domingo, 10 de outubro de 2010

A desqualificação do adversário como arma política

É curioso observar como a direita faz política no Brasil. Como uma parte da elite social, é obrigada a ter que participar da vida política nacional, para, pelo menos, poder assegurar e manter os seus inumeráveis privilégios. E como não pode, evidentemente, revelar, exteriorizar essas reais intenções para a sociedade, pois seria um suicídio eleitoral na certa. Essas elites, através dos seus representantes, legais e ilegais, composta por toda a sorte de ideólogos, conhecidos como formadores de opinião entre aspas, constituídos por jornalistas, cientistas sociais e outros. Devido àquelas reais intenções, que, como afirmei acima, se reveladas seria o suicídio eleitoral, fica meio numa sinuca de bico, sem ter o quê apresentar como conteúdo, que fosse ao menos, uma pálida aparência de um projeto político para o país, um arcabouço que fosse, de como resolver os enormes desafios e problemas brasileiros. Dessa forma, a ausência de um projeto macro político, traz para a campanha da direita uma enorme lacuna, difícil de lidar e difícil de resolver. E como a direita resolve esse dilema? Na verdade, não resolve, ela contorna o problema, ela o tangencia. E como isso é feito? Muito simples: disposta a fazer qualquer coisa, para assegurar, manter e ampliar os seus privilégios, a direita dirige todas as suas baterias, armas e ferramentas, em direção ao seu(s) adversário(s) de ocasião. A primeira arma e em algumas ocasiões, bastante eficaz, é a arma da desqualificação do adversário, que às vezes funciona muito bem, outras nem tanto, depende da conjuntura, e quando funciona costuma causar grande estrago ao oponente. É o caso, por exemplo, da questão do despreparo da candidata Dilma, e outros, são tantos na atual campanha de 2010. A questão do aborto é outro exemplo digno de ser citado, porque a direita plantou essa questão entre os evangélicos e, de certo modo, deu resultado, atingiu os objetivos desejados, já que levou a eleição para o segundo turno. É a tática de plantar um boato maldito contra um adversário, repeti-lo e reproduzi-lo à exaustão, e em seguida aguardar os resultados, esperar para ver, que bicho vai dar. É legítimo dar um nome a essa prática política, não é outra coisa que terrorismo político, ou seja, criar pânico e alarme entre a população, visando alcançar determinados objetivos. Sobre a questão do despreparo da candidata, algum cronista político comenta num artigo de jornal, revista ou entrevista na tevê, que a candidata "y" não é preparada. Em seguida, outro "formador de opinião", citando aquele cronista, repete o mesmo comentário, e assim por diante, a coisa vai fluindo, vai aumentando, adquirindo vida própria, vai atraindo outros atores sociais para aquela posição. E de repente, aquilo cola como etiqueta de preço em mercadoria de supermercado, passa a fazer parte da personagem, como um carimbo, um clichê, escuta-se o nome daquele personagem, e logo aparece na mente aquela ideia maldita. Bem, o estrago está feito, praticamente não tem mais jeito, porque é como se levasse o adversário às cordas do ringue, não tem outra opção, a não ser ficar na defensiva, o tempo todo, e aí, vem o desgaste devastador. Dizem que dessa influência maléfica, praticamente ninguém escapa ileso, nem mesmo aqueles, que se consideram mais conscientes. O que me faz voltar aos anos trinta da Alemanha nazista, acho que todo mundo alguma vez já deve ter se perguntado, como uma população tão educada e avançada, com elevado nível cultural, foi cair numa roubada ideológica daquela. Mas talvez seja mesmo verdade, que uma mentira bem contada, depois repetida muitas vezes, tem grande chance de tornar-se verdade, e em algumas ocasiões, em verdade quase absoluta. Como a direita não tem nenhum projeto para o país, apenas projeto de poder, pois, não suportam ficar longe dele por muito tempo. Então, só resta mesmo utilizar esses expedientes políticos da pior espécie, a mentirosa política do esgoto, como a desqualificação e a satanização do adversário por exemplo. Ainda resta alguma esperança, ou seja, preparar-se a contento, para o combate, para uma espécie de luta de classes na teoria, e desmascarar algumas armas da direita sempre que possível. Já que não dispomos das armas da crítica que, por princípio, não são convenientes, usemos da crítica das armas. É o que estou tentando, muito modestamente, fazer.

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