quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Outros comentários sobre a Imprensa e a Ética


A propósito da liberdade de imprensa

Para começar, pode-se iniciar perguntando: "Quem se beneficia da chamada liberdade de imprensa?"; "A imprensa é livre para quem?"; "Quem tira partido, ou seja, quem tira o maior proveito dessa liberdade?". Porque identificar esse quem, já é meio caminho andado, na busca de tentar esclarecer o nosso espinhoso assunto acima em epígrafe. No caso do jornal impresso, pode-se dizer que a grande mídia impressa brasileira é composta por feudos familiares, os Marinhos, os Mesquitas, os Frias, etc. Diferentemente de alguns políticos profissionais, desprovidos de qualquer paixão político-ideológica, para quem a política é puro interesse ou negócio, o que os levam a estar todo o tempo atrelados ao poder político de ocasião, presos como carrapato, não importa a coloração ideológica de quem seja o poderoso do momento, seja hoje um ditador general direitista, ou amanhã um democrata eleito pelo voto popular, o espectro político não importa, desde que permaneçam atrelados ao poder.
Quer dizer, esses políticos de interesses, em geral interesses pecuniários, sem ideologia, hoje podem estar à direita e amanhã à esquerda, de acordo com as suas conveniências, sem o menor constrangimento e a maior cara de pau, já que contam sempre com o esquecimento das massas em relação às suas incoerências e mau caratismo. Já as grandes famílias midiáticas dos grandes jornalões brasileiros, é claro, que elas também trabalham visando determinados interesses, do qual não abrem mão em absoluto.
Mas, diferentemente da canalha política, eles participam da luta pelo poder político, e por isso são instrumentos dessa luta, são veículos, mediação da luta, apresentando a todo o tempo, a ideia de país no projeto político das forças em jogo, que eles representam como modelo de país, formas de governo, conservação do status quo, e o liberalismo econômico da economia de mercado, dogmas apresentados e defendidos com muita convicção. Hoje a direita política no Brasil, chamada por alguns de a nova direita, perdeu a vergonha de mostrar a cara, é como se muitos deles tivessem saído de trás do biombo, onde permaneceram por muito tempo conspirando escondidos na surdina, porque sempre foram muito atuantes e eficientes politicamente falando, daí o nosso atraso em termos de conquistas sociais, na questão do bem estar social, as favelas e tudo o mais.
Mas esse movimento da direita raivosa surgido nos últimos tempos, como um efeito manada, bastou que uns poucos surgissem de forma impetuosa, e pronto, já encorajou tantos outros a tomar o mesmo rumo, sem questionar os equívocos de tal decisão ou escolha, parecendo uma coisa de modismo passageiro, porém perigoso, porque já assistimos a esse filme antes, em países como a Itália de Mussolini e a Alemanha dos anos vinte no tempo do assassinato de Rosa Luxemburgo, que acabou por levar Hitler ao poder. Alguns chamam esse fenômeno da direita político ideológica, como um sair do armário "en masse", quase todos ao mesmo tempo, um desenrustimento coletivo de certos sectores, que sempre atuou politicamente, mas na surdina, estavam ávidos por poder falar, exprimir o rancor contra a emergência dos sectores dominados da sociedade, ao defender a pauta de: "nada para a gentalha". Há quem argumente com razão, que é legítimo uma determinada empresa jornalística exprimir essa ou aquela posição político ideológica. O problema, é que essa posição nem sempre fica muito clara, o que pode levar o leitor desavisado a considerar, uma posição tendenciosa político partidária do jornal, como verdade, escamoteando-se assim, a verdade da informação, não deixando ao leitor a chance de distinguir bem a notícia da opinião, burlando totalmente a função do jornal como instrumento de prestação de serviço ao público, de divulgar a informação e a notícia, deixando a "opinião" aos editoriais e aos articulistas de colunas especializadas ou blogs. Dessa maneira, os veículos de mídia transformaram-se em porta-vozes de determinados valores, crenças, preconceitos, quase um partido político, só que, o que é perigoso e nocivo para a sociedade, de forma mascarada, camuflada e escamoteada. Com isso, o leitor e cidadão, que cada um é ao mesmo tempo, permitiu que acontecesse com a sua omissão consciente, quando concordam com aquelas idéias e opiniões. Quando, enquanto leitor, encontra nas páginas matutinas de um jornal ou revista, uma matéria com a qual concorda, é quase motivo para soltar um foguetório, pois, além de não se incomodar em nada, está expresso ali, de uma forma muito mais elaborada, tudo aquilo que também pensa e gostaria de dizer, e não tem os meios para tal. Nem ocorre pensar, se a maneira como tudo aquilo está acontecendo, é certo ou errado, não pensa em ética, se coincide com as suas idéias, está correto. Portanto, vai corroborar com toda aquela prática jornalística, que só o beneficia enquanto leitor, e onde não consegue enxergar nada sujeito à crítica. Passa a ser, quase um militante do partido da grande mídia politiqueira, e a defende sempre que possível, contra qualquer crítica, que aponte a tendenciosidade ou partidarização daquele veículo, que às vezes considera como o seu jornal. Esse leitor apaixonado defende o seu jornal preferido, porque esse veículo praticamente pensa como ele, há uma identificação, uma adequação de pontos de vista. Quando isso ocorre, fica muito difícil o leitor pensar ou refletir sobre a questão da liberdade de imprensa. Agora, quando é o contrário, que acontece, isto é, quando o leitor não concorda com a linha de pensamento do veículo, o que costuma acontecer? O que fazer ou proceder? Deixa de comprar o jornal de preferência, e passa para outro? Sabe-se que não adianta o leitor indignado, entupir de e-mails críticos o seu jornal, porque esse não publica cartas contra si mesmo, o que hoje em dia é quase uma regra básica da grande imprensa, nacional ou estrangeira. Considera-se não ser correto, não ser ético, um jornal, de forma velada ou escancarada, tornar-se palanque. Se a coisa é vista do ponto de vista ético, não é correto, mesmo quando o veículo seja favorável ao candidato do leitor. Esse é o ponto da questão. Algo parecido aconteceu com um juiz de futebol, que não usa o mesmo critério em suas punições para as infrações cometidas pelos jogadores em campo, para um lado é um carrasco implacável, e para o outro deveras benevolente. A favorecer com isso, apenas um lado, o que revela que algo de podre possa estar a acontecer, como corrupção, por exemplo. O que pode levar à manipulação de resultados de jogos, como já ocorreu em países da Europa, como na Alemanha, e um caso descoberto em São Paulo há alguns anos atrás.
Dois pesos e duas medidas, não são corretos, quando tudo são encarados e analisados do ponto de vista ético, portanto o mais longe possível da polaridade ideológica e da paixão política. É bom poder fazer um esforço para viabilizar o viés ético tanto quanto possível, embora muitos não acreditem nessa possibilidade. Se não pode ser de outro modo, tudo bem, só resta deixá-los entregues às suas limitações intelectuais, com a esperança de que um dia possam crescer e avançar em direção a compreensão, e mais cidadania, o que implica respeito ao outro; e passemos a nos dirigir aos que entendem o que é ética. Se a paixão política deixa-me cego, impossibilitado enquanto leitor, incapaz de perceber as sutilezas da quebra da ética, isso é uma coisa, não vejo porque não consigo ver, inviabilizado por aquela paixão avassaladora, o que também é grave, porque revela uma evidente fraqueza e debilidade. Agora, quando não vejo porque não quero, porque não é conveniente, porque não interessa, aí é muito mais grave e revelador da falta de ética. São duas posições bem distintas e evidentes, que é comum encontrar, quando se trata a questão da ética, muito embora não exista essa coisa de ser mais, ou ser menos ético. Para finalizar, concluo dizendo que, não é apenas a sua paixão política que é cega, qualquer uma é, inclusive a minha.

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