passado. E também no Rio de Janeiro, o tiro tomado por um rapaz de dezenove anos, que passeava com amigos no parque do Arpoador, apenas porque se disse gay para uns soldados do exército em serviço. Soldados esses, segundo o jovem, que ofendiam outros rapazes que estavam no local em momento de lazer, exigindo documentos de forma intimidatória, etc, gerando total constrangimento para os visitantes do local. O caso do Rio é emblemático porque, o que está em jogo, é algo do tipo, vivo numa sociedade em que ser viado é uma coisa feia e obscena, portanto como você é viado, pois acho você parecido com um, então eu posso ofendê-lo, humilhá-lo, em seguida espancá-lo, massacrá-lo e finalmente destruí-lo. Se você quer viver aqui sem punições, trate de ficar, estar e permanecer invisível, caso contrário pagará um alto preço, talvez até mesmo com a própria e sem valor vida. O que é uma manifestação como essa? Coisa típica de filme sobre nazistas, a direita mais extremada possível, a intolerância levada as últimas consequências. A configuração de uma mentalidade, composta de algumas idéias, noções, preconceitos e crenças de intolerância contra determinados símbolos, e consequentemente contra indivíduos sob o manto de tais símbolos, a mover e mobilizar certos agentes públicos e atores sociais e levá-los a praticar atos anti-sociais, invadindo direitos e praticando crimes. Se manifestações como essas não se trata, ou se configura como gestos de direita, o que será então? Como classificá-lo? Como compreender tais fenômenos, sem chamá-los pelo nome, nem mostrar sua origem, digitais e raízes ideológicas?

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