sexta-feira, 27 de novembro de 2009

A resistência do atraso

Nos anos setenta era comum ouvir o comentário, de que no Brasil, as importações de bens e serviços, chegavam aqui através de avião supersônico, já as ideias, ah! As ideias! Era, como se ainda fosse, através das caravelas do século XVI. Hoje com o avanço tecnológico, a mundialização da internet, etc, as idéias até chegam bem rápido. Hoje as ideias chegam instantaneamente, porém a resistência do atraso, trava a aceitação delas de imediato, barreirando o seu avanço e disseminação, numa espécie de atropelo dos fatos por ideias atrasadas, que não representam nem exprimem mais a realidade, mas que insistem em sobreviver em certa mentalidade conservadora e reacionária, que não quer ceder às evidências dos fatos. É notório, que o país está mudando, avançando em variados aspectos, ampliando direitos, mas para certos ideólogos, continuamos funcionando ainda, em termos de pensamento e ideias, quase como aquela máxima da segunda grande guerra, que dizia que uma mentira muitas vezes repetida, torna-se uma verdade dogmática.
Portanto, esse é o caso no momento, de certos dogmas econômicos da ideologia neoliberal, repetidos ad nauseum, antes, durante e depois da última crise do capitalismo financeiro, que atingiu em cheio também a economia real, a se acreditar que essa crise já terminou. Repetidos por todo tipo de economistazinho, travestido de analista de mercado e outros, ideólogos do capitalismo financeiro, da monetarização do mundo, uma espécie de missionário de ocasião do chamado deus mercado, pregadores do evangelho neoliberal, ou seja, os conhecidos e alardeados no Brasil, principalmente nos últimos quinze anos, os fanáticos adeptos do neoliberalismo econômico. Dentre os dogmas repetidos ad nauseum, está a redução do tamanho do estado, o tal do estado mínimo, a crítica do gasto público, a chamada gastança no jargão dos próprios. Todo esse proselitismo pro-mercado é feito cotidianamente através da imprensa especializada ou não, numa espécie de cantilena quase jesuítica, já que repetida toda hora e todo dia, numa massiva campanha. Eles não desistem nunca, de sua propagação ideológica, numa coisa tipo impor uma narrativa, bater na tecla, que consideram a mais verdadeira. É uma luta ideológica para impor as suas crenças, valores e ideias, não importa se atrasadas ou não. É como dizia Louis Althusser, uma luta de classes na teoria, no caso não se trata de teoria científica, mas crenças ideológicas. Só que agora, diante do mundo atravessando uma grave crise, talvez só superada pela de 1929, continuar com essa cantilena, significa atropelar os fatos. Uma política anticíclica para amenizar os efeitos da crise, continua sendo implementada pelos países centrais, alguns deles criadores da política econômica neoliberal, que foram forçados a mudar movidos, não por ideologia, mas pelo efeitos trágicos dessa crise, senão corriam o risco de falência, "default", quebradeira geral. E assim, despejam trilhões de dólares no sistema financeiro, para irrigar os negócios particulares e privados com recursos, dar fluidez e crédito, para a máquina não correr o risco de parar, para evitar um risco sistêmico, e o seu efeito cascata, inclusive na periferia.
O que os ideólogos neoliberais brasileiros não aceitam, nem se conformam, é que essa crise revela e mostra uma queda de paradigma, praticamente com o mesmo significado da queda do muro de Berlim em 1989. Não adianta mais continuar insistindo na repetição de dogmas e mantras gastos e falidos, pois a evidência dos fatos da realidade se encarregará de deixá-los relegados à lata de lixo da história.

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