quarta-feira, 9 de agosto de 2017

A censura durante a ditadura de 64

Como sei que não devo me alongar, é importante mostrar, exibir e apontar algumas peculiaridades da censura durante o governo militar mesmo de forma rápida. Sobretudo durante os anos mais terríveis, os anos de chumbo grosso, que foi o período pós AI-5, até mais ou menos 76/77. Em 1977 o regime começa a ser contestado, com inclusive pequenas e tímidas passeatas no Rio de Janeiro, cheguei a participar de algumas, mas era uma desproporção gigantesca de força, para cada grupo de duzentos e poucos manifestantes, havia sempre do lado da repressão algo semelhante a um batalhão, ao redor de dois mil homens fortemente armados. Entrei na Filosofia da UERJ em 1974, e com o decreto-lei 477 que IMPEDIA reuniões, coletivos, três alunos juntos era considerado multidão, não havia como se manifestar. E sem reuniões não havia como se organizar para resistir à repressão. No centro de humanidades da UERJ, que na ocasião funcionava ainda ao lado do Instituto Lafayette na Rua Haddock Lobo na Tijuca, não havia nada, nem jornal, grupo de teatro, centro acadêmico, NADA. Cada um foi deixado a si mesmo. A inação e a apatia eram imensas, além do medo, da repressão política e da paranoia, que havia, porque sempre pairava a suspeita de quem seria o aluno infiltrado pela repressão para espionar os alunos verdadeiros. Mal começava o ano escolar, e em vez da gente se preocupar com o currículo, a primeira interrogação era sobre quem seria o infiltrado, muitos descobriam passado alguns meses, o que não adiantava muita coisa, porque o "cara" tinha as costas quentes, e ninguém podia fazer nada contra ele. Tinha que engolir e conviver com aquele elemento alienígena dentro da turma. Tinha casos em que o espião chegava até o final do curso, colava grau e tudo, alguns deles chegavam até namorar meninas da turma. Uma coisa! Quanto à censura no sentido estrito, algumas curiosidades a apontar, para finalizar esse post, eram completamente ridículas. Só para ficar no caso dos livros, qualquer livro com capa vermelha já era suspeito, se estampasse no título a palavra revolução então era recolhido das livrarias no ato. Havia a ilusão, como ainda hoje existe quem acredite nessa bobagem, que bastava impedir a circulação das ideias marxistas no país, que com o tempo e a chegada de novas gerações, já seria suficiente para exterminar por completo com aquela visão e interpretação do mundo. O que fez Che Guevara um pouco antes de ser morto na Bolívia reagir dizendo, que não era ele que era marxista e sim a própria realidade social, econômica e política, que o fazia ser marxista. Chega a ser surpreendente encontrar ainda hoje, gente que acha que corrigir injustiça social, dar certo amparo social para os indivíduos mais fracos da sociedade com determinadas políticas públicas, para não deixá-los chegar à indigência, como ainda se ver por aí, ser confundido com comunismo. Tem coisa que se o Estado não tomar a iniciativa e resolver de imediato, não será o deus MERCADO, que com a sua lógica do lucro pelo lucro, que irá resolver. Estudando hoje a história do mundo, vemos que as sociedades, que não equacionaram essa questão através de um pacto social, ou através da revolução, ficaram pelo caminho com todas as mazelas daí decorrentes. E infelizmente esse é o nosso caso, e os vinte e um anos de ditadura militar foi o instrumento encontrado pelas classes conservadoras brasileiras, para impedir o avanço social e manter o país nesse atraso. É bom ficar ligado.


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2 comentários:

  1. É ridículo que os idiotas de hoje rotulem as pessoas que querem um sistema de mercado com algum controle do estado (a social-democracia) de comunistas ou populistas. Querer uma classe média majoritária virou palavrão...

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    1. Falta tanta sutileza na compreensão dos fenômenos sociais, que eles estranham muito quando encontram um comunista rico, pela lógica rasteira e vulgar, se é comunista não pode ter dinheiro, porque o sambista escreveu que quem gosta de miséria é intelectual. Ora bolas! O cara só se tornou comunista, porque não gosta nem um pouco de miséria, e deseja vê-la terminar por completo na sociedade. Como é o caso hoje em tantas sociedades mundo afora. Sem miséria!

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