quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Algumas questões sobre como lidar com a imprensa


As vezes me indago, se existe um lugar donde se possa interrogar uma instituição como a imprensa, apesar das nossas preferências ideológicas. É claro, que não estou falando em isenção total e absoluta, porque a não ser para os ingênuos, sabemos que isso não existe, somos todos movidos por essa ou aquela paixão político ideológica. Agora a questão que se coloca, é se, apesar dessa paixão, podemos ter condições de avaliar, quando uma reportagem é contaminada pela tendência ideológica do articulista ou da linha editorial do veículo de mídia.


 Sabemos, por outro lado, que em geral, todas as paixões cegam, embotam a nossa capacidade de reflexão. Quem já não ouviu ou leu que o amor é cego? Para evitar cair num ceticismo imobilizante, é melhor acreditar, que é possível, apesar de nossas crenças particulares e individuais, encontrar o lugar donde possamos perceber todos esses movimentos ideológicos, os nossos e os dos veículos de mídia, ou de  qualquer outro. Pois, caso contrário, não seria possível, por exemplo, nem mesmo a reflexão filosófica.
Dito isso, o que costumamos ver no cotidiano de nossa relação com a grande imprensa, jornalzões como o Estadão, a Folha, o Globo e as revistas Veja e Época, não por acaso todos negócios de famílias. Em geral esses veículos são coerentes em suas posições ideológicas, procuram cultivar e reforçar essas posições em seus editoriais, contratando como articulistas, profissionais que se coadunam com as mesmas posições político partidárias. Procuram publicar na seção de cartas dos leitores, apenas as cartas que não se chocam com a sua linha editorial, quer dizer, quase como um anátema ao contraditório. E quanto aos leitores, o que resta?
Procurar ler apenas os meios e veículos, que se afinar mais com o seu gosto político, ou, na medida do possível, procurar ler todos, que é possível ler, mas sempre com um pé atrás, espírito crítico, dando o devido desconto da posição ideológica do veículo midiático lido, o que exige certo esforço e uma vigilância constante e permanente, não pode relaxar jamais, nem dar aquilo como verdade. O que estou habituado a ver, é que, quando a conjuntura de poder é benéfica para o leitor, em geral, a paixão política o leva à cegueira. "Ah! Se concordar, não quero ver nada, recuso-me a enxergar qualquer tendenciosidade." Usa o argumento, de que toda a mídia é tendenciosa mesmo, e acabou. A posição crítica desse leitor vai para o espaço, ele continua alimentando essa relação simbiótica, que pode o levar mesmo ao sectarismo, a ponto de passar a ser um defensor intransigente do veículo midiático em questão, quase que no primeiro impulso, ouvindo qualquer coisa contra, já arma-se em defesa do jornal ou revista, que já considera seu. Claro, aquele veículo diz de uma forma muito melhor, aquilo que aquele leitor gostaria de dizer. Agora o problema maior, não é quando a paixão político-ideológica leva o leitor ao sectarismo e a cegueira, isso acontece o tempo todo, é quase natural. O problema maior é quando mesmo percebendo todas essas implicações e distorções no uso de um serviço, uma concessão pública, o leitor, pela simples razão de sua conveniência, silencia e se omite, esquecendo-se, que as conjunturas só são conjunturas, que mudam de vez em quando na história humana. E nesse caso, caberia a cada leitor se por a questão: "como é que eu sou do ponto de vista ético? Ou só consigo enxergar a falta de ética nos outros?" Será que não seria mais conveniente, configurar o sistema midiático, não apenas para o meu gosto ideológico na atual circunstância, mas para sempre, inclusive para os meus netos, venha ele a pensar o que for e quiser?

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