domingo, 2 de julho de 2017

Quando o jeitinho dá o tom


Como é curioso, diria até bonitinho, ficar agora espiando os ratos golpistas em ação, sejam aqueles que tomaram de assalto o planalto, desde o seu traíra mor até o último mordomo ou motorista, até mesmo aqueles que os apoiaram, que os ajudaram a chegar ao poder, tanto individualmente como institucionalmente. Como costuram alianças, constroem uma narrativa de defesa ou de legitimidade, como cuidam da coisa pública. É gritante a total ausência de republicanismo, tanto na escolha dos dois ministros do STE, que votaram a favor do governo, ou a indicação do ministro do supremo sem respeito a lista dada pela categoria, ou a troca do procurador geral. Assisti-los chafurdarem na lama literalmente. Ver como não é mais conveniente chamar as coisas pelos seus verdadeiros nomes. Quando interessa mais confundir do que esclarecer. Viva a ambiguidade! Viva o paradoxo! A não-verdade com veemência, para parecer verdadeira, que já ousam até chamar de pós-verdade. Ver de repente uma mera opinião se transformar em fato incontestável no calor do debate público. É fato ou opinião? Ver também, por outro lado, como as consequências de uma delação premiada, sem provas, uma mera colaboração, um depoimento de um condenado inexorável, que em troca de perdão ou redução penal, pode levar um inocente passar meses e até anos preso de forma coercitiva. Fora o impacto do fato prisional, que com a repercussão midiática, eleva o tom negativo e provoca turbulência na vida de quem é atingido pelo instrumento da delação, embora a delação seja válida e legítima. Será que acabaram sem voto com o direito à presunção de inocência? Tudo bem, vamos direto ao que interessa, antes que acabemos por sucumbir e também nos confundir com a trama linguística. Assistiu-se até aqui, como os procuradores e o juiz de Curitiba tem conduzido a operação Lava-a-jato, com toda a repercussão midiática daqueles, que foram presos até agora. Com um evidente desejo em criminalizar a política de forma geral, mas principalmente o partido, que estava ocupando o poder central até recentemente. Vimos como a mídia oligopolista deu um destaque especial e fez um barulho maior, quando os acusados eram do partido dos trabalhadores. Todos lembram qual era o discurso moralizante, aparentemente moralizante, contra a corrupção na política, segundo apregoavam contra as volumosas somas em dinheiro para contribuições de campanhas políticas, que como se sabia muito bem, todos os partidos faziam, mas só se apontava o dedo para um determinado partido. Diante da grita contra os atos arbitrários da Lava-a-jato de Curitiba, contra a quebra da Constituição, que elevou as vozes de juízes de outras comarcas contra os desmandos. Assiste-se surpreso a adesão na cara de pau dos apoiadores do governo golpista, e do próprio em seus pronunciamentos, ao coro dos descontentes contra a turma de Curitiba, só que por outros motivos. Não é a mesma coisa um inocente se queixar contra arbitrariedades e a falta de respeito pelas garantias constitucionais de qualquer cidadão, outra coisa é um criminoso tentar desqualificar acusadores, para se eximir de culpabilidade. E é o que estão tentando fazer, quando pegaram uma carona no brado retumbante de uma certa oposição contra atos arbitrários da Lava-a-jato. Acabamos de assistir também uma radical mudança de posição do ministro do STF Gilmar Mendes, que quando se tratava da presidente Dilma, era um violento acusador da tribuna do STE, quando encontrava todas as provas acusatórias do mundo para cassar a chapa. Passados pouco mais de um ano, estando agora na presidência da república através de um golpe parlamentar, um amigo pessoal, que visita frequentemente na calada da noite, o eloquente ministro mudou completamente de voto, tornou-se o novo paladino da legalidade, um respeitoso senhor da Constituição Federal, e assim salvou da cassação o amigo golpista e ladrão. Da mesma forma, assiste-se o senhor Skaf da Fiesp, um "não-industrial", para usar o mesmo tipo de jargão, a também mudar completamente o discurso. Todos se lembram como o senhor Skaf atuou politicamente envergando o uniforme de presidente da Fiesp ostensivamente a favor do impeachment de Dilma, patrocinando diversos atos em diferentes cidades país afora, com os enormes patos amarelos, vociferante tribuno com aparições diárias na mídia hegemônica a favor do golpe. E agora torna-se um pacato carneiro recolhido à sede da Fiesp na avenida Paulista, que não se ocupa mais com a política, só com os assuntos da Fiesp. Seria cômico se não fosse sério. E dessa maneira assisti-se formas diferentes de apoiar um ladrão no poder, um corrupto, que vende favores e vantagens econômicas indevidas, a fazer tráfico de influência em massa sentado na cadeira da presidência da república, a beneficiar o empresariado industrial e o setor financeiro nacional, enquanto isso tenta passar a todo o custo, com o rolo compressor de aliados pelo bolso, todo o saco de maldades contra a classe trabalhadora e os assalariados.

Nenhum comentário:

Postar um comentário