quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Assistindo Rafael Saar


Os filmes de curta metragem de Rafael Saar sobre cantores e cantoras da mpb, entre eles Maria Alcina, Nei Matogrosso, Luhli e Lucinha, Baby do Brasil e sobretudo os de Luís Capucho, me ajudaram a despertar para o verdadeiro sentido da arte de viver e fazer coisas como arte, e a vida do dia a dia das gentes de todas as horas, o cotidiano ordinário de todo mundo. Em que medida existe uma diferença aí, entre essas duas formas de viver a vida? Será que todo mundo poderia se arriscar mais, ao se lançar mais para a vida na busca de fazer coisas?  Evitar se podar muito, procurando escapar dos barreiramentos sociais condicionantes, que a gente mesmo se impõe. Qual a especificidade desse fazer, que o distingue da vida corriqueira que todos nós levamos todos os dias e todas as horas. Por que alguns conseguem transcender essa fronteira e chegam a fazer algo que chamam de arte? É como se existisse algo em nós, que trava essa passagem de patamar, de plano, para outra dimensão do humano, onde possamos viver sem sentir tanta culpa ou medo, e aí ficam mais fáceis as coisas da vida fluírem, nos sentimentos, destrava-se o pensamento, e aí o caminho está inexoravelmente aberto, não para sempre nem eterno, porque somos um animalzinho, e a qualquer hora poderá haver um retrancamento e retrocesso daquele processo todo. É o caso daquela bexiga de encher, ela pulsa, há um movimento de contração e de expansão constante, quando qualquer coisa não anda bem, altera esse movimento, e ela, a bexiga, tensiona demais ou relaxa demais. Quando conseguimos figurativamente pular metaforicamente aquele muro da existência, e nadamos nas águas de um fazer natural e espontâneo, e conseguimos respirar de forma mais natural e sem tensão, todos os nossos poderes que vem lá dos nossos mais recônditos níveis interiores, em registros ainda por ser decodificados, vem à tona de forma tranquila, e aí, e só aí nesse caso, conseguimos realizar um fazer mais próximo possível daquilo que se poderia chamar de arte, uma arte ainda sem a técnica e o talento individual de cada um a ser trabalhado, mas a postura agora já é outra. Portanto é mais ou menos por aí, por essa trilha, que estamos tentando prolongar ou encurtar essa fronteira, percorrê-la, ultrapassá-la e ver a vida vivendo e também querendo viver e, infelizmente, sem conseguir, barreirada por imensas dificuldades e sem conseguir enxergar que a vida é naturalidade, é simplesmente um botar pra fora, um exprimir-se. Quando estamos travados com alguma coisa desconhecida, algo nos impedindo de viver a vida simplesmente fica muito comprometido esse fluir.  

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