sábado, 22 de julho de 2017

Um ponto de vista particular

Alguns são mais de ação, do fazer, praticar, exibir enquanto faz. A atividade mais facilmente percebida, já que está mais aparente, mais à mostra, materialmente falando mais visível. Nem preciso mencionar o fato dessa intensa atividade ser hegemônica entre a maioria dos mortais. Outros dispondo de um mundo imaginário mais amplo, pegam-se com mais frequência, envolvidos em assuntos reflexivos, assuntos do pensado, das ideias, penso simplesmente ou, as vezes, nem tanto, simplesmente posso botar a cabeça à solta, vagar pela imensidão dos desertos imaginários, à esmo. Ao contrário do que costuma-se ouvir, o mundo da imaginação é também muito perigoso, muitos se perdem, alguns perdem até mesmo a sanidade psíquica, é preciso cautela, nada de julgamento apressado nem de superavaliações, muito menos idealizar esse mundinho. O labirinto material das lendas gregas, e até mesmo dos jardins de filmes, não passam de meras metáforas do verdadeiro labirinto, que é o mental, a dificuldade imensa de encontrar soluções para equações, de encontrar a saída para uma situação difícil vivenciada. Portanto levando em consideração esses dois universos paralelos, que nos acomete de vez em quando, pois é nossa natureza, uns mais outros menos. Foi então, a partir disso, que nos últimos tempos insisti com tanta veemência, para que Miguel Dias registrasse as suas reflexões, digitalizasse, pusesse no papel e enfim publicasse. E por que agi assim? Porque pelo pouco que consegui ler de Miguel, encontrei de cara algo muito especial, mas não conseguia ainda identificar o que era, tornar clara aquela sensação. Era o seu olhar, uma visão de mundo muito particular e especial, que partiu de um mundo também   particular, por fugir do padrão, da normalidade engessada e semi-estática, que cai nas rotinas, acostuma-se com facilidade, torna-se hábito e zona de conforto. E que mundo era esse? Miguel Dias vem de um mundo não convencional, vivenciou muitas coisas, que a maioria nem desconfia, só vem descobrir mais tarde através de alguma literatura tipo folhetim. Seu pai, por sua vez, vem a ser o segundo marido da mãe, que casou a primeira vez ao quinze anos, uma relação que deixou a herança de três lindas meninas. O pai também tinha mulher e filhos, numa outra casa em outro bairro. Não se precisa dizer a turbulência, que tudo isso gerava e afetava toda a família e que acabou se agravando, quando a relação entre os pais chegou ao fim. Toda essa turbulência de vida em seus pais irá pautar todo o futuro do jovem Miguel, o que o fez sofrer e passar por muitas dificuldades, uma infância pobre, sofrida e difícil, com muitas mudanças de endereço, muita instabilidade, insegurança e medo, que o levou a navegar volta e meia pelo seu mundinho interior. E assim conseguiu escapar e construir uma obra ímpar, que jamais poderíamos abdicar. Que seja enfim salva e divulgada.   

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