O “viciado em sacanagem” não tem no horizonte nenhuma meta
de chegar ao êxtase, jamais. O mais importante é manter sempre acesa a chama da
libido. Procurar estar sempre em estado de atenção e alerta, e de pau duro para
qualquer eventualidade. É como aquele asceta que se excita, de forma pré-masturbatória,
acaricia-se, mas não goza. Quando perde um pouco da ereção, procura de imediato
retornar às fantasias eróticas em busca de mais excitação, e assim permanece em
torno do prazer, mas sem jamais chegar ao finalmente, através do gozo e da
ejaculação. Apesar dessa busca constante pela ereção, e como tudo acaba sendo
um trabalho, um exercício em busca de, tudo isso está muito longe de um
priapismo. Porque todo esse movimento
erótico, na verdade, trata-se de um exercício quase tântrico, que visa ampliar
cada vez mais a duração da transa, do coito, antes do gozo final. O que é
legítimo, pois procura valorizar mais o “durante”, do que o final, o gozo. O “durante”
que também é importante e prazeroso. Então o “viciado em sacanagem” viaja um
pouco por essa onda, onde o grande barato é o permanente estado de excitação,
sem o qual ele não sobrevive. Dessa forma procura o maior número possível de
parceiros sexuais, reais e imaginários, não importa, desde que essas situações
o mantenha sempre aceso, em constante ebulição, quanto mais ligado melhor. E
dessa forma o “viciado em sacanagem” vai levando a vida, até mesmo quando tem a
chance de escolher um parceiro fixo, procura por alguém “difícil”, amores
difíceis, que crie óbices desfavoráveis à completa realização amorosa e
afetiva. Tem sempre muitas dificuldades em seus envolvimentos complicados e com
pessoas complicadas, mal resolvidas, com interesses outros além do amor erótico.
Geralmente a aritmética quantitativa é mais importante que as qualidades das
relações. Vale como ilustração, e como exemplo, o caso Dé, que inclusive, coitado, já é falecido. Seus amigos mais próximos, costumam comentar, que Dé procurava
sempre se cercar de muitos homens ao seu redor, homens dos mais variados tipos,
alguns bem atraentes e bonitos, e outros, a grande maioria, nem tanto. Uma verdadeira
macharia tinha se tornado o seu lar, segundo palavras de uma amiga comum. Quando o conheci, ele já estava aposentado
pela Prefeitura, aposentado precocemente por invalidez permanente devido ao vírus
Hiv. Aposentado com um ótimo salário, algo em torno de doze mil reais. Mas, havia uma nota
marcante nele, por essa época, é que estava sempre se queixando de falta de grana, seus
proventos nunca eram suficientes para cobrir todos os gastos. Volta e meia
segundo o próprio, valia-se de empréstimos consignados na rede bancária local,
para complementar os rendimentos da pensão, e também para quitar outras dívidas contraídas com juros mais altos. Vivia o tempo todo nessa ginástica
financeira. O rumor que rolava, era que ele havia se convencido, que se tivesse
a posse de mais cocaína “chez lui” o tempo todo, teria também, por todo tempo
do mundo, a presença de rapazes, que atraídos pela isca da cocaína, tornavam-se
assim presas mais fáceis para o assédio sexual. E dessa maneira, Dé vinha há
alguns anos tocando a vida. As vezes adoecia, em algumas delas precisava de
internação hospitalar. Quando se recuperava, voltava o mais rápido que podia à
ativa, à vidinha de sempre, ou seja, para a esbórnia, para muita cocaína e os
muitos e variados parceiros sexuais. O sexo em si não contava muito, o que
contava mais era a excitação que a presença de tantos rapazes por perto
proporcionava. Nem ligava muito para o sexo em si, depois de toda uma noite de
muita ligação e excitação, confessava as vezes. Haja excitação! Uma loucura!
Cheguei a ouvir, que ele atrás de obter cocaína mais barata, já estava a ponto
de correr maiores riscos, entrando em comunidades desconhecidas, o que também,
por sua vez, com a adrenalina da aventura, provocava mais excitação ainda. O que
o foi levando cada vez mais ao estado de dependência desse “feeling” maldito. Tudo
isso até, infelizmente, chegar ao desfecho final.
Nenhum comentário:
Postar um comentário