domingo, 6 de dezembro de 2009

Ética na política, é possível isso?

Há de certa forma, uma confusão conceitual, no tratamento, que é dado, por parte da mídia brasileira, quando trata da questão da Ética na política. Na Folha de hoje (6.12.2009), na matéria intitulada: "Mensalões fragilizam debate ético em 2010", inclusive com depoimentos de figurões do conhecimento, dois renomados professores de filosofia de São Paulo, como é o caso, tanto de José Arthur Giannotti, como de Renato Janine Ribeiro,
o último é professor titular de Ética na USP, e foi apresentador de um programa na tevê pública sobre Ética. Quem não se lembra das intervenções de Giannotti, tanto na tevê como na mídia impressa, durante o governo FHC, para justificar determinadas ações do governo. Diziam até, que ele era o ideólogo oficial do governo, mas isso é outro assunto.
É admirável, que tão renomados mestres, doutores em filosofia, não tenham percebido tamanha confusão, pois, pelo menos na matéria acima citada, não mencionam uma linha sequer a respeito. E agora vem a pergunta, claro, que é, onde está a confusão? O que é que estão confundindo? Usando o exemplo do escândalo da vez, ou do momento, que é o caso do chamado mensalão do DEM de Brasília, onde aparece o Governador Arruda e seus assessores, recebendo montanhas de dinheiro, provenientes de empresas prestadores de serviços públicos. Configurando-se numa série de crimes, contra a lei penal, como por exemplo, a venda de favores, tráfico de influência, e outros crimes, que os acusados justificam afirmando ser uma espécie de caixa dois, para fazer face às despesas de campanhas políticas, mas que, está mais do que evidente, tratar-se de crime comum, inclusive, para enriquecimento pessoal. A compra de propriedades através de "laranjas", aumento de patrimônio de forma sub-reptícia. Estamos, na verdade, diante de atos praticados por criminosos, não importa se governadores ou secretários de estado. Portanto, dizer, que as infrações arroladas nos autos contra o governador Arruda e seus assessores, sejam apenas quebra da ética, é eufemismo. Agora virou moda no Brasil, considerar atos criminosos, quando praticados por políticos, como falta de ética. Urge parar com considerações desse tipo. As palavras, conceitos e vocábulos não foram criados ou construídos, para cada um usar como bem quer, para usar ao bel prazer. A quebra da Ética é um fenômeno de outra natureza, e muito mais sutil. Ah! Quem nos dera, se os problemas brasileiros com os políticos, fossem apenas a quebra da Ética. Aliás, deixo essa questão da falta de Ética na política, para outro texto. Porque, se compreendi bem Maquiavel, n'O Príncipe, o objetivo principal de um político, não é apenas conquistar o poder político de estado, mas se manter no poder, a qualquer custo, não importa o que ele tenha que fazer, para manter-se no posto. Logo, não cabe ser bonzinho, correto e bacana com seus adversários políticos, senão corre o risco de perder a cabeça ou o cargo. É preciso saber lidar com os adversários e oponentes, alguns chegam a ser inimigos, e para isso, vale usar de toda a esperteza, astúcia, malícia, sagacidade, artimanha, sabedoria política, enfim todas as armas e ferramentas disponíveis e ao alcance. Coisa que, em qualquer outra ocupação ou atividade da vida ordinária, é considerada como falta de Ética, mas que, pelo visto em Maquiavel, na política é necessário ter. Para concluir, não podemos nem devemos, pura e simplesmente, confundir delitos criminais com falta de Ética, como temos visto acontecer, de forma recorrente, na mídia dominante e hegemônica.

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